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quarta-feira, 27 de março de 2024

Os lugares onde cientistas procuram vida extraterrestre na próxima década

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Existe uma busca real por vida alienígena acontecendo neste momento – e não se trata de ideias controversas, nem de algum tipo de pseudociência. É um processo sistemático conduzido por cientistas, que esperam obter resultados em até uma década.
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TOPO
Por Jonathan O'Callaghan

Postado em 27 de março de 2024 às 11h00m

#.*Post. - N.\ 11.151*.#

O robô Perseverance, da Nasa, está coletando amostras da cratera Jezero, em Marte. O plano é enviar essas amostras para serem estudadas na Terra — Foto: Nasa/JPL/BBC
O robô Perseverance, da Nasa, está coletando amostras da cratera Jezero, em Marte. O plano é enviar essas amostras para serem estudadas na Terra — Foto: Nasa/JPL/BBC

É muito fácil se entusiasmar quando o assunto é a vida alienígena.

A perspectiva de encontrar vida em outros planetas formou grande parte da nossa cultura e continua inspirando livros, programas de TV, filmes e, claro, estranhas teorias da conspiração.

👽👽👽 Mas, ao lado das fantásticas visões de homenzinhos verdes, existe uma busca real por vida alienígena acontecendo neste momento – e não se trata de ideias controversas, nem de algum tipo de pseudociência. É um processo sistemático conduzido por cientistas, que esperam obter resultados em até uma década.

Na verdade, existem diversas buscas por vida alienígena em andamento. Em Marte, por exemplo, um robô móvel – o Perseverance – está coletando amostras que podem determinar se já existiu vida no planeta vermelho.

Sondas estão visitando algumas das luas geladas do nosso Sistema Solar, em busca de sinais de habitabilidade. Astrônomos também estão começando a analisar a atmosfera de planetas fora do nosso Sistema Solar, em busca de coquetéis elementares que denunciem vida alienígena.

E, claro, nossos olhos e ouvidos cépticos continuam atentos aos sinais de qualquer civilização inteligente que venha a fazer contato, seja de propósito ou acidentalmente.

Acho que, daqui a 10 anos, teremos alguma evidência indicando se existe algo de orgânico em algum planeta próximo. Acho que estamos realmente [a ponto de encontrar algo].
— Lorde Martin Rees, astrônomo real britânico

A vida alienígena, se existir, não se deixa descobrir facilmente.

As primeiras tentativas de busca de inteligência extraterrestre começaram em meados do século 20, com os astrônomos do Projeto Seti procurando sinais de rádio de outros planetas, sem sucesso.

No final do século 19, acreditava-se que Marte tivesse rios e canais cheios de vida. Mas o planeta se mostrou uma terra estéril e basicamente seca. E os planetas em órbita de outras estrelas são tão pequenos que encontrá-los já era difícil, que dirá aprender muito sobre eles.

Na busca por vida extraterrestre, precisamos fazer a sintonia fina da nossa forma de busca e nos preparar para a possibilidade de que qualquer detecção inicial talvez seja algo pequeno, como evidências de micróbios ou marcadores químicos em uma atmosfera distante.

👉 Em comparação com a visão hollywoodiana, os primeiros contatos com a vida extraterrestre podem parecer decepcionantes, mas eventuais evidências conclusivas da existência de vida além das fronteiras do nosso planeta, ainda assim, alterariam fundamentalmente a visão do nosso lugar no Universo.

Duas espaçonaves devem visitar Europa, uma das luas de Júpiter, para estudar a extensão do oceano existente abaixo da sua superfície fraturada — Foto: Nasa/BBC
Duas espaçonaves devem visitar Europa, uma das luas de Júpiter, para estudar a extensão do oceano existente abaixo da sua superfície fraturada — Foto: Nasa/BBC

Atualmente, Marte é, sem dúvida, o destino mais popular da busca pela vida no nosso Sistema Solar. Afinal, sabemos que o planeta provavelmente era úmido e possivelmente habitável bilhões de anos atrás, com mares e lagos na sua superfície.

Os cientistas chegaram a descobrir recentemente indicações fascinantes de que ainda pode haver água em Marte no estado líquido, escondida embaixo da camada de gelo no sul do planeta.

