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Pesquisadores de pelo menos 5 países, entre eles Espanha e Brasil, apontaram presença de Sars-Cov-2 em amostras de esgoto coletadas antes de 1º caso oficial em Wuhan.
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Por BBC  
09/07/2020 09h11  Atualizado há 05 horas
Postado em 09 de julho de 2020 às 14h20m
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Equipamento automatizado para pesquisa de anticorpos contra o vírus 
SARS-CoV-2 (Covid-19) e outras análises — Foto: Ector Gervasoni 
 
 
 
 Pesquisadores de pelo menos cinco países, incluindo o Brasil, apontaram
 a presença do novo coronavírus em amostras de esgoto coletadas semanas 
ou meses antes do primeiro caso registrado oficialmente na cidade 
chinesa de Wuhan, epicentro da pandemia de Covid-19. 
 
 
 
 Mas o que essas descobertas de vírus nas fezes mudam sobre o que sabemos do vírus Sars-CoV-2?
Cientistas indicam três eixos principais:
 
 
 
 Em relação ao terceiro ponto, o estudo que mais chamou a atenção foi 
liderado por pesquisadores da Universidade de Barcelona. Segundo eles, 
havia presença do novo coronavírus em amostras congeladas — coletadas na
 Espanha — de 15 de janeiro de 2020 (41 dias antes da primeira 
notificação oficial no país) e de 12 de março de 2019 (nove meses antes 
do primeiro caso reportado na China). 
 
 
 Mas como um vírus com potencial pandêmico poderia ter circulado sem 
chamar a atenção ou criar uma explosão de casos, como ocorreu em Wuhan? 
Especialistas citam ao menos cinco hipóteses. 
 
 
 Uma, é que pacientes podem ter recebido diagnósticos errados ou incompletos de doenças respiratórias,
 algo que teria contribuído para o espalhamento inicial da doença. Outra
 é que o vírus não tenha se espalhado com força a ponto de originar um 
surto. 
 
  
 
 Há também duas possibilidades de problemas na análise: uma eventual contaminação da amostra ou um resultado falso positivo, por causa da similaridade genética com outros vírus respiratórios ou de falhas no kit de teste. 
 
 
 Por fim, há quem fale em um vírus à espera de ativação.
 Tom Jefferson, epidemiologista ligado ao Centro de Medicina Baseada em 
Evidências da Universidade de Oxford, afirmou ao veículo britânico "The 
Telegraph" que há um número crescente de evidências que apontam que o 
Sars-CoV-2 estava espalhado pelo mundo antes de emergir na Ásia. "Talvez
 estejamos vendo um vírus dormente que foi ativado por condições 
ambientais." 
 
 
 Para o virologista Fernando Spilki, presidente da Sociedade Brasileira 
de Virologia, é preciso aguardar mais estudos sobre o tema antes de 
tirar qualquer conclusão sobre a incidência do vírus meses antes da 
origem conhecida da pandemia, em dezembro. 
 
 
"Todos
 estes resultados têm de ser avaliados com cautela. A própria 
característica do Sars-CoV-2 de induzir casos de bastante gravidade e 
letalidade relativamente alta na população torna improvável que este 
vírus circule em uma região sem evidência de casos clínicos."
O que afirma a pesquisa liderada pela UFSC?
 
 
 
 A equipe liderada por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) analisou seis amostras de 200 ml de esgoto bruto congelado, coletadas em Florianópolis de 30 de outubro de 2019 a 4 de março de 2020.  
 
 
 No artigo, que ainda não foi analisado por revisores acadêmicos, os 
pesquisadores afirmam que a presença do vírus foi detectada a partir de 
27 de novembro. Naquela amostra havia, segundo eles, 100 mil cópias de 
genoma do vírus por litro de esgoto, um décimo da identificada na 
amostra de 4 de março. Santa Catarina registraria oficialmente os dois 
primeiros casos em 12 de março, em Florianópolis. 
 
 
     
       
 
Estudo aponta coronavírus no esgoto de Florianópolis em novembro 
 
 
 
 
 
 Segundo os pesquisadores, o vírus foi identificado nas amostras de 
esgoto por meio do teste RT-PCR, capaz de detectar a presença do 
Sars-CoV-2 a partir de 24 horas após a contaminação do paciente. Esse 
teste, cuja sigla significa transcrição reversa seguida de reação em 
cadeia da polimerase, basicamente transforma o RNA (material genético) 
do vírus em DNA para identificar sua presença ou não na amostra 
examinada. 
 
