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quarta-feira, 30 de junho de 2021

Desemprego mantém recorde de 14,7% e atinge 14,8 milhões de brasileiros no trimestre encerrado em abril

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País ainda tem 3,3 milhões de ocupados a menos em relação ao contingente pré-pandemia. Entre as categorias, somente o número de trabalhadores por conta própria cresceu, segundo o IBGE.
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Por Darlan Alvarenga e Daniel Silveira, G1

Postado em 30 de junho de 2021 às 10h00m


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Taxa de desemprego fica em 14,7% entre fevereiro e abril; Miriam Leitão comenta
Taxa de desemprego fica em 14,7% entre fevereiro e abril; Miriam Leitão comenta

O desemprego no Brasil ficou em 14,7% no trimestre encerrado em abril e se manteve em patamar recorde, segundo divulgou nesta quarta-feira (30) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número de desempregados totalizou 14,8, milhões de pessoas.

"Essa taxa e o contingente de desocupados mantêm o recorde registrado no trimestre encerrado em março, o maior da série desde 2012", destacou o IBGE.

No mesmo período do ano passado, a taxa de desemprego era menor, de 12,6%. Já o número de desempregados aumentou 15,2% (mais 1,9 milhão de pessoas) na comparação anual e 3,4% (mais 489 mil pessoas) na comparação com o trimestre encerrado em janeiro.

Taxa de desemprego mantém recorde em abril — Foto: Economia/G1
Taxa de desemprego mantém recorde em abril — Foto: Economia/G1

Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad). No levantamento anterior, referente ao trimestre encerrado em março, a taxa de desemprego atingiu pela primeira vez a marca recorde de 14,7% e o total de 14,8 milhões de desocupados.

O resultado veio em linha com o esperado pelo mercado. O intervalo das estimativas captadas pelo Valor Data ia de 14,5% a 15,1%, com mediana de 14,7%.


Mercado de trabalho ainda pressionado

A população ocupada (85,9 milhões de pessoas) também mostrou estabilidade em relação ao trimestre móvel anterior, mas ficou 3,7% abaixo do número que o país registrava no trimestre fechado em abril do ano passado, quando foram observados os primeiros efeitos da pandemia. Ou seja, o país tem menos 3,3 milhões de pessoas trabalhando desde o início da pandemia.

O cenário foi de estabilidade da população ocupada (85,9 milhões) e crescimento da população desocupada, com mais pressão sobre o mercado de trabalho, avaliou a analista da pesquisa, Adriana Beringuy, observando que o nível de ocupação (48,5%) continua abaixo de 50% desde o trimestre encerrado em maio do ano passado, o que indica que menos da metade da população em idade para trabalhar está ocupada no país.

O número de postos de trabalho perdidos, no entanto, tem diminuído. No trimestre terminado em março, o país havia perdido cerca de 6,6 milhões de ocupados na comparação com igual trimestre do ano passado.

"Os efeitos da pandemia sobre a ocupação começaram em abril do ano passado. Então, por isso, a gente começa agora a ter uma tendência de diminuição dessa diferença do número de ocupados", explicou a analista da pesquisa, Adriana Beringuy.

País perdeu cerca de 3,3 milhões de postos de trabalho em um ano de pandemia — Foto: Economia/G1
País perdeu cerca de 3,3 milhões de postos de trabalho em um ano de pandemia — Foto: Economia/G1 

Veja os principais destaques da pesquisa:

  • Entre janeiro e abril, cerca de 500 mil brasileiros ficaram desempregados; na comparação com abril de 2020, são quase 2 milhões a mais de desempregados no país;
  • Em 1 ano, número de postos de trabalho ocupados foi reduzido em cerca de 3,3 milhões;
  • Trabalho por conta própria continuou crescendo: aumentou em 661 mil em 1 ano;
  • Administração pública foi a única atividade com aumento do número de ocupados;
  • Desalento permaneceu em patamar recorde, atingindo 6 milhões de trabalhadores; em um ano, aumentou em 941 mil o número de pessoas que desistiram de procurar trabalho;
  • Taxa de informalidade foi de 39,8%, o que equivale a 34,2 milhões de pessoas, contra 39,7% no ao trimestre anterior;
  • A população subutilizada atingiu o número recorde de 33,3 milhões, com aumento de cresceu 2,7% (mais 872 mil) frente ao trimestre anterior e de 16% (mais 4,6 milhões) na comparação interanual; a taxa composta de subutilização (29,7%) também foi recorde.
  • Rendimento médio dos trabalhadores foi de R$ 2.532, contra R$ 2.511 no trimestre anterior. Já a massa de rendimentos somou R$ 212,3 bilhões, o que representa um volume 5,4% menor (menos R$ 12,1 bilhões) do que o registrado no mesmo trimestre do ano passado.
Só trabalho por conta própria cresce

Entre as categorias profissionais, somente o número de trabalhadores por conta própria cresceu em 3 meses (2,3% ou mais 537 mil pessoas), totalizando 24 milhões. Na comparação interanual, a alta foi de 2,8% (mais 661 mil pessoas).

