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segunda-feira, 24 de março de 2025

Mega secas aumentam no mundo, e Brasil fica no top 10 das mais severas; veja mapa

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País aparece duas vezes entre as regiões mais afetadas por secas prolongadas, segundo estudo global que analisou fenômenos entre 1980 e 2018. Relatório recente da OMM confirma tendência de agravamento.
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Por Roberto Peixoto, g1

Postado em 24 de Março de 2.025 às 11h10m

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Moradores transportam água potável de Humaitá para a comunidade de Paraizinho, ao longo do rio Madeira, um afluente do rio Amazonas, durante a estação seca no Amazonas, em 8 de setembro de 2024. — Foto: Edmar Barros/AP
Moradores transportam água potável de Humaitá para a comunidade de Paraizinho, ao longo do rio Madeira, um afluente do rio Amazonas, durante a estação seca no Amazonas, em 8 de setembro de 2024. — Foto: Edmar Barros/AP

Um estudo recente publicado na revista científica "Science" revelou que as mega secas períodos de seca que duram pelo menos dois anos – têm se tornado mais frequentes, quentes e devastadoras ao redor do mundo nas últimas quatro décadas.

A pesquisa, inédita por analisar essas secas prolongadas em escala global e seus impactos, examinou dados de 1980 a 2018 e identificou mais de 13 mil eventos do tipo no período. O Brasil apareceu duas vezes entre os dez casos mais graves (veja INFOGRÁFICOS abaixo).

Essas secas prolongadas não são exatamente um evento meteorológico, mas algo que ocorre de forma mais sutil, ao longo de um período maior e em uma área mais extensa, explica ao g1 Simone Fatichi, autor do estudo e pesquisador do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Nacional de Singapura.

Elas devem ser vistas como períodos anômalos prolongados e amplamente distribuídos, caracterizados principalmente pela redução da precipitação, embora em alguns casos também envolvam um aumento na demanda atmosférica por água, acrescenta Fatichi.

A tendência é confirmada pelo mais recente relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM), publicado nesta última semana, que aponta a continuidade e intensificação de fenômenos de seca no Brasil.

📝 ENTENDA: Em anos recentes, o país tem enfrentado condições climáticas extremas, incluindo a mega seca de 2024, que afetou quase 60% do território nacional, a mais intensa e generalizada da história do Brasil. A situação é agravada por fatores como o aquecimento global, a deflorestação e eventos climáticos naturais, como El Niño.

E a seca tem impactado severamente regiões como a Amazônia e o Pantanal. Em 2023, o Pantanal registrou uma redução de 61% em sua área coberta por água em comparação com a média histórica desde 1985, tornando-se um dos biomas mais afetados.

Além disso, a Amazônia enfrentou um recorde de seca no mesmo ano, que se agravou em 2024, com um aumento de 2000% na área afetada por seca extrema.

Entenda mais abaixo:

A pesquisa revela que a chamada Amazônia Sul-Ocidental, que abrange parte dos estados do Acre, Amazonas, Rondônia e Mato Grosso, além de porções da Bolívia e Peru, enfrentou uma mega seca devastadora de 2010 a 2018.

Esta região figura como a 7ª mais grave do mundo no período estudado. No período, a seca prolongada causou o secamento de rios importantes como o Madeira, Negro e Solimões, que atingiram níveis historicamente baixos.

Comunidades ribeirinhas também ficaram isoladas quando os rios, que servem como principais vias de transporte e subsistência, se tornaram intransitáveis em vários trechos.

Durante esses oito anos, a vegetação amazônica sofreu um estresse hídrico severo, aumentando significativamente a vulnerabilidade da floresta aos incêndios.

Em 2015 e 2016, no auge da seca, foram registrados aumentos de até 30% nos focos de queimadas comparados à média histórica da região.

Eventos de mega seca graves — Foto: Arte/g1
Eventos de mega seca graves — Foto: Arte/g1

Já na região Leste do Brasil, o estudo identifica como a 9ª mega seca mais severa do mundo aquela ocorrida entre 2014 e 2017, afetando principalmente os estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo.

