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terça-feira, 2 de junho de 2020

O 'salto genético' do coronavírus que facilita sua propagação

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Geneticista Maria Cátira Bortolini, da (UFRGS), e sua equipe vão publicar estudo sobre como vírus 'se adaptou' para contaminar humanos e sobre a proteína que permite entrada do vírus nas células.   
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 Por BBC  
 02/06/2020 09h55  Atualizado há 6 horas  
 Postado em 02 de junho de 2020 às  16h00m  

      Post.N.\9.317  
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Salto genético facilitou a propagação da pandemia — Foto: Getty Images via BBC
Salto genético facilitou a propagação da pandemia — Foto: Getty Images via BBC
Mutações aleatórias — como são todas as mutações — levaram o novo coronavírus, o Sars-CoV-2, a adquirir uma grande afinidade com uma proteína, a ACE2, presente nas células dos sistemas cardiovascular e respiratório humanos, transformando-a em porta de entrada para a infecção. A tarefa é facilitada pelo fato de que todas as pessoas têm os mesmos aminoácidos em 30 pontos chaves do contato entre o vírus e a ACE2, o que torna todas as populações humanas do planeta suscetíveis ao micro-organismo, facilitando a propagação da pandemia de Covid-19.

A descoberta é de um grupo de pesquisadores, liderados pela geneticista Maria Cátira Bortolini, coordenadora do Laboratório de Evolução Humana e Molecular, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O trabalho, que foi revisado por outros pesquisadores, será publicado em breve na revista científica de circulação internacional "Genetics and Molecular Biology", publicação da Sociedade Brasileira de Genética.

O estudo foi feito por meio de encontros virtuais, entre Maria Cátira, estudantes do Programa de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular da UFRGS, do qual ela é orientadora, e ex-orientados, que hoje estão nas universidade de São Paulo (USP) e de Lausanne, na Suíça. Eles usaram informações sobre o novo coronavírus e a Covid-19 de artigos científicos que vêm sendo publicados desde janeiro deste ano e bancos públicos de dados genéticos.

Ele verificaram que o Sars-CoV-2 cooptou a proteína ACE2 — que está relacionada ao metabolismo do sistema cardiovascular, atuando na regulação da pressão sanguínea — para ingressar na célula do hospedeiro humano. Quando age de forma errada, ela está envolvida em hipertensão, arteriosclerose e infarto do miocárdio. Por isso, as pessoas com problemas cardíacos são do grupo de risco para a Covid-19.

Partindo desse conhecimento, Maria Cátira e sua equipe decidiram estudar a variabilidade da ACE2 e do gene que a codifica em 70 espécies de mamíferos placentários, entre os quais cães, gatos, tigres, carneiros, morcegos e pangolins. Também foram analisados os genomas de mais de mil seres humanos.

"Descobrirmos que esta proteína, considerando 30 pontos de contato com o vírus, é invariável em qualquer população humana", conta. "Isso significa que, potencialmente, somos todos igualmente suscetíveis ao micro-organismo. Portanto, há outros mecanismos para explicar a heterogeneidade da infecção e da doença em humanos, como, por exemplo, o sistema imunológico, cuidados, isolamento social ou tratamento médico."

O mesmo não ocorre nas outras espécies de mamíferos placentários estudados. Há diferenças importantes na proteína ACE2, que poderiam protegê-las da infecção. "Nosso estudo mostrou que os humanos são perfeitos como hospedeiros para o novo coronavírus", diz Maria Cátira. "Ele também poderia infectar, talvez com eficiência similar, grandes macacos, como chimpanzés e gorilas, mas não outras espécies, como os animais domésticos (cães e gatos) e outras selvagens."

De acordo com a pesquisadora, o Sars-CoV-2 provavelmente veio de um coronavírus do morcego e sofreu mutações. "Neste caso, elas levaram ao tropismo (afinidade) com as células humanas que apresentam a ACE2", explica. "Nesse momento, essa proteína passou a trabalhar para o vírus. Ou seja, além de deixar de funcionar para a célula humana começou a ajudar para o vírus."

De animais para os seres humanos
A primeira vez em que houve um salto genético desse tipo, ou seja, que um coronavírus oriundo de um animal infectou seres humanos, ocorreu em 2002, com o Sars-Cov-1, causador da Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave, na sigla em inglês). Originado do civeta-de-palmeiras-mascarado (Paguma larvata), um pequeno carnívoro que vive no sudeste asiático, o Sars-CoV-1 atingiu 29 países, infectando mais de 8 mil pessoas, das quais cerca de 800 morreram.

