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terça-feira, 19 de outubro de 2021

Por que e como o ser humano perdeu o rabo na evolução?

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A cauda tem uma função no mundo natural - mas, por alguma razão, o ancestral dos humanos perdeu a sua há 25 milhões de anos.
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TOPO
Por Daniel Gonzalez Cappa, BBC

Postado em 19 de outubro de 2021 às 13h00m


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Os macacos têm rabo, ​​ao contrário dos humanos e dos grandes símios — Foto: GETTY IMAGES via BBC Brasil
Os macacos têm rabo, ​​ao contrário dos humanos e dos grandes símios — Foto: GETTY IMAGES via BBC Brasil

Por acaso, alguma vez você já olhou para a parte traseira do seu corpo e se perguntou onde está sua cauda?

Isso parece uma piada ou um tipo de pregunta que uma criança faria inocentemente. Mas, para os cientistas, isso é um assunto sério.

Afinal, se nós, seres humanos, somos tão parecidos com os macacos, biologicamente falando, por que eles têm caudas e nós não temos?

"Essa é uma boa questão", reconhece Bo Xia, estudante de pós-graduação em biologia de células-mãe na Escola de Medicina Grossman, da Universidade de Nova York.

A verdade é que a cauda - no Brasil também chamada de "rabo" - pode ter múltiplos benefícios no mundo animal.

A cauda traz muitas vantagens no mundo animal. Em alguns mamíferos, como os gatos, ajuda no equilíbrio — Foto: GETTY IMAGES via BBC Brasil
A cauda traz muitas vantagens no mundo animal. Em alguns mamíferos, como os gatos, ajuda no equilíbrio — Foto: GETTY IMAGES via BBC Brasil

Desde que surgiram nos primeiros seres vivos, há mais de 500 milhões de anos, as caudas - ou os rabos - assumiram vários papéis.

Nos peixes, elas ajudam na propulsão dentro d'água. Nos pássaros, ajudam na realização do voo. Nos mamíferos, colaboram para o equilíbrio dos animais.

Pode ser também uma arma de defesa, como no caso dos escorpiões. Ou usado como um sinal de advertência, como fazem as serpentes do tipo cascavel.

Nos primatas, a cauda adapta-se a uma variedade de ambientes. Os macacos-uivadores, nativos das Américas do Sul e Central, por exemplo, têm uma cauda larga e preênsil (adaptada a prender e segurar coisas) que os ajuda a agarrar galhos ou alimentos quando estão sobre as árvores.

Mas os hominídeos, a família de primatas que inclui os seres humanos e os grandes símios, como orangotangos, chimpanzés e gorilas, não têm caudas.

Por que e como ocorreu o desaparecimento das caudas na evolução dos hominídeos são perguntas que têm intrigado cientistas há décadas.

A resposta parece estar em uma mutação genética recém-descoberta que afetou de alguma maneira os genes que davam forma à cauda dos hominídeos, uns 25 milhões de anos atrás.

Humanos e macacos têm ancestrais comuns — Foto: GETTY IMAGES via BBC Brasil
Humanos e macacos têm ancestrais comuns — Foto: GETTY IMAGES via BBC Brasil

A mutação sobreviveu ao longo do tempo e foi passando de geração para geração, mudando a locomoção dos hominídeos, o que pode estar relacionado ao fato de que nós humanos caminhamos sobre duas pernas.

"Tudo isso parece estar relacionado e ocorreu em torno do mesmo período evolutivo. Mas não sabíamos nada da genética que atua nesse processo de desenvolvimento e, logicamente, na evolução", acrescenta Xia.

"Como se pode imaginar, esse é um dos pontos evolutivos cruciais, o que nos faz humanos." E, para comprová-lo, Xia aplicou a mesma mutação em camundongos.

O que se observou foi que os camundongos desenvolveram formas diferentes de caudas. Alguns tinham caudas mais curtas, enquanto em outros não cresceu cauda alguma.

O enigma humano

Charles Darwin já havia dito isso. O Homo sapiens (a espécie humana atual) tinha parentesco com os macacos com cauda.

O naturalista britânico publicou "A Origem do Homem" em 1871, obra em que explicava que sua teoria da evolução era completamente aplicável à espécie humana.

