Total de visualizações de página

sexta-feira, 7 de março de 2025

O que viram os primeiros turistas a entrar na Coreia do Norte após anos de fronteiras fechadas

<<<===+===.=.=.= =---____--------   ----------____---------____::____   ____= =..= = =..= =..= = =____   ____::____-----------_  ___----------   ----------____---.=.=.=.= +====>>>


Um grupo de viajantes visitou a cidade de Rason, perto da fronteira com a China e a Rússia, pela primeira vez desde que o regime de Kim Jong-un cancelou a entrada no país devido à covid-19.
<<<===+===.=.=.= =---____--------   ----------____---------____::____   ____= =..= = =..= =..= = =____   ____::____-----------_  ___----------   ----------____---.=.=.=.= +====>>>
TOPO
Por BBC

Postado em 07 de Março de 2.025 às 18h30m

#.* Post. - Nº.\  11.538*.#

Os guias locais seguem um cronograma rigoroso e pré-aprovado, que incluiu uma visita a uma farmácia nova e totalmente abastecida. — Foto: Joe Smith/BBC
Os guias locais seguem um cronograma rigoroso e pré-aprovado, que incluiu uma visita a uma farmácia nova e totalmente abastecida. — Foto: Joe Smith/BBC

Não insulte os líderes. Não insulte a ideologia. E não julgue.

Essas são as regras que os guias leem para os turistas ocidentais enquanto eles se preparam para cruzar a fronteira para a Coreia do Norte, sem dúvida o país mais fechado e repressivo do mundo.

Depois, há a informação prática: não há sinal de telefone, nem internet, nem caixas eletrônicos.

"Os norte-coreanos não são robôs. Eles têm opiniões, objetivos e senso de humor. E em nossos briefings, incentivamos as pessoas a ouvi-los e entendê-los", diz Rowan Beard, diretor da Young Pioneer Tours, uma das duas empresas ocidentais que retomaram as excursões ao país na semana passada após um hiato de cinco anos.

A abertura teve vida curta, pois na quinta-feira (6/3) foi descoberto que o governo norte-coreano havia novamente suspendido a entrada de visitantes, sem motivo claro.

Rowan e um punhado de outros guias turísticos foram autorizados a retomar as operações — Foto: Rowan Beard / Young Pioneer Tours/BBC
Rowan e um punhado de outros guias turísticos foram autorizados a retomar as operações — Foto: Rowan Beard / Young Pioneer Tours/BBC

A Coreia do Norte fechou suas fronteiras no início da pandemia, impedindo a entrada de diplomatas, trabalhadores humanitários e viajantes, e tornando quase impossível descobrir o que estava acontecendo por lá.

Desde então, o país se isolou ainda mais da maior parte do mundo, contando com o apoio da Rússia e da China. Muitos duvidavam que os ocidentais algum dia seriam autorizados a voltar.

Mas, depois de anos de solicitações e várias tentativas frustradas, Rowan e outros guias turísticos receberam luz verde para reiniciar as operações.

Em cinco horas, ele reuniu um grupo de viajantes ansiosos que não queriam perder a oportunidade. A maioria era de vloggers ou viciados em viagens, alguns queriam riscar o último país da lista, e não faltaram entusiastas da Coreia do Norte.

Os turistas, do Reino Unido, França, Alemanha e Austrália, cruzaram a fronteira da China para a remota área de Rason para uma viagem de quatro noites.

Turistas do Reino Unido, França, Alemanha e Austrália cruzaram a fronteira em uma viagem de quatro noites — Foto: Joe Smith/BBC
Turistas do Reino Unido, França, Alemanha e Austrália cruzaram a fronteira em uma viagem de quatro noites — Foto: Joe Smith/BBC

Entre eles estava o youtuber britânico Mike O'Kennedy, de 28 anos. Embora já conhecesse a reputação do país, ele ficou chocado com o nível extremo de controle.