Mais recentemente, em 2012, apareceu o Mers-CoV, oriundo de camelos da Arábia Saudita. Ele causa uma doença chamada de síndrome respiratória do Oriente Médio, que, do seu país de origem, se espalhou pela Europa, África e Estados Unidos. Com alta taxa de mortalidade (de 30 a 40%), ele infectou cerca de 2,5 mil pessoas. Apesar de perigosos, esses dois vírus não chegaram nem perto de causar os danos do Sars-CoV-2. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até hoje, 02/06, há 6,2 milhões de casos confirmados, com 376 mil mortes.

Não é de hoje que o homo sapiens tem convivido com epidemias de coronavírus. As três ocorridas nos últimos 20 anos são apenas as mais recentes.

"Esse tipo de vírus infectar humanos é algo comum, que faz parte da história da vida", diz Maria Cátira. "O que é marcante no novo coronavírus e na pandemia associada a ele é que agora somos uma espécie com tamanho populacional enorme, que vivemos em grandes aglomerados urbanos e com muita facilidade de se locomover de um local para outro, facilitando enormemente a sua propagação."

Isso começou a ocorrer quando os humanos passaram a ser sedentários, com a domesticação de animais e plantas, que caracterizou a chamada revolução neolítica ou agrícola, ocorrida há 12,5 mil anos. "Até então, homo sapiens vivia em pequenos bandos de caçadores-coletores e um ataque de coronavírus com muita virulência poderia dizimar somente um grupo isolado, de 20 a 30 pessoas, ou com relativas poucas mortes", explica Maria Cátira.
"Quando trocaram a vida de nômades pela sedentária de agricultores e domesticadores de animais e começaram a se aglomerar em aldeais e, mais tarde, cidades, o que não era tão relevante do ponto de vista epidemiológico se tornou devastador."
Ela lembra que, hoje, a população humana é de quase 8 bilhões de habitantes, interconectados de uma maneira sem precedentes. Uma pessoa pode ir de um lugar do planeta a qualquer outro em menos de 24 hoje, levando seus vírus e doenças. "Essa é a grande diferença", diz. "Patógenos [organismos causadores de doenças] sempre existiram na história de qualquer espécie. Com a nossa não é diferente."

CORONAVÍRUS

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Farmacêutica trabalha em versão inalável de antiviral em teste para Covid-19

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Em testes, remdesivir trouxe melhoras a pacientes com Covid-19, mas a Gilead e outras empresas estão procurando maneiras de fazê-lo funcionar melhor. 
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Por G1  
02/06/2020 11h04  Atualizado há 3 horas  
Postado em 02 de junho de 2020 às 14h15m  


      Post.N.\9.315  
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Laboratório da empresa Gilead produz antiviral Remdesivir — Foto: Gilead Sciences via AP
Laboratório da empresa Gilead produz antiviral Remdesivir — Foto: Gilead Sciences via AP

A Gilead Sciences está desenvolvendo versões mais fáceis de administrar do tratamento antiviral remdesivir para a Covid-19 que podem ser usadas fora de hospitais, incluindo por meio de inalação, depois que os testes mostraram eficácia moderada do medicamento administrado por infusão.

Em testes, o remdesivir trouxe melhoras a pacientes com Covid-19, mas a Gilead e outras empresas estão procurando maneiras de fazê-lo funcionar melhor.

Para pacientes gravemente doentes, a Roche e a Eli Lilly estão testando drogas em combinação com o remdesivir.

A Gilead também está tentando tratar o vírus mais cedo. Outros antivirais, como o comprimido de influenza Tamiflu, funcionam melhor quando administrados o mais cedo possível depois que alguém é infectado.

A Gilead disse em comunicado na segunda-feira (1) que está buscando maneiras de usar o remdesivir mais cedo no curso da doença, inclusive por meio de formulações alternativas. A empresa confirmou em um email mandado à agência Reuters que está pesquisando uma versão por meio de inalação, mas não deu mais detalhes.

Executivos da empresa, como o diretor médico Merdad Parsey e o vice-presidente financeiro Andrew Dickinson, vêm fazendo entrevistas com analistas de Wall Street nas últimas semanas para discutir os planos, que estão em estágios iniciais.