Charles Darwin, naturalista inglês e autor de 'A Origem das Espécies' e 'A Origem do Homem' — Foto: GETTY IMAGES via BBC Brasil
Charles Darwin, naturalista inglês e autor de 'A Origem das Espécies' e 'A Origem do Homem' — Foto: GETTY IMAGES via BBC Brasil

Foi uma grande revelação para a época. Afinal, os humanos sempre estabelecemos uma distância entre a sociedade moderna e o mundo animal: vivemos em casas, nossa pele é diferente, e fazemos uso do nosso cérebro para resolver dilemas complexos.

Darwin já havia balançado as estruturas da ciência da época com a publicação de "A Origem das Espécies", em 1859. Sua explicação sobre a origem do ser humano foi revolucionária, já que até então a maioria dos cientistas ocidentais compartilhava a ideia de que Deus havia concebido todas as criaturas do planeta.

Entretanto, nós humanos compartilhamos mais de 98% de nosso DNA com os chimpanzés, com quem temos ancestrais em comum.

Os primeiros hominídeos, surgidos há 20 milhões de anos, já não tinham caudas. Então, se a cauda está relacionada à evolução de símios e humanos e influenciou na locomoção e na forma de andar, cabe a pergunta: o que ocorreu primeiro, o desaparecimento da cauda ou a locomoção sobre duas pernas?

"É como a pregunta do ovo e a galinha", afirma Xia. "E, como pode imaginar, não é uma pergunta fácil de responder."

A resposta curta é de que é virtualmente impossível conhecer com exatidão os acontecimentos iniciais que fizeram com que nossos antepassados ficassem de pé, sobre duas patas, e saber se isso estava relacionado com o fato de que não tinham cauda.

Ou, ao contrário, se não temos cauda porque ficamos de pé, e com isso é mais fácil para nós manter o equilíbrio sobre nossas pernas - e, por isso, não precisamos mais de cauda.

— Foto: GETTY IMAGES via BBC Brasil
— Foto: GETTY IMAGES via BBC Brasil

"Precisaríamos de uma máquina do tempo para saber tudo isso. Poderíamos regressar no tempo e observar os acontecimentos iniciais. Mas, como não a temos, eu poderia dizer que não sabemos, e isso seria o fim da discussão. Então alguém poderia perguntar por que estamos falando disso tudo."

"A verdadeira resposta é que esses dois processos sempre são discutidos conjuntamente ou interferem um no outro."

Ou seja, não podemos falar da evolução humana sem fazer referência à cauda ou à locomoção bípede (sobre duas pernas), independentemente do que veio (ou aconteceu) primeiro.

A resposta está na genética

Xia mergulhou no tema da cauda nos seres humanos desde que machucou o cóccix - osso da parte inferior da coluna - numa viagem de carro, dois anos atrás.

Algumas mutações trazem vantagens para os indivíduos. No caso dos humanos, a perda da cauda pode ter mudado a maneira como andamos — Foto: GETTY IMAGES via BBC Brasil
Algumas mutações trazem vantagens para os indivíduos. No caso dos humanos, a perda da cauda pode ter mudado a maneira como andamos — Foto: GETTY IMAGES via BBC Brasil

O cóccix, do latim coccyx, é a última peça da nossa coluna vertebral, formado por quatro vértebras fundidas, e representa o vestígio do que foi uma cauda milhões de anos atrás.

Em imagens de embriões humanos, é possível ver uma cauda, que é absorvida pelo embrião após algumas semanas para dar forma à coluna vertebral.

Esse cóccix, que serve de suporte para os glúteos, está localizado no mesmo ponto onde outros animais possuem suas caudas.

"Nós levantamos todos esses temas porque a ciência nos interessa e buscamos respostas nela. E em ciência temos conseguido, nos últimos cem anos, grandes avanços em genética", diz Itai Yanai, pesquisador e diretor do Instituto de Medicina Computacional da Universidade de Nova York.

"Realmente é preciso conhecer muitos conceitos sobre desenvolvimento, sobre emendas alternativas, genômica comparada. E Bo demonstrou que, se você entende esses conceitos, pode mirar o genoma, dar-lhe sentido e ver o que existe nele."

A mutação identificada por Xia consiste em 300 letras genéticas no meio de um gene conhecido como TBXT, uma seção do DNA que é praticamente igual em humanos e símios.