Como em todas as viagens à Coreia do Norte, os turistas foram acompanhados por guias locais, que seguiram um cronograma rigoroso e pré-aprovado.

A viagem incluiu visitas cuidadosamente coreografadas a uma cervejaria, uma escola e uma farmácia nova e totalmente equipada.

Uma cidade diferente

Ben Weston, um dos guias, comparou a visita à Coreia do Norte a "uma viagem escolar". "Você não pode sair do hotel sem os guias", disse ele.

"Algumas vezes eu até tive que dizer para eles usarem o banheiro. Nunca precisei fazer isso em lugar nenhum do mundo."

Apesar da companhia constante, Mike conseguiu ver vislumbres da vida real: "Todo mundo estava trabalhando, não parecia que ninguém estava apenas relaxando. Foi um pouco desolador de ver."

A caminho da escola, um grupo de crianças de oito anos fez uma dança ao som de animações de mísseis balísticos atingindo alvos.

Um vídeo da apresentação mostra meninas e meninos de gravatas vermelhas cantando enquanto explosões acontecem em uma tela atrás deles.

Mike viu um grupo de crianças de oito anos dançando ao som de animações de mísseis balísticos — Foto: Mike O'Kennedy/BBC
Mike viu um grupo de crianças de oito anos dançando ao som de animações de mísseis balísticos — Foto: Mike O'Kennedy/BBC

Os turistas foram mantidos longe da capital, Pyongyang. Greg Vaczi, da Koryo Tours, a outra empresa de turismo autorizada a retornar, admite que os marcos mais emblemáticos de Pyongyang não estavam no itinerário.

Ele suspeita que as autoridades escolheram Rason como destino porque a área é relativamente isolada e fácil de controlar.

Criada como uma zona econômica especial para testar novas políticas financeiras, ela funciona como um pequeno enclave capitalista dentro de um estado socialista.

Empresários chineses administram empresas conjuntas com norte-coreanos e podem entrar e sair com relativa liberdade.

Joe Smith, um viajante norte-coreano experiente e ex-editor da plataforma NK News, focada na Coreia do Norte, esteve lá pela terceira vez: "Sinto que, quanto mais vezes você visita, menos você sabe. Cada vez que você vai, você dá uma espiadinha nos bastidores, o que te deixa com mais perguntas", diz ele.

O momento de destaque para Joe foi uma visita surpresa e fora do horário normal a um mercado de artigos de luxo, onde as pessoas vendiam jeans e perfumes, além de bolsas Louis Vuitton falsas e máquinas de lavar japonesas, provavelmente importadas da China.

Neste local, os turistas não eram autorizados a tirar fotos, numa aparente tentativa de esconder essa bolha de consumismo do resto do país.

"Este era o único lugar onde as pessoas não nos esperavam", diz Joe. "Parecia confuso e real – um lugar onde os norte-coreanos comuns vão. Eu adorei."

Medo da covid continua

Mas, de acordo com guias turísticos experientes, os movimentos do grupo eram mais restritos do que em viagens anteriores, com menos oportunidades de passear pelas ruas, ir a uma barbearia ou supermercado ou conversar com os moradores locais.

A covid foi frequentemente citada como um motivo, disse Greg da Koryo Tours: "Eles parecem ainda estar preocupados. Nossa bagagem foi desinfetada na fronteira, nossas temperaturas foram medidas e cerca de 50% das pessoas ainda usam máscaras."

Greg não consegue determinar se o medo é genuíno ou uma desculpa para controlar as pessoas. Acredita-se que a covid tenha atingido duramente a Coreia do Norte, embora o impacto real seja difícil de quantificar.

Guias locais repetiram a versão do governo de que o vírus entrou no país em um balão enviado da Coreia do Sul e foi rapidamente erradicado em 90 dias.