Neste momento, o robô andarilho Perseverance, da Nasa, está retirando amostras do leito seco do que se acredita ter sido, um dia, um lago. É a chamada cratera Jezero, a pouca distância do equador marciano, no hemisfério norte.

O plano é recolher dezenas de amostras e trazê-las para a Terra no início dos anos 2030, em uma missão chamada Retorno de Amostras de Marte. Elas poderão ser então minuciosamente analisadas, em busca de sinais de vida.

Essa missão atualmente enfrenta dificuldades, já que o retorno ainda precisa obter financiamento. Mas, se as amostras conseguirem deixar o planeta vermelho, teremos em mão uma grande riqueza científica.

A cientista planetária Susanne Schwenzer, da Universidade Aberta do Reino Unido e membro da equipe científica do projeto Retorno de Amostras de Marte, afirma que a presença de vida em Marte no passado pode ter deixado sua impressão digital nas rochas e na água do planeta.

Quando você tem vida, tudo parece muito diferente. Se tivermos as amostras de Marte, poderemos analisar seus mínimos detalhes para estudar esses processos.
— Susanne Schwenzer

É possível que algumas das amostras possam conter até mesmo micróbios fossilizados no interior das rochas.

"Como cientista, eu não teria gasto minha vida com isso se não tivesse esperança de que temos uma boa chance de encontrar alguma coisa", explica Schwenzer. "Espero que encontremos algo, mas não posso fazer previsões."

Mesmo se forem detectados sinais de vida em Marte, esta não seria uma prova inequívoca de que existe vida alienígena em toda parte do Universo.

Sabemos que Marte e a Terra compartilharam material no início da sua história. Isso significa que os dois planetas podem também ter compartilhado a gênese da vida.

Para encontrar evidências de uma segunda gênese real, ou seja, uma prova de que a vida surgiu por uma segunda vez em outro mundo, de forma independente, os cientistas estão pesquisando as luas geladas do Sistema Solar, como os satélites Europa (Júpiter) e Encélado (Saturno). Eles acreditam que ambas possuem vastos oceanos por baixo das suas superfícies congeladas.

Se descobrirmos vida nas luas geladas, certamente será uma gênese diferente da vida na Terra.
— Susanne Schwenzer

A Nasa deve lançar uma espaçonave chamada Europa Clipper em direção a Europa, no mês de outubro. Ela segue o lançamento da espaçonave europeia Juice, ocorrido em abril de 2023.

Programadas para chegar em 2030 e 2031, as duas espaçonaves provavelmente não irão detectar vida em Europa. Mas irão estudar a extensão do seu oceano e definir o cenário de uma missão futura, que poderá tentar escavar a camada de gelo (como propõe a Nasa no projeto Europa Lander, ainda em fase inicial), ou voar através de plumas que podem ser ejetadas pelos oceanos das luas para o espaço, em busca de sinais de vida.

O que podemos esperar da exploração espacial em 2024

Colocar uma máquina no oceano de um desses mundos, na verdade, é um "problema de 100 anos", afirma a astrônoma Britney Schmidt, da Universidade Cornell, nos Estados Unidos. Isso se deve às dificuldades de atravessar o gelo com vários quilômetros de espessura.

Mas "adentrar na camada de gelo e interagir com os líquidos é algo que poderíamos fazer" em prazo mais curto, segundo ela.

É o tipo de missão que eu gostaria de ver acontecer. Nosso grupo está desenvolvendo instrumentos e tecnologias, de forma que já sabemos o que fazer quando chegarmos lá.
— Britney Schmidt, astrônoma
Pesquisas recentes com radares de satélites em órbita do planeta indicaram que pode haver água líquida embaixo da camada de gelo do sul de Marte — Foto: Getty Images/BBC
Pesquisas recentes com radares de satélites em órbita do planeta indicaram que pode haver água líquida embaixo da camada de gelo do sul de Marte — Foto: Getty Images/BBC

Exoplanetas

🪐 Se você não estiver preparado para esperar por 100 anos, talvez prefira dar uma olhada em outros sistemas solares.

Conhecemos agora mais de 5,5 mil planetas que orbitam outras estrelas – os chamados exoplanetas – e novas descobertas continuam a pipocar todos os dias.

Com o imenso poder dos novos telescópios, principalmente o Telescópio Espacial James Webb (JWST, na sigla em inglês), os astrônomos estão começando a examinar alguns desses planetas em belíssimos detalhes.