Para provar a relação entre essa mutação e a cauda, Xia manipulou geneticamente camundongos com a mesma mutação.

Eureca! Xia e seus colegas observaram que a cauda não crescia nos camundongos manipulados, como aconteceria normalmente com o animal.

Essa descoberta, porém, é apenas a primeira de talvez muitas outras para que se possa entender o papel das mutações genéticas em nossos ancestrais. Os cientistas dizem que há mais de 30 genes envolvidos na formação da cauda em animais, e os pesquisadores de Nova York estão falando de apenas um deles.

Como disse Xia, todos nós humanos temos cóccix muito semelhantes entre si, mas no caso dos camundongos do experimento, as caudas tinham tamanhos diferentes ou estavam completamente ausentes.

Sua conclusão é que houve uma série de mutações, e não apenas uma, que afetou diferentes genes nos hominídeos 25 milhões de anos atrás - e foi alterando nossa evolução.

"Essa pode ter sido uma mutação crucial, mas cremos que não tenha sido a única responsável", afirma.

Mutações que sobrevivem

Os cientistas sabem como o ancestral do ser humano perdeu a cauda milhões de anos atrás, mas ainda não estão claras as verdadeiras razões pelas quais essa mutação sobreviveu por tanto tempo.

Para Xia e Yanai, essa é uma pergunta sem resposta, pelo menos por enquanto. "As mutações ocorrem o tempo todo", explica Yanai.

Algumas mutações podem ser positivas, outras negativas, dependendo do ambiente, como diz Xia.

Normalmente, se uma mutação é negativa, ela pode ser prejudicial para o hóspede, fazendo com que este adoeça ou morra. Por isso, essa mutação não sobrevive ao longo do tempo.

Mas, se uma mutação traz vantagens evolutivas, então ela é mantida presente nos indivíduos mais bem adaptados, fazendo com que seja passada de geração a geração.

O que Xia quer dizer é que a perda de cauda pode ter trazido vantagens evolutivas significativas aos hominídeos, o que explica sua permanência ao longo do tempo.

A vantagem pode não ter sido manter o equilíbrio sobre as árvores, mas sim uma melhor locomoção sobre duas pernas ou a utilização das mãos para a manipulação de objetos.

Isso não quer dizer que a perda da causa tenha trazido apenas coisas boas. Xia e sua equipe observaram que os camundongos do experimento exibiram má formações na coluna vertebral muitos semelhantes aos defeitos no tubo neural que afetam um em cada mil recém-nascidos humanos.

Os cientistas já sabem como perdemos nossa cauda. Agora está faltando o 'motivo' — Foto: GETTY IMAGES via BBC Brasil
Os cientistas já sabem como perdemos nossa cauda. Agora está faltando o 'motivo' — Foto: GETTY IMAGES via BBC Brasil

Essas má formações estão relacionadas com uma espinha dorsal bífica - partida em duas -, o que significa que a coluna vertebral do feto não se fecha completamente, o que traz danos aos nervos e uma possível paralisia.

"Então eu não diria que as mutações são boas ou más. São algo que simplesmente ocorrem", afirma Xia.

"Creio que isto seja muito importante", diz. "Temos que apenas mirar no genoma. E por isso espero que esta seja uma contribuição duradoura."

Yanai indica que esse trabalho pode contribuir para a compreensão, por meio do genoma, de outros eventos que ocorreram no nosso passado biológico.

"Acredito que isso esteja nos ensinando a usar nossos programas de computadores de uma forma diferente. Temos o genoma há anos. O que Bo encontrou poderia ter sido encontrado anos atrás", afirma. "Então eu acredito que a comunidade científica se inspirará nesse trabalho."

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Espada que pode ser das Cruzadas e ter mais de 900 anos é encontrada no mar em Israel

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Objeto estava em uma enseada natural perto da cidade portuária de Haifa, no Mar Mediterrâneo, e foi encontrado por um mergulhador amador.
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Por g1

Postado em 19 de outubro de 2021 às 09h00m


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Espada que pode ser das Cruzadas e ter mais de 900 anos é encontrada em Israel
Espada que pode ser das Cruzadas e ter mais de 900 anos é encontrada em Israel

Um mergulhador amador encontrou no Mar Mediterrâneo, em Israel, uma espada que pode ter mais de 900 anos e ser da época das Cruzadas (veja no vídeo acima).