Eles disseram que, a longo prazo, a empresa está explorando uma formulação de injeção subcutânea de remdesivir, bem como versões de pó seco a serem inaladas. O medicamento não pode ser administrado como pílula, pois possui uma composição química que se degradaria no fígado, e a formulação intravenosa é usada apenas em hospitais.

A curto prazo, a Gilead está estudando como sua formulação intravenosa existente de remdesivir pode ser diluída para uso com um nebulizador.
A ideia é que um nebulizador tornaria o remdesivir mais diretamente disponível para as vias aéreas superiores e o tecido pulmonar, já que o coronavírus é conhecido por atacar os pulmões. Também permitiria o tratamento precoce de pacientes com coronavírus que não são hospitalizados.
"As pessoas esperam ansiosamente uma formulação para inalação a tempo", mas o desenvolvimento está nos estágios iniciais, disse Michael Yee, analista da Jefferies, acrescentando que a demanda pode ser limitada, pois muitas pessoas infectadas pelo vírus requerem tratamento mínimo.

Ele disse que a Gilead está aumentando sua capacidade de fornecer remdesivir e começou a conversar com governos de todo o mundo sobre preços comerciais.

Na segunda-feira, a Gilead relatou resultados de testes mostrando que o remdesivir intravenoso proporcionou um benefício modesto para pacientes hospitalizados com Covid-19 moderado em comparação ao tratamento padrão.

Antiviral
O remdesivir, desenvolvido pela farmacêutica Gilead, é um remédio experimental – não foi aprovado para tratar nenhuma doença até agora e não está disponível para compra no Brasil. O medicamento foi originalmente pensado para tratar hepatite, mas não funcionou; também foi testado para o ebola, sem resultados promissores, como reportou o jornal americano "The New York Times".

Um primeiro estudo publicado em 22 de maio na revista científica "The New England Journal of Medicince" apontou que o medicamento melhora o tempo de recuperação de pacientes de Covid-19 hospitalizados e com infecção do trato respiratório inferior.

Os dados continham uma análise preliminar de um ensaio clínico feito com 1.063 pacientes em 10 países (Estados Unidos, Dinamarca, Reino Unido, Grécia, Alemanha, Coreia do Sul, México, Espanha, Japão e Singapura). A pesquisa foi patrocinada pelo Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) dos EUA.

As pessoas foram divididas em dois grupos – cerca de metade delas recebeu o remdesivir e a outra metade recebeu um placebo. Os resultados apontam que, entre os que se recuperaram, aqueles que tomaram o remdesivir tiveram um tempo médio de recuperação de 11 dias, comparados com os 15 dias necessários para os que não receberam o tratamento.

CORONAVÍRUS


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    Células de vias respiratórias do nariz têm mais 'portas de entrada' para o coronavírus, aponta estudo

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    Resultados publicados na revista científica 'Cell' destacam a importância de usar máscara para proteção contra a Covid-19.  
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    Por Carolina Dantas, G1    
    02/06/2020 12h15  Atualizado há 12 minutos  
    Postado em 02 de junho de 2020 às 13h00m  

        Post.N.\9.315  
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    Foto microscópica mostra célula humana sendo infectada pelo Sars Cov-2, o novo coronavírus — Foto: NIAID via Nasa
    Foto microscópica mostra célula humana sendo infectada pelo Sars Cov-2, o novo coronavírus — Foto: NIAID via Nasa

    Um estudo mapeou a estrutura das células respiratórias e chegou à conclusão de que há mais "portas de entrada" para o Sars CoV-2 nas vias superiores (nariz), e menos nas inferiores (brônquios e pulmões). Isso reforça a importância do uso de máscara como prevenção contra a Covid-19.

    A principal "porta de entrada" do vírus, já detalhada em outros estudos, é o receptor ACE2. O mecanismo viral funciona assim: a família coronavírus tem uma "coroa" em sua superfície com espinhos, os "Spikes". Eles se ligam ao ACE2 para entrar na célula e, assim, conseguir modificar o material genético. A doença se desenvolve porque começa a multiplicação do vírus Sars CoV-2.
    Modelo 3D do Sars-Cov-2, o novo coroavírus, e seus 'spikes' — Foto: Reprodução/Visual Science
    Modelo 3D do Sars-Cov-2, o novo coroavírus, e seus 'spikes' — Foto: Reprodução/Visual Science

    A publicação científica aponta que, justamente nas vias respiratórias do corpo humano, o ACE2 está mais presente. Junto a ele, como explica o infectologista Nuno Faria, está a TMPRSS2. Mesma que os receptores estejam mais no nariz, eles aparecem, mesmo que em menos quantidade, em todo o sistema, incluindo pulmões.

