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quinta-feira, 29 de setembro de 2022

'Ossos cósmicos': James Webb revela detalhes inéditos da galáxia IC 5332

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Estrutura em espiral está a 29 mil anos-luz de distância da Terra.
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Por Roberto Peixoto, g1

Postado em 29 de setembro de 2022 às 07h00m

 #.*Post. - N.\ 10.489*.#

A galáxia IC 5332 e seus "ossos cósmicos", em nova foto do James Webb. — Foto: NASA/ESA/Divulgação
A galáxia IC 5332 e seus "ossos cósmicos", em nova foto do James Webb. — Foto: NASA/ESA/Divulgação

A 29 mil anos-luz de distância da Terra está uma galáxia bem parecida com a nossa Via Láctea, a IC 5332, quase perfeitamente alinhada no céu "de frente" com o nosso planeta.

A estrutura cósmica gigantesca já havia sido flagrada por outros telescópios, mas pela primeveira vez, o supertelescópio James Webb, o maior e mais poderoso telescópio espacial já construído, apontou seus instrumentos para ela.

As imagens do Webb, divulgadas nesta terça-feira (27), revelaram detalhes sem precedentes da galáxia em espiral.

Segundo a Nasa, a agência espacial norte-americana, os "ossos" da IC 5332, ou seja, as regiões escuras que separam os braços espirais da galáxia, geralmente escondidos pela poeira cósmica que envolve a região, puderam ser observados pela primeira vez.

E isso foi possível por causa de um motivo: o James Webb tem instrumentos muito gelados.

A agência espacial explica que o Instrumento de Infravermelho Médio (Mid-Infrared Instrument ou MIRI, na sigla em inglês) do megatelescópio foi o responsável pelo flagra.

O equipamento é como uma câmera que enxerga uma região do infravermelho médio do espectro eletromagnético em comprimentos de onda maiores do que nossos olhos veem.

Para funcionar, porém, o MIRI precisar estar a temperaturas baixíssimas: a cerca de –266 °C (um número muito perto do zero absoluto, a mais baixa temperatura possível, segundo as leis da Física).

"O infravermelho médio é incrivelmente difícil de observar da Terra, pois muito é absorvido pela atmosfera do nosso planeta, e o calor da atmosfera da Terra complica ainda mais as coisas", explica a ESA, a agência espacial europeia.

Ainda segundo a agência espacial, o telescópio Hubble, o "primo mais velho do Webb", não consegue enxergar essa região do infravermelho médio porque seus instrumentos não são frios o suficiente para isso.

Por isso, o flagra que o Hubble fez da mesma galáxia (veja a imagem abaixo) é bastante diferente da nova imagem do Webb.

Imagem do Hubble da mesma galáxia observada pelo James Webb, a IC 5332. — Foto: ESA/Webb, NASA & CSA, J. Lee and the PHANGS-JWST and PHANGS-HST Teams
Imagem do Hubble da mesma galáxia observada pelo James Webb, a IC 5332. — Foto: ESA/Webb, NASA & CSA, J. Lee and the PHANGS-JWST and PHANGS-HST Teams

Comparada com a imagem do Hubble, a imagem do Webb mostra um emaranhado contínuo de estruturas que ecoam a forma dos braços espirais.

Segundo a ESA, essa diferença se deve à presença de regiões empoeiradas na galáxia, já que a luz ultravioleta e visível (como o Hubble enxerga) são muito mais propensas a serem espalhadas pela poeira interestelar do que a luz infravermelha.

Dessa mesma forma, existem diferentes estrelas visíveis nas duas imagens, o que pode ser explicado pelo fato de certas estrelas brilharem mais dependendo da frequência observada.

"As imagens se complementam de maneira notável, cada uma nos contando mais sobre a estrutura e composição da IC 5332", complementou a agência.

(VÍDEO: Veja as primeiras fotos divulgadas pelo supertelescópio James Webb.)