Ela será limpa e restaurada por especialistas e, depois, ficará exposta.

Acredita-se que a espada pertenceu a um cruzado que navegou para a Terra Santa há quase um milênio, afirmou a Autoridade de Antiguidades de Israel na segunda-feira (18).

As cruzadas foram grandes expedições militares organizadas por potências cristãs da época com o objetivo de reconquistar territórios no Oriente Médio.

Espada que acredita-se ter pertencido a um cruzado que navegou para a Terra Santa há quase um milênio é fotografada em 18 de outubro em 2021 na água perto de onde foi encontrada, no fundo do Mar Mediterrâneo, por um mergulhador amador em Israel — Foto: Ronen Zvulun/Reuters
Espada que acredita-se ter pertencido a um cruzado que navegou para a Terra Santa há quase um milênio é fotografada em 18 de outubro em 2021 na água perto de onde foi encontrada, no fundo do Mar Mediterrâneo, por um mergulhador amador em Israel — Foto: Ronen Zvulun/Reuters

A espada está incrustada por organismos marinhos, mas o mergulhador conseguiu reconhecer o formato da lâmina e do cabo após uma corrente subterrânea retirar parte da areia que a cobria.

Segundo a Autoridade de Antiguidades de Israel, o mergulhador estava em um mergulho de fim de semana no sábado (16) e também encontrou outros artefatos antigos, como âncoras e cerâmicas.

Temendo que sua descoberta pudesse sumir com as correntes marítimas, ele pegou a espada e a entregou a especialistas do governo.

Jacob Sharvit, diretor da Unidade de Arqueologia Marinha da Autoridade de Antiguidades de Israel, segura espada de um metro de comprimento que foi encontrada no Mar Mediterrâneo e especialistas dizem remontar aos cruzados em foto de 19 de outubro de 2021 — Foto: Ariel Schalit/AP
Jacob Sharvit, diretor da Unidade de Arqueologia Marinha da Autoridade de Antiguidades de Israel, segura espada de um metro de comprimento que foi encontrada no Mar Mediterrâneo e especialistas dizem remontar aos cruzados em foto de 19 de outubro de 2021 — Foto: Ariel Schalit/AP

Local do achado

Os objetos estavam em uma enseada natural perto da cidade portuária de Haifa, que fica a cerca de 90 km da capital Tel Aviv e a cerca de 150 km de Jerusalém.

Arqueólogos acreditam que muitos tesouros antigos estão submersos na área.

Kobi Sharvit, diretor da unidade de arqueologia marinha da Autoridade de Antiguidades de Israel, afirma que a enseada provavelmente servia de abrigo para marinheiros.

"Essas condições atraíram navios mercantes ao longo dos tempos, deixando para trás ricos achados arqueológicos", afirma Sharvit.

Veja mais fotos da espada:

Espada antiga é fotografada na água após ter sido descoberta por um mergulhador amador perto de Haifa, no Mar Mediterrâneo, em 14 de outubro de 2021 em Israel — Foto: Autoridade de Antiguidades de Israel via AP
Espada antiga é fotografada na água após ter sido descoberta por um mergulhador amador perto de Haifa, no Mar Mediterrâneo, em 14 de outubro de 2021 em Israel — Foto: Autoridade de Antiguidades de Israel via AP


Espada que acredita-se ter pertencido a um cruzado que navegou para a Terra Santa há quase um milênio é fotografada em 18 de outubro de 2021 na água, perto de onde foi encontrada por um mergulhador amador, no Mar Mediterrâneo em Israel — Foto: Ronen Zvulun/Reuters
Espada que acredita-se ter pertencido a um cruzado que navegou para a Terra Santa há quase um milênio é fotografada em 18 de outubro de 2021 na água, perto de onde foi encontrada por um mergulhador amador, no Mar Mediterrâneo em Israel — Foto: Ronen Zvulun/Reuters


