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Conflito, guinada à extrema direita e tensões internas são motores da saída de jovens profissionais do país<<<===+===.=.=.= =---____-------- ----------____---------____::____ ____= =..= = =..= =..= = =____ ____::____-----------_ ___---------- ----------____---.=.=.=.= +====>>>
Por Janaína Figueiredo* — Tel Aviv
Postado em 16 de Fevereiro de 2.025 às 19h30m
#.* Post. - Nº.\ 11.514*.#
O brasileiro-israelense Rafael Stern, de 36 anos, decolou do Aeroporto Internacional Ben-Gurion, em Tel Aviv, em 17 de outubro de 2023, dez dias após o ataque do grupo terrorista Hamas à região sul do país. Uma semana antes da partida para estudar na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, junto com sua mulher, o casal descobriu que estava esperando seu primeiro filho. A decisão de ir embora foi tomada antes do início da guerra, graças ao que Rafael definiu como “uma relação tóxica” com uma realidade que se tornou, em suas palavras, “pesada demais após a guinada política do país para a extrema direita, com Benjamin Netanyahu”. A guerra é vista por Rafael como “uma consequência dessa guinada”.
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Muitos israelenses rumaram para outros destinos em 2023 e 2024, numa tendência que preocupa as autoridades locais. Segundo dados da Agência Central de Estatísticas de Israel, no ano passado 82.700 israelenses deixaram o país, superando amplamente os 55.400 emigrantes do ano anterior. Na década anterior à guerra, emigravam do país anualmente, em média, 37.100 cidadãos. Os mesmos dados oficiais indicam que cerca de 50% dos que deixaram Israel em 2024 são cidadãos israelenses que nasceram fora do país. Aproximadamente 15% dos que emigraram em 2024 haviam se mudado para Israel entre 2019 e 2023.
População em queda
A elevada taxa de emigração contribuiu para uma desaceleração no crescimento populacional do país, que foi de apenas 1,1% em 2024, em comparação com 1,6% em 2023.
— A guerra é uma consequência da chegada da extrema direita ao poder, que tem consequências na vida de todos. Ainda não sabemos se vamos voltar, existe uma vontade, mas criei uma espécie de barreira. Foi como sair de uma relação tóxica — explica Rafael, que morou oito anos seguidos em Israel antes de mudar-se para os EUA, onde faz um pós-doutorado relacionado a temas de meio ambiente.
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Dentro dele, vários sentimentos convivem ao mesmo tempo. Estar em Israel, enfatizou, tinha ficado insuportável. Mas hoje, assegura, “é muito difícil ver os protestos a favor dos palestinos em universidades americanas, quando o Hamas cometeu um massacre em Israel. É muito complexo o que estamos vivendo”.
— Minha geração sente um peso muito grande, sente que carrega o país nas costas. Os homens têm a obrigatoriedade de acatar convocações do Exército, uma obrigação que os ultraortodoxos não têm [um dos grandes debates no país, já que os jovens ultraortodoxos não são obrigados a prestar serviço militar], pagamos impostos que vão para os religiosos, para a guerra, para os assentamentos [de colonos judeus na Cisjordânia, principalmente]. Eu me perguntava, o que estou fazendo?
Rafael Stern se mudou para os EUA quando a esposa ainda estava grávida — Foto: Arquivo pessoal
Uma das situações que mais o abalaram foi, segundo contou, “ter sido alvo de reações de ódio e acusações de traidor, após participar de manifestações contra a reforma judicial promovida pelo governo de Benjamin Netanyahu [desde 2023]”.
— Nunca pensei que passaria por isso na vida. Me tachavam de algo desprezível — contou o brasileiro-israelense, que também queixou-se do elevado custo de vida no país e das poucas perspectivas de “conseguir comprar um apartamento e ter uma vida decente”.
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A geração de Rafael, explica o rabino brasileiro-israelense Rodrigo Baumworcel, “vive uma crise existencial muito profunda”.