Mas Rowan, que já esteve na Coreia do Norte mais de 100 vezes, sentiu que Rason foi afetado pelas duras regulamentações da covid. Muitas empresas chinesas fecharam, ela disse, e seus trabalhadores foram embora.

Até Joe, o viajante com experiência anterior na Coreia do Norte, comentou sobre o quão dilapidados os edifícios estavam.

"Os lugares estavam mal iluminados e não havia aquecimento, exceto nos nossos quartos de hotel", disse ele, referindo-se a uma visita a uma galeria de arte fria, escura e deserta: "Parecia que eles tinham aberto as portas só para nós."

Fotos do regime podem fazer a Coreia do Norte parecer limpa e brilhante, explicou Joe, mas pessoalmente você percebe que "as estradas são horríveis, as calçadas são instáveis e os edifícios são construídos de forma estranha".

Seu quarto de hotel era antigo e sujo, ele descreveu, lembrando "uma sala de estar de vó". A janela estava quebrada.

"Eles tiveram cinco anos para consertar as coisas. Os norte-coreanos são muito cuidadosos com o que mostram aos turistas. Se isso é o melhor que eles podem mostrar, temo pensar no que mais existe por aí."

A maior parte do país permanece escondida de olhares externos e acredita-se que mais de quatro em cada dez pessoas estejam desnutridas e precisem de ajuda.

Um país fechado

Joe disse que seu quarto de hotel parecia uma 'sala de estar de vó' — Foto: Joe Smith/BBC
Joe disse que seu quarto de hotel parecia uma 'sala de estar de vó' — Foto: Joe Smith/BBC

Uma das poucas oportunidades que os turistas têm de interagir com os moradores locais na Coreia do Norte é por meio de seus guias, que às vezes falam inglês.

Nessas últimas viagens, eles estavam surpreendentemente bem informados, apesar da intensa máquina de propaganda do regime e do apagão de notícias.

Provavelmente é porque eles conversam com empresários chineses que vão e vêm, disse Greg.

Eles sabiam sobre as tarifas de Trump e a guerra na Ucrânia, e até mesmo que tropas norte-coreanas estavam envolvidas. Mas quando Joe mostrou uma foto da Síria, seu guia não sabia que o presidente Assad havia sido deposto.

"Expliquei-lhe cuidadosamente que, às vezes, quando as pessoas não gostam do seu líder, elas se rebelam e o forçam a sair, e ele não acreditou em mim no início."

Essas conversas devem ser tratadas com delicadeza. Leis rigorosas impedem os norte-coreanos de falar livremente. Se muito for perguntado ou revelado, os turistas podem colocar em risco seu guia ou a si mesmos.

Mike admite que houve momentos em que isso o deixou nervoso. Em uma viagem à Casa da Amizade Rússia-Coreia do Norte, ele foi convidado a escrever no livro de visitas.

"Fiquei em branco e escrevi algo como 'Desejo paz mundial'. Depois, meu guia me disse que não era apropriado escrever algo assim. Isso me deixou paranoico", disse ele. "No geral, os guias fizeram um ótimo trabalho em nos fazer sentir seguros. Houve alguns momentos em que pensei: 'Isso é estranho'."

Para Greg, da Koryo Tours, essas interações trazem um propósito mais profundo ao turismo na Coreia do Norte: "Os norte-coreanos têm a chance de interagir com estrangeiros. Isso lhes permite ter novas ideias, o que, num país tão fechado, é muito importante."

Mas o turismo na Coreia do Norte é controverso, especialmente porque os viajantes foram autorizados a retornar antes dos trabalhadores humanitários e da maioria dos diplomatas ocidentais.

Críticos, incluindo Joanna Hosaniak, da Aliança dos Cidadãos pelos Direitos Humanos na Coreia do Norte, argumentam que essas viagens beneficiam principalmente o regime.

"Isso não é como o turismo em outros países pobres, onde a população local se beneficia da renda extra. A grande maioria não sabe que esses turistas existem. O dinheiro deles vai para o Estado e, em última análise, para seus militares", disse ela.