Em achado inédito, James Webb dá pistas sobre mistério da astronomia: buraco negro ou estrela de nêutrons?

Eles estão usando o JWST particularmente para observar se podem descobrir quais gases estão presentes em alguns exoplanetas rochosos similares à Terra.

O James Webb não se destinava a analisar exoplanetas quando foi projetado inicialmente na virada do século. Mas, de lá para cá, ele recebeu a nova tarefa de estudar esses mundos. Afinal, o JWST é o maior telescópio espacial da história e a melhor máquina que temos para esta missão.

O James Webb não consegue estudar mundos similares à Terra em órbita de estrelas como o nosso Sol. A imagem desses planetas é simplesmente ofuscada pelas suas estrelas brilhantes e mesmo o JWST não consegue analisá-los.

Para isso, será necessário um telescópio mais avançado, como o Observatório de Mundos Habitáveis da Nasa, com lançamento previsto para os anos 2040.

Mas o James Webb pode estudar planetas que orbitam estrelas pequenas, chamadas anãs vermelhas. E, no momento, ele está testando suas capacidades com um sistema solar fascinante chamado TRAPPIST-1, que inclui sete mundos do tamanho da Terra.

Pelo menos três desses planetas orbitam na zona habitável da estrela, onde pode existir água em forma líquida e vida.

A primeira etapa é a confirmação pelos astrônomos se esses planetas possuem atmosfera. A pesquisa para determinar sua presença através do JWST está atualmente em andamento e os resultados são esperados no final deste ano ou em 2025.

Resultados iniciais demonstraram que o planeta com órbita mais interna provavelmente não possui atmosfera necessária para a vida. Mas se conseguirmos encontrar atmosfera nos outros planetas do sistema TRAPPIST-1, será uma descoberta monumental, segundo a astrofísica Jessie Christiansen, do Instituto de Ciência de Exoplanetas da Nasa no Instituto de Tecnologia da Califórnia, nos Estados Unidos.

"Os próximos 20 anos de pesquisa de exoplanetas dependerão deste resultado", segundo ela. "Se os planetas da anã vermelha tiverem atmosfera, apontaremos todos os telescópios da Terra em direção a esses planetas para tentar ver alguma coisa."

Se conseguirmos encontrar atmosfera nesses planetas, será a vez do James Webb ir buscar sinais de bioassinaturas que possam indicar a existência de vida.

"Iremos procurar a química do desequilíbrio", explica Christiansen. "Você pode produzir dióxido de carbono, metano e água em [qualquer] planeta. Mas encontrá-los em proporções que não possam ser mantidas naturalmente é o ponto em que você começa a dizer que existe biologia envolvida."

Os telescópios do futuro, como o Observatório dos Mundos Habitáveis e um projeto europeu chamado Life, irão tentar realizar a mesma análise em busca de planetas similares à Terra que orbitam estrelas como o nosso Sol.

"A classe planetária norteadora serão os planetas rochosos na zona habitável", segundo o astrofísico Sascha Quanz, do Instituto Federal de Tecnologia (ETH, na sigla em alemão) de Zurique, na Suíça. Ele é o chefe do programa Life.

E assim caminha a busca pela vida inteligente.

O astrônomo Jason Wright, da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos, indica que os primeiros frutos já foram colhidos.

Observações de ondas de rádio demonstraram que, até cerca de 100 anos-luz da Terra, "aparentemente não existem" faróis poderosos apontados na nossa direção. Agora, programas como o americano Breakthrough Listen estão voltando suas pesquisas para distâncias maiores.

Eles procuram sinais de rádio emitidos de planetas mais distantes da nossa galáxia – e estão até começando a procurar vazamentos acidentais de comunicações como as que temos hoje na Terra, mas provenientes de outros planetas.

Os próximos telescópios, principalmente um imenso radiotelescópio novo que deve ser inaugurado em 2028, chamado Square Kilometer Array (um conjunto de milhares de antenas de rádio espalhadas por dois continentes), deverão expandir significativamente essa pesquisa.

"É realmente emocionante", afirma Wright. Mas, mesmo com os modernos radiotelescópios, a primeira detecção poderá surgir "a qualquer momento", segundo ele.

