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segunda-feira, 12 de abril de 2021

Yuri Gagarin: os perigos ocultos no primeiro voo tripulado ao espaço há 60 anos

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Seis décadas atrás, o astronauta russo Yuri Gagarin, de apenas 27 anos, se tornou a primeira pessoa a chegar ao espaço, mas é provável que nem mesmo ele soubesse dos riscos em que se envolveu durante essa missão.
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TOPO
Por Pavel Aksenov e Nikolay Voronin, BBC

Postado em 12 de abril de 2021 às 16h20m


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Yuri Gagarin foi primeira pessoa a chegar ao espaço — Foto: Getty Images via BBC
Yuri Gagarin foi primeira pessoa a chegar ao espaço — Foto: Getty Images via BBC

Em sua pequena nave, com pouco mais de um metro e oitenta de diâmetro, Yuri Gagarin (1934-1968) partiu para a viagem que seria a primeira de um ser humano ao espaço sideral.

Gagarin ia mais como passageiro do que como cosmonauta. Naquela época, o "piloto" não conseguia nem tocar nos controles da nave.

De acordo com uma transcrição da comunicação com o controle de solo, Gagarin ficou impressionado com a visão da janela da cápsula, mencionando a "bela aura" de nosso planeta e as sombras surpreendentes lançadas por nuvens na superfície da Terra.

A viagem de Gagarin ao espaço em 12 de abril de 1961, exatamente 60 anos atrás, foi uma vitória da extinta União Soviética (URSS) sobre os Estados Unidos na corrida espacial. E seu retorno à Terra foi um triunfo inegável.

Mas, para fazer história, Gagarin enfrentou um desafio perigoso que exigia uma coragem imensa.

Ele partiu para o espaço, um lugar misterioso e praticamente desconhecido na época, em uma nave que não tinha controles de resgate.

Na época, ninguém confiava na segurança de foguetes, espaçonaves, controles e sistemas de comunicação, ou mesmo que os humanos poderiam sobreviver no espaço.

Aos 27 anos, Gagarin aceitou o desafio de viajar para o espaço — Foto: Getty Images via BBC
Aos 27 anos, Gagarin aceitou o desafio de viajar para o espaço — Foto: Getty Images via BBC

"Se a espaçonave Vostok fosse apresentada aos cientistas hoje, ninguém concordaria em lançar algo tão improvisado ao espaço", diz o engenheiro Boris Chertok quase meio século após a missão, em seu livro Rockets and People (Foguete e Pessoas, em tradução livre para o português).

"[Naquela época] assinei documentos afirmando que tudo me parecia bem e que garantia a segurança da missão. Nunca teria assinado isso hoje. Ganhei muita experiência e percebi o quanto corremos riscos", acrescenta.

O veículo de lançamento Vostok, no qual a espaçonave de mesmo nome foi instalada, era baseado no foguete R-7, um ICBM (míssil balístico intercontinental) de duas fases lançado pela primeira vez em agosto de 1957.

Nesse mesmo ano, o Sputnik 1, o primeiro satélite terrestre artificial, foi transportado no R-7.

O design do foguete teve muito sucesso — os mísseis desta família continuam sendo os únicos na Rússia para voos espaciais tripulados. Embora esteja desatualizado, ele se mostrou confiável para colocar espaçonaves em órbita.

Pequena nave em que Gagarin viajou tinha cerca de dois metros de diâmetro — Foto: Getty Images via BBC
Pequena nave em que Gagarin viajou tinha cerca de dois metros de diâmetro — Foto: Getty Images via BBC 

No entanto, em 1961, as coisas eram bem diferentes.

"Pelos padrões modernos de segurança de foguetes, não tínhamos motivos para ser otimistas antes de 1961. Tivemos pelo menos oito lançamentos consecutivos naquele ano", disse Chertok em seu livro.

"[Mas] dos cinco lançamentos de satélites em 1960, quatro conseguiram decolar. Destes, apenas três conseguiram sair da órbita da Terra e apenas dois pousaram. E dos dois que retornaram à Terra, apenas um pousou com normalidade".

O primeiro lançamento do programa Vostok foi em 15 de maio de 1960, menos de um ano antes da missão de Gagarin. A bordo do navio satélite estava um boneco apelidado de Ivan Ivanovich.

A espaçonave deixou a órbita da Terra, mas não voltou. Seus sistemas de orientação falharam.

Em 19 de agosto, os cães Belka e Strelka voaram para o espaço e voltaram, naquele que foi o único lançamento com sucesso em 1960.

As tentativas posteriores tiveram menos sucesso.

Em 1º de dezembro, outro lançamento, também transportando cães, Mushka e Pchelka, não conseguiu retornar em sua trajetória calculada e começou a descer para fora das fronteiras da URSS.

Toda a nave foi destruída, com os animais a bordo, para evitar que outros países obtivessem tecnologia soviética.

'Quase perfeito'

Durante o voo de Gagarin em 12 de abril de 1961, o foguete funcionou quase perfeitamente. Mas não há insignificâncias na tecnologia espacial e esse "quase" poderia ter custado a vida ao cosmonauta russo.