Na época, uma crise hídrica sem precedentes atingiu a região mais populosa e economicamente ativa do país.

O Sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento de água para cerca de 9 milhões de pessoas na Grande São Paulo, chegou a operar com o chamado "volume morto" (reserva abaixo do nível das comportas) em 2015, atingindo menos de 5% de sua capacidade.

Em Minas Gerais, reservatórios importantes como o de Furnas chegaram a níveis críticos, afetando não apenas o abastecimento urbano, mas também a geração de energia, já que a região concentra importantes usinas hidrelétricas.

No Rio de Janeiro, o Sistema Paraíba do Sul, vital para o abastecimento da região metropolitana, sofreu uma redução drástica de vazão.

Já no Espírito Santo, rios como o Jucu e Santa Maria da Vitória, fundamentais para o abastecimento da Grande Vitória, registraram níveis alarmantes.

De acordo com o estudo, três fatores principais estão contribuindo para o agravamento das mega secas pelo mundo: o aumento das temperaturas globais, a diminuição das chuvas em regiões específicas e o aumento da evapotranspiração - o processo pelo qual a água é transferida da superfície da Terra para a atmosfera por evaporação do solo e transpiração das plantas.

Um mapa apresentado pelos pesquisadores mostra como essas mudanças afetam diferentes regiões do planeta (veja ABAIXO).

Nele, as cores mais avermelhadas revelam que há queda nas chuvas (Qpr) de até 60% abaixo do normal, já as tonalidades esverdeadas indicam o aumento da perda de água (Qpet) de até 18% durante as secas extremas.

De forma geral, o estudo destaca um padrão alarmante: nas regiões mais quentes, a falta de chuvas castiga mais, enquanto nas áreas frias, o problema maior está na água que se perde para a atmosfera.

Falta de chuva e perda de água agravaram as megas secas. — Foto: Arte/g1
Falta de chuva e perda de água agravaram as megas secas. — Foto: Arte/g1

E no Brasil, biomas como o Cerrado e o Pampa (nossa região de pradaria) sofreram mais com a perda de vegetação durante as mega secas. Por outro lado, a Amazônia mostrou maior resistência inicial.

Porém, quando a seca se prolonga por muitos anos, como aconteceu na Amazônia Sul-Ocidental, os danos podem ser enormes e duradouros.

Ao todo, os cientistas estudaram mais de 13 mil casos de secas duradouras entre 1980 e 2018, em todos os continentes exceto a Antártida.

A mais longa ocorreu na bacia do Congo, na África, durando quase dez anos (2010-2018) e afetando uma área 30 vezes maior que o estado do Rio de Janeiro. Já na Mongólia, uma mega seca entre 2000 e 2011 reduziu a vegetação local em quase 30%.

Nas regiões tropicais úmidas, como partes da Amazônia, a pesquisa revelou ainda que a falta de chuva nem sempre é forte o suficiente para diminuir significativamente a vegetação nos primeiros anos, sugerindo que as plantas dessas regiões podem ter uma "maior resistência" às condições de seca inicial.

Os impactos comparativamente baixos dessas secas prolongadas e, portanto, a ausência de eventos ecológicos severos nas florestas tropicais sugere uma maior resistência das estruturas nesses ecossistemas, disseram os autores no estudo.

Mas acontece que, apesar dessa resistência inicial, a redução das chuvas pode trazer impactos mais complexos para a região, como explica o meteorologista Fábio Luengo, da Climatempo.

"A Amazônia depende fortemente da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e da presença da Cordilheira dos Andes. Esse corredor de umidade se desloca, encontra a barreira dos Andes e contribui para a precipitação na floresta. Há estudos que sugerem que, sem a presença da Cordilheira dos Andes, a Amazônia não teria seu atual perfil florestal e poderia ser uma região muito mais árida".

