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quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Nobel de Química 2022 vai para trio que desenvolveu ferramenta criativa para construção de moléculas

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Os ganhadores são dos Estados Unidos e Dinamarca. As láureas em Literatura e Paz serão entregues ainda nesta semana; já a de Economia será divulgada na próxima segunda (10).
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Por Roberto Peixoto, g1

Postado em 05 de outubro de 2022 às 08h50m

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Nobel de Química 2022 vai para Carolyn R. Bertozzi, Morten Meldal e K. Barry SharplessNobel de Química 2022 vai para Carolyn R. Bertozzi, Morten Meldal e K. Barry Sharpless

Carolyn R. Bertozzi, Morten Meldal e K. Barry Sharpless são os ganhadores do Prêmio Nobel 2022 em Química, anunciou a Academia Real das Ciências da Suécia nesta quarta-feira (5).

Bertozzi e Sharpless são americanos. Meldal é dinamarquês. Até agora, Bertozzi é a única mulher que ganhou um Nobel este ano. Já Sharpless está recebendo o prêmio pela segunda vez (ele já havia recebido a mesma láurea em 2001, por outro trabalho na área).

Eles dividirão o prêmio que totaliza 10 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 4,8 milhões).

O grupo levou o Nobel pela criação de uma ferramenta criativa para construção de moléculas com o "desenvolvimento da química do clique e da química bioortogonal" (entenda mais abaixo).

Entre muitas outras aplicações práticas, o trabalho do trio permitiu que tratamentos contra o câncer possam ser mais direcionados, afirmou o comitê do Nobel.

Os ganhadores do Nobel de Química deste ano. — Foto: The Nobel Prize
Os ganhadores do Nobel de Química deste ano. — Foto: The Nobel Prize

Usando essa chamada química do clique, produtos farmacêuticos mais precisos podem ser desenvolvidos, "garantindo que medicamentos possam chegar aos lugares corretos no corpo de pacientes", afirmou Bertozzi, por telefone, durante a coletiva de imprensa que anunciou o prêmio.

As descobertas "lançaram as bases para uma forma funcional da química", acrescentou o comitê. "Como resultado, a humanidade é a que mais se beneficia".

No ano passado, o prêmio de Química foi para dois cientistas que desenvolveram uma ferramenta de construção de moléculas com menor impacto ambiental. Desde 1901, mais de cem pessoas foram laureadas. A distinção científica só não foi concedida em oito ocasiões: em 1916, 1917, 1919, 1924, 1933, 1940, 1941 e 1942.

Até 2021, contudo, das 187 pessoas agraciadas com o Nobel em Química, apenas 7 eram mulheres. Entre elas, a cientista polonesa Marie Curie, a primeira mulher a ganhar um Nobel.

As reações químicas acontecem quando as ligações entre os átomos são quebradas e rearranjadas, formando novas substâncias.

Os cientistas comparam esse processo como fazer um bolo. Os ingredientes da receita, o açúcar, os ovos, a farinha, etc., são misturados e, juntos, com a ajuda do forno (uma mudança de temperatura) se transformam em algo novo: o bolo.

Na prática, porém, o problema é que muitas dessas reações químicas não possuem uma receita tão simples e produzem materiais e moléculas (um conjunto de átomos) de uma forma bastante complexa, cara e que consome muito tempo.

Entre muitas outras aplicações práticas, o trabalho do trio permitiu que tratamentos contra o câncer possam ser mais direcionados, afirmou o comitê do Nobel. — Foto: Johan Jarnestad/The Royal Swedish Academy of Sciences
Entre muitas outras aplicações práticas, o trabalho do trio permitiu que tratamentos contra o câncer possam ser mais direcionados, afirmou o comitê do Nobel. — Foto: Johan Jarnestad/The Royal Swedish Academy of Sciences

"Este ano, o Nobel de Química foi para cientistas que desenvolveram um metódo que cria reações muito simples", explica ao g1 Christina Moberg, membro da Academia Real das Ciências da Suécia (o júri do Nobel de Química e Física).

A "joia da coroa da química do clique" são duas moléculas facilmente prepaparadas em laboratórios, a azida e alcino, que juntas com um terceiro ingrediente (íons de cobre), produzem reações químicas de forma muito simples.

Segundo o Comitê do Nobel, este tipo de ligação entre duas moléculas, que lembra o "clique" de um cinto", mudou a Química para sempre, visto que essas reações podem criar uma variedade quase infinita de moléculas.

O "clique" que mudou a Química. — Foto: The Nobel Prize/The Royal Swedish Academy of Sciences
O "clique" que mudou a Química. — Foto: The Nobel Prize/The Royal Swedish Academy of Sciences

E foram Barry Sharpless e Morten Meldal que, nos anos 2000, apresentaram esse conceito – em trabalhos independentes.

Moberg, que também é professora de química orgânica, ressalta que essas reações de clique facilitam a produção de novos materiais. Um material plástico, por exemplo, pode se juntar, ou ser "clicado" com substâncias que conduzem eletricidade, são antibacterianas, protegem contra a radição UV, etc.

Mas a técnica tinha uma limitação: os íons de cobre utilizados no processo são tóxicos para o nosso corpo.

Por isso, o trabalho da bioquímica americana Carolyn Bertozzi foi fundamental para as aplicações farmacêuticas da técnica. Foi ela que, segundo o Nobel, levou essa química do clique a um novo nível ao desenvolver reações de clique que funcionavam dentro de organismos vivos.