Essa forma de inserção no mercado tem um contingente mais elevado agora do que em abril de 2020 [mais 661 mil pessoas] na comparação anual. Observamos uma reação maior no trabalho por conta própria do que no emprego com carteira no setor privado, destacou Adriana Beringuy.

O total de empregados com carteira assinada no setor privado ficou estável em 29,6 milhões no trimestre. Na comparação anual, porém, houve uma redução de 8,1% ou menos 2,6 milhões de pessoas. Os trabalhadores sem carteira também ficaram estáveis (9,8 milhões). Em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, no entanto, o número é 3,7% menor (menos 374 mil pessoas).

População subocupada cresce mais que a ocupada

Outro destaque da pesquisa foi a alta no total de pessoas subutilizadas, que são aquelas desocupadas, subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas ou na força de trabalho potencial. Esse contingente chegou a 33,3 milhões, o maior da série comparável, segundo o IBGE, com um aumento de 2,7% (mais 872 mil pessoas). A taxa de 29,7% também foi recorde.

O ritmo de crescimento dos subocupados por insuficiência de horas trabalhadas é maior que o da população ocupada, com avanço de 18,3% (mais 1,1 milhão de pessoas) frente ao mesmo trimestre de 2020.

Isso mostra que vem aumentando o número de trabalhadores que têm disponibilidade para trabalhar mais horas do que aquelas habitualmente trabalhadas, explica a analista.

Comércio perde postos de trabalho

Na análise por segmento, o comércio foi o que apresentou o pior desemprenho, com queda de queda de 2,3% (menos 373 mil pessoas) frente ao trimestre anterior. Os demais grupamentos de atividades ficaram estáveis, segundo o IBGE.

O comércio é uma atividade que tende a não apresentar crescimento nos trimestres encerrados em abril. Esse comportamento de retração do comércio é sazonal, ponderou Beringuy.

Na comparação interanual, houve quedas em 6 grupamentos: Indústria Geral (-4,3%, ou menos 497 mil pessoas), Comércio (-6,7%, ou menos 1,1 milhão de pessoas), Transporte, armazenagem e correio (-8,3%, ou menos 393 mil pessoas), Alojamento e alimentação (-17,7%, ou menos 871 mil pessoas), Outros serviços (-13,9%, ou menos 660 mil pessoas) e Serviços domésticos (-10,1%, ou menos 562 mil pessoas). A única alta foi em Agricultura (6,5% ou mais 532 mil pessoas).

Perspectivas

O mercado financeiro estima para 2021 um crescimento de 5,05% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro e inflação de 5,97%, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central.

Apesar da melhora nas projeções para o avanço da economia brasileira, economistas têm destacado que uma recuperação mais consistente do mercado de trabalho só deverá ser mais visível a partir o segundo semestre, e condicionada ao avanço da vacinação e à retomada do setor de serviços – o que mais emprega no país e o mais afetado pelas medidas de restrição para conter o coronavírus.

Na avaliação dos economistas Marco Caruso e Lisandra Barbero, do banco Original, a taxa de desemprego ainda deverá ser pressionada pela volta mais acelerada dos indivíduos à força de trabalho. "A melhora gradual das estatísticas de renda e a recuperação dos setores informais (concentrados especialmente no setor de serviços) - à medida em que a pandemia melhora e a campanha de vacinação avança - corroboram o entendimento de o que o mercado de trabalho brasileiro deve dar continuidade ao processo de recuperação gradual observado nos últimos meses", destacaram ao comentar o resultado.

Guedes diz que auxílio emergencial vai ser prorrogado por mais três meses
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terça-feira, 29 de junho de 2021

Bovespa opera em queda nesta terça-feira

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Nesta segunda-feira, o principal índice da bolsa avançou 0,14%, aos 127.429 pontos.
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Por G1

Postado em 29 de junho de 2021 às 11h20m


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Bovespa - Painel da bolsa de valores de São Paulo, B3, nesta quarta-feira (11). — Foto: Cris Faga/Estadão Conteúdo
Bovespa - Painel da bolsa de valores de São Paulo, B3, nesta quarta-feira (11). — Foto: Cris Faga/Estadão Conteúdo 

A bolsa de valores brasileira, a B3, opera em queda nesta terça-feira (29), abaixo dos 127 mil pontos, em meio a um cenário relativamente tranquilo no exterior, enquanto o noticiário no Brasil incluía desaceleração do IGP-M em junho e anúncio de emissão de títulos da dívida externa brasileira.

Os investidores continuam avaliando também os potenciais efeitos no desempenho das companhias na bolsa de mudanças tributárias propostas pelo governo federal.

Às 15h40, o Ibovespa caía 0,48%, a 126.817 pontos. Veja mais cotações.

Nesta segunda-feira (28), a bolsa brasileira fechou em alta de 0,14%, a 127.429 pontos. Com o resultado, a Bovespa acumula alta de 0,96% no mês e de 7,07% no ano.