 
"Isso
 demonstra que o Sars-CoV-2 circulava na comunidade meses antes de o 
primeiro caso ser reportado" no continente americano, escrevem os 
autores do artigo. 
  
 
 A bióloga Gislaine Fongaro, líder da pesquisa e professora do 
departamento de microbiologia, imunologia e parasitologia da UFSC, 
afirmou que os primeiros resultados despertaram ceticismo na equipe. Por
 isso, acionaram outros departamentos da universidade a fim de 
rechecarem e repetirem todos os testes com diversos marcadores virais 
(para evitar que outros vírus parecidos confundissem a detecção, por 
exemplo). 
 
 
 Segundo ela, a presença do vírus meses antes do registro oficial pode 
ser explicada, por exemplo, pelo fato de que as pessoas podem ou não ter
 ficado doentes ou atribuído os sintomas a outras doenças. Mas, de 
acordo com Fongaro, apenas estudos futuros podem explicar como o vírus 
foi parar no esgoto de Florianópolis em novembro. 
 
 
 Um sequenciamento genético do vírus encontrado no esgoto poderia, por 
exemplo, ser comparado ao outros sequenciamentos feitos ao redor do 
mundo a fim de estimar a data de origem precisa do Sars-CoV-2 
encontrado.
Quando a pandemia de fato começou?
 
 
 
 A cronologia oficial da pandemia de Covid-19 tem mudado ao longo do 
tempo porque ainda há muito a ser descoberto sobre a doença, o modo como
 ela se espalha e, principalmente, sua origem. Não está claro ainda como
 e quando o vírus Sars-CoV-2 passou a infectar a espécie humana. 
 
 
 Há consenso entre cientistas de que o primeiro surto ocorreu em um 
mercado de Wuhan que vendia animais selvagens vivos e mortos. Mas 
pesquisadores não sabem se o vírus surgiu ali ou "se aproveitou" da 
aglomeração para se espalhar de uma pessoa para outra. "Se você me 
pergunta qual é a maior possibilidade, digo que o vírus veio de mercados
 que vendem animais selvagens", afirmou Yuen Kwok-yung, microbiologista 
da Universidade de Hong Kong, à BBC. 
 
 
 As lacunas persistem. Os primeiros casos de Covid-19 foram reportados 
oficialmente no fim de dezembro, mas um estudo de médicos de Wuhan, 
publicado em janeiro pela revista médica "The Lancet", descobriu 
posteriormente que o primeiro caso conhecido de Covid-19 em um humano 
havia ocorrido semanas antes. Trata-se de um idoso de Wuhan que não 
tinha nenhum vínculo com o mercado público. 
 
 
 A cronologia da pandemia no Brasil também pode mudar. O primeiro 
diagnóstico oficial no país ocorreu em 26 de fevereiro, um empresário de
 61 anos de São Paulo que retornava de uma viagem à Itália, onde 
começava a surgir uma explosão de casos. 
 
 
 Mas análises feitas por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
 apontam ao menos um caso de Sars-Cov-2 no Brasil um mês antes, entre 19
 e 25 de janeiro. O vírus também teria circulado entre os habitantes do 
país um mês antes do que o governo federal estimava, segundo a 
instituição.  
 
 
 Para chegar a essas conclusões, a Fiocruz se baseou em dois pontos, 
principalmente. A análise retroativa de amostras coletadas de pacientes 
em meses anteriores e a comparação do número de pessoas com doenças 
respiratórias sem causa aparente em 2020 com anos anteriores. 
 
 
 Como então sanar essas lacunas? Há quem defenda investigações à moda 
antiga. "Esses surtos precisam ser investigados adequadamente com as 
pessoas in loco, um a um. Você precisa fazer o que John Snow fez. Você 
questiona as pessoas e começa a construir hipóteses que se encaixam nos 
fatos, e não o contrário", defendeu o epidemiologista Tom Jefferson, 
ligado à Universidade de Oxford, em entrevista ao "Telegraph". 
 
 
 O médico John Snow (1813-58) é considerado um dos fundadores da 
epidemiologia moderna ao sair a campo para investigar um surto de cólera
 em Londres em 1854 — a doença havia matado dezenas de milhares de 
pessoas na cidade nas duas décadas anteriores. 
 