Jacob Sharvit, diretor da Unidade de Arqueologia Marinha da Autoridade de Antiguidades de Israel, segura espada de um metro de comprimento que foi encontrada no Mar Mediterrâneo e especialistas dizem remontar às Cruzadas, em foto de 19 de outubro de 2021 — Foto: Ariel Schalit/AP
Jacob Sharvit, diretor da Unidade de Arqueologia Marinha da Autoridade de Antiguidades de Israel, segura espada de um metro de comprimento que foi encontrada no Mar Mediterrâneo e especialistas dizem remontar às Cruzadas, em foto de 19 de outubro de 2021 — Foto: Ariel Schalit/AP


Espada que acredita-se ter pertencido a um cruzado que navegou para a Terra Santa há quase um milênio é fotografada em 18 de outubro de 2021 na água, perto de onde foi encontrada por um mergulhador amador, no Mar Mediterrâneo em Israel — Foto: Ariel Schalit/AP
Espada que acredita-se ter pertencido a um cruzado que navegou para a Terra Santa há quase um milênio é fotografada em 18 de outubro de 2021 na água, perto de onde foi encontrada por um mergulhador amador, no Mar Mediterrâneo em Israel — Foto: Ariel Schalit/AP

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Não é igual no mundo todo: inflação no Brasil deve fechar ano maior que a de 83% dos países

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Levantamento do Ibre/FGV, com base em relatório do FMI, aponta que disparada dos preços foi mais intensa aqui do que no restante do mundo; explicação, segundo economistas, está na desvalorização do real frente ao dólar devido à crise institucional e às incertezas fiscais.
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Por Bianca Lima e Luiz Guilherme Gerbelli, GloboNews e g1

Postado em 19 de outubro de 2021 às 08h05m


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Inflação do Brasil em 2021 será maior que a de 83% dos países
Inflação do Brasil em 2021 será maior que a de 83% dos países

A inflação é um problema global – mas não é igual no mundo todo. No Brasil, ela deve encerrar o ano maior que a de 83% dos países, segundo um levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Os dados utilizados pelo estudo do Ibre foram colhidos do último relatório "World Economic Outlook", elaborado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e divulgado na semana passada – e que alertou para os riscos da alta generalizada de preços.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem afirmado que a alta da inflação é um fenômeno global, e que o Brasil não estaria fora do 'padrão'.

"Países que tinham zero [de inflação], agora estão em 4%, 5%. Países que tinham 4%, 5%, agora estão em 8%, 9%. Isso acontece, mas tem de haver resposta política", afirmou ele no início deste mês.

Os dados mostram, no entanto, que o patamar de inflação por aqui supera – em muito – o visto na maior parte do exterior. E, segundo o diretor do Banco Central Bruno Serra, está em um "nível muito elevado" até para o Brasil, acostumado com pressão sobre os preços.

Estimativas

A estimativa do FMI é a que a inflação brasileira encerre o ano em 7,9% – no acumulado de 12 meses até setembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegou a 10,25%. Se a projeção do fundo se confirmar, o Brasil vai registrar uma inflação bem acima da apurada entre os países emergentes (5,8%) e também da média mundial (4,8%).

IPCA tem alta de 1,16% em setembro e atinge 10,25% em 12 meses
IPCA tem alta de 1,16% em setembro e atinge 10,25% em 12 meses

Todos os anos, nos meses de abril e outubro, o FMI atualiza as suas projeções para diversos indicadores macroeconômicos, como inflação, Produto Interno Bruto (PIB) e investimento, para um grupo de quase 200 países.

Ranking da inflação — Foto: Economia g1
Ranking da inflação — Foto: Economia g1

O levantamento deixa evidente que a piora da inflação tem sido mais intensa no Brasil que no restante do mundo. No relatório de outubro do ano passado, por exemplo, a previsão era que a nossa economia teria uma inflação maior que a de 57% dos países. No relatório de abril, esse patamar subiu para 70%. E agora está em 83%.

"O que agrava a situação do Brasil é a nossa moeda, que segue desvalorizando mais do que a média das outras divisas", afirma André Braz, pesquisador do Ibre.

A previsão do FMI para a inflação brasileira pode ser considerada conservadora. No relatório Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central, os analistas consultados estimam um IPCA de 8,69% para 2021. Nesse cenário, a alta de preços no Brasil supera a de 86% das nações.

Inflação é problema global

Quase todos os países passaram a lidar com uma alta de preços mais intensa neste ano.