Variação do Ibovespa em 2021
Pontuação de fechamento


Governo Federal entrega ao Congresso Nacional a nova etapa da reforma tributária
Governo Federal entrega ao Congresso Nacional a nova etapa da reforma tributária

Cenário

As bolsas americanas terminaram a segunda-feira com altas recordes, impulsionadas por ações do Facebook. A empresa chegou pela primeira vez ao valor de mercado de US$ 1 trilhão depois que um juiz federal nos Estados Unidos rejeitou uma acusação de monopólio ilegal movida pela Comissão Federal de Comércio (FTC) do país em dezembro de 2020. Os papéis subiram mais de 4%.

Investidores observam também os efeitos da variante Delta do coronavírus no aumento de casos da doença em países europeus.

"Mesmo com essa notícia, as bolsas na Europa estão positivas. O que está ajudando foi a divulgação do indicador de sentimento econômico do mês de junho. É um dado que mede a confiança da indústria e dos consumidores e teve o maior nível dos últimos 21 anos. Então, mais um indicador confirmando essa retomada consistente da economia europeia", diz Pietra Guerra, analista da Clear Corretora.

Na agenda doméstica, destaca-se o resultado do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), que ficou em 0,60% em junho, ante avanço de 4,10% em maio. A forte desaceleração foi influenciada principalmente pela queda do dólar frente ao real e pelo recuo dos preços de commodities como minério de ferro, milho e soja, que aliviaram a inflação no atacado. 

Com este resultado, o índice acumula agora alta de 15,08% no ano e de 35,75% em 12 meses. Em maio, acumulava avanço e de 37,04% em 12 meses. Em junho de 2020, o índice havia subido 1,56% e acumulava alta de 7,31% em 12 meses.

Já o Tesouro Nacional anunciou voltará a captar recursos no mercado internacional. Será emitido um título soberano com vencimento em 10 anos, para 2031, e haverá a reabertura do atual papel de 30 anos, para 2050

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) definiu em 52% o reajuste da bandeira vermelha na conta de luz. Com isso, a cobrança extra passará de R$ 6,24 para R$ 9,49 a cada 100 kWh consumidos. .

Analistas ponderam sobre o efeito da crise hídrica na inflação e na possibilidade de um racionamento, como aconteceu em 2001. O Ministério de Minas e Energia nega que esteja trabalhando com cenário de corte de consumo compulsório de energia.
Variação do Ibovespa em 2021 — Foto: G1
Variação do Ibovespa em 2021 — Foto: G1
 

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segunda-feira, 28 de junho de 2021

Manada de elefantes intriga cientistas com jornada de 500 km pela China

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Cientistas estão surpresos com quão longe eles foram e dizem que animais estão exibindo outros comportamentos incomuns.
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TOPO
Por Suranjana Tewari, BBC

Postado em 28 de junho de 2021 às 12h00m


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Perigrinação de elefantes pela China vira meme, intriga especialistas e serve de alerta
Perigrinação de elefantes pela China vira meme, intriga especialistas e serve de alerta

Os elefantes são, por natureza, animais extremamente inteligentes, e os especialistas que os estudam diariamente já sabem muito sobre eles.

Mesmo assim, uma manada de elefantes ameaçados de extinção na China deixou os cientistas completamente pasmos, ao mesmo tempo em que cativou uma nação inteira.

Não é incomum que os elefantes se movam em pequenas distâncias. Mas esse grupo vem abrindo caminho pesadamente pela China há mais de um ano. Os elefantes agora se afastaram quase 500 km, numa jornada gigantesca de seu habitat original.

Acredita-se que eles tenham começado sua jornada na primavera passada a partir da Reserva Natural Nacional de Xishuangbanna, no sudoeste do país, perto da fronteira com Mianmar e Laos.

Os elefantes começaram a se mover para o norte e, nos últimos meses, foram vistos em várias aldeias, vilarejos e cidades.

Também foram vistos quebrando portas, invadindo lojas, "roubando" comida, brincando na lama, tomando banho em um canal e cochilando no meio de uma floresta.

Eles também foram flagrados devastando plantações com seus rastros e entrando nas casas das pessoas. Em um determinado momento, fizeram fila em um pátio para beber água, abrindo com sucesso uma torneira com suas trombas.
Uma manada de elefantes ameaçados de extinção na China que já percorreu 500 km deixou cientistas completamente pasmos — Foto: Reuters via BBC
Uma manada de elefantes ameaçados de extinção na China que já percorreu 500 km deixou cientistas completamente pasmos — Foto: Reuters via BBC

Acredita-se que os elefantes tenham começado a se mover para o sul novamente e foram observados pela última vez em Shijie, uma cidade perto da cidade de Yuxi.

Não está claro se eles estão voltando, ou por que embarcaram nessa jornada. Ou o que está por vir.

Cientistas perplexos

"A verdade é que ninguém sabe. É quase certo que (a jornada) está relacionada à necessidade de recursos, como comida, água e abrigo. Isso faria sentido, dado o fato de que, na maioria dos locais onde os elefantes asiáticos vivem na natureza, há um aumento da ocupação humana levando à fragmentação do habitat, redução e perda de recursos", diz Joshua Plotnik, professor assistente de psicologia de elefantes no Hunter College, da City University de Nova York (Estados Unidos), à BBC.

Plotnik acrescenta que o movimento também pode ter a ver com a dinâmica social do grupo.