Entre muitas falhas técnicas, sua espaçonave entrou em órbita em uma altitude maior do que o esperado.

Ela tinha freios, mas se não funcionassem, Gagarin teria que esperar a espaçonave descer por conta própria antes de retornar à Terra.

Embora a Vostok tivesse oxigênio, comida e água por mais de uma semana, a altitude que atingiu faria com que a nave demorasse mais para começar a descer.

Gagarin provavelmente teria ficado sem suprimentos e morrido. Felizmente, os freios funcionaram.

Então, os cabos que conectam a cápsula espacial ao módulo de serviço não foram separados antes do retorno de Gagarin à Terra. Assim, a cápsula de Gagarin inesperadamente arrastou um módulo adicional ao pousar.

As temperaturas na cápsula ficaram perigosamente altas e Gagarin girou freneticamente, quase perdendo a consciência.

"Estava em uma nuvem de fogo caindo em direção à Terra", lembrou o cosmonauta mais tarde. Demorou 10 minutos antes de os cabos finalmente queimarem e o módulo de descida, que continha seu passageiro humano, se soltar.

Gagarin saltou antes que sua cápsula atingisse o solo, caindo de paraquedas para uma aterrissagem segura perto do rio Volga.

Isso violou a exigência da Federação Aeronáutica Internacional (FAI) de que os astronautas e cosmonautas devem pousar na espaçonave; caso contrário, o voo para o espaço não conta.

As autoridades se recusaram a admitir que Gagarin não viajou os últimos quilômetros até o solo em sua nave.

Seus registros de voos espaciais foram certificados pela FAI, que também mudou suas regras para reconhecer que os passos importantes eram o lançamento seguro, sua passagem pela órbita e o retorno do piloto.

Um cosmonauta moderno faria isso?

O serviço russo da BBC perguntou a três cosmonautas russos se eles voariam para o espaço na espaçonave Vostok no estado em que se encontrava em 1961.

Pavel Vinogradov, que viajou ao espaço três vezes em 1997, 2006 e 2016, disse que voaria apesar de todo o perigo, mas apenas por causa de sua natureza aventureira.

No entanto, Gagarin estava em uma posição diferente, diz ele, e é improvável que estivesse ciente de todos os riscos envolvidos.

"Você tem que entender quais eram os meus conhecimentos quando voei pela primeira vez", diz Vinogradov. "Sou engenheiro, sei muito. Gagarin provavelmente não sabia de tudo isso."

Mikhail Kornienko, que voou ao espaço duas vezes em 2010 e 2015, diz que com certeza teria voado em 1961 no lugar de Gagarin, mas não faria o mesmo agora sabendo que o risco era extremamente alto.

"Tenho certeza de que qualquer pessoa teria entrado naquela nave em seu lugar", diz o cosmonauta.

Sergei Ryazansky voou duas vezes ao espaço e observa que o primeiro corpo de cosmonautas recrutou pilotos de caça militares, pessoas disciplinadas dispostas a sacrificar suas vidas pela pátria.

Os primeiros cosmonautas eram jovens, diz ele.

"Provavelmente, se tivesse essa idade, devido ao meu desejo de aventura, eu concordaria [em voar para o espaço na espaçonave Vostok]. Agora, é claro, eu não faria. Tenho quatro filhos e uma responsabilidade com minha família", reflete Ryazansky.

Voar para o espaço é assustador, mesmo agora, lembra ele.

"Uma pessoa normal tem medos. E isso é bom. A pessoa se torna mais serena, mais atenta e mais responsável." 
'Nossas vidas mudaram para sempre'

Filho de camponeses, Gagarin ascendeu a um espaço desconhecido e voltou como o homem mais famoso do planeta.

Seu voo o tornou um herói nacional e celebridade mundial, e mais tarde viajou extensivamente para promover as conquistas da União Soviética, para a então Tchecoslováquia, Bulgária, Finlândia, Reino Unido, Islândia, Cuba, Brasil, Canadá, Hungria e Índia.

No Brasil, último destino de sua passagem pelas Américas, realizada apenas três meses após seu feito, Gagarin esteve por seis dias, entre Rio de Janeiro e São Paulo. Sua visita mobilizou multidões e foi parte do esforço do governo de Jânio Quadros em restabelecer as relações diplomáticas com a URSS. Os laços foram reatados em dezembro de 1961, já no governo de João Goulart.

"Isso significou, é claro, que nossas vidas mudaram para sempre", explicou Elena Gagarina, a filha mais velha de Gagarin, quando falou à BBC em 2011 sobre o status de celebridade do pai.

"Foi extremamente difícil para meus pais ter uma vida privada. Eles tiveram muito poucas oportunidades de ficar juntos em uma vida privada depois do voo", disse ela na ocasião.

"Mesmo que planejasse algo para si mesmo, estava cercado de pessoas que queriam vê-lo, falar com ele e tocá-lo. Ele percebeu que fazia parte do seu trabalho e não podia recusar", continua.

Embora Gagarin desejasse voar novamente, foi proibido de fazê-lo novamente devido ao seu status de herói nacional.