Veja as primeiras fotos divulgadas pelo supertelescópio James Webb.Veja as primeiras fotos divulgadas pelo supertelescópio James Webb.
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quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Navio que tentou avisar Titanic sobre iceberg é encontrado no Mar da Irlanda

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Navio mercante SS Mesaba e outras 272 embarcações foram descobertos graças a sonar que mapeou 19 quilômetros quadrados nas profundezas da costa irlandesa.
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Por g1

Postado em 28 de setembro de 2022 às 06h00m

 #.*Post. - N.\ 10.488*.#

Sonar possibilitou mapeamento de destroços do SS Mesaba, o que revelou detalhes que possibilitaram sua identificação — Foto: Universidade de Bangor
Sonar possibilitou mapeamento de destroços do SS Mesaba, o que revelou detalhes que possibilitaram sua identificação — Foto: Universidade de Bangor

Uma equipe de cientistas liderada pela Universidade de Bournemouth, no Reino Unido, encontrou os destroços da embarcação que tentou avisar o RMS Titanic sobre a presença de um iceberg em seu caminho.

A descoberta deste e de mais 272 navios naufragados no Mar da Irlanda foi relatada pela arqueóloga marinha Dra. Innes McCartney, no livro "Echoes from the Deep" ("Ecos das profundezas", em português), publicado na terça-feira (27).

Em 1912, o SS Mesaba, um navio mercante, cruzava o Atlântico quando se deparou com um enorme iceberg. A tripulação enviou um aviso sobre o obstáculo, que foi recebido pelo Titanic, mas a mensagem não chegou à ponte de comando. Mais tarde naquela noite, o navio de passageiros colidiu com o iceberg e afundou. Cerca de 1500 pessoas morreram.

O SS Mesaba, por sua vez, continuou atuando como navio mercante por mais seis anos, até ser atingido por torpedos enquanto estava em comboio, em 1918.

A descoberta aconteceu graças ao Prince Madog, um sonar multifeixe de última geração usado pelos cientistas. O equipamento permitiu mapear mais de 19 quilômetros quadrados nas profundezas do Mar da Irlanda.

A análise detalhada, então, foi cruzada com dados do Escritório Hidrográfico do Reino Unido, revelando uma série de informações sobre a arqueologia marinha da região.

SS Mesaba era um navio mercante que continuou na ativa até 1918, quando foi torpedeado e afundou — Foto: State Library of Queensland
SS Mesaba era um navio mercante que continuou na ativa até 1918, quando foi torpedeado e afundou — Foto: State Library of Queensland

Anteriormente, podíamos mergulhar em alguns locais por ano para identificar visualmente os destroços. As capacidades únicas de sonar do Prince Madog nos permitiram desenvolver um meio de custo relativamente baixo para examinar os destroços", afirmou McCartney, em comunicado à imprensa.

"A identificação de naufrágios como os documentados na publicação para pesquisas históricas e estudos de impacto ambiental é apenas um exemplo [do potencial do sonar]", disse Michael Roberts, cientista da Universidade de Bongor que participou do estudo.

"Também examinamos esses locais de naufrágio para entender melhor como os objetos no fundo do mar interagem com processos físicos e biológicos, o que, por sua vez, pode ajudar os cientistas a apoiar o desenvolvimento e o crescimento do setor de energia marinha.

Novo vídeo do Titanic mostra detalhes do navio naufragado em alta definiçãoNovo vídeo do Titanic mostra detalhes do navio naufragado em alta definição
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terça-feira, 27 de setembro de 2022

A ‘ilusão do conhecimento’ que deixa as pessoas com excesso de confiança

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É fácil pensar que somos uma imensa fonte de conhecimento — na verdade, nós podemos ter muita experiência e habilidades, mas provavelmente sabemos menos do que pensamos.
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TOPO
Por David Robson, BBC

Postado em 27 de setembro de 2022 às 07h35m

 #.*Post. - N.\ 10.487*.#

A ilusão do conhecimento deixa as pessoas com excesso de confiança e pode prejudicar a vida profissional — Foto: GETTY IMAGES/via BBC
A ilusão do conhecimento deixa as pessoas com excesso de confiança e pode prejudicar a vida profissional — Foto: GETTY IMAGES/via BBC

Se você se considera razoavelmente inteligente e instruído, talvez acredite que tenha uma boa compreensão das principais formas como o mundo funciona — conhecimento sobre as invenções conhecidas e os fenômenos naturais à nossa volta.

