Retrospectiva...Relembre!
B R A S I L -- I N F O R M A Ç Ã O.
Maranhense havia perdido o emprego e culpava o presidente da República.Para piloto de avião sequestrado em 1988, risco no Brasil 'ainda existe'.
\*>|>..<|<*/ Mais de uma década antes de terroristas da al-Qaeda usarem aviões como mísseis contra as torres gêmeas do World Trade Center, nos Estados Unidos, um brasileiro armado tomou um voo da Vasp com o objetivo de atingir o Palácio do Planalto, em Brasília. Desempregado, o maranhense Raimundo Nonato Alves da Conceição, de 28 anos, culpava o governo por sua situação e queria atingir o centro do poder político do país.
"O que ocorreu com o voo 375 da Vasp foi como os atentados a Nova York e Washington. O meu sequestrador tinha a mesma intenção que os terroristas, só que não conseguiu alcançar o seu objetivo. E o risco ainda existe, tanto que o 11 de Setembro ocorreu”, afirma o comandante Fernando Murilo de Lima e Silva, de 60 anos, em entrevista ao G1.
Durante o voo, ele viveu momentos de terror quando o maranhense, armado de um revólver calibre 32, matou seu copiloto, Salvador Evangelista. "Ele levou um tiro na cabeça quando pegou o rádio para responder a um chamado da torre de controle de Brasília", lembra Murilo. Outro copiloto, que estava na aeronave como passageiro, foi ferido ao tentar impedir a ação do criminoso.
(Veja no vídeo acima reportagem do Jornal Nacional sobre o caso na época)
Comandante Murilo deixa hospital após ter sido
baleado na perna no desfecho do sequestro
(Foto: José Paulo/AE)
baleado na perna no desfecho do sequestro
(Foto: José Paulo/AE)
O voo 375 da Vasp fazia o trajeto Porto Velho-Rio de Janeiro, com escala, dentre outros lugares, em Belo Horizonte, onde o maranhense entrou armado. Estavam a bordo 135 passageiros e oito tripulantes.
“A ação começou quando já estávamos sobrevoando os céus do Rio de Janeiro. Ele gritava: ‘eu quero matar o Sarney. Quero jogar o avião no Planalto!", diz o piloto. "Na época, eu não tinha ideia de que aquilo poderia ocorrer".
Após a ação, o piloto solicitou às companhias aéreas a instalação de portas blindadas na cabine de pilotagem dos aviões.
Cerco policial em Goiânia
Raimundo Nonato havia perdido o emprego em uma construtora devido à crise econômica que o país enfrentava e acreditava que a culpa era do presidente, na época José Sarney (PMDB), que governou o país entre 1985 e 1990.
Na ação, o sequestrador exigiu que o avião se dirigisse do Rio a Brasília. Como o combustível da aeronave estava acabando devido à mudança de rota, o comandante conseguiu convencer o sequestrador a pousar o Boeing em Goiânia.
Podíamos despencar a qualquer momento. Mas ele não estava nem aí. Era doente, estava para o que desse”, acrescenta. Ao pousar em Goiânia, o avião foi cercado pela Polícia Federal, onde o sequestrador decidiu seguir para Brasília em uma aeronave de menor porte, levando o comandante como refém.
“Ele tentou subir em um Bandeirante que estava estacionado próximo ao Boeing para fugir. Foi nessa hora que eu corri. Um agente da PF conseguiu lhe acertar no quadril, mas o sequestrador ainda teve tempo de atirar, e me acertou na perna”, relembra. O sequestrador foi baleado no quadril pelos agentes da PF e morreu no hospital de infecção, dias depois.
“Hoje, é mais difícil ocorrer um sequestro como aquele no país, acho que pode se repetir apenas em aeronaves menores, ou em aeroclubes pequenos. Os aeroportos possuem detectores de metais, mas muita coisa ainda precisa melhorar até a Copa do Mundo de 2014 para não termos nenhum risco”, acrescenta.
Sequestros durante o regime militar
Pelo levantamento do historiador Ivan Sant'Anna, houve no Brasil pelo menos dez sequestros de aeronaves, a maioria durante o regime militar.
“Na época, criminosos costumavam sequestrar aviões para fugir para Cuba. Lá, recebiam asilo e depois o avião era devolvido ao país. Para os passageiros, era como um passeio a mais, porque nunca houve nenhum ato com agressão antes do sequestro do voo 735 da Vasp”, diz Sant'Anna, que é pesquisador na área de acidentes aéreos. (No vídeo acima, passageiro relembra a calma do comandante do voo)
Hoje, diz ele, são raros casos de sequestros de aeronaves no Brasil. “Sei de casos isolados de roubos de aviões pequenos, às vezes fazendo o piloto como refém, em aeroclubes de pequeno porte, em que não há tanta segurança ou detectores de metais. Normalmente, estes aviões são usados para tráfico ou comércio ilegal”, afirma.
2009, quando um homem roubou um monomotor no Aeroclube de Luziânia e acabou caindo sobre um shopping em Goiânia. O piloto, de 30 anos, e sua filha, de 5 anos, morreram.
Questionada sobre o que mudou em relação à segurança do transporte aéreo para impedir crimes e sequestros a bordo de aeronaves desde 1988, a Polícia Federal não se manifestou.
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