Existem pelo menos três planetas em órbita da anã vermelha TRAPPIST-1 na chamada 'zona habitável' da estrela, onde pode existir água em estado líquido — Foto: Nasa/BBC
Existem pelo menos três planetas em órbita da anã vermelha TRAPPIST-1 na chamada 'zona habitável' da estrela, onde pode existir água em estado líquido — Foto: Nasa/BBC

Se realmente encontrarmos evidência de vida alienígena, seja no nosso Sistema Solar, em um exoplaneta ou de uma civilização inteligente, provavelmente não será um evento extraordinário. O mais provável é que seja um processo gradual até chegarmos ao ponto em que a vida irá parecer a explicação mais plausível.

"Quanto mais informações você tiver, mais perto você estará de uma posição de eliminar falsos positivos", afirma Quanz.

Por isso, a descoberta de vida extraterrestre pode não ser um momento único definido. E a forma em que o público irá reagir a essa possibilidade é uma questão interessante, segundo Rees.

"Se for algo preliminar, os cientistas deverão deixar claro esse ponto", afirma ele. "Esperamos que isso seja manifestado nas notícias dos jornais."

Exemplos recentes incluem a detecção de fosfina em Vênus e de sulfeto de dimetila em um exoplaneta – dois possíveis sinais biológicos que geraram intensos debates e permanecem extremamente incertos.

Permanece também a outra possibilidade: de que nenhuma dessas pesquisas traga nenhum resultado. Este também será um resultado científico interessante, que indicaria que a vida alienígena, se existir, não é algo comum no Universo.

"Um resultado nulo traria algo fundamentalmente importante" sobre a vida, segundo Quanz. "Talvez ela seja muito rara."

Qual é o real risco do lixo espacial na Terra e no espaço?

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'A essência da inteligência é ver o futuro e não saber das coisas': as previsões do físico visionário Michio Kaku

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A BBC Mundo entrevista o renomado físico que se tornou conhecido por seu trabalho na ciência popular, especialmente por suas observações sobre o futuro.
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TOPO
Por Alejandro Millán Valencia

Postado em 27 de março de 2024 às 06h30m

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Michio Kaku, renomado físico e escritor americano — Foto: Getty Images/BBC
Michio Kaku, renomado físico e escritor americano — Foto: Getty Images/BBC

O físico e escritor americano Michio Kaku está convencido de que a era quântica será a que vai determinar o nosso futuro.

Kaku, 77 anos, destacou-se no campo da física teórica, mas também como um renomado divulgador científico.

Kaku analisa como a era quântica, e seus computadores, resolverão radicalmente alguns dos principais desafios da humanidade, desde erradicar doenças até alimentar uma população que só cresce.

O futuro nos trará a cura do câncer, porque o câncer é uma doença que opera a nível molecular. Como o Alzheimer, como o Parkinson. E com a nossa tecnologia digital hoje não a entendemos.
— Michio Kaku

"Mas com os computadores quânticos que estamos desenvolvendo, vamos entender como (o câncer) funciona e como podemos pará-lo", diz.

O físico de ascendência japonesa adianta que embora a inteligência artificial coloque-se como uma ameaça à humanidade, ainda há tempo para controlá-la.

Em conversa com Kaku em sua casa em Nova York, a BBC Mundo (o serviço em espanhol da BBC) buscou entender as previsões sobre o futuro trazidas em seu livro Supremacia Quântica.

BBC Mundo - Uma das coisas que mais chamaram a atenção em seus trabalhos é a ideia de que o cérebro humano é, na verdade, três cérebros. Pode explicar?

Michio Kaku - Quando você analisa o cérebro humano, você percebe que existem três elementos que o compõem, tudo como parte de seu processo evolutivo: a parte de trás, que é o que chamamos de cérebro reptiliano, que é a parte que governa, digamos, os padrões de caça. Depois vem a parte média, o centro do cérebro, que conhecemos como o cérebro primata ou do macaco, que lida com a socialização, os temas de hierarquização. E depois temos a parte frontal, o córtex pré-frontal. E é aqui que surge a grande diferença: essa parte do cérebro é uma máquina do tempo. É uma máquina que pode ver o futuro, está constantemente fazendo simulações do que pode nos acontecer mais adiante.