  
 
 Ele não aceitava a teoria mais difundida à época, de que o contágio se 
dava pelo "ar podre e viciado". Em sua célebre análise de dados, Snow 
entrevistou moradores, mapeou caso a caso de modo pioneiro e identificou
 que a causa do surto era na verdade uma fonte pública de água 
contaminada por dejetos. A descoberta gerou uma revolução nas 
investigações de espalhamento de doenças.
É possível haver contágio de Sars-CoV-2 por meio do esgoto?
 
 
 
 A presença do novo coronavírus nas fezes levanta a possibilidade de 
contágio por meio do esgoto. Em 2003, durante a pandemia de outro vírus 
Sars-CoV, a infecção de centenas de moradores em um mesmo prédio de Hong
 Kong foi atribuída a vazamentos na tubulação de esgoto. 
 
 
 Na pandemia atual, ainda não há evidências de que isso tenha ocorrido 
ou de que o Sars-CoV-2 esteja viável para transmissão após ser excretado
 nas fezes. Tampouco há recomendações oficiais para usar água sanitária a
 fim de conter o contágio via esgoto, conforme tem circulado em grupos 
de WhatsApp. A contaminação ocorre basicamente por via respiratória. 
 
 
 Estudos apontam que o sistema de tratamento do esgoto é capaz de 
eliminar a presença do vírus, mas a precária situação sanitária de 
países como o Brasil pode levar ao despejo de uma enorme carga viral em 
rios sem tratamento adequado. Segundo dados do Sistema Nacional de 
Informações sobre Saneamento de 2018, apenas 46% do esgoto gerado no 
país são tratados. A falta de saneamento no Brasil gera mais de 300 mil 
internações hospitalares por ano, mas ainda não é possível afirmar que a
 presença de coronavírus no esgoto represente um risco à saúde da 
população. 
 
 
 O Sars-CoV-2 pode aparecer nas fezes de até metade dos pacientes de 
covid-19, entre eles, os que tiveram diarreia, sintoma reportado por 1 a
 cada 5 pacientes. Alguns estudos apontam que, em geral, o vírus aparece
 nas fezes cerca de uma semana depois dos sintomas e pode permanecer por
 mais cinco semanas após a recuperação. 
 
  
 
 Segundo pesquisadores, o método de monitorar a presença do vírus na 
rede de esgoto de uma cidade pode alertar a existência de um surto de 
sete a dez dias antes do registro oficial. Um dos pontos positivos dessa
 abordagem é monitorar também pacientes sem sintomas ou que não foram 
testados. 
 
 
 Em Belo Horizonte, por exemplo, um projeto-piloto da Agência Nacional 
de Águas (ANA) analisa amostras de esgoto e aponta que o número de 
infectados pode ser 20 vezes maior que o de casos confirmados 
oficialmente.
O que dá mais para analisar no esgoto? Drogas, disparidade social e remédios
 
 
 
 A carreira de "epidemiologista de águas residuais", que se disseminou 
nas últimas duas décadas ao redor do mundo, está em expansão nos últimos
 anos. 
 
 
 Uma das principais funções desse profissional é descobrir, por exemplo,
 como o nível do uso de drogas ilegais calculado em abordagens 
tradicionais, como questionários, pode ser comparado com as evidências 
mais diretas encontradas nos sistemas de esgoto. E assim apontar 
subnotificações, entre outras informações. 
 
 
 A técnica não mira indivíduos, mas informações sobre localidades, o que
 poderia alertar autoridades sobre a eficiência de campanhas e serviços 
de saúde pública em uma determinada região, bem como se estão empregando
 os recursos policiais adequadamente. 
 
 
 Além do consumo de drogas, essa análise de partículas em esgotos pode 
servir para análise de hábitos ligados a alimentos e remédios. 
 
 
 Um laboratório da Universidade de Queensland, na Austrália, por 
exemplo, realizou coletas em estações de tratamento de esgoto de todo o 
país a fim de analisar hábitos alimentares e de consumo de medicamentos 
de diferentes comunidades. 
 
 
 E o resultado? Em linhas gerais, os pesquisadores descobriram que, 
quanto mais rica a comunidade, mais saudável é sua dieta. Nos estratos 
socioeconômicos mais altos, o consumo de fibras, cítricos e cafeína era 
maior. Nos mais baixos, medicamentos prescritos apresentaram uso 
significativo. 
 
 
 Por outro lado, o uso de antibióticos é distribuído de maneira bastante
 uniforme entre diferentes grupos socioeconômicos, indicando que o 
sistema de saúde subsidiado pelo governo está fazendo seu trabalho.
 
 Estudo encontra partículas da Covid-19 no esgoto de Florianópolis desde novembro de 2019 
 
 
 
 
 
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