    "Ela é uma protease celular (proteína dos seres humanos) que participa, junto com o receptor ACE2, na entrada do SARS-CoV-2 nas células humanas. Assim, TMPRSS2 e ACE2 são essenciais para a entrada e infecção das células humanas, explica Faria, que também pesquisa a genética do novo coronavírus pela Universidade de Oxford, mas não assina este estudo da "Cell".

    Com uma maior quantidade do receptor ACE2 e da proteína TMPRSS2, a entrada do vírus é mais fácil pelas vias respiratórias. O uso de equipamentos pessoais de proteção, como as máscaras, é extremamente importante para a prevenção da doença.

    "Se o nariz é o primeiro lugar onde as infecções pulmonares são disseminadas, o uso geral de máscaras para proteger a cavidade nasal, assim como qualquer outra terapia que venha a reduzir o acesso do vírus ao nariz, como irrigação local ou sprays antivirais, apresentam benefício", disse Richard Boucher, coautor do estudo, diretor da Instituto Marsico Lung da Faculdade de Medicina da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, nos Estados Unidos.
    Formas erradas e corretas de usar máscara de proteção contra o coronavírus — Foto: Arte/G1
    Formas erradas e corretas de usar máscara de proteção contra o coronavírus — Foto: Arte/G1

    Mais descobertas
    Um ponto diferente analisado é que o Sars-CoV-2 não conseguiu entrar nas células que revestem as vias aéreas, mesmo que elas expressem o ACE2 e a TMPRSS2. O grupo que assina o estudo acredita que existam fatores ainda não descobertos sobre o ciclo de infecção do vírus em humanos, o que pode influenciar no nível de gravidade do desenvolvimento da doença.
    Coronavírus: Por que é errado usar máscara no queixo
    Coronavírus: Por que é errado usar máscara no queixo

    CORONAVÍRUS

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    Três países que venceram o vírus

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    O que Islândia, Nova Zelândia e Japão têm a ensinar ao resto do mundo?   
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    Por Helio Gurovitz  
    Diretor de redação da revista Época por 9 anos, tem um olhar único sobre o noticiário. Vai ajudar você a entender melhor o Brasil e o mundo. Sem provincianismo  
    02/06/2020 07h25  Atualizado há 4 horas  
    Postado em 02 de junho de 2020 às 11h35m  
        Post.N.\9.314  
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    A primeira-ministra Jacinda Ardern, da Nova Zelândia, impõs um dos lockdowns mais severos do mundo. Havia ontem no país apenas um caso ativo — Foto: Mark Mitchell/Pool/AFP
    A primeira-ministra Jacinda Ardern, da Nova Zelândia, impõs um dos lockdowns mais severos do mundo. Havia ontem no país apenas um caso ativo — Foto: Mark Mitchell/Pool/AFP
    Nova Zelândia, Islândia e Japão conseguiram o que parece impossível a países como Brasil ou Estados Unidos: contiveram a epidemia do novo coronavírus. Não apenas achataram a curva de contágio, mas a esmagaram por completo. Que lições tais países tem a nos ensinar?
    Na Nova Zelândia, o último caso foi confirmado há dez dias. Há, segundo o Wall Street Journal, apenas um ativo, uma mulher diagnosticada em 1º de maio. Na Islândia, apenas dois haviam sido registrados até a metade de maio. No Japão, o número de casos diários caiu a 0,5 por 100 mil habitantes, atingindo a meta que permitiu ao governo suspender o estado de emergência no último dia 25, uma semana antes do prazo.

    É verdade que os três países têm uma característica que os distingue: são ilhas, sem fronteiras terrestres por onde o vírus pudesse penetrar incógnito. Mas isso não explica tudo. A única fronteira terrestre da Coreia do Sul, com a vizinha Coreia do Norte, é talvez a mais fechada do mundo. A pseudo-insularidade não impediu o ressurgimento de casos nas últimas semanas. O mesmo aconteceu em Cingapura, outra ilha de fronteiras fechadas, embora mais próxima do continente.