Já nas florestas boreais do extremo norte do planeta e nos ecossistemas de tundra, os pesquisadores dizem que a resposta à seca foi menor porque sua produtividade vegetal depende mais da temperatura do que da presença ou ausência de chuvas.

Vista aérea mostra homem de moto no Lago Tefé, afetado pela seca do rio Solimões, durante voo de monitoramento do ICMBio em 4 de outubro de 2023. — Foto: REUTERS/Bruno Kelly
Vista aérea mostra homem de moto no Lago Tefé, afetado pela seca do rio Solimões, durante voo de monitoramento do ICMBio em 4 de outubro de 2023. — Foto: REUTERS/Bruno Kelly

País sob pressão crescente

Nesta última semana, a OMM alertou em seu relatório anual que a seca afetou amplas áreas das Américas em 2023 e 2024, com impactos severos no Brasil.

Segundo a agência da Onu, a estiagem foi particularmente intensa no interior da América do Sul, onde o Rio Negro, em Manaus, e o Rio Paraguai, em Assunção, atingiram níveis recordes de baixa.

Além disso, o número de incêndios na Amazônia brasileira foi o maior desde 2010, reflexo da combinação entre condições meteorológicas extremas e pressões humanas sobre o bioma.

Em dezembro, uma nota técnica do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) confirmou essa tendência.

O relatório mostrou que, desde os anos 1990, os períodos de estiagem no Brasil têm se tornado mais frequentes e severos, atingindo duramente biomas como Amazônia, Pantanal, Cerrado e Caatinga.

E esse agravamento resulta tanto de variações naturais do clima quanto do impacto humano, que tem alterado os padrões de chuva e elevado as temperaturas.

De modo geral, o El Niño tende a reduzir a umidade nos trópicos, desacelerando o corredor de umidade da ZCIT. No entanto, o artigo da Science sugere que a seca associada ao fenômeno tem se expandido para além dessas regiões, o que indica que os efeitos do El Niño estão se alterando globalmente.

Segundo o Cemaden, entre os episódios mais críticos das últimas décadas estão justamente a seca prolongada no Nordeste (2012-2017), a crise hídrica no Sudeste (2014-2015) e a seca severa no Pantanal (2019-2021).

Já na Amazônia, a estiagem de 2023-2024, sob El Niño, é a que registrou mais recordes negativos. O Rio Negro, em Manaus, atingiu seu nível mais baixo desde o início das medições, em 1902, deixando comunidades isoladas e interrompendo o transporte de mercadorias pelos rios.

O calor extremo combinado à seca também favoreceu incêndios de grandes proporções na Amazônia e no Pantanal. Apenas em outubro de 2024, 500 cidades relataram perdas superiores a 80% em suas áreas agrícolas.

Mas os impactos da estiagem vão além da agricultura e da biodiversidade. A escassez de água nos rios tem comprometido a geração de energia hidrelétrica, ameaçando o abastecimento das cidades e a estabilidade do sistema elétrico, ainda segundo o centro.

Adaptação necessária

Por causa desses dados tão alarmantes, o futuro preocupa cientistas, que preveem secas ainda mais severas no centro do país e no semiárido até 2060.

Essas áreas já enfrentam desafios como pobreza e dependência da agricultura familiar, o que pode agravar o êxodo rural e aumentar disputas por água e outros recursos naturais.

Ainda segundo o Cemaden, em 2024, mais da metade do território brasileiro sofreu com secas severas ou extremas, que afetaram diretamente cerca de 1.200 municípios.

Para Alexandre Prado, líder em Mudanças Climáticas do WWF-Brasil, os impactos já são evidentes e exigem respostas urgentes.

"As secas estão mais intensas e frequentes, além de ocorrerem mais cedo do que o previsto. O que antes era projetado para acontecer em 15 a 20 anos já está se tornando realidade agora", afirma.

Segundo ele, além do monitoramento, é preciso avançar em políticas públicas que preparem o país para esse novo cenário.

Diante desse cenário, o Cemaden diz que vem aprimorando métodos para prever e monitorar os riscos associados à seca.

