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Pesquisadores estudaram área afetada por El Niño em 2015 e 2016, descobrindo que seca e fogos causaram a morte de bilhões de plantas em área que representa apenas 1,2% de toda a Floresta Amazônica brasileira.===+===.=.=.= =---____--------- ---------____------------____::_____ _____= =..= = =..= =..= = =____ _____::____-------------______--------- ----------____---.=.=.=.= +====
Por Juliana Gragnani, BBC
Postado em 26 de julho de 2021 às 09h40m
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Queimada de floresta amazônica ao lado da BR 163 no Pará deixou grande
número de árvores mortas (na imagem, sem folhas e esbranquiçadas) —
Foto: Queimada de floresta amazônica ao lado da BR 163 no Pará deixou
grande número de árvores mortas (na imagem, sem folhas e esbranquiçadas)
A intensa seca e os incêndios florestais que atingiram a Amazônia em 2015 e 2016 mataram ao menos 2,5 bilhões de árvores e cipós em apenas uma pequena parte da floresta, descobriram pesquisadores.
Cientistas das Universidades de Oxford e Lancaster, no Reino Unido, e da Embrapa, ao lado de pesquisadores de outras instituições brasileiras e estrangeiras, examinaram a região que foi epicentro dos efeitos do El Niño na Amazônia: o Baixo Tapajós.
Parte 1: Fenômeno El Niño causa impactos negativos na produção de melancia
O El Niño é um fenômeno climático que envolve um aquecimento incomum do Oceano Pacífico. Em 2015 e no início de 2016, provocou efeitos devastadores em diferentes regiões do mundo—- na Amazônia, houve redução de chuvas e intensa seca em uma mata que normalmente é úmida, além de favorecer a disseminação de fogos causados por humanos.
A área analisada pelos pesquisadores fica na região da cidade de
Santarém, no Pará, e tem 6,5 milhões de hectares — maior que os Estados
de Alagoas e Sergipe juntos. Essa "pequena" parte onde morreram bilhões
de árvores representa apenas 1,2% da Amazônia brasileira.
Floresta afetada pela seca e fogos na região de Santarém durante o El Niño em 2015 — Foto: Erika Berenguer/Divulgação
Os pesquisadores também calcularam quanto carbono foi liberado na atmosfera em consequência da morte dessas bilhões de árvores: 495 milhões de toneladas de CO² — valor maior que o liberado pela floresta em um ano inteiro de desmatamento. E descobriram ainda que as árvores continuaram a morrer e a liberar mais carbono na atmosfera por causa da seca provocada pelo El Niño anos depois do fenômeno climático.
O estudo "Tracking the impacts of El Niño drought and fire in human-modified Amazonian forests" (monitorando os impactos da seca e incêndios do El Niño em florestas amazônicas com interferência humana) foi publicado nesta segunda (19/7) no periódico científico PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America).
Como monitorar tantas árvores?
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Incêndios florestais na Amazônia são feitos de fogos bem pequenos, com chamas de 30 cm de altura que se movem muito devagar durante dias e dias de queima — Foto: Erika Berenguer/Divulgação
Desde 2010, pesquisadores monitoram 21 parcelas de terra da Floresta Amazônica espalhadas com até 100 km de distância umas das outras na região do Baixo Tapajós.
Em 2015, observando a extrema seca causada pelo El Niño, resolveram verificar como o fenômeno impactaria as plantas daquela região.
Eles já tinham mapeado 6.117 delas — "como num jogo de batalha naval", explica a bióloga Erika Berenguer, das universidades de Oxford e Lancaster e autora principal do estudo. Cada árvore era registrada em quadrantes diferentes, com seu "X" e "Y" correspondente para facilitar sua identificação.
Ao longo de três anos, entre outubro de 2015 e outubro de 2018, os pesquisadores voltaram trimestralmente para cada uma daquelas 21 parcelas de terra e verificavam árvore por árvore para saber qual havia sido seu destino.
As árvores morrem pela seca ou pelo fogo causado por humanos. E esse fogo, por sua vez, pode ter diferentes origens. Uma delas, talvez a mais conhecida, é o desmatamento. Depois de derrubadas as árvores, o fogo é colocado para se livrar da floresta no chão. Outras origem são seu uso para a limpeza de pasto na Amazônia ou para incorporar os nutrientes da vegetação no solo — uma prática antiga que, no entanto, é afetada negativamente pela seca que deixa a paisagem mais inflamável.
Esses fogos controlados podem escapar da área designada e entrar dentro de áreas de floresta. Em um período de seca, isso é perigoso.
"A Amazônia é muito úmida. Normalmente esse fogo, se escapasse, morreria, igual fogo em um pedaço de pano molhado", explica Berenguer. Mas como, no período analisado por cientistas, o clima estava muito seco — foram oito meses de seca — "o fogo, quando escapava, entrava na floresta". "Ela estava como um pano seco parado no sol."
Brasil pode fazer mapa de risco de incêndio para evitar maiores perdas em eventos de seca — Foto: Erika Berenguer/Divulgação
São fogos bem pequenos, com chamas de 30 cm de altura, e que se movem muito devagar durante dias e dias de queima. "É lerdo e de baixa intensidade. Mas quando cobre grandes áreas, fica difícil de apagar", diz a pesquisadora. Além disso, é difícil de ver, porque as árvores são altas. Sua fumaça, sim, é visível.
