= =---____------- === ---- -----________::_____ _____= =..= = =..= =..= = =____ _____::________ --------- ==== -----------____---= =
Série histórica do Deter/Inpe iniciada em 2015 mostra que índices mais altos foram registrados ao longo dos últimos dois anos. Desmate por mineração em Unidades de Conservação cresceu 80,62% no primeiro trimestre em comparação com o mesmo período de 2019.
= =---____------- === ---- -----________::_____ _____= =..= = =..= =..= = =____ _____::________ --------- ==== -----------____---= =
Por Laís Modelli, G1
06/12/2020 05h00 Atualizado há 4 horas
Postado em 06 de dezembro de 2020 às 09h00m

|||==---____ ____-------___ ___ _____ ___-- ________ ____::__||
| . Post.N.\9.576 . |
|||.__-_____ _________ ______ ____- _|||
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/F/Q/T1cy6DQxqRq7SB9HGLjQ/gp1su06k-web-size.jpg)
Garimpo na terra indígena Munduruku, no Pará, em maio de 2020. É
possível ver a devastação da vegetação e a formação de crateras no
local. — Foto: Chico Batata/Greenpeace
A mineração desmatou 405,36 km² da Amazônia Legal nos
últimos cinco anos, segundo dados do Sistema de Detecção de
Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), reunidos pelo G1. A área derrubada equivale a cerca de 40,5 mil campos de futebol. Ao longo de 2019 e 2020, esse desmatamento causado pela atividade mineradora registrou recordes e avançou sobre áreas de conservação.
A série histórica do Deter/Inpe, que compila dados desde 2015, aponta que o mês com a maior devastação foi maio de 2019, com 34,47 km² desmatados. Em seguida, ficou julho de 2019 com 23,98 km². Além disso, 2020 teve os piores junho (21,85 km²), agosto (15,93 km²) e setembro (7,2 km²) da série.
Com relação especificamente às chamadas Unidades de Conservação, o desmate por mineração cresceu 80,62% no primeiro trimestre de 2020, em comparação com o mesmo período do ano passado, aponta o Greenpeace (leia mais abaixo).
Essas áreas recebem esse nome porque têm características naturais
relevantes que precisam ser preservadas – o objetivo é proteger espécies
ameaçadas e resguardar ecossistemas, por exemplo.
No entanto, as cicatrizes no solo são apenas um dos marcos da devastação por mineração.
Segundo Beto Veríssimo, engenheiro agrônomo e cofundador do Instituto
do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), a atividade –
principalmente quando ilegal – contamina rios e pessoas, gera violência
contra comunidades tradicionais e desencadeia outras ações predatórias.
"O garimpo na Amazônia nunca está sozinho: ele abre caminho a outras atividades ilegais na floresta. Onde aparece garimpo, também ocorre exploração da madeira, invasão, pecuária nas bordas e assim por diante", diz. "O
garimpo na Amazônia está mais empresarial. Não são mais aventureiros
que migram em busca de ouro, como foi em Serra Pelada. Agora, as
empresas estão por trás, financiando a compra de maquinário, cooptando
trabalhadores, pessoas vulneráveis e lideranças para atuarem por eles
nas florestas" – Beto Veríssimo, Imazon.
Para Antônio Oviedo, cientista ambiental e pesquisador do Instituto
Socioambiental (ISA), há um problema adicional: os locais em que a
mineração tem avançado na Amazônia.
"O epicentro do garimpo está entre as bacias dos rios Tapajós e do
Xingu, sendo a terra indígena dos Mundurukus, os povos mais impactados
pela atividade ilegal", aponta Oviedo, lembrando que a atividade de mineração é proibida em áreas protegidas, como os territórios indígenas.
“Quando
se olham as imagens de satélite da região dos Mundurukus, grande parte
dos rios e terras alagadas estão completamente degradados. Se parássemos
hoje a mineração ali, essas áreas precisariam de 30, 40 anos para se
recuperar", comenta Oviedo.
Para ele, a ausência de fiscalização do governo na região
"possivelmente está favorecendo o aumento da mineração ilegal na
Amazônia" (leia mais abaixo).
O G1 procurou o Ministério do Meio Ambiente e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama)
pedindo dados sobre fiscalização e aplicação de multas relacionadas ao
garimpo e mineração na Amazônia. Apenas o Ibama retornou, mas informou
que os dados estão inacessíveis por tempo indeterminado porque estão
migrando de sistema.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/1/u/7vQK7eTAqYCumo7VVGaw/desmatamento-por-mineracao.jpg)
Desmatamento causado por mineração por ano na Amazônia. — Foto: Arte/G1
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/v/D/IYjBHhSE2PMEg2eDxSAw/gp1su24y-web-size.jpg)
Mineração em terras indígenas do Pará destroem e contaminam o Rio
Tapajós, deixando crateras no seu leito. — Foto: Marcos Amend /
Greenpeace
70% da mineração se deu em áreas protegidas
Entre janeiro e abril de 2020, mais de 70% da mineração na Amazônia ocorreu dentro de áreas protegidas, de acordo com o Greenpeace. Nas terras indígenas, esse aumento do desmatamento por mineração foi de 64%, na comparação com o mesmo período de 2019.