Agora, pense no seguinte: como se forma um arco-íris? Por que os dias de Sol podem ser mais frios que os nublados? Como um helicóptero voa? Como funciona a descarga do vaso sanitário?

Você consegue dar uma resposta detalhada a uma ou mais destas perguntas? Ou você tem apenas uma vaga ideia do que acontece em cada uma destas situações?

Se você for como grande parte das pessoas que participaram de estudos psicológicos sobre este tema, sua primeira impressão pode ser de que se sairia muito bem.

Mas, quando se pede uma resposta detalhada para cada questão, a maioria das pessoas fica totalmente desorientada — como você também pode ter ficado.

Este fenômeno é chamado de "ilusão do conhecimento". Você pode achar que estes exemplos específicos são triviais — afinal, são o tipo de pergunta que uma criança curiosa pode fazer, e a pior consequência poderia ser ficar com o rosto corado na frente da família.

Mas as ilusões de conhecimento podem prejudicar nosso julgamento em muitos campos. No ambiente de trabalho, por exemplo, podem nos levar a superestimar nosso conhecimento em uma entrevista, menosprezar as contribuições dos nossos colegas e assumir tarefas que somos totalmente incapazes de realizar.

Muitos de nós atravessamos a vida totalmente alheios a essa arrogância intelectual e suas consequências. A boa notícia é que alguns psicólogos indicam que pode haver formas extraordinariamente simples de evitar essa obscura armadilha do pensamento.

A simples observação passiva pode aumentar a confiança das pessoas nas suas habilidades para desempenhar tarefas complexas de vida ou morte, como fazer pousar um avião — Foto: GETTY IMAGES/via BBC
A simples observação passiva pode aumentar a confiança das pessoas nas suas habilidades para desempenhar tarefas complexas de vida ou morte, como fazer pousar um avião — Foto: GETTY IMAGES/via BBC

Desconhecimento desconhecido

A ilusão do conhecimento — também chamada de "ilusão da profundidade de explicação" — foi mencionada pela primeira vez em 2002.

Em uma série de estudos inéditos, os pesquisadores Leonid Rozenblit e Frank Keil, da Universidade Yale, nos Estados Unidos, começaram fornecendo aos participantes exemplos de explicações de fenômenos científicos e mecanismos tecnológicos que foram avaliados em uma escala de 1 (muito vagos) a 7 (muito completos).

Este método permitiu que todos os participantes formassem o mesmo conceito do que significava a compreensão "vaga" ou "completa" de um tema.

Em seguida, veio o teste. Quando confrontados com outras questões técnicas e científicas, os participantes precisavam avaliar o quanto eles achavam que poderiam responder a cada uma delas, usando aquela mesma escala, antes de escrever sua explicação da forma mais detalhada possível.

Rozenblit e Keil descobriram que as avaliações iniciais dos participantes sobre sua própria compreensão eram, muitas vezes, dramaticamente otimistas.

Eles acreditavam que poderiam escrever parágrafos inteiros sobre cada assunto, mas muitas vezes forneciam respostas mínimas — e, depois, muitos ficavam surpresos com o pouco que sabiam sobre os temas questionados.

Os pesquisadores suspeitavam que o excesso de confiança era consequência da capacidade dos participantes de visualizar os conceitos em questão. Não é difícil imaginar o voo de um helicóptero, por exemplo. E a facilidade com que essa imagem vem à mente leva os participantes a sentir mais confiança para explicar a mecânica dos seus movimentos.

Desde este estudo original, diversos psicólogos vêm desvendando ilusões de conhecimento em vários contextos diferentes.