Agora, se você não acredita em mim, convido você a fazer uma experiência: esta noite, ensine o conceito de amanhã ao seu cachorro. Não dá, é impossível. Os animais não entendem a ideia do amanhã.

E isso sempre me chamou a atenção.

BBC Mundo - Mas todos podemos ter a mesma capacidade de ver o futuro?

Kaku - Não. O que distingue um cérebro comum de um com um nível notavelmente superior? Poderíamos chamar o cérebro de uma pessoa comum de oportunista. Olha somente para as oportunidades que estão à sua frente. Nada de planejar coisas. Um ladrão ruim, por exemplo, só leva aquilo que está na sua frente. Os grandes pensadores exercitam essa máquina do tempo constantemente. Eles simulam o futuro. Conhecem as leis da natureza e são capazes de aplicá-las para projetar como pode ser o futuro.

O exército dos EUA percebeu isso durante a Guerra do Vietnã. Eles estavam tentando entender quem dentro da tropa poderia se tornar líder e estrategista e quem era apenas seguidor, cumpridor de ordens. Ao entrevistar esses soldados, depararam-se com algo que surpreendeu: que as pessoas comuns, que não se consideravam gênios, simulavam constantemente o que aconteceria depois, prevendo coisas, pensando em como escapar se fossem capturados ou como proteger a base em caso de um ataque surpresa.

O que acontece é que começamos a entender que nosso conceito de inteligência é apenas parcialmente correto. Pensamos que alguém é inteligente por saber coisas, mas isso não é a essência da inteligência. A essência da inteligência é ver o futuro. Estimular a criação de um futuro que não existe.

BBC Mundo - Dentro dessa ideia de olhar para o futuro, qual será a grande descoberta dos próximos 100 anos?

Kaku - Para responder isso, vamos pensar primeiro nas grandes descobertas do passado. Essas grandes descobertas se deram ao analisar também coisas pequenas, não apenas as muito grandes.

Quando falamos de coisas pequenas falamos de genética, do cérebro humano; por coisas grandes me refiro à teoria do Big Bang, à qual agora estamos aplicando a teoria quântica do universo, por exemplo.

Pois bem, o próximo grande passo será a união dessas duas ideias: usar a teoria quântica para entender a genética e o cérebro humano.

E é aqui que entram os computadores quânticos. A mãe natureza é de alguma forma um computador quântico. Atualmente, os processadores digitais computam em uns e zeros. Essa não é a linguagem da mãe natureza.

A mãe natureza tem uma mente quântica que entende de átomos, elétrons, fótons. Essa é a linguagem do universo. Esse será o nosso grande passo para o futuro.

BBC Mundo - E o grande passo será no campo da física, ou também em outras áreas, como a Medicina?

Kaku - Vejamos o caso da Medicina. A Medicina atual, tal como praticada, é tentativa e erro. Testamos um medicamento: se funcionar, ótimo, e se não funcionar testamos outro. Os medicamentos, de fato, são encontrados quase por acidente. Foi assim que descobrimos a penicilina e outras drogas fascinantes.

Agora, se aplicarmos a teoria quântica, você pode ver a molécula. Você pode analisá-la. Você pode ver como os átomos funcionam. As substâncias. Os medicamentos podem ser criados a partir do zero. Isso significa que não vamos mais precisar de químicos? Não.

Os químicos do futuro vão usar os computadores quânticos para entender as reações químicas. Os biólogos do futuro vão usá-los para entender como o DNA funciona. Os médicos e cientistas que usam apenas a química ou a biologia para fazer seu trabalho vão ficar no caminho, porque o futuro será a mecânica quântica para criar os medicamentos.

BBC Mundo - Nós nos tornaremos imortais... não haverá câncer então?

Kaku - Com a ajuda dos computadores poderemos curar o câncer. Antes que o tumor apareça, vamos prever a doença cancerosa do paciente. Só com uma ida ao banheiro, por exemplo, será possível ler seu DNA e como ele estará no futuro.

Vai te dizer o DNA cancerígeno dentro de dez anos, antes que o tumor apareça, antes que ele se desenvolva.

Nos Estados Unidos, é possível fazer um exame de sangue para diagnosticar o câncer. Um exame de sangue desse tipo revelará se há câncer ou não de forma cada vez mais concreta. A palavra tumor desaparecerá da nossa linguagem. O mesmo acontecerá com o câncer.