Uma conversa ficou na cabeça de Mike: durante sua ida à escola, ele ficou chocado quando uma garota, depois de conhecê-lo, disse que esperava visitar o Reino Unido um dia.

"Não tive coragem de dizer a ela que suas chances eram muito, muito pequenas", ele admitiu.

Esta reportagem foi escrita e revisada por jornalistas utilizando o auxílio de IA na tradução, como parte de um projeto piloto.

---++-====-------------------------------------------------   ----------------------=======;;==========----------------------------------------------------------------------  -----------====-++---

Economia do Brasil cresce, mas baixo poder de compra assola opinião popular:

<<<===+===.=.=.= =---____--------   ----------____---------____::____   ____= =..= = =..= =..= = =____   ____::____-----------_  ___----------   ----------____---.=.=.=.= +====>>>


Percepção dos brasileiros sobre o cenário econômico do país despreza resultados positivos do PIB e desemprego. Para especialistas, popularidade de Lula depende de controlar a inflação.
<<<===+===.=.=.= =---____--------   ----------____---------____::____   ____= =..= = =..= =..= = =____   ____::____-----------_  ___----------   ----------____---.=.=.=.= +====>>>
Por Júlia Nunes, g1

Postado em 07 de Março de 2.025 às 09h35m

#.* Post. - Nº.\  11.537*.#


Por que a percepção da economia está ruim?

O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) confirma que a economia brasileira cresceu em 2024. A atividade teve alta de 3,4%, o maior aumento desde 2021 – quando o crescimento foi fruto da retomada pós-impactos da pandemia de Covid-19.

O desemprego, por sua vez, atingiu a menor taxa média para o ano desde que o IBGE começou a calcular esse índice, em 2012. Os dados mostram que o país nunca teve tantas pessoas trabalhando ao mesmo tempo, e que o rendimento médio real desses trabalhadores também cresceu.

Mas a sensação é diferente nas ruas. Mesmo com a inflação sob certo controle, o sentimento da população é de que o salário está apertado para comprar o básico. “Está tudo muito caro, né?”, comenta a aposentada Lucrécia de Andrade ao g1.

Lucrécia de Andrade sobre alta de preços no Brasil — Foto: Arte g1
Lucrécia de Andrade sobre alta de preços no Brasil — Foto: Arte g1

Uma pesquisa do Datafolha de janeiro deste ano mostra que o otimismo do brasileiro para 2025 recuou para o menor patamar desde 2020. Menos da metade dos entrevistados acredita que a população pode ter uma situação melhor neste ano.

Nos últimos dois meses, a aprovação do governo Lula (PT) caiu de 35% para 24%. Segundo o Datafolha, é o pior nível de aprovação em todos os três mandatos do presidente, e a reprovação também é recorde.

Para especialistas ouvidos pelo g1, esse cenário é consequência da inflação, mais especificamente do aumento do preço dos alimentos.

“Para aquelas famílias de baixa renda que comprometem a maior parte do orçamento com a compra de alimentos, isso acaba virando um problema. Significa que o carrinho de compras encolheu”, explica o economista André Braz, coordenador dos Índices de Preços do FGV IBRE.
Nesta reportagem, você vai entender:

Em 2024, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, subiu 4,83%. Comparado a 2023, quando o indicador foi de 4,62%, há pouca diferença. Mas o segredo está nos detalhes.

O segmento que puxou a alta no ano passado é um dos que faz o brasileiro mais sentir no bolso: os alimentos.

“De 2020 até 2024, o preço dos alimentos subiu 55%. Nesse mesmo período, o IPCA avançou 33%. Isso mostra o quanto os alimentos subiram acima da inflação média. O problema é que os salários são corrigidos pela inflação média”, explica Braz, do FGV IBRE.