Os elefantes são matriarcais com a fêmea mais velha e sábia, que lidera o grupo de avós, mães e tias junto com seus filhos e filhas.

Após a puberdade, os machos se separam e viajam sozinhos ou se unem em grupos com outros machos durante um curto período. Eles só se juntam às fêmeas temporariamente para acasalar antes de partirem novamente.

No entanto, essa manada começou como um grupo de 16 ou 17 elefantes, incluindo três machos.

Dois machos se separaram um mês depois, com um deles se afastando do grupo no início deste mês.

"Não é incomum, mas estou surpreso que eles tenham ficado juntos tanto tempo. Isso provavelmente aconteceu por causa do território desconhecido. Quando os vi entrando em uma cidade ou vilarejo, eles estavam se movendo juntos, o que é um sinal de estresse", diz Ahimsa Campos-Arceiz, professor e pesquisador principal do Jardim Botânico Tropical Xishuangbanna.

Os elefantes têm um comportamento mais próximo dos humanos do que outros mamíferos, sentindo uma variedade de emoções, como alegria no nascimento, tristeza na morte e ansiedade em territórios desconhecidos.

Os pesquisadores também foram pegos de surpresa quando duas das elefoas deram à luz durante a viagem.

"Os elefantes são muito habituais e rotineiros. É incomum para eles se mudarem para novas áreas quando estão prestes a dar à luz , quando tentam encontrar o lugar mais seguro que podem", diz Lisa Olivier da Game Rangers International, uma organização de preservação da vida selvagem com sede na Zâmbia, à BBC.
Elefantes selvagens asiáticos dormem no chão no distrito de Jinning, em Kunming, na província de Yunnan. — Foto: Reuters via BBC
Elefantes selvagens asiáticos dormem no chão no distrito de Jinning, em Kunming, na província de Yunnan. — Foto: Reuters via BBC

Olivier diz que as famosas fotos de elefantes dormindo juntos também são incomuns.

"Normalmente, os bebês dormem no chão e os grandes se apoiam em uma árvore ou em um cupinzeiro. Por serem tão grandes, caso haja qualquer tipo de ameaça, eles demoram muito para se levantar e se deitar, o que causa muita pressão no coração e nos pulmões", diz ela.

"O fato de estarem deitados sugere que estavam todos exaustos, pois tudo deve ser muito novo para eles. Grande parte de sua comunicação é o som infra-sônico, a vibração dos pés deles, mas nas cidades eles estão ouvindo os sons dos veículos."

Ficando sem espaço

Os cientistas são unânimes em dizer que não se trata de migração porque os elefantes não seguem uma rota fixa.

No entanto, a China é um dos poucos lugares do mundo onde a população de elefantes está crescendo graças a extensos esforços de preservação.

O país asiático tem combatido fortemente a caça ilegal e, como resultado, a população de elefantes selvagens na província de Yunnan passou de 193 na década de 1990 para cerca de 300 atualmente.

Mas a urbanização e o desmatamento reduziram os habitats desses animais e, portanto, dizem os especialistas, eles podem estar procurando uma nova casa com melhor acesso a alimentos.

Esses gigantes da selva são máquinas comedoras, escravos de seus intestinos, e por isso passam grande parte de suas vidas procurando os 150 a 200 kg de alimentos de que precisam todos os dias.
VÍDEO: Elefantes atravessam parte da China
VÍDEO: Elefantes atravessam parte da China

Assistido do ar

Os especialistas demonstraram alívio que a viagem não tenha causado nenhum confronto perigoso com humanos, e há outros aspectos positivos.

Os drones que as autoridades usam para monitorar os elefantes deram aos pesquisadores uma enorme quantidade de informações de qualidade, sem perturbar os animais.

E proporcionaram imagens inesquecíveis ao público eufórico, que acompanha a jornada.

Olivier também destaca a cooperação entre o governo, autoridades locais e projetos de conservação para proteger a manada.

Nos últimos meses, as autoridades têm colocado iscas de comida e bloqueado estradas com caminhões para redirecionar os elefantes para locais seguros.

"Estou orgulhoso de que a abordagem não seja muito intrusiva. Um erro muito comum é tentar dizer aos elefantes o que eles deveriam estar fazendo. Os elefantes não evoluíram para ouvir o que fazer. Quando tentamos dizer a eles o que fazer novamente depois de longas distâncias, podemos criar muitos comportamentos agressivos", diz Campos-Arceiz.

A imprensa chinesa tem monitorado o grupo de elefantes diariamente. E a manada se tornou um sucesso nas redes sociais.

Toda a atenção aumentou a consciência e a sensibilidade para a situação dos elefantes ameaçados de extinção no país. E o interesse mundial provavelmente também terá efeitos de longo alcance.

"Esta atenção e exposição ajudarão a preservação em todo o mundo", de acordo com Olivier.