BBC Mundo - Você diz, também, que a internet será algo obsoleto, que vamos nos conectar através da mente, do cérebro...

Kaku - Uma coisa é certa: a internet do futuro não será digital. O digital é muito lento, muito cru. A internet do futuro será quântica e se fundirá com o cérebro. Vamos chamá-la de "brainet" (um jogo de palavras entre brain, que significa cérebro em inglês, e internet).

Você vai pensar algo e esse pensamento será transferido pelo mundo, interagindo com outras coisas. Pode ser que não utilizemos cabos ou dispositivos. Vamos simplesmente pensar e essa brainet vai fazer o resto.

Há dois lados nesse desafio. Um bom, que é aprendermos como está conectado (este sistema), e outro ruim: vai levar um tempo.

Por exemplo, se você analisar o cérebro de um inseto, pronto, você já tem a imagem de como o cérebro funciona. Já temos o mapa: cerca de 100.000 neurônios.

Agora, o cérebro humano tem 100 bilhões de neurônios. Portanto, temos um longo caminho pela frente no que chamamos de "Projeto Conector", que conseguirá desvendar a fiação interna do cérebro humano.

Assim como temos o projeto do genoma humano, que tentou decifrar nosso código genético, esse revelará os segredos do cérebro e mudará tudo: as pessoas simplesmente vão pensar e seus pensamentos vão circular pelo mundo.

BBC Mundo - Muitos cientistas já advertiram sobre os perigos da inteligência artificial e os danos que ela pode causar...qual é a sua visão sobre isso?

Kaku - Acredito que atualmente temos três grandes perigos para enfrentar: a guerra nuclear, a ameaça das armas biológicas e o aquecimento global. E agora podemos acrescentar também a inteligência artificial.

Há duas ameaças claras que a inteligência artificial traz e que são bastante diferentes.

A primeira é imediata: por exemplo, que os drones possam reconhecer um rosto humano e que por acidente esse drone mate de forma indiscriminada dezenas de pessoas. Ou seja, que tenhamos criado uma arma para matar automaticamente. Uma máquina que também pode voar, que pode monitorar uma determinada área, identificar formas humanas. E algumas nações podem ser tentadas, em alguns anos, a usar essas armas contra as pessoas, não apenas em tanques de guerra.

Mas isso é uma ameaça no curto prazo. A maior ameaça da IA é a longo prazo.

A maior ameaça será quando a IA começar a se aproximar da (inteligência) do ser humano. Mas falta muito para chegar nesse ponto.

Por exemplo, quão inteligente é o nosso robô mais inteligente? Se você colocar um inseto em uma floresta, o inseto conseguirá se alimentar e encontrar um abrigo.

Se você colocar um robô agora, é possível que sobreviva.

Mas com o tempo nossos robôs vão ter a inteligência de um rato.

Depois disso, eles conseguirão ser inteligentes como um coelho. Nesse momento, eles serão potencialmente uma ameaça.

Não sei, talvez em cerca de 100 anos tenhamos robôs que não poderemos distinguir de humanos. E teremos que nos certificar, nesse momento, de que esses robôs não tenham consciência e de alguma forma se voltem contra nós.

Vamos ter que colocar um chip na mente deles para desligá-los no exato momento em que tiverem pensamentos assassinos. Mas realmente acho que ainda falta muito para isso. E acho que a principal ameaça é o uso de drones que podem matar de forma indiscriminada.

BBC Mundo - "Os computadores quânticos vão nos permitir decifrar os segredos da vida, do universo, da matéria", você escreveu. Como vão definir o nosso futuro?

Kaku - Atualmente os computadores são baseados em informação digital, que pode ser codificada em séries de 1 e 0. Ou seja, a capacidade é reduzida ao número de estados (de 1 e 0) que você tem no seu computador.

Os computadores quânticos são baseados em princípios que podem ser ilimitados. Por exemplo, os computadores quânticos que estão sendo produzidos (um pelo Google e outro na China) são 2¹00 vezes mais poderosos do que os supercomputadores atuais.

E acredito que com essa capacidade eles serão capazes de resolver, em algum momento, o problema do envelhecimento. No futuro, penso eu, não vamos necessariamente morrer de velhice.