E isso só foi possível porque a cientista descobriu que os ingredientes do bolo dessa reação (as azidas e alcinos) podem reagir de maneira quase explosiva – sem a ajuda de cobre – se o alcino for forçado a formar uma estrutura química em forma de anel.

Além disso, surpreendetemente, essas reações funcionavam ainda melhor em ambientes celulares, sem interromper a química normal da célula (chamadas de reações bioortogonais).

Hoje em dia, essa técnica esta sendo estudada para o desenvolvimento de medicamentos que produzem anticorpos "clicáveis" contra uma variedade de tumores.

"Basicamente, estas descobertas podem ser utilizadas em qualquer coisa", disse Olof Ramström, membro do Comitê Nobel de Química.

"Nós podemos fazer novos compostos de drogas para tratar doenças, todos os tipos de materiais diferentes, como polímeros, apenas clicando coisas. Podemos fazer isso com tudo o que conseguimos imaginar". 

Os vencedores
  • Carolyn R. Bertozzi nasceu em 1966 nos Estados Unidos. Em 1993, recebeu o doutorado pela Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA).
Carolyn Bertozzi, uma das ganhadoras do Nobel de Química de 2022. — Foto: Stanford Media Relations via AP
Carolyn Bertozzi, uma das ganhadoras do Nobel de Química de 2022. — Foto: Stanford Media Relations via AP

  • Morten Meldal nasceu em 1954 na Dinamarca. Em 1986, recebeu o doutorado pela Universidade Técnica da Dinamarca. Atualmente é professor da Universidade de Copenhague, também na Dinamarca.
  • Barry Sharpless nasceu em 1941 na Filadélfia (EUA). Em 1968, recebeu o doutorado pela Stanford University (EUA). Em 2001, ganhou o seu primeiro Nobel de Química.
Nobel 2022

Os prêmios em Literatura e Paz serão entregues ainda nesta semana; já a láurea em Economia será divulgada na próxima segunda (10). Veja o cronograma:

Veja, abaixo, perguntas e respostas sobre o prêmio.

O que é o Prêmio Nobel?

A láurea foi criada pelo químico e empresário Alfred Nobel. Inventor da dinamite em 1867, o sueco doou a maior parte de sua fortuna em testamento para a criação de prêmios de física, química, medicina, literatura e paz (o prêmio de economia foi criado anos mais tarde).

O documento dizia que os prêmios deveriam ser concedidos àqueles que, durante o ano anterior, tenham conferido o maior benefício à humanidade.

Um busto do fundador do Prêmio Nobel, Alfred Nobel, em exibição durante cerimônia de entrega da láurea em 2018, em Estocolmo. — Foto: Henrik Montgomery/TT News Agency via AP, File
Um busto do fundador do Prêmio Nobel, Alfred Nobel, em exibição durante cerimônia de entrega da láurea em 2018, em Estocolmo. — Foto: Henrik Montgomery/TT News Agency via AP, File

Contudo, hoje em dia, conforme explica Juleen Zierath, membro do Instituto Karolinska -o júri do Nobel de Medicina-, essa regra não é mais tão levada à risca.

"Você pode ter feito essa descoberta em um estágio muito inicial de sua carreira de pesquisa, ou pode ter feito essa descoberta em um estágio muito avançado de sua carreira de pesquisador", ressalta a pesquisadora.

Como o prêmio é escolhido?

Todos os anos, o Comitê do Nobel envia um pedido de nomeação para membros da comunidade científica.

Isso significa que alguns candidatos elegíveis recebem um convite especial para enviar seus nomes. Sem esse convite, nenhum postulante pode concorrer ao prêmio.

"Você não pode se nomear, mas membros de comunidades científicas, reitores de faculdades de Medicina [no caso do prêmio na área], ex-laureados com o Prêmio Nobel e outros que trabalham no ramo científico mais amplo e que receberam esse pedido podem fazer uma indicação", diz Zierath. 
Quantas pessoas podem compartilhar o mesmo prêmio?

Até três pessoas podem compartilhar um Prêmio Nobel, ou uma organização pode ganhar a láurea da Paz.

A Fundação Nobel, responsável por realizar os desejos do seu fundador, ressalta que essa regra está descrita no testamento de Alfred Nobel.

A medalha do Prêmio Nobel. — Foto: Angela Weiss/Pool Photo via AP, File
A medalha do Prêmio Nobel. — Foto: Angela Weiss/Pool Photo via AP, File

Em nenhum caso o valor do prêmio pode ser dividido entre mais de três pessoas", destaca um trecho do documento. Alguns pesquisadores, porém, criticam essa escolha e afirmam que as descobertas científicas de hoje em dia são muito mais coletivas: um trabalho de vários pesquisadores.

A láurea pode ser concedida postumamente? Tem limite de idade?

Não, um Prêmio Nobel não pode ser concedido postumamente.

Apesar, disso, a Fundação ressalta que, desde 1974, se o destinatário do prêmio falecer após o anúncio, a láurea ainda poderá ser concedida.

Sobre o limite de idade, o prêmio também não tem uma regra a respeito.

"O que eu diria é que, na maioria das vezes, levamos muitos anos até que o campo científico reconheça que a descoberta que você fez é uma distinção que deveria ser considerada para um Prêmio Nobel. Então, às vezes você tem que ser bastante paciente", ressalta Zierath.

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