Mas especialistas indicam que será necessário um esforço conjunto entre governo, sociedade civil, setor privado e comunidade científica para desenvolver soluções inovadoras que ajudem o Brasil a se adaptar a um futuro com secas mais frequentes e tão intensas.

"O planeta está adoecendo diante dos nossos olhos. Diante de todos esses dados e da vulnerabilidade de tantas regiões do Brasil, os últimos dois anos foram impressionantes nesse sentido. A situação exige uma resposta rápida e eficaz. Temos conhecimento, tecnologia e capacidade para agir. O desafio agora é transformar tudo isso em ação concreta", reforça Prado.

Organização Meteorológica Mundial informa que onda de calor no hemisfério Norte vai se intensificar

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O menino de Taung, o fóssil que mudou a história ao provar que os humanos se originaram na África

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Fóssil foi descoberto meio século antes de Lucy, ícone dos primórdios da humanidade, e mudou o que se acreditava sobre nossa evolução.
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TOPO
Por BBC

Postado em 24 de Março de 2.025 às 10h30m

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Hoje sabemos que o 'elo perdido' entre seres humanos e macacos tinha 3 ou 4 anos quando morreu atacado por uma águia — Foto: Science Photo Library
Hoje sabemos que o 'elo perdido' entre seres humanos e macacos tinha 3 ou 4 anos quando morreu atacado por uma águia — Foto: Science Photo Library

Um século atrás, um artigo sobre uma criatura que morreu há mais de 2 milhões de anos começou a transformar nossa visão do curso da evolução humana como a entendemos hoje. Mas não foi nada fácil.

O que é, sem dúvida, um dos fósseis mais importantes já encontrados caiu nas mãos do autor do artigo, Raymond Dart, no dia do casamento de um amigo, que estava sendo realizado em sua casa.

A noiva estava prestes a chegar, e ele era o padrinho, mas não estava totalmente pronto quando viu dois carteiros carregando duas caixas grandes que claramente não eram presentes, contou ele em suas memórias, Aventuras com o Elo Perdido (1959).

Ele esperava essa entrega desde que Josephine Salmons, uma de suas alunas de anatomia, o alertou sobre uma descoberta inesperada.

Mineiros de cal encontraram alguns fósseis enquanto trabalhavam em uma pedreira chamada Taung — que significa "Lugar do Leão" — cerca de 500 quilômetros a noroeste de Joanesburgo, na África do Sul, onde Dart lecionava.

O acadêmico foi professor de anatomia na recém-fundada Universidade de Witwatersrand, conhecida como Wits, por um ano, então ele não tinha apenas equipamentos ou uma biblioteca, mas também um museu com espécimes.

Por isso ele pediu que os fósseis fossem enviados até ele e, ao vê-los chegar, desceu as escadas correndo, seminu.

Embora sua esposa, Dora, tenha implorado para que ele não começasse a vasculhar os escombros até o casamento terminar, ele não conseguiu resistir à tentação.

Menos ainda quando, na segunda caixa, ele avistou, em um pedaço de rocha, um crânio quase invisível.

Ignorando os apelos de Dora, ele pegou uma agulha de tricô e começou a raspar os pedaços de cal e areia. Foi somente quando o noivo ameaçou encontrar outro padrinho que ele de desvencilhou, se não em pensamento, pelo menos fisicamente, do fóssil.

Assim que pôde, ele retomou sua tarefa até obter sucesso.

"A rocha se partiu", ele relembrou em suas memórias.

"O que surgiu foi o rosto de um bebê, uma criança com um conjunto completo de dentes de leite. Duvido que algum pai já tenha se orgulhado tanto de seus filhos quanto eu tive do meu 'bebê de Taung' naquele Natal de 1924."