O professor de marketing Matthew Fisher, da Universidade Metodista do Sul, no Texas, Estados Unidos, por exemplo, descobriu que muitos universitários formados superestimam amplamente o alcance da sua formação depois que terminam seus estudos.

Da mesma forma que no primeiro experimento, solicitou-se aos participantes que avaliassem sua compreensão sobre diferentes conceitos antes que fornecessem explicações detalhadas do seu significado.

Mas, desta vez, as questões vieram da matéria que eles próprios haviam estudado anos antes. Uma pessoa formada em Física, por exemplo, precisaria explicar as leis da termodinâmica.

Devido ao desgaste natural das suas memórias, os participantes pareciam ter esquecido muitos detalhes importantes, mas não haviam percebido o quanto de conhecimento haviam perdido — o que os levava a ser excessivamente confiantes nas suas previsões iniciais.

Ao julgarem seu conhecimento, eles acreditavam que detinham o mesmo nível de informação de quando estavam totalmente mergulhados no assunto.

Outras pesquisas demonstraram que a disponibilidade de recursos online pode alimentar nosso excesso de confiança, uma vez que nós confundimos a quantidade de conhecimento disponível na internet com nossas próprias memórias.

Fisher pediu para um grupo de participantes responder perguntas — "como funciona um zíper?", por exemplo — com o auxílio de uma ferramenta de busca, enquanto outro grupo foi simplesmente solicitado a avaliar sua compreensão do tema sem usar fontes adicionais.

Em seguida, os dois grupos foram submetidos ao teste original de ilusão do conhecimento sobre quatro questões adicionais ("como se formam os tornados?" e "por que as noites nubladas são mais quentes?", por exemplo).

Fisher concluiu que as pessoas que haviam usado a internet para responder a pergunta inicial demonstraram maior excesso de confiança na tarefa seguinte.

A ilusão da aquisição de habilidades

Mas a consequência mais séria talvez seja que a maioria de nós superestima o quanto aprende observando os demais. Isso resulta na "ilusão da aquisição de habilidades".

Michael Kardas, que cursa pós-doutorado em administração e marketing na Northwestern University, nos EUA, pediu aos participantes de um estudo para assistirem a vídeos repetidos sobre diversas técnicas, como lançar dardos ou fazer o passo de dança moonwalk, até 20 vezes.

Em seguida, eles precisaram estimar suas habilidades, antes de tentar realizar a tarefa sozinhos. A maioria dos participantes acreditou que a simples observação, ao assistir aos vídeos, os teria ajudado a aprender as técnicas. E, quanto mais eles assistiam, maior era sua confiança inicial.

Mas a realidade foi uma grande decepção.

"As pessoas acreditavam que se sairiam melhor se assistissem ao vídeo 20 vezes, em comparação com assistir apenas uma", afirma Kardas.

"Mas seu desempenho real não demonstrou nenhuma evidência de aprendizado."

E, surpreendentemente, a observação passiva pode até aumentar a confiança das pessoas em sua capacidade de realizar tarefas complexas de vida ou morte, como pousar um avião.

Kayla Jordan, estudante de doutorado da Universidade de Waikato, na Nova Zelândia, liderou um estudo inspirado diretamente na pesquisa de Kardas.

"Nós quisemos testar os limites do fenômeno e se ele poderia ser aplicado a técnicas altamente especializadas", diz Jordan.

Ela explica que pilotar exige centenas de horas de treinamento e profundo conhecimento de física, meteorologia e engenharia, que as pessoas são incapazes de aprender em um vídeo curto.

A primeira instrução para os participantes foi: "Imagine que você está em um avião de pequeno porte. Há uma emergência, o piloto está indisponível, e você é a única pessoa que pode fazer o avião pousar."

Metade dos participantes assistiu a um vídeo de quatro minutos de um piloto aterrissando um avião, e os demais não viram o vídeo.

Mas o vídeo não mostrava nem sequer o que as mãos do piloto estavam fazendo durante o procedimento — e, portanto, não tinha nenhuma serventia como instrução.