Depois de aumentos expressivos durante e depois da pandemia, o subgrupo Alimentação no domicílio teve apenas uma leve deflação em 2023, com queda de 0,52%. O recuo não foi suficiente para reduzir de forma significativa o preço dos alimentos in natura.

Mas tudo piorou em 2024, com uma forte alta de 8,23% do subgrupo, que bateu em cheio no consumidor. Pior: o destaque ficou com as carnes, que subiram mais de 20% no ano. (entenda mais abaixo).

A economista Isabela Tavares, da Tendências Consultoria, fez um estudo para entender como a inflação tem pesado no bolso da população, calculando quanto sobra no orçamento do brasileiro depois que ele paga suas contas básicas, como comida, remédios, transporte e despesas de moradia.

A pesquisa levou em conta o peso que cada produto ou serviço costuma ter no orçamento das pessoas, de acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE, cruzando com a inflação de cada um deles, mês a mês.

O resultado foi que a renda disponível para as famílias após pagar pelo básico diminuiu, de 42,4% em dezembro de 2023 para 41,9% no mesmo período em 2024. (veja o gráfico abaixo)

E esse número é bastante diferente dependendo da faixa de renda da família. Para a população das classes D e E, o gasto com itens essenciais comprometeu quase 80% da renda no ano passado.

“Realmente, a renda do brasileiro aumentou, a gente teve ganhos reais, mas a gente está olhando uma renda média, né? E não necessariamente a renda média vai falar de todo o Brasil”, pontua a especialista.

“Então, a gente calculou essa renda disponível para mostrar um pouco dessa percepção. Aumentou a renda, mas calma lá. A parte que puxa para baixo esse poder de compra, que são os preços, também está aumentando.”

Assim, mesmo com o PIB crescendo e a gerando empregos, “está difícil ter uma boa qualidade de vida porque o preço do que é básico subiu muito”, resume André Braz, do FGV IBRE.

Os motivos por trás da alta de preços

O alto preço dos alimentos observado atualmente é resultado de uma série de aumentos acumulada desde 2020, na pandemia de Covid-19, explica André Braz.

Segundo ele, vários fatores ajudaram a pressionar a inflação nos últimos anos, que ocorreram em momentos em que a oferta de produtos não acompanha a demanda.

Veja abaixo a linha do tempo.

Os fatores que pressionaram a inflação de alimentos no Brasil desde 2020 — Foto: Arte g1
Os fatores que pressionaram a inflação de alimentos no Brasil desde 2020 — Foto: Arte g1

Para o economista, as questões climáticas que pressionaram a inflação não podem ser tão atribuídas à competência do governo. Mas a alta do dólar, sim.

“É fruto de uma incerteza na dívida pública”, afirma. “Enquanto tem instabilidade no ambiente fiscal, também vai ter no câmbio. Se os investidores ficam com medo de colocar recursos no Brasil, o aumento da saída de dólar deprecia o câmbio.”

“E essa desvalorização nos penaliza de duas maneiras: encarece tudo o que a gente importa, e a gente importa azeite, trigo [...] E estimula muito as exportações. Quanto mais a gente exporta, menos alimentos sobram aqui no Brasil e o preço acaba subindo”, detalha Braz.

Problema para Lula, Biden e mais

Um levantamento da Quaest divulgado no último dia 26 aponta que o terceiro governo Lula é reprovado por 50% ou mais dos eleitores nos oito estados pesquisados.

Na Bahia e em Pernambuco, estados onde o presidente venceu as eleições em 2022, a desaprovação do governo superou a aprovação pela primeira vez, com queda de mais de 15 pontos das avaliações positivas.

Para o cientista político Christopher Garman, diretor-executivo da consultoria Eurasia, “a queda da aprovação do presidente Lula se deve exclusivamente ao preço dos alimentos”, em especial aos aumentos no segundo semestre de 2024.