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As fascinantes revelações do estudo das bactérias que povos isolados carregam no corpo

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A professora María Gloria Domínguez Bello pesquisa o microbioma há décadas — e seus estudos com indígenas, alguns deles em áreas isoladas, têm sido reveladores, não apenas do ponto de vista científico.
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TOPO
Por Margarita Rodríguez, BBC

Postado em 28 de junho de 2021 às 13h05m


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María Gloria Domínguez Bello (de colete cinza) no momento em que deixa uma comunidade na selva sul-americana — Foto: Óscar Noya/via BBC
María Gloria Domínguez Bello (de colete cinza) no momento em que deixa uma comunidade na selva sul-americana — Foto: Óscar Noya/via BBC

Há 25 anos, a microbióloga venezuelana María Gloria Domínguez Bello começou a realizar estudos com comunidades indígenas. A experiência foi muito reveladora. E não apenas em termos científicos.

Ao falar sobre suas incursões na selva sul-americana, fica evidente seu entusiasmo e gratidão às populações que permitiram que ela e seus colegas entrassem para ver como vivem. "Temos muito a aprender com eles", diz ela com admiração.

Em artigo que escreveu para a revista Cell em 2016, Domínguez deu alguns detalhes de uma visita que fizeram, há vários anos, a uma aldeia.

No primeiro dia, eles se concentraram na apresentação formal da equipe de pesquisadores às lideranças e à comunidade, que haviam aprovado sua chegada com antecedência, e em comunicar a eles seu objetivo.

"Eles estão familiarizados com vermes intestinais, alguns dos quais são visíveis. Explicamos a eles que existe uma forma de vida ainda menor que os vermes: os micróbios, no intestino, na boca, na pele, na vagina, alguns prejudiciais, mas em sua maioria bons, e que ainda não entendemos sua função."

"Informamos a eles que povos tradicionais como eles parecem ter um conjunto de micróbios mais diverso do que o nosso e que queremos entender por quê."

À caça de micróbios

Domínguez tem vários projetos de pesquisa — um deles se concentra no microbioma de povos isolados — Foto: María Gloria Domínguez Bello/Rutgers University/via BBC
Domínguez tem vários projetos de pesquisa — um deles se concentra no microbioma de povos isolados — Foto: María Gloria Domínguez Bello/Rutgers University/via BBC

Quando Domínguez era jovem, seu dilema entre estudar Medicina ou Biologia não durou muito tempo: para cursar a primeira carreira na Universidade Central da Venezuela, era preciso esperar um ano, enquanto ela podia começar imediatamente a segunda opção na Universidade Simón Bolívar.

Domínguez não quis esperar e, com o tempo, foi cativada pelo microbioma ou microbiota, que são os microrganismos que vivem no corpo humano.

Ela fez um mestrado em Nutrição e doutorado em Microbiologia na Universidade de Aberdeen, na Escócia. Trabalhou no Instituto Venezuelano de Pesquisa Científica de 1990 a 2002, ano em que partiu para dar aulas na Universidade de Porto Rico.

Em 2012, decidiu ir para os Estados Unidos, onde mora. É atualmente professora de Bioquímica e Microbiologia na Universidade Rutgers.

Na instituição, ela comanda o laboratório que leva seu nome e que foca na evolução conjunta da microbiota e do hospedeiro, e no impacto dos hábitos do estilo de vida ocidental nessa dinâmica.

"A busca por micróbios me levou a viajar pelos intestinos de roedores, ruminantes, pássaros e humanos, por savanas e selvas na América do Sul e, mais recentemente, na África", diz ela no artigo A Microbial Anthropologist in the Jungle ("Uma Antropóloga Microbiana na Selva", em tradução livre).

Como ela explica, sua abordagem como microbióloga de populações humanas tem sido muito antropológica.
Os yanomami, que se caracterizam como caçadores e coletores, vivem na selva amazônica da Venezuela e do Brasil — Foto: Universal Images Group/Getty Images via BBC
Os yanomami, que se caracterizam como caçadores e coletores, vivem na selva amazônica da Venezuela e do Brasil — Foto: Universal Images Group/Getty Images via BBC

"Muito mais do que estudar doenças, as perguntas que me faço são: por que temos isso? De onde veio isso? Quando adquirimos essa simbiose?"

Um de seus projetos de pesquisa foca no microbioma de povos isolados — uma microbiota que não foi afetada por fatores como antibióticos, cesarianas ou limpeza excessiva.

A natureza como provedora

'A ideia para nós sempre foi: o que aprendemos com eles, contamos a eles, porque eles têm muito a nos ensinar'', diz a especialista — Foto: María Gloria Domínguez/Rutgers University/via BBC
'A ideia para nós sempre foi: o que aprendemos com eles, contamos a eles, porque eles têm muito a nos ensinar'', diz a especialista — Foto: María Gloria Domínguez/Rutgers University/via BBC

Sua carreira como pesquisadora começou em 1982, quando era estudante universitária na Venezuela.

Lá, ela estudou diferentes comunidades indígenas, como os piaroas, os guahibos, os yekwanas, os waraos e os yanomami. "Os primeiros estudos foram nutricionais e foram feitos em colaboração com antropólogos", revela.

"Estudávamos populações de diferentes etnias perto de Puerto Ayacucho, capital do estado do Amazonas, na Venezuela."

