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Vice-presidente da Academia Brasileira de Ciência alerta que a Amazônia abriga vírus desconhecidos que podem infectar as pessoas com o desmatamento. Ele diz que foi encontrado na floresta pelo menos oito variantes do Sars-CoV-2 recentemente, sendo algumas são novas e que ainda não haviam sido descritas no Brasil.
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Por Izabel Santos, Deutsche Welle
25/11/2020 13h08 Atualizado há um dia
Postado em 26 de novembro de 2020 às 11h00m

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Desmatamento ilegal na área de Uruará, no Pará. — Foto: Marizilda Cruppe/Greenpeace
Desmatamento, tráfico de animais e falta de políticas públicas que
mantenham equilibrada a relação entre o homem e o meio ambiente podem
favorecer o surgimento de novas pandemias, ainda no século 21. A Amazônia e sua biodiversidade abundante, mas negligenciada, é forte candidata a celeiro dessas doenças.
O
biólogo Adalberto Luis Val vem alertando desde o início da pandemia de
covid-19 sobre esses riscos: "É muito provável que várias das pandemias
que a humanidade já enfrentou tenham sido causadas por micro-organismos
que pularam da floresta para o homem", disse Val ao InfoAmazonia.
Adalberto é um dos pesquisadores mais experientes e respeitados da
Amazônia. Vice-presidente da Academia Brasileira de Ciência (ABC) para a
Região Norte, atua no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
(Inpa) há mais de 40 anos.
No local, comanda um dos mais modernos laboratórios e das mais
produtivas equipes da região, que recebe pesquisadores do mundo inteiro
em busca de compreensão sobre como a maior floresta tropical do mundo
sobreviverá no futuro.
Para ele, o Brasil vem cometendo erros que podem comprometer a luta
contra doenças que coloquem o mundo sob novas pandemias. Deixar "passar a
boiada" é o caminho pra gente aumentar os processos de transmissão de
vírus da floresta para o homem, destaca.
Leia abaixo a entrevista completa.
InfoAmazonia: Existe um risco real do surgimento de uma pandemia na Amazônia?
Na Amazônia, existem mais coisas do que aquilo que podemos ver, como
plantas e animais terrestres e aquáticos, mas também um vasto, imenso,
número de espécies que a gente não consegue ver, que são os
micro-organismos, entre eles bactérias, fungos e vírus. De uma maneira
geral, vários deles habitam o corpo de animais e plantas. Esses
micro-organismos estão na floresta em equilíbrio, eles vivem onde
encontraram os ambientes ideais para viver. É evidente que enquanto eles
estiverem ali, sem nenhum distúrbio, está tudo bem e sob controle. Mas,
se a gente começa a mexer com essa floresta, se a gente começa a entrar
lá, derrubar essa floresta, a mudar o ambiente, contaminar a água, ter
uma relação próxima com esses animais e plantas, evidentemente existe a
possibilidade de alguns desses organismos "pularem" para o homem e
causarem problemas extremamente sérios.

Próxima epidemia ‘já está a caminho’, alerta médico sobre desmatamento na Amazônia
Para responder de maneira direta a sua pergunta: se a gente não parar
de interagir fortemente e de forma irresponsável com a floresta,
derrubando, colocando os animais que vivem na floresta em desafios,
interagindo com esses animais sem os devidos cuidados, traficando
animais para outros lugares em sacos, caixas, mochilas, é óbvio que
existe a possibilidade de algum desses micro-organismos "pularem" para o
homem e causarem novas pandemias. E digo mais: a frequência com que
isso tem acontecido nos últimos tempos tem aumentado significativamente
de tal forma que isso nos coloca em uma luz amarela e com possibilidade
de se tornar vermelha e nos colocar em um novo desafio pandêmico.
Quais são as possibilidades?
Existem vários estudos mostrando o número de novas cepas de vírus que
nós temos na Amazônia. O Instituto Evandro Chagas, por exemplo, tem
listado mais de 20 mil tipos diferentes de vírus. Vários desses vírus,
pelo que já foi estudado até aqui, já causaram algum tipo de dano ao
homem, algum episódio epidêmico em algum lugar da Amazônia. Isso quer
dizer que nós temos que tomar muito cuidado, pois existe sim a
possibilidade de nós termos novos processos epidêmicos a partir da
interação com esses animais.
Na
Dinamarca, surgiu uma nova cepa de Sars-CoV-2 a partir da infecção de
visons. O senhor avalia como possível isso acontecer aqui?
Existe a possibilidade de acontecer, por várias razões. Até pouco
tempo, não conhecíamos vírus transmitidos por plantas, mas existe um
trabalho recente sobre uma espécie de vírus transmitido por uma espécie
de pimenta. Não é aqui na Amazônia, mas é muito provável que também
tenhamos coisa semelhante aqui, porque a gente só conhece uma pontinha
da diversidade que existe na região. Nós já tivemos outras situações de
vírus transmitidos de animal para animal e muitos foram sacrificados. Um
exemplo disso é a gripe suína [do vírus H1N1], que atingiu o homem
também. Mas existe a transmissão de zoonoses entre animais silvestres
que foram domesticados para servir de alimento ao homem. Isso favorece
um sistema de ponte, que é quando o vírus "pula" dos animais para o
homem.