Então, pesquisadores voltavam para aquelas parcelas de mata para ver se as árvores haviam morrido. É possível descobrir se uma árvore na Amazônia morreu de acordo com diferentes fatores.
"Se não tem folha, é um sinal que já está morta, já que a maioria das árvores na Amazônia não perdem folhas em partes do ano", explica Berenguer. Outra técnica: fazer um corte com um facão. "Você tira um pedaço da casca para ver se ela está seca ou não."
Ela explica que, diferentemente de outros biomas, a Amazônia não evoluiu com o fogo. "As árvores não estão preparadas para lidar com o fogo, elas têm uma casca muito fina, sem o isolamento térmico que árvores do cerrado têm. A casca de árvores da Amazônia são iguais a uma folha de papel. Ela é superfina, sem proteção alguma", diz.
Depois de descobrirem quantas árvores e cipós tinham morrido em excesso, os cientistas extrapolaram esse resultado para a área maior do Baixo Tapajós, de 6,5 milhões de hectares. "A gente sabe o quanto de floresta tem nessa área grande e o quanto em média a gente perdeu de árvores nas parcelas. Se a gente perdeu em média tantas árvores nessas parcelas todas, o quanto a gente perdeu na região toda?", explica Berenguer.
O resultado foram os inacreditáveis 2,5 bilhões de árvores e cipós perdidos naquela região. Para Berenguer, os números surpreenderam ao mostrar a grandeza da mortalidade das árvores e a perda de carbono. "Quando você está andando na floresta, você sabe que a situação não está boa. Mas não sabíamos a magnitude disso."
Ver grande parte da floresta que monitorava havia anos de repente morta foi "difícil emocionalmente", diz Berenguer. "Você cria ligações com a floresta, como se fosse o quarteirão onde você mora, com a árvore que você gosta."
Os pesquisadores também descobriram que os efeitos da seca do El Niño duraram mais de três anos em florestas afetadas pela seca e dois anos e meio em florestas afetadas tanto pela seca quanto pelo fogo, com árvores ainda morrendo nesse período por conta do fenômeno climático.
O número menor para as florestas afetadas pela seca e pelo fogo parece, de início, contraintuitivo. Mas "não é porque fogo causa menos dano", explica Berenguer. "É porque já morreu tanta planta no início, que acaba não tendo mais o que matar."
As árvores localizadas em florestas que já sofreram impacto são muito mais vulneráveis ao próximo fogo, com maior chance de morrerem. A floresta fica aberta, com maior entrada de luz e vento, o que a deixa mais seca. "Se o fogo escapar em outros anos, é mais propício de se sustentar ali. Acaba criando um looping de feedback negativo", diz Berenguer.
Soluções
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Autora principal do estudo, Erika Berenguer, monitora árvores em uma floresta amazônica queimada durante o El Niño de 2015 — Foto: Marizilda Cruppe/Rede Amazônia Sustentável
O El Niño acontece a cada dois a sete anos, em média, e há estudos que apontam que as mudanças climáticas podem agravar o fenômeno. Seu efeito na Amazônia, como se vê, é devastador. Mas há ações que podem ser feitas para evitar que seja tão destrutivo.
Um ponto fundamental é a prevenção, diz Joice Ferreira, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental e da Rede Amazônia Sustentável e uma das autoras do estudo. Por meio de satélites, cientistas já têm a capacidade de prever secas. "E já sabemos que a seca é altamente relacionada com queimadas. Uma vez que o fogo inicia é muito difícil controlar."
Quando o desmatamento em um ano é muito alto, é possível inferir, também, que isso poderá se refletir no ano seguinte com uma possibilidade maior de incêndios, já que regiões com áreas mais desmatadas e mais secas são mais vulneráveis a queimadas.
Por isso, diz Ferreira, o Brasil tem "toda a condição de fazer um mapa de risco de incêndio", como está sendo feito na região do Tapajós.
E há três pontos que podem ser endereçados. A seca, o fogo causado pela limpeza de pasto ou por comunidades para incorporar os nutrientes da vegetação ao solo e, claro, o fogo causado para "limpar" uma região desmatada.
Para diminuir as consequências de um evento de seca como o El Niño, a médio e longo prazo, é preciso investir na restauração florestal, diz Ferreira, para reduzir a degradação das florestas. Dessa maneira, as matas ficam menos secas e, assim, menos vulneráveis a secas.
Para controlar o fogo que pode escapar quando usado para limpar o pasto ou para incorporar nutrientes ao solo, gestores podem fazer regras mais rígidas, determinando certas condições para a realização dessas queimadas.
Podem determinar, por exemplo, a quantos dias de diferença da chuva esses fogos poderão ser feitos, impedir que sejam levados a cabo em horários de maior calor ou que sejam postos no contravento e não a favor do vento, entre outros.
O governo pode também disseminar técnicas agrícolas que dependam menos do fogo, diz Ferreira, e dar apoio para que populações tenham condições de usar essas outras técnicas.
Por fim, é preciso combater o desmatamento — em sua maior parte, ilegal. "É uma questão de comando e controle. As instituições têm que ser mais fortalecidas, devem ser mais rigorosas nas multas, na regularização ambiental das propriedades e realmente fazer esforço para utilizar recursos que tem para responsabilizar quem faz as práticas ilegais", diz Ferreira.
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