— Essa crise está relacionada à situação política do país, à guerra, ao sonho de Israel como um país seguro para os judeus e suas famílias, e ao que se faz com o dinheiro dos impostos que pagam, entre outros conflitos internos.
São adultos entre 25 e 40 anos, jovens profissionais, com filhos pequenos ou com vontade de formar uma família, que, nos últimos tempos, sentem que Israel deixou de ser o que sempre esperaram. Muitos trabalham na área de tecnologia, uma das mais importantes da economia israelense, e acabam emigrando para países europeus, EUA, Canadá, entre outros, onde, em muitos casos, trabalham como nômades digitais. A possibilidade de retornar a Israel, contam amigos de alguns emigrados, sempre está presente.
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Nem todos se sentem confortáveis para falar sobre a decisão de deixar o país. Um dos procurados por esta reportagem aceitou falar em condição de anonimato e explicou que, por um lado, saiu por medo da guerra, “por não querer criar nossos filhos numa região onde temos de nos esconder em refúgios quando ocorrem ataques”; mas, por outro, sente culpa de não estar em Israel, enfrentando a situação ao lado dos que estão sofrendo no país.
— É duro estar dentro, é difícil estar fora.
Em Jerusalém, a brasileira-israelense Gisele Charak, de 30 anos, afirma que ainda permanece no país, onde mora há oito anos, porque trabalha numa ONG que ajuda alunos do Ensino Médio, israelenses e palestinos. A ONG atua em Israel, na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. A esperança de contribuir para uma recomposição da empatia entre os dois lados do conflito mantém Gisele no país, apesar de ter os mesmos dilemas de muitos dos que decidiram ir embora.
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— A primeira mensagem que recebi após o ataque do Hamas foi de um estudante palestino me perguntado como eu estava. Foi muito impactante — conta Gisele que, no mesmo dia, recebeu várias mensagens de amigos e familiares do Brasil pedindo que ela abandonasse Israel. — A guerra só agravou um clima de decepção muito grande que já existia no país. Ou você fica e tenta mudar alguma coisa, ou vai embora.
Muitos de seus amigos optaram por abandonar Israel, segundo Gisele, “por medo e questões ideológicas”. Seu amigo Benny Ostronov, que mora no país com sua família há nove anos, confessa que o pensamento de sair de Israel já passou por sua mente algumas vezes. Benny trabalha no Instituto de Educação Judaico-Sionista e estuda para ser guia de turismo em Jerusalém. Após o ataque do Hamas, ficou, como a grande maioria dos israelenses, traumatizado. Ainda lembra de chegar um dia na aula e ser abordado por um colega bem mais velho que, ao ver sua expressão, perguntou: “Esta é sua primeira, não é verdade?”.
Benny Ostronov, que mora em Israel com a família há nove anos, pensa com frequência em deixar o país — Foto: Arquivo pessoal
Benny rapidamente entendeu que a palavra tácita na pergunta era “guerra”.
— Sinto medo, em primeiro lugar, e a falta de perspectiva para um judaísmo liberal. A liderança da extrema direita me fez sentir menos acolhido no país e me fez pensar, também, sobre a moralidade. Sinto um desconforto pelo que está sendo feito em Gaza — comenta o brasileiro-israelense.
Tema evitado
A devastação da Faixa de Gaza, onde mais de 48 mil pessoas já morreram, assunto sobre o qual muitos israelenses evitam falar — e também informar-se sobre ele — mexeu com Benny:
— Temos mais perguntas do que respostas. Existem dois lados da tragédia, e só vemos destruição e morte — disse. — A guerra me ensinou que não dá para ter muita certeza na vida. Não tenho certeza de que vou ficar aqui para sempre, só de que, agora, vou fazer de tudo para melhorar este lugar. Mas, o que vai ser daqui para frente não está muito no meu controle.
Seus amigos, como os de Gisele, foram embora, contou Benny, “pela decepção com os rumos políticos do país e o medo da guerra”.
* A repórter viajou a convite do Instituto Brasil-Israel (IBI)
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