A descoberta de Dart seria descrita em jornais do mundo todo e ele se tornaria famoso da noite para o dia, mas não de uma forma gentil — Foto: Science Photo Library
A descoberta de Dart seria descrita em jornais do mundo todo e ele se tornaria famoso da noite para o dia, mas não de uma forma gentil — Foto: Science Photo Library

Sobre duas pernas

Aquele rosto não foi a única coisa extraordinária que Dart encontrou.

Ele reconheceu entre os destroços "o que era, sem dúvida, um molde do interior do crânio", que havia sido formado a partir de sedimentos acumulados dentro do crânio.

Sendo um neuroanatomista, especialista em morfologia cerebral, ele sabia "num piscar de olhos que o que eu tinha em mãos não era um cérebro antropoide comum.

"Era uma réplica de um cérebro três vezes maior que o de um babuíno e consideravelmente maior que o de qualquer chimpanzé adulto", escreveria Dart mais tarde.

"Além disso, ele conseguiu ver na parte inferior o que interpretou como o forame magno, o ponto onde a espinha entra na base do crânio", disse o paleontólogo Lee Berger, professor honorário de Wits, à BBC.

Imediatamente, e surpreendentemente, ele deduziu que era um macaco bípede, isto é, um macaco que andava sobre duas pernas.

"Nada parecido com isso havia sido encontrado antes", ele observou.

O tamanho dos dentes, a ausência de uma sobrancelha pronunciada, o formato da testa e do maxilar e o tamanho do cérebro convenceram o cientista de que o fóssil estava mais próximo de um humano do que de um macaco — Foto: Science Photo Library
O tamanho dos dentes, a ausência de uma sobrancelha pronunciada, o formato da testa e do maxilar e o tamanho do cérebro convenceram o cientista de que o fóssil estava mais próximo de um humano do que de um macaco — Foto: Science Photo Library

"Historicamente falando, ele provavelmente se encaixa na definição de elo perdido mais do que qualquer outro", disse o respeitado paleoantropólogo Charles Lockwood à BBC em 2008.

Esta foi a primeira evidência de uma criatura nitidamente parecida com um macaco, mas que, ainda assim, tinha algumas características humanas.

Como Dart escreveu emocionado, "aqui estava uma criatura que ousou competir com o homem".

Suas características eram "surpreendentemente semelhantes", ele acrescentou.

Onde está o berço da humanidade

"Nós realmente não tínhamos ideia de que os humanos tinham evoluído na África até a descoberta do menino de Taung", enfatizou Berger.

"E isso não seria aceito por mais 25 ou 30 anos", acrescentou.

Isso ocorreu apesar do fato de Charles Darwin ter previsto que o berço da humanidade estaria naquele continente 75 anos antes.

Mas a teoria da saída da África do pai da evolução foi descartada após as descobertas do homem de Java (Homo erectus erectus) e do homem de Pequim (Homo erectus pekinensis), que apontaram que o berço da evolução estaria na Ásia.

Ou na Europa, dada a descoberta em 1912 do homem de Piltdown (Eoanthropus dawsonii), um espécime encontrado na Inglaterra com um cérebro do tamanho de um humano e uma mandíbula semelhante à de um macaco.

No entanto, Dart notou uma diferença crucial entre o menino de Taung e esses candidatos ao primeiro parente ancestral humano.

Os outros já eram humanos, embora tivessem características semelhantes às dos macacos.

O menino de Taung não era mais um macaco, mas ainda não era totalmente humano.

Então, convencido de que havia um elo extinto entre nós e nossos ancestrais macacos, ele fez o que qualquer cientista anglo-saxão de sua época teria feito: escreveu ao editor da revista científica britânica Nature.

O Homem de Piltdown sugeriu que o berço da humanidade poderia estar nas Ilhas Britânicas, mas isso acabou se revelando uma farsa engenhosa, descoberta somente em 1953 — Foto: Getty Images via BBC
O Homem de Piltdown sugeriu que o berço da humanidade poderia estar nas Ilhas Britânicas, mas isso acabou se revelando uma farsa engenhosa, descoberta somente em 1953 — Foto: Getty Images via BBC

Sua descoberta foi tão surpreendente que o periódico demorou a publicá-la.

