ECONOMIA & NEGÓCIOS
Karine Tavares
!*««´»»*! RIO - Uma placa amarelo berrante pendurada no portão enferrujado pelo tempo avisa: vende-se. O aspecto abandonado da construção poucos metros acima pode fazer crer, num primeiro olhar, que só um louco ligaria para o número de telefone ali estampado. Mas é de 13 a média de ligações diárias recebidas pela imobiliária que está vendendo o castelinho São Fernando, em Santa Teresa. Loucos? Românticos que sonham com príncipes ou princesas? Na verdade, a maioria é de curiosos. Mas há também alguns milionários realmente interessados em pagar R$ 3,8 milhões pela construção de 1906 em estilo eclético. E esse nem é o mais caro castelo à venda no Rio.
Na Rua Maria Eugênia, no Humaitá, há outro palacete também à venda. Construído no fim do século XIX, ele tem um preço mais salgado: R$ 11 milhões. Ambos sofrem com a falta de manutenção. Mas com boas ideias, e muitos recursos, bem que poderiam dar vida nova a seus bairros. No caso do castelinho São Fernando, que recebeu esse nome por ter abrigado por muitos anos a Clínica São Fernando, nem é por falta de interesse. Nos últimos sete anos, o local já foi vendido duas vezes. Na primeira delas, para o malaio Yewweng Ho e o inglês Gordon Lewis, que se encantaram com a construção e planejaram transformá-la num hotel-boutique que seria seu primeiro investimento no Rio de Janeiro.
- Não conhecíamos a burocracia brasileira e não sabíamos como as coisas podem demorar por aí - conta Lewis, de Londres, por e-mail. - Além disso, veio a crise europeia e, quando fizemos o planejamento de como seria o hotel, percebemos que o número de quartos não seria suficiente para o negócio dar certo.
Resultado? Mesmo insatisfeitos, venderam o castelinho - com uma margem de lucro que, dizem por aí, pode ter chegado a 150% - e partiram para outros investimentos na cidade. Agora, o grupo de israelenses e belgas que lhes comprou o casarão, em outubro passado, tenta revendê-lo por um valor ainda mais alto. Sinal de que a especulação imobiliária já chegou aos contos de fadas?
Pode até ser. Mas o fato é que interessados no negócio não faltam. Até o ator britânico Rupert Everett (de "O casamento de meu melhor amigo") teria visitado o local e pensado em fazer dele sua casa de veraneio; um grupo italiano, se interessado em transformar o casarão em galeria de arte; e uma empresa de software teria pensado em fazer ali um centro de treinamento para seus funcionários. Mas a reforma sempre acaba sendo o problema para o fechamento do negócio.
- Uma empresa especializada orçou em R$ 2,35 milhões, com restauração das características originais (como o telhado em marchetaria e o piso em parquet) e de toda a parte estrutural, incluindo hidráulica e elétrica. Mas depois de reformado, vendo por até R$ 8 milhões. E alugo por R$ 80 mil mensais facilmente - garante Cláudio Castro, diretor da Sérgio Castro Imóveis, que cuida da corretagem do castelinho.
Já o imóvel do Humaitá tem 1.200 metros quadrados de área construída e 22 cômodos que guardam detalhes como pias francesas e quartos inteiros em madeira maciça. Além disso, tem 20 mil metros quadrados de área livre onde daria até para construir um heliporto caso o novo dono quisesse.
De volta à Santa Teresa, encontramos o terceiro castelo da cidade que vem sendo anunciado por imobiliárias. Neste caso, por R$ 12 milhões. O dono, um antiquário, nega que a casa esteja à venda. Mas até aceita negociar caso receba uma boa proposta pelo casarão do início do século XX, que fica na agradável Rua Fonseca Guimarães.
Quem o conhece garante que, internamente, ele até parece o Castelo de Hogwarts - aquele mesmo que abriga a escola do bruxinho Harry Potter -, com grandes escadas em caracol e muitas obras de arte pelas paredes. Só não espere que elas interajam com você, como na ficção. Afinal, a magia aqui está apenas no imaginário de quem sonha em viver como nos belos palácios de contos de fadas.
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