Dinamarca diz que mutação do vírus em fazendas de Visons está provavelmente extinta
Essas situações podem provocar mutações?
Recentemente,
nós ficamos sabendo da existência de, pelo menos, oito variantes do
Sars-CoV-2 circulando na Amazônia. Dentre essas, algumas são novas e
ainda não haviam sido descritas no Brasil, ou seja, apareceram a partir
da interação com populações humanas aqui na região em função do
ambiente, dos desafios e coisas desse tipo.
É importante que as pessoas saibam que o material genético dos vírus
vai sempre mudando, é uma coisa selecionada. Mutações estão sempre
acontecendo, mas algumas podem ser problemáticas como as patogênicas
[infecciosas], outras podem ser menos ruins e deixar de causar
problemas. As mutações podem ter um lado bom e ruim nessa história. Fato
é que nós estamos vendo no caso do Sars-CoV-2 uma dinamicidade grande
do processo de aparecimento de novas variantes.
O
risco de uma nova pandemia é apontado como iminente. Dizem que ela pode
surgir nos próximos anos. Na sua opinião, ela pode ser evitada ou
somente adiada?
Precisamos trabalhar para evitar. Adiar, significa que nós vamos viver o
problema daqui a alguns anos. Temos que trabalhar na recomposição do
equilíbrio do ambiente, temos que entender que somos parte desse mundo e
não donos dele, não podemos fazer qualquer coisa. Temos que respeitar
nossa relação com a floresta, pois, toda vez que a gente vai lá e
derruba a floresta, nós estamos impondo um estresse àqueles organismos
que vivem lá e eles respondem da melhor forma que podem. Portanto, eu
diria que são várias as políticas necessárias para recompor esse
equilíbrio.
Segundo, precisamos de políticas voltadas para a compreensão desses
processos, que não é só a capacitação de pessoal em altos níveis, de
doutorado ou pós-doutorado, na verdade precisamos de uma sociedade cada
vez mais educada para se apropriar e usar as informações que temos
produzido nos laboratórios, de maneira geral. Em terceiro lugar, temos
que entender as verdadeiras vocações de determinados lugares e investir
em transporte, comunicação e processos de saúde adequados, garantir
segurança alimentar e assim sucessivamente. Então, para que a gente
recomponha esse equilíbrio sistêmico de maneira geral, é necessário que
tenhamos políticas nos vários estratos sociais, para que possamos
trabalhá-los da melhor maneira possível. Do contrário, não tenho dúvidas
de que o estresse que causamos aos ambientes nos expõe mais e mais a
novas pandemias.
Onde nós, como sociedade, estamos falhando para evitar essa nova pandemia?
Em todos esses aspectos com falta de políticas adequadas. Deixar passar
a boiada é o caminho para a gente aumentar os processos de transmissão
de vírus da floresta para o homem, isso aumenta a possibilidade de novas
pandemias.
A
presença da covid-19 no estado do Amazonas tem apontado a necessidade
de uma política de vigilância epidemiológica e de saúde diferenciada
para a região. No entanto, existem deficiências de comunicação,
infraestrutura e outras muito básicas que favorecem a ausência do estado
em municípios do interior. O senhor acredita que a ciência e a educação
podem apontar alguma solução nesse sentido?
Não se trata de fé cega na ciência, mas sim o único caminho. Não
podemos tomar atitudes na base do achismo. A ciência tem um conjunto de
verdades que assim o são até que elas sejam substituídas por outras
novas, mas cientificamente provadas. Ciência e educação são fundamentais
para esse processo.
Aprendemos isso há centenas de anos, mas estamos vendo acontecer
novamente com o Sars-CoV-2. Precisamos ter mecanismos epidemiológicos
mundiais, e acredito que também precisamos de um fundo [financeiro]
mundial que possa manter essa vigilância epidemiológica e surtir algum
efeito.
O que senhor acha que esta pandemia está ensinando ao mundo?
Solidariedade. Acho que o mundo está aprendendo que é preciso acreditar
na ciência e a fazer colaborações nas pesquisas científicas. Vimos que
tivemos avanços significativos a partir de processos colaborativos, que
são extremamente importantes e que já fazem parte do processo
científico, de uma maneira geral. Mas a pandemia está nos exigindo essa
colaboração em todos os níveis sociais para uma vida mais tranquila,
como o uso de máscaras, higienização das mãos e distanciamento social.Isso tudo é uma coisa que cada um faz para se proteger, mas, também,
para proteger o próximo. No contexto geral, isso significa cooperação,
colaboração, uma solidariedade para que todos juntos caminhemos para um
novo momento.
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