Infográfico mostra onde fica Puerto Ayacucho, no estado do Amazonas, na Venezuela, perto da fronteira com a Colômbia. — Foto: G1
Infográfico mostra onde fica Puerto Ayacucho, no estado do Amazonas, na Venezuela, perto da fronteira com a Colômbia. — Foto: G1

O interesse inicial era entender sua alimentação, mas logo surgiu outro: "Como é possível que essas pessoas tenham tantos parasitas e sejam assintomáticas?"

Foi assim que ela começou a questionar: "Será que evoluímos para ter parasitas e quando eles saem do controle ficamos doentes?"

Dos indivíduos que ela estudou nessas comunidades, "quase todos tinham protozoários diferentes".

"Descobrimos que seu estado nutricional, pelo menos nas populações indígenas tradicionais, era excelente. A natureza fornecia a eles alimentação em abundância, eles cultivam hortas e recorrem ao rio."

A situação muda drasticamente no caso de muitos indígenas que se mudam para os centros urbanos: "À medida que se deslocam para as cidades, você vê o outro extremo: obesidade e desnutrição".

Ela também "queria entender como as microbiotas estão associadas à perda da alimentação tradicional e à transição para dietas muito menos saudáveis, ricas em gorduras e carboidratos, sem fibras".

Maior diversidade

'Depois de ir repetidas vezes, eles já nos conheciam, se criou uma confiança mútua', conta a pesquisadora — Foto: María Gloria Domínguez/Rutgers University/via BBC
'Depois de ir repetidas vezes, eles já nos conheciam, se criou uma confiança mútua', conta a pesquisadora — Foto: María Gloria Domínguez/Rutgers University/via BBC

Seus estudos com algumas populações indígenas refletem uma diversidade notável de microbiota entre seus membros.

Ela conta que eles conseguiram coletar amostras por swabs (cotonete longo e estéril) de diferentes partes do corpo (pele, nariz e boca) de integrantes de comunidades remotas.

"Nas fezes dos yanomami mais isolados há quase o dobro da diversidade bacteriana que nós temos."

Em 2015, Domínguez publicou, junto a outros 22 pesquisadores, o artigo The microbiome of uncontacted Amerindians ("O microbioma de ameríndios isolados", em tradução livre), em que apresentou os resultados de um estudo com uma pequena comunidade yanomami venezuelana "sem contato prévio documentado com pessoas ocidentais".

"Em 2008, uma aldeia não mapeada foi avistada por um helicóptero do Exército e uma missão médica (enviada pelas autoridades) pousou ali em 2009", afirma o documento.

Conscientes de seu isolamento, apenas um dos autores, o médico Óscar Noya, esteve no local.
Esta foto de uma aldeia na Amazônia foi tirada pelo pesquisador Óscar Noya — Foto: Óscar Noya via BBC
Esta foto de uma aldeia na Amazônia foi tirada pelo pesquisador Óscar Noya — Foto: Óscar Noya via BBC

Trata-se de uma comunidade de caçadores e coletores, sem agricultura ou domesticação de gado, que concordou em participar da pesquisa.

"O comércio foi evidenciado pela presença de facões, latas e roupas que costumam ser trocados por flechas com outros yanomami".

"A idade das 34 pessoas (que participaram) variava de 4 a 50 anos, segundo estimativa dos trabalhadores de saúde yanomami da equipe médica." 

Após analisar seu "microbioma bacteriano fecal, oral e cutâneo", Domínguez e sua equipe descobriram que eles "abrigam o microbioma com maior diversidade de bactérias e funções genéticas já registrado em um grupo humano".

Apesar de seu isolamento e "de não terem tido exposição conhecida a antibióticos, eles abrigam bactérias que carregam genes funcionais de resistência a antibióticos, incluindo aqueles que conferem resistência a antibióticos sintéticos".

Embora os autores reconheçam que o tamanho da amostra é pequeno, eles observam que os resultados sugerem que "a ocidentalização afeta significativamente a diversidade do microbioma humano".

Práticas antimicrobianas

A microbióloga lembra os resultados deste estudo. "É fascinante", diz ela. "Você vê o gradiente de urbanização muito claro."

À medida que as pessoas adotam o estilo de vida industrializado e vivem nas cidades, elas adotam "muitas práticas" que são antimicrobianas.

E não se trata apenas de hábitos de higiene, mas do consumo de antibióticos, do uso de substâncias antibacterianas e de conservantes.

"As latas não apodrecem porque estão cheias de inibidores de micróbios. Nessa cultura de alimentos processados e conservados, também estamos comendo muitos antimicrobianos. Todas essas práticas modernas parecem estar causando uma perda da diversidade (da microbiota), e com isso funções são perdidas", diz ela.

"Paralelamente, o aumento das doenças imunológicas e metabólicas está associado a estilos de vida modernos e urbanos, e achamos que as duas coisas estão ligadas causalmente."

"Estamos perdendo funções importantes que a microbiota tem, e se esse impacto acontecer muito cedo na vida, ele leva a um mau desenvolvimento, a uma educação deficiente do sistema imunológico e do sistema metabólico."

Ela adverte que determinar a causalidade em humanos é muito complicado e fazer testes clínicos com pessoas é muito caro. Portanto, o primeiro passo foi fazer experimentos com ratos.