“Quando a gente olha quais são os segmentos do eleitorado em que a aprovação do presidente caiu mais, são os que ganham menos de dois salários mínimos, mulheres e o eleitorado Nordeste, segmentos mais sensíveis ao preço de alimentos”, justifica.

Rosimari Ventura sobre o preço de alimentos no Brasil — Foto: Arte g1
Rosimari Ventura sobre o preço de alimentos no Brasil — Foto: Arte g1

Esse mesmo fenômeno também foi observado em outras eleições ao redor do mundo. Segundo o especialista, o custo de vida foi o que levou muitos candidatos a não conseguirem se reeleger, casos dos Estados Unidos, de países da Europa, da Índia e da África do Sul, por exemplo.

“No caso de Joe Biden, os dados econômicos dos EUA estavam indo bem. O PIB estava indo bem, o desemprego estava baixo e a inflação estava caindo, mas o que importa é o estoque acumulado de aumentos de preços, e o estoque estava muito ruim.”

“Mesmo que a inflação esteja caindo, o eleitor faz o cálculo: ‘A minha vida está melhor ou pior em um determinado governo?’”, explica Garman.

A ferramenta mais reconhecida para controlar a inflação é aumentar a taxa de juros do país. É o que tem feito o Banco Central em suas últimas reuniões, como forma de desestimular o consumo.

  • 🔎 Ao reduzir o consumo, a demanda por produtos diminui, o que ajuda a barrar a inflação.

Apesar disso, especialistas explicam que o ideal seria conter a alta de preços aumentando a oferta, ao investir em um país mais produtivo a longo prazo.

Subir a taxa de juros, portanto, é uma atitude vista como um “remédio amargo” para a inflação. Ela prejudica a tomada de crédito por parte das empresas, que podem ter dificuldades para contratar ou investir em maquinário — freando, justamente, a produtividade.

Rodrigo Almeida sobre alta de preços no Brasil — Foto: Arte g1
Rodrigo Almeida sobre alta de preços no Brasil — Foto: Arte g1

Assim, outra medida mais imediata importante para reduzir a inflação é “mostrar uma disciplina fiscal”, pontua Christopher Garman. Em 2024, as contas do setor público apresentaram um déficit primário (despesas maiores que receitas) de R$ 47,6 bilhões.

“Sempre que o governo gasta, é como se ele estivesse aquecendo a economia, o que gera a inflação. Fazendo isso, ele está jogando contra o lado monetário, o Banco Central, que está tentando conter a inflação”, afirma Braz, do FGV IBRE.

“A eficiência política vem quando os dois andam no mesmo sentido. O governo tem que gastar menos, enquanto a política monetária sobe o juros”, explica o economista.

Para Braz, já ajudaria se o governo tivesse um discurso mais assertivo sobre as contas públicas, para aumentar a confiança dos investidores em colocar recursos no Brasil, reduzindo a cotação do dólar.

“Quando o governo fala: ‘Se depender de mim, não vou fazer esforço fiscal’, ele está se comunicando como um político, com o eleitorado. Ele diz: ‘Ninguém vai sofrer mais, quero continuar com o desemprego baixo, que a economia cresça’, mas isso não ajuda o lado monetário e acaba prejudicando quem ele quer proteger.”

Segundo Garman, “é muito melhor para as chances eleitorais do presidente Lula ter a economia desaquecendo, o desemprego subindo um pouco e a inflação baixa do que continuar com estímulo fiscal para evitar aumento do desemprego”.

“A inflação é um ‘calcanhar de Aquiles’ muito maior do que um aumento modesto da taxa de desemprego, que está historicamente baixa, e um PIB menor”, finaliza.

Consumidores compram em supermercado de Brasília (DF) — Foto: TV Globo/Reprodução
Consumidores compram em supermercado de Brasília (DF) — Foto: TV Globo/Reprodução

---++-====-------------------------------------------------   ----------------------=======;;==========----------------------------------------------------------------------  -----------====-++---