Já nas Unidades de Conservação, o primeiro trimestre teve um aumento de 80,62% (8,79 km² de floresta protegida destruídos) com relação ao mesmo período do ano passado, também segundo o Greenpeace.
Pelos dados do Deter/Inpe, é possível ver que o desmatamento pela
atividade mineradora em unidades de conservação se concentra em cinco
pontos do Pará, formando um arco de destruição (veja infográfico abaixo).
Na Área de Proteção Ambiental do Tapajós, o terreno destruído neste ano já é de quase 30 km² – ou 30 campos de futebol.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/p/A/BYIf7gQQiU8clyVHzo8Q/unidades-de-conservacao-mais-desmatadas.jpg)
Unidades de conservação mais afetadas pela mineração na Amazônia. — Foto: Arte/G1
"O
Pará tem um histórico de mineração e ilegalidades, a exemplo do que
ocorreu com a região de Serra Pelada. Do mesmo modo, a mineração nas
terras indígenas Kaiapó, Munduruku e Yanomami acontecem há décadas, não é
de hoje, mas vemos a situação piorar no último ano", diz Oviedo.
De fato, 40 após milhares de brasileiros correrem para Serra Pelada, no Pará, em busca de ouro, o estado ainda concentra quase que toda a mineração na Amazônia.
Segundo o Inpe, 85% de todo o desmatamento causado pela atividade na
região amazônica desde 2015 ocorreu no Pará. Considerando o período de
janeiro a novembro deste ano, o estado concentra 81% do desmate ocorrido
por mineração.
De 1º janeiro a 20 de novembro de 2020, de acordo com o Inpe:
- a mineração derrubou 97,61 km² em toda a Amazônia Legal;
- o Pará concentra sozinho 81% do total, com 79,86 km²;
- a
situação é crítica ao longo do Rio Tapajós, sinalizando que o
desmatamento é seguido por contaminação das águas e populações que vivem
nas margens;
- e Itaituba (40,33 km²) e Jacareacanga (17,29 km²), ambas no Pará, são as cidades mais atingidas por mineração em todo o bioma.
Desmatamento causado por mineração no Pará em 2020. — Foto: Arte/G1
Pior que Serra Pelada
Beto Verissimo explica que, diferentemente do que ocorreu em Serra
Pelada na década de 1970, não é mais o garimpeiro quem financia a
atividade ilegal.
"Vemos
que a Amazônia volta a viver uma corrida pelo ouro. Assim como no
passado, o garimpo atualmente é ilegal, desmata, contamina, mas degrada
muito mais. Mas não estamos mais falando de picareta, estamos falando de
escavadeiras, tratores, maquinário pesado" – Beto Veríssimo, Imazon.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/F/Z/ckHQUsRsC3tRxzstvWeQ/gp1su259-web-size.jpg)
Foto em área invadida na TI Mundurukus, no PA, mostra que o garimpo
atualmente é feito com maquinário pesado e não mais com homens com
picaretas. — Foto: Marcos Amend/Greenpeace
Dados da Agência Nacional de Mineração (ANM) mostram que as indústrias mineradoras estão envolvidas na atividade ilegal.
Um levantamento do projeto Amazônia Minada, do InfoAmazonia, encontrou pelo menos 58 requerimentos de pesquisa ou lavra de minério sobrepostos a terras indígenas feitos por empresas nacionais e internacionais aprovados pela ANM e válidos em novembro de 2020.

Pedidos para mineração em terras indígenas aumentaram na gestão de Bolsonaro
'Tragédia ambiental e social'
Entre 1º de janeiro e 20 de novembro de 2020,
a área desmatada por mineração correspondeu a 0,34% do desmatamento
total na Amazônia. A comparação pode sugerir poucos danos ambientais,
mas, segundo os especialistas, a atividade mineradora é a mais agressiva
no bioma.
"O
garimpo na Amazônia é uma tragédia ambiental e social, não deve ser
legalizado nunca", afirma Veríssimo. "Não deixa riqueza nos lugares. Não
tem um lugar na Amazônia, uma cidade, que tenha ficado rico com a
atividade. Quem lucra é quem negocia o mineral. A Amazônia não ganha
nada, apenas perde."
À primeira vista, quando se olha para uma área de mineração na
Amazônia, o que mais choca é a paisagem "lunar" ou "de guerra", como
chamam os ambientalistas.