    O mais intrigante é que cada um dos três países adotou uma estratégia diferente contra o vírus. A Nova Zelândia implantou uma quarentena severa. O Japão jamais chegou a restringir o movimento de seus habitantes. O uso de máscaras se tornou praticamente uma norma entre os japoneses, mas é uma raridade entre os islandeses. Na Islândia, houve um rastreamento minucioso de contatos dos infectados e testes em massa na população. No Japão, nada disso foi implementado.

    Cada país adotou uma estratégia própria. A neozelandesa seguiu o receituário canônico dos epidemiologistas. A premiê Jacinda Ardern implantou um dos lockdowns mais rigorosos do mundo. Desde o final de março, a população foi impedida de manter contato com qualquer um fora de casa por seis semanas. As fronteiras foram fechadas. Todo viajante era obrigado a ficar de quarentena.

    A Islândia nunca chegou a implantar um lockdown, apesar de ter restringido atividades supérfluas, como danceterias ou salões de beleza. Ninguém foi obrigado a usar máscaras. Em vez disso, o país implantou um dos programas de testagem e rastreamento mais abrangentes do planeta. Até o dia 17 de maio, 15,5% da população islandesa havia sido testada, segundo reportagem na edição desta semana da New Yorker.

    Outra inovação islandesa foi sequenciar o genoma do vírus de todos os infectados, para verificar a presença de mutações e o caminho do contágio. Com isso, os cientistas descobriram apenas dois casos em que uma criança contaminou um adulto – e o país se sentiu mais seguros para manter abertas creches e escolas primárias (hoje, secundárias e universidades já foram reabertas).

    Ao mesmo tempo, o governo restringiu reuniões com mais de 20 pessoas e criou uma equipe de rastreamento de 52 pessoas, com o poder de pôr sob quarentena qualquer infectado descoberto. Foi crucial também ter começado cedo, logo que as primeiras notícias da pandemia surgiram na China. Resultado: 180 casos confirmados, uma única morte.

    O exemplo mais enigmático é o Japão. Não houve lockdown nem quarentena. Não houve programa de testes em massa. Não houve o rastreamento sistemático de todos os infectados. Ainda assim, o número de casos diários caiu do pico de 743, em 12 de abril, para até 14 por dia no final de maio, de acrodo com reportagem na Science. Em um mês, os pacientes hospitalizados caíram de 10 mil para 2 mil. A estratégia japonesa se basou essencialmente no combate às aglomerações.

    Estima-se que apenas 10% dos infectados sejam responsáveis por 80% das novas infecções (leia mais aqui). O Japão decidiu concentrar seus esforços nesses superdifusores. 

    Descobriu que os principais centros de contaminação eram academias, bares, shows musicais, karaokês, restaurantes e eventos esportivos. A característica comum a todos é a aglomeração por longos períodos de tempo, com conversa ou cantoria.

    O governo tomou medidas para que todos evitassem aquilo que, nas iniciais em inglês, ficou conhecido como 3Cs: espaços fechados, multidões e contatos próximos, com conversa cara a cara. Não foram descobertos focos de transmissão no transporte coletivo, onde a maior parte das pessoas fica quieta e passou a usar máscaras.

    No início, a estratégia parecia ter dado errado. Os casos subiram, e o governo viu-se obrigado a implantar o estado de emergência a partir de 7 de abril. Desde então, houve uma campanha maciça para educar o público para o novo comportamento, longe das aglomerações. A adesão da população também foi maciça. Resultado: suspensão das medidas emergenciais a partir do último dia 14.

    Aos poucos, o Japão começa a voltar ao normal. Eventos culturais com 100 pessoas já estão liberados. Na Nova Zelândia, também já são permitidas reuniões para até 100. Na Islândia, para até 50. Nenhum dos três países acredita ter vencido a batalha em definitivo. O risco de irrupção de novos focos obriga todos a manter a vigilância.

    Os três exemplos mostram que estratégias diferentes podem ter sucesso no combate à Covid-19. Antes, porém, é preciso levar a pandemia a sério, em vez de recair em fantasias negacionistas, de acreditar em remédios milagrosos ou de desprezar a morte de milhares em nome de delírios ideológicos.

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