A limpeza

Comunidade yanomami pescando na Amazônia venezuelana em registro de 2016 — Foto: DeAgostini/Getty Images via BBC
Comunidade yanomami pescando na Amazônia venezuelana em registro de 2016 — Foto: DeAgostini/Getty Images via BBC

A especialista lembra que, em comunidades remotas, que são aldeias muito pequenas, não há agricultura ou sistemas de produção com animais, e isso tem um efeito direto.

"As aldeias na selva têm suas próprias pragas, mas a menos que sejam introduzidos pelo contato com estranhos, elas não possuem nossos patógenos infecciosos comuns, as bactérias relacionadas à agricultura (E. coli, Salmonella) ou os vírus zoonóticos (influenza, HIV)", escreveu a especialista no artigo de 2016.

"Você percebe que muitos de nossos patógenos gastrointestinais, a maioria deles, vêm de nossos sistemas de produção de carnes e aves", diz ela.

Conviver com comunidades indígenas também permitiu a ela conhecer os hábitos de limpeza de algumas delas.

"Eles se banham muitas vezes ao dia no rio, as crianças estão sempre metidas no rio. Não usam sabonete, mas para ficar limpo você percebe que realmente não precisa usar sabonete", afirma.

"Normalmente, quando chegamos, nos primeiros dias usamos iodo: uma gota por litro de água. No quarto dia, não sabemos onde deixamos. Em vez de ir para o rio, que fica longe, acabamos consumindo a água que eles têm armazenada."

"Todas as crianças da comunidade brincam com essa água, colocam as mãos ali, às vezes com fezes nas mãos, mas ninguém tem patógenos para transmitir, em parte porque não há E. coli de vacas, Salmonella, não há patógenos de origem zoonótica, e no final acabamos todos bebendo essa água."

"Se vamos ficar três semanas, não vamos ao rio buscar água toda hora, e ninguém fica doente. Esse foi um grande ensinamento", diz ela.

Hábitos alimentares

Em algumas comunidades, conta Domínguez, "eles dão um mês de licença pós-parto para ambos os pais, e depois, a mãe se 'veste' com o bebê e vai trabalhar. Primeiro, ela carrega o filho no peito e depois atrás dela".

"Essas mulheres fazem um exercício tremendo com um peso sobre elas e têm posturas corretas. Ficam de cócoras, uma posição muito saudável."

As famílias "não se sentam para comer três vezes por dia como nós. Normalmente, se reúnem à noite e comem juntos para conversar".

"Durante o dia, petiscam o tempo todo. Comem tapioca, depois banana, depois outra fruta. Eles têm uns abacaxis de comer rezando", diz ela com um sorriso. "Se você come frutas e tapioca o dia todo, passa o dia sem fome."

"Depois, à noite, tem sopa de peixe com tubérculo ou se tiver caça, carne vermelha, mas o que eles comem de carne vermelha é como uma almôndega, literalmente, por semana. Essa é a porção e, com sorte, duas vezes por semana."

"Eles vão caçar e quando voltam picam a presa, e o que cabe por pessoa, porque compartilham com a comunidade, é uma almôndega."

"É uma alimentação muito saudável. Não é uma dieta vegetariana, mas é realmente excepcional comer carne vermelha. Peixe eles comem todos os dias na sopa."

"A panela está sempre fervendo, eles jogam água, tiram o peixe, comem, colocam outro peixe e assim por diante. É muito interessante ver como você não precisa ficar usando detergente."

Um experimento

"Fizemos um experimento e estudamos a nós mesmos, os sete visitantes. Deixamos de usar xampu, sabonete, pasta de dente, mas não abrimos mão da escova de dente."

"Dissemos a nós mesmos: quanto estamos dispostos a abrir mão, sobretudo no que se refere a substâncias, produtos químicos?"

Alguns cientistas, diz ela, até deixaram de usar botas e andavam descalços. "Em seguida, tiravam os carrapatos."

"Não cheguei a comer minhocas", revela, mas dois de seus colegas sim. "Queríamos estudar o seguinte: se você se incorporar totalmente à dieta deles e parar de usar xampu, detergente, sabonete e cremes, o quanto sua microbiota muda?"

"Não chegamos perto da microbiota deles, mas havia duas crianças, de 4 e 6 anos, filhos de dois médicos, que aumentaram sua diversidade e chegaram perto."

"Foi um estudo muito pequeno, um estudo piloto, mas abriu a possibilidade de perguntar: até quando dura o desenvolvimento da microbiota humana?"

Acredita-se que nos primeiros anos de vida se configura a composição do microbioma intestinal que vai persistir na vida adulta, quando esse ecossistema atinge um estado de equilíbrio.

Um estudo em que Domínguez é coautora analisou a microbiota de um grupo de indivíduos e constatou que, após os três anos de idade, já não era possível distinguir as crianças dos adultos.

Pura Fibra

A diversidade ideal da microbiota em cada órgão é diferente. Por exemplo, a do intestino é diferente da pele ou da vagina.

"A diversidade ideal é aquela em que o órgão funciona melhor. "Achamos que eles têm uma alimentação e um estilo de vida com muito menos interferências antimicrobianas do que nós, e também possuem dietas que alimentam mais suas bactérias."