"A
mineração descaracteriza a paisagem, que se transforma em um lugar
cheio de buracos, como vemos em lugares de guerra onde caíram bombas e
causaram crateras. É uma degradação ambiental muito severa", diz Oviedo.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/z/y/UM1n6xRYefI4Gx03X5eQ/gp1su06q-web-size.jpg)
Cratera causada pelo garimpo em uma terra indígena em Roraima, na
Amazônia, em maio de 2020. Foto mostra atividade sendo feita nas margens
dos rios amazonenses. — Foto: Greenpeace
Para Veríssimo, é preciso também considerar o desmatamento indireto causado pela mineração:
"A
mineração primeiro derruba a floresta para abrir estradas para
transportar o maquinário até o garimpo. Depois, derrubam a área onde
será feita a garimpagem, para então escavar o solo".
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/Q/d/VBwM9PTdSsOr1kTCVLdA/gp1su06y-web-size.jpg)
Foto mostra garimpeiros abrindo estrada no Pará no meio da floresta
amazônica para levar maquinário para os garimpos. — Foto: Chico
Batata/Greenpeace
Por isso, quando o Deter detecta uma área de desmatamento por
mineração, alguns meses depois esse mesmo espaço passa a ser
classificado pelo sistema como "desmatamento por corte raso". Trata-se
de uma modalidade agressiva de desmate: a floresta e toda a vegetação
nativa literalmente desaparecem, deixando o solo exposto.
O impacto ambiental e social do garimpo é maior quando ele ocorre perto de cursos d´água.
"O
garimpo no leito do rio desmata a mata auxiliar, vegetação que protege a
beira dos rios, desencadeando um processo de erosão. É uma
descaracterização do rio; depois de um tempo, você não consegue mais nem
perceber onde está o curso do rio", explica Oviedo.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/k/x/1921UhSySbwuusfJZyYA/gp1su070-web-size.jpg)
Garimpo na terra indígena Munduruku, no Pará, em maio de 2020. — Foto: Greenpeace
"Já o uso de metais pesados na mineração, como o mercúrio, no caso do
ouro, polui os recursos hídricos e contamina toda a fauna aquática, como
os peixes, assim como os próprios moradores da região", diz o
pesquisador do ISA.
Falta fiscalização, diz ambientalista
"A ausência da fiscalização do governo na região possivelmente está
favorecendo o aumento da mineração ilegal na Amazônia. Há uma conivência
das leis e uma fragilidade de comando e controle da região pelo
governo", diz Oviedo.
“Quando
o ministro Salles paralisou a fiscalização contra garimpo nas terras
dos Mundurukus, o local registrou 227 hectares de desmatamento
recorrentes do garimpo nos 20 dias seguintes. O exemplo mostra a
velocidade e a agressividade da degradação em áreas com garimpo”, afirma
o ambientalista do ISA.
Dados apurados pelo G1 em outubro mostraram que as autuações de crimes ambientais feitas pelo Ibama, consequência das fiscalizações em campo, despencaram 62%
em comparação com 2019. Esses dados abarcam o período entre janeiro e o
início de início de outubro e são referentes à flora dos nove estados
da Amazônia.
Além disso, a rede Observatório do Clima disse em outubro que o Fundo
Amazônia, órgão do governo federal que capta doações para projetos de
preservação e fiscalização do bioma, tem cerca de R$ 2,9 bilhões parados e está sem atividade desde 2019. O principal órgão afetado por essa paralisação é justamente o Ibama.
"Quem financia o garimpo ilegal não está no meio da floresta. É gente
poderosa, com dinheiro para comprar trator e retroescavadeiras, levar
esse maquinário pesado para dentro da floresta. Não é difícil fazer o
mapeamento dessa cadeia de investimentos. O que precisa é vontade
política", afirma Oviedo.
9 em cada 10 contaminados
Um recente estudo da Fiocruz em parceria com o WWF Brasil sobre moradores do povo indígena Munduruku mostrou que, de forma geral, seis de cada dez participantes apresentaram níveis altos de contaminação por mercúrio.
Se considerarmos somente as aldeias que ficam às margens dos rios afetados pelo garimpo, o número de contaminados sobe para nove em cada dez participantes. As crianças também sofrem o impacto do mercúrio e de metais pesados usados no garimpo: cerca de 15,8% delas apresentaram problemas em testes de neurodesenvolvimento.
O estudo da Fiocruz recomenda a interrupção imediata do garimpo em terras indígenas
e um plano para descontinuar o uso de mercúrio no garimpo, assim como
um plano de manejo de risco para as populações cronicamente expostas a
esse metal.
Apesar das recomendações, o garimpo avança de modo devastador nas terras dos Munduruku, desmatadas em mais de 2,40 km² apenas entre janeiro e abril de 2020, um aumento de 57% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo o Greenpeace.

Líderes indígenas denunciam avanço do garimpo ilegal e ameaças
------++-====-----------------------------------------------------------------------=================---------------------------------------------------------------------------------====-++------