O problema é que os computadores quânticos não vão nos salvar, por causa da forma como os humanos interagem entre si. Precisamos unir as pessoas de outra maneira para vivermos em paz.

Lembro-me de uma estranha conversa entre o ex-presidente dos EUA Ronald Reagan e o líder soviético Mikhail Gorbachev, em que Reagan pergunta ao colega soviético se quando chegasse o momento de os marcianos invadirem a Terra seus países seriam amigos. Ou seja, eles lutariam juntos contra os marcianos? Gorbachev achou que Reagan estava louco, especialmente por estarem lidando com armas nucleares.

Mas o que eu acho é que Reagan estava se dando conta de algo. De que podíamos estar cada vez mais unidos. Ou seja, a grande solução é que estivéssemos unidos diante de algo. Que essa seria a grande solução. E essa será a grande solução.

BBC Mundo - Considerando que a internet estará obsoleta e os computadores digitais serão inúteis, e de acordo com o que você aponta em seu livro "o mundo vai ser mais científico, não menos científico", como você acha que a educação para o futuro deve ser?

Kaku - A verdade é que algumas pessoas temem a tecnologia porque dizem que vai substituir os trabalhadores. E isso é algo que não está certo.

Mas dou um exemplo: os ferreiros foram muito importantes. Se você tivesse um cavalo, tinha que pagar um ferreiro. No entanto, com o surgimento do carro, cada vez menos os ferreiros foram necessários. E eles ficaram sem trabalho. Quem substitui os ferreiros? Bem, apareceram os mecânicos ou os técnicos que trabalham na indústria automotiva.

Um emprego é fechado. Um emprego é criado.

Agora estamos discutindo se os robôs vão substituir os humanos. Sim e não.

Acho que há três tipos de trabalhos que os robôs não poderão fazer: reparar coisas. Eles não vão ser encanadores ou jardineiros. Os robôs não podem recolher o lixo. Esses trabalhos exigem reconhecer padrões. Cada lixo é diferente, cada banheiro é diferente, então aqueles trabalhos que não são repetitivos vão sobreviver na era dos robôs.

Os outros empregos são aqueles que requerem relações pessoais, como os professores. Os robôs não entendem a natureza humana. Eles não podem ser professores de uma criança. Eles não podem cuidar de um bebê.

E a terceira classe de empregos são aqueles que requerem bom senso, como os advogados. A base do trabalho é interpretar a lei, que é basicamente compreender a natureza humana. Nesse sentido, também poderíamos falar de líderes, de papéis de liderança. As decisões corporativas ou em um grupo humano são baseadas no mesmo princípio de conhecer a natureza do ser humano.

Então, a educação pode ir nesse caminho, das áreas que primam a natureza do ser humano e de trabalhos que não podem ser substituídos pelo exercício de uma máquina.

BBC Mundo - Em um tom mais pessimista, quais são os desafios que não serão resolvidos pela era quântica?

Kaku - Estou convencido de que os computadores quânticos nos ajudarão a resolver problemas como o aquecimento global - permitirão que a energia nuclear seja totalmente limpa. Eles vão criar novas formas de riqueza, é claro. Como eu disse, eles vão ajudar a curar doenças como o câncer e o Alzheimer.

No entanto, o que as máquinas não vão resolver serão temas como a guerra e a inveja.

Ou seja, vamos estar livres de câncer e Alzheimer, mas a guerra sinto que vai continuar.

E isso tem a ver com o fato de que a evolução nos dá a capacidade de proteger o que é nosso. E a evolução nos dá muitas coisas que são em benefício da humanidade, e outras que não.

A evolução só quer seres humanos que sobrevivam. E se sobreviver significa matar os outros seres humanos, assim será feito. Dessa forma, estamos cheios de imperfeições dentro da raça humana. E os computadores quânticos não vão resolver os problemas que derivam deles.

Mas não é o fim da espécie: à medida que os humanos prosperam, haverá menos necessidade de lutar pelos recursos que temos.

E, nesse sentido, os computadores quânticos vão nos dar a resposta para produzir alimento suficiente para uma população em constante crescimento. Ou seja, a capacidade de análise dessas ferramentas - a nível molecular - nos permitirá replicar efetivamente as formas como os alimentos são produzidos naturalmente no mundo. E isso é apenas um exemplo do que virá.

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