"Consomem mais de 100 gramas de fibra por dia e nós (na sociedade industrializada) consideramos que 30 gramas por dia é uma alimentação rica em fibras. Quando você vai lá e vê a tapioca, é fibra pura. Comem um montão de frutas, têm uma alta ingestão de fibras."

"A fibra é alimento para as bactérias, não para você", o que gera uma condição anti-inflamatória.

É que os ácidos graxos voláteis, especialmente o butirato, que são produzidos pelas bactérias presentes em nossa microbiota intestinal, são anti-inflamatórios.

"Você precisa de toda uma diversidade para poder realizar as diferentes funções do trato digestivo."

"Se você perde essa diversidade pelo uso repetido de antibióticos, provavelmente está afetando as funções desse ecossistema no intestino, está alterando os sinais entre as bactérias e suas células intestinais, entre as bactérias e suas células imunológicas. Você perturba o ecossistema."

"Acreditamos que está havendo uma degradação da diversidade microbiana que é importante para a saúde humana e que ao perder essa diversidade na microbiota, também estamos perdendo funções."

"Temos muito a aprender com as pessoas que mantêm estilos de vida tradicionais, temos que entender por que esses estilos são saudáveis."

Marcador de migrações

Domínguez também estudou a Helicobacter pylori, um tipo de bactéria encontrada no estômago.

Embora inicialmente fosse considerada um patógeno gástrico humano, causador de úlceras pépticas e câncer gástrico, "mais tarde também ficou claro que é uma flora normal, que desempenha um papel na regulação da secreção de ácidos, hormônios e na modulação da imunidade", escreveu a especialista em um de seus artigos científicos.

E como chegou à América? A bióloga conta que uma pesquisa sugere que foi por meio dos espanhóis, pois nos estudos realizados em algumas cidades latino-americanas foram detectadas cepas europeias.

"A Helicobacter sempre evoluiu com a humanidade, a tal ponto que pela Helicobacter que a pessoa possui, ao sequenciá-la, é possível saber se essa pessoa é europeia, asiática ou indígena sul-americana, por exemplo."

"É um marcador de migrações humanas", diz ela.

Por isso, junto à equipe de pesquisadores, foi sugerido que "se os ancestrais de nossos indígenas são asiáticos, mongóis, eles deveriam ter a Helicobacter asiática, e esse foi mais um motivo para entrarmos na selva".

"E, de fato, a prevalência na selva da Helicobacter em adultos é de mais de 90%, e as cepas que eles carregam são asiáticas".

Autorizações

Com o tempo, diz Domínguez, "fomos nos deslocando para comunidades cada vez mais remotas e acabamos junto a equipes associadas a programas de saúde".

Seus estudos sempre contam com a permissão das comunidades e das autoridades dos países, onde normas éticas rígidas são elaboradas e seguidas.

"Adoro sair em campo", diz ela, embora reconheça que a realização das pesquisas tem suas complexidades.

"Você pode imaginar a quantidade de autorizações que precisam ser obtidas para poder trazer as amostras aos Estados Unidos e sequenciá-las. São muitas as limitações, mas temos autorização para estudá-las."

Ela quer dar continuidade a um projeto com comunidades da fronteira entre a Venezuela e o Brasil, no estado de Bolívar.

"Estabelecemos contato com essas comunidades, estamos estudando gradientes de urbanização muito estreitos."

"Desta vez, não é a comunidade que vive na selva em churuatas, em cabanas, sua aldeia, mas comunidades que estão na selva, nas quais não há economia de mercado ou dinheiro, onde todos vivem da natureza, da pesca, da caça, de suas hortas, da sua semeadura."

Alguns já tiveram exposição a medicamentos — por exemplo, aquelas que têm pista de pouso contam com uma unidade de atendimento médico.

De volta com resultados

Domínguez observa que ela e seus colegas estabeleceram relações com várias das comunidades visitadas.

"Depois de ir repetidas vezes, eles já nos conheciam, se criou uma confiança mútua."

E a cada estudo, eles voltavam para apresentar os resultados.

"A ideia para nós sempre foi: o que aprendemos com eles, contamos a eles, porque eles têm muito a nos ensinar."

"Dizemos a eles: 'Vocês podem otimizar a saúde, nós cometemos muitos erros, são vocês quem devem entender por que sua dieta e atividade física são adequadas.'"

"No final nos damos conta do quanto desrespeitamos a natureza e das consequências que podemos pagar por isso", reflete.

"Os indígenas são líderes incríveis. Conversam sobre seu futuro e dos seus filhos e o que, em geral, preferem é contar com a tecnologia e ficar em suas comunidades porque sentem que são os guardiões da selva. E são."

"Mas também querem ter as vantagens que a medicina e as comunicações oferecem".

Sem interferir na sua cultura, "devemos encontrar uma forma sustentável de conseguir isso", sugere a microbióloga.

Como ela analisa em outro artigo científico: "Os mesmos povos cujos microbiomas podem conter pistas cruciais para os avanços médicos de amanhã continuam pagando o preço alto de doenças infecciosas mortais históricas, agora curadas ou preveníveis ​​com a medicina ocidental e as vacinas".

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