O excesso de confiança no próprio conhecimento pode invadir o ambiente de trabalho e tornar as pessoas mais arrogantes — Foto: GETTY IMAGES/via BBC
O excesso de confiança no próprio conhecimento pode invadir o ambiente de trabalho e tornar as pessoas mais arrogantes — Foto: GETTY IMAGES/via BBC 

Mas muitas das pessoas que assistiram ao vídeo ficaram muito mais otimistas sobre sua capacidade de fazer pousar um avião com segurança.

"Elas tinham cerca de 30% mais confiança, em comparação com as pessoas que não assistiram àquele vídeo", afirma Jordan.

Dilemas da vida real

Essas ilusões de conhecimento podem trazer consequências significativas.

O excesso de confiança no próprio conhecimento pode fazer com que você se prepare menos para uma entrevista ou apresentação, por exemplo, deixando você constrangido quando é pressionado a demonstrar seus conhecimentos.

O excesso de confiança pode ser um problema específico quando você busca uma promoção. Ao observar as pessoas à distância, você pode acreditar que já sabe o que é preciso para o trabalho e que já aprendeu todas as técnicas necessárias.

Mas, ao iniciar o trabalho, você pode descobrir que precisava saber muito mais do que parecia.

A ilusão do conhecimento também pode nos levar a menosprezar nossos colegas. Da mesma forma que confundimos o conhecimento obtido pelo Google com o nosso próprio, podemos não perceber o quanto dependemos do conhecimento e da capacidade das pessoas à nossa volta.

"Ao observar as habilidades e a base de conhecimento dos demais, as pessoas às vezes podem acreditar erroneamente que elas são uma extensão do conhecimento delas próprias", afirma Jordan.

E, se começarmos a acreditar que o conhecimento dos colegas é nosso, podemos ficar menos dispostos a lembrar e demonstrar gratidão por suas contribuições — uma forma de arrogância muito comum no ambiente de trabalho.

E superestimar nosso conhecimento, esquecendo o apoio que recebemos dos demais, também pode criar sérios problemas quando tentarmos seguir sozinhos, com um projeto solo.

O que as pessoas podem fazer para evitar essas armadilhas? Uma solução é simples: teste a si próprio.

Se você estiver avaliando sua capacidade de realizar uma tarefa que não é familiar, por exemplo, não confie apenas em uma ideia vaga e resumida do que essa tarefa envolveria. Em vez disso, analise com mais tempo e cuidado as etapas que você precisaria realizar para atingir esse objetivo.

Você pode concluir que há enormes lacunas de conhecimento que você precisará preencher antes de começar o trabalho. E, ainda melhor, você pode consultar um especialista no tema e perguntar o que ele está fazendo — uma conversa que servirá para analisar qualquer pressuposto arrogante de sua parte.

Como as muletas tecnológicas têm o potencial de amplificar a confiança no seu conhecimento, você também pode verificar seus hábitos online. Fisher sugere que você faça uma breve pausa e tente ao máximo se lembrar de um fato antes de recorrer a uma busca na internet. Ao reconhecer conscientemente que "deu branco", você pode começar a avaliar de forma mais realista a sua memória e os seus limites.

"É preciso ter a disposição de se sentir desorientado", diz ele.

"Você precisa sentir sua ignorância, o que pode ser desconfortável."

O objetivo de tudo isso é cultivar um pouco mais de humildade — uma das "virtudes intelectuais" clássicas celebradas pelos filósofos.

Ao reconhecer nossas ilusões de conhecimento e admitir os limites da nossa compreensão, todos nós podemos evitar as inconvenientes armadilhas do pensamento. E podemos pensar e tomar decisões com mais sabedoria.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Worklife.

Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/vert-cap-62985145

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sábado, 24 de setembro de 2022

Por que nenhum país da América Latina tem armas nucleares – e o papel do Brasil nisso

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Sob ditaduras militares, Brasil e Argentina resistiram a acordo que proibiu o desenvolvimento de armas nucleares na América Latina e Caribe.
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TOPO
Por BBC

Postado em 24 de setembro de 2022 às 09h15m

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As bombas de Hiroshima e Nagasaki deram início à era do terror nuclear — Foto: Getty Images/Via BBC
As bombas de Hiroshima e Nagasaki deram início à era do terror nuclear — Foto: Getty Images/Via BBC

Durante a segunda metade do século 20, a humanidade viveu com medo de um possível holocausto nuclear. Era uma espécie de pesadelo apocalíptico.

À possibilidade de um confronto com armas atômicas entre as duas superpotências rivais, Estados Unidos e União Soviética, logo se somou a preocupação com a chamada proliferação nuclear: a possiblidade de que outros países e — ainda mais preocupante — organizações terroristas pudessem obter o controle da bomba.

Para tentar conter essa possibilidade, o governo do presidente americano Dwight Einsenhower lançou em 1953 a iniciativa "Átomos para a Paz", que prometia facilitar o acesso a usos pacíficos da energia nuclear para países que renunciassem a se equipar com a bomba.

Em 1957, foi criada a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que faz parte do sistema das Nações Unidas; e pouco mais de uma década depois, em 1968, foi estabelecido o Tratado de Não-Proliferação Nuclear para fazer frente a esse perigo.

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Essas iniciativas, no entanto, não foram capazes de impedir que em praticamente todas as regiões do mundo exista pelo menos um país que tenha desenvolvido armas nucleares.

Aos Estados Unidos e à Rússia (herdeira do arsenal soviético) somaram-se países da Europa (Reino Unido e França); da Ásia (China, Coreia do Norte, Índia e Paquistão); do Oriente Médio (Israel, que não admite formalmente ter a bomba) e da África (África do Sul, único país que desenvolveu a bomba e depois voluntariamente se desfez dela).

Assim, Estados de praticamente todas as partes do mundo têm ou tiveram armas nucleares com uma notável exceção: a América Latina, onde não apenas não há potências nucleares, como foi a primeira região densamente povoada do mundo a se declarar uma zona livre de armas nucleares.

Como isso aconteceu? As razões são várias, mas as primeiras razões são encontradas há seis décadas.

A crise dos mísseis em 1962 levou o mundo à beira da Terceira Guerra Mundial — Foto: Getty Images/Via BBC
A crise dos mísseis em 1962 levou o mundo à beira da Terceira Guerra Mundial — Foto: Getty Images/Via BBC

O impacto da crise dos mísseis

"A história de por que a América Latina não tem armas nucleares remonta à crise dos mísseis em outubro de 1962, quando a União Soviética posicionou mísseis em Cuba, dando origem a uma crise entre os Estados Unidos e a União Soviética", explica Luis Rodríguez, pesquisador de pós-doutorado do Centro de Segurança e Cooperação Internacional da Universidade de Stanford, na Califórnia (EUA).

"Como resultado, vários países da América Latina decidiram começar a formar uma resposta multilateral para evitar que outra crise de mísseis aconteça na região. Essa foi a primeira vez que países da América Latina viram riscos nucleares tão próximos de casa", acrescenta o especialista sobre o episódio considerado o ponto mais próximo que a humanidade esteve de uma Terceira Guerra Mundial.

Rodríguez explica que, desde o final da década de 1950, surge a preocupação de impedir que outro país fizesse aquilo que os Estados Unidos fizeram em Hiroshima e Nagasaki. Na Europa, a Irlanda foi um dos países que promoveram essa ideia e, na América Latina, foi a Costa Rica. No entanto, até então, esse risco era visto como algo distante.

Ryan Musto, da Faculdade de William e Mary (Virgínia, EUA), concorda que a ideia de banir a bomba existia na América Latina desde antes de 1962, mas avalia que então tudo mudou.

"A Crise dos Mísseis de Cuba foi um catalisador, e o Brasil então propõe tornar a América Latina uma zona livre de armas nucleares como uma possível solução para essa crise, porque poderia facilitar a retirada de mísseis de Cuba, ao mesmo tempo em que permitia livrar a cara tanto dos Estados Unidos, como da União Soviética", diz Musto à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.