Passou, então, a treinar vários outros cosmonautas e se matriculou no prestigioso Instituto Zhukovsky de Engenharia Aeronáutica.

Gagarin se formou com louvor em fevereiro de 1968.

Em março do mesmo ano, em um voo de teste de rotina em um MIG-15, seu avião caiu, matando ele e seu copiloto. Gagarin tinha 34 anos.

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Covid-19: estudo analisa impacto do 'momento único de silêncio' nos oceanos provocado pela pandemia

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Oceanógrafos de todas as regiões do planeta se uniram para avaliar como a vida marinha respondeu à redução sem precedentes do tráfego de navios.
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Por Victoria Gill, BBC

Postado em 12 de abril de 2021 às 14h55m


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Oceanógrafos querem entender como a vida marinha respondeu à redução sem precedentes do tráfego de embarcações — Foto: Alamy
Oceanógrafos querem entender como a vida marinha respondeu à redução sem precedentes do tráfego de embarcações — Foto: Alamy

A pandemia diminuiu o ritmo frenético da vida humana não apenas em terra.

Os lockdowns e as restrições de deslocamento reduziram o tráfego de navios de carga a uma escala à qual seria "impossível" chegar de outra maneira, como explica Peter Tyack, professor da Universidade de St. Andrews, na Escócia.

Ele é um dos pesquisadores envolvidos em um grande experimento batizado de "o ano dos oceanos silenciosos".

Oceanógrafos de todas as regiões do planeta se uniram para estudar o impacto do "momento único de silêncio" sobre as espécies marinhas.

O objetivo é investigar a acústica oceânica antes, durante e depois da pandemia.

Para isso, eles identificaram 200 hidrofones — sensores da acústica subaquática — entre aqueles que já estão distribuídos pelo mundo, usados em outras pesquisas.

"A ideia é usá-los para medir as diferenças no ruído e como elas afetam a vida marinha — como o canto das baleias ou os sons emitidos por cardumes", afirma Tyack.

"Assim como os habitantes de cidades podem ter percebido que, com a redução da circulação de veículos e da atividade humana, é possível ouvir mais o canto dos pássaros ou até ver os animais em seus habitats naturais, nós precisamos de instrumentos para monitorar esse efeito equivalente nos oceanos."

O propósito não é apenas verificar o efeito breve da pandemia sobre a acústica dos oceanos, mas aproveitar a oportunidade para avaliar como décadas de escalada na poluição sonora impactou o ecossistema marinho.

Combinado com outros métodos, como o monitoramento de animais com sensores, os pesquisadores esperam que o estudo revele até que ponto o ruído nos "mares do Antropoceno" afeta a vida nas profundezas.

"A poluição e a mudança climática tiveram um impacto enorme nos oceanos do planeta — mas a questão do barulho é que é relativamente fácil diminuir o volume", ressalta o professor.
O pulso do oceano

Jennifer Miksis-Olds, especialista em acústica oceânica da Universidade de New Hampshire, nos Estados Unidos, acrescenta que o volume de informações coletado no "ano dos oceanos silenciosos" vai permitir análises que vão muito além da poluição sonora.

"Um dos meus objetivos é construir um mapa da acústica oceânica, no qual se poderia identificar o som das rotas dos navios, ver os padrões migratórios das baleias — a partir de seu canto — e até entender melhor a mudança climática a partir das alterações nos sons produzidos pelos icebergs que estão se rompendo."

Ouvir o oceano, ela diz, pode ajudar a encontrar um ponto de equilíbrio entre a atividade humana e os processos naturais dos oceanos.

As evidências científicas apontam que, ao longo de décadas, o ruído produzido pelo homem vem se sobrepondo cada vez mais ao som marinho natural. De acordo com uma importante estudo de revisão publicado recentemente na revista "Science", atividades como navegação, construção, atividade militar e pesquisas submarinas nas áreas de petróleo e gás estão "abafando" a acústica natural do oceano.

Larvas de peixes se orientam a partir dos sons emitidos pelos corais quando buscam um local para se fixar — Foto: Richard Brooks/Science Photo Library
Larvas de peixes se orientam a partir dos sons emitidos pelos corais quando buscam um local para se fixar — Foto: Richard Brooks/Science Photo Library

Os impactos se manifestam em alguns episódios dramáticos, como os encalhes em massa de algumas espécies de baleias, relacionados por alguns estudos aos sonares usados por navios.

"Mas mesmo as larvas dos peixes usam o som dos recifes de coral para escolherem o melhor local para se estabelecer", destaca Tyack.

"Como primatas, nós, humanos, estamos acostumados com a visão como nosso sentido de distância — é como sabemos onde estamos no mundo. Se você já praticou mergulho com snorkel, entretanto, sabe que só consegue ver alguns metros à frente, mas pode ouvir coisas a quilômetros de distância — até mesmo a centenas de quilômetros de distância."

"A vida marinha desenvolveu mecanismos incríveis para usar esse recurso para entender onde está no ambiente, encontrar presas e se comunicar."

"Precisamos então mudar nossa mentalidade — parar de perguntar quanto mais de barulho podemos adicionar ao oceano e passar a buscar meios de reduzi-lo e consertar os danos."

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