Quando isso aconteceu, seu artigo "Australopithecus africanus o homem-macaco da África do Sul" foi acompanhado por comentários de paleoantropólogos influentes. Todos eram negativos.

Ataques e piadas

Lá estava ele, um australiano que, embora tivesse estudado medicina na Universidade de Sydney antes de ir para o University College de Londres para trabalhar com figuras proeminentes da antropologia, tinha ido para a África do Sul, um lugar pouco conhecido no mapa acadêmico.

Aos 32 anos, ele era chefe do Departamento de Anatomia de uma universidade praticamente desconhecida há pouco mais de um ano e, "por pura sorte", como ele escreveria mais tarde, afirmou ter encontrado o elo perdido.

Além disso, ele chegou a essa conclusão, que considerou irrefutável e transformadora, em questão de poucas semanas.

E ele não teve escrúpulos em anunciá-lo ao mundo sem sequer buscar o apoio de instituições ou cientistas reverenciados.

Tudo isso resultou em uma rejeição amargamente hostil ao seu artigo.

O que Dart descreveu como "o crânio de uma raça extinta de macacos, intermediária entre os antropoides modernos e o homem", era, para os principais cientistas da Europa e dos EUA, nada mais do que "um macaco inconfundível" ou "o crânio deformado de um chimpanzé".

Sua ideia de que os pré-humanos evoluíram na árida savana sul-africana, em vez de em florestas com mais alimentos, foi considerada inaceitável, apesar de seu raciocínio de que "os poderes cerebrais aprimorados que eles possuíam tornaram possível sua existência neste ambiente hostil".

Dart viveu para ver o significado de sua descoberta e a teoria de Darwin corroborada — Foto: Science Photo Library
Dart viveu para ver o significado de sua descoberta e a teoria de Darwin corroborada — Foto: Science Photo Library

Seus colegas ridicularizaram sua sugestão de que as pedras encontradas na pedreira haviam sido usadas como ferramentas pelos australopitecos e as apelidaram de "Dartefatos".

Fora da academia, tanto o menino de Tuang quanto Dart se tornaram alvo de piadas, programas populares e músicas.

Enquanto isso, cristãos praticantes lhe escreveram cartas acusando-o de ser "um traidor de seu Criador" e "um agente ativo de Satanás", desejando que ele "assasse no fogo do inferno".

Quem ri por último...

Passariam-se décadas até que os cientistas começassem a aceitar suas ideias controversas sobre a evolução humana.

Uma mudança de opinião tornou-se inevitável com a descoberta de mais fósseis de australopitecos na África.

Também foi influente o exame do menino de Taung feito pelo anatomista Wilfrid Le Gros Clark em 1946, que confirmou a relação com os hominídeos.

Com a descoberta de Lucy, o famoso esqueleto de um hominídeo da espécie Australopithecus afarensis, em 1974, e de pegadas de 3,5 milhões de anos na Tanzânia entre 1976 e 1978, a teoria da saída da África foi finalmente aceita de forma generalizada.

O menino de Taung acabou se tornando a descoberta do século.

Estudos posteriores confirmaram que Dart estava correto na maioria de suas conclusões, embora alguns aspectos tenham sido refinados à medida que o conhecimento sobre o Australopithecus se acumulou e a tecnologia melhorou.

Agora sabemos que Taung morreu quando tinha cerca de 3 ou 4 anos de idade, não 6 ou 7, como Dart havia estimado.

E que ela foi atacado por uma águia.

Felizmente, Dart viu suas ideias inicialmente rejeitadas serem corroboradas e amplamente aceitas.

Em 1984, a revista americana Science reconheceu sua descoberta como uma das 20 descobertas científicas que moldaram a vida humana no século 20.

Dart morreu quatro anos depois, aos 95 anos.

O sítio arqueológico do crânio de Taung faz parte do Berço da Humanidade, Patrimônio Mundial da Unesco desde 2005.

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