Essa iniciativa não prosperou e a crise dos mísseis foi resolvida através do diálogo direto entre Washington e Moscou. Mas muitos países latino-americanos continuaram a ver a criação de uma zona livre de armas nucleares como uma forma de evitar que uma crise semelhante voltasse a acontecer no futuro.

Assim, a região iniciou um processo de negociações que culminou em fevereiro de 1967 com a criação do Tratado de Tlatelolco (bairro da Cidade do México onde foi celebrado o acordo) que proíbe o desenvolvimento, aquisição, teste e instalação de armas nucleares na América Latina e Caribe.

Este tratado entrou em vigor em 1969, mas com ele os riscos de proliferação nuclear na região não chegaram ao fim, pois havia dois Estados-chave na região relutantes em aceitá-lo plenamente.

Brasil tem duas usinas nucleares em atividade — Foto: Getty Images/Via BBC
Brasil tem duas usinas nucleares em atividade — Foto: Getty Images/Via BBC

A resistência de Brasil e Argentina

Embora o Brasil tenha sido um dos proponentes iniciais da criação de uma zona latino-americana livre de armas nucleares, logo mudou sua posição sobre o assunto, cedendo esse posto de liderança ao México.

O esforço mexicano foi recompensado com o fato de o tratado levar o nome de Tlatelolco, sede do Ministério das Relações Exteriores daquele país, e com o Prêmio Nobel da Paz concedido ao diplomata mexicano Alfonso García Robles em 1982.

"Depois do golpe no Brasil em 1964, as elites militares do país decidiram investir menos no projeto de desmilitarização da América Latina", diz Rodríguez.

Outro país da região, relevante do ponto de vista da tecnologia nuclear, que se recusou a aceitar totalmente o Tratado de Tlatelolco foi a Argentina.

"Depois de 1962, o México se torna a face visível dessa iniciativa. O Brasil se distancia dela. Há cientistas que questionavam internamente: 'Queremos mesmo abrir mão do nosso direito de ter armas nucleares em troca de nada? O que acontecerá se um dia precisarmos delas?'", diz Musto.

O especialista afirma que ambos os países apoiaram formalmente o Tratado de Tlatelolco porque "pegaria mal" não apoiar, e participaram da elaboração do acordo tentando influenciar para que fosse permitido o que então era conhecido como "explosões nucleares pacíficas".

Rodríguez explica que, naquela época, acreditava-se que a energia nuclear poderia ser um instrumento para acelerar o desenvolvimento dos países latino-americanos e que essas "explosões pacíficas" poderiam ser usadas, por exemplo, para abrir minas, canais de navegação ou até mesmo para obras de hidrelétricas.

"Foi isso que levou países como Brasil e Argentina a desenvolver certos programas nucleares de tecnologia de uso duplo, que poderiam servir ​​para fins civis ou militares, o que gerou certas tensões, principalmente com organizações internacionais", diz Rodríguez.

Rodríguez e Musto afirmam que não foi comprovado que os governos da Argentina e do Brasil tivessem planos de desenvolver armas nucleares, embora haja indícios de que houve pessoas dentro dos governos dos dois países partidárias dessa possibilidade.

"O que Brasil e Argentina fizeram foi criar um programa nuclear fora das regulamentações da Agência Internacional de Energia Atômica, por isso são chamados de programas secretos do Brasil e Argentina", diz Rodríguez.

"Há historiadores como Carlos Pati, um italiano que trabalha no Brasil, que não constataram que as motivações foram puramente militares ou que foram para criar armas nucleares. O que se vê é que houve uma divisão nos dois países entre facções das elites que queriam armas nucleares e facções que decidiram não tê-las", acrescenta.

Musto indica que ambos os países estavam muito preocupados com as limitações que os acordos internacionais poderiam impor às suas opções de desenvolvimento nuclear.

"Ambos os países queriam desenvolver um ciclo completo e independente de produção de