Com a retomada da economia, depois de superada a fase mais aguda da pandemia, a cotação das commodities subiu e se somou ao desarranjo nas cadeias de produção – a crise sanitária paralisou ou reduziu a produção em muitos setores industriais. Essa interrupção provocou uma escassez de produtos, pressionando os custos em todo o mundo.

"O mundo está se recuperando mais rapidamente por causa dos estímulos fiscais adotados pelas grandes economias. São investimentos importantes para aquecer a atividade", afirma Braz. "Mas o efeito colateral desse aquecimento rápido é uma busca muito grande por recursos de commodities, como petróleo e carvão."

A piora do quadro inflacionário em todo o mundo fica evidente no aumento das projeções do FMI - entre os relatórios de outubro de 2020 e deste ano. Aqui, também fica claro que a disparada da inflação no Brasil foi mais intensa do que no restante dos países.

Brasil tem a 3ª inflação mais alta entre os países do G20
Brasil tem a 3ª inflação mais alta entre os países do G20

Por que no Brasil é pior?

Desde o ano passado, a inflação brasileira passou a ser pressionada pela alta dos preços dos alimentos, resultado justamente da valorização das commodities.

Em tese, a alta das commodities deveria fazer com que o real se valorizasse em relação ao dólar, ajudando no combate à inflação. Isso porque o Brasil é um grande exportador de produtos básicos, como soja e milho. Portanto, a entrada de dólares no país deveria fortalecer a moeda brasileira. Mas esse cenário não tem se confirmado: o real segue desvalorizado diante das incertezas nas áreas fiscal e política.

"A causa para a taxa de câmbio apreciar em vez de depreciar foi provocada pela crise institucional e por um certo flerte com a irresponsabilidade fiscal", afirma Luiz Fernando Figueiredo, CEO da Mauá Capital e ex-diretor do BC. "Essas duas incertezas geraram uma percepção de risco dos investidores sobre o Brasil mais alta, e a taxa de câmbio depreciou."

O Brasil ainda lida com uma forte alta dos preços dos combustíveis e da energia elétrica. Em agosto, o governo e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciaram a criação da bandeira tarifária "escassez hídrica", a mais cara desde a criação do sistema de bandeiras, em 2015.

‘Bandeira escassez hídrica’: governo anuncia tarifa ainda mais cara que a vermelha nível 2
‘Bandeira escassez hídrica’: governo anuncia tarifa ainda mais cara que a vermelha nível 2

O objetivo é compensar o custo do uso das termelétricas na geração de energia no país, em razão da ausência de chuvas, que vem reduzindo o potencial das hidrelétricas.

Juros em alta e crescimento em queda

Com a inflação em dois dígitos, o Banco Central tem sido obrigado a subir a taxa básica de juros (Selic) para tentar conter a escalada dos preços.

Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a Selic subiu 1 ponto percentual e alcançou 6,25%. Os analistas avaliam que mais aumentos devem vir pela frente. No relatório Focus, a previsão é que os juros encerrem o ano a 8,25%.

BC sobe juros para 6,25% ao ano para tentar conter inflação
BC sobe juros para 6,25% ao ano para tentar conter inflação

"O Banco Central está subindo os juros de 1 ponto percentual em 1 ponto. É uma alta forte. E ele está dizendo que vai (subir) até onde precisar", afirma Figueiredo. "Aos números de hoje, a Selic deve ficar entre 8,5% e 8,75%."

Quando o BC sobe os juros, ele quer esfriar a economia, retardando o consumo das famílias e o investimento das empresas, com o objetivo de conter a escalada dos preços. Na prática, todo esse movimento da política monetária faz com que a economia cresça menos. Não à toa, já há economistas projetando um avanço do PIB abaixo de 1% em 2022.

"À medida que a gente tem que forçar o aumento de juros para conter ao máximo o espalhamento das pressões inflacionárias - ainda que não sejam por demanda, mas por fatores de custos de produção, energia e petróleo -, isso gera um desafio para o ano que vem", diz Braz.

"O efeito colateral desse aumento de juros é exatamente ter um crescimento econômico menor. Você está convencendo os agentes econômicos a adiar o investimento, que é fundamental para ter geração de emprego. E está tentando convencer as famílias a não comprar carro, apartamento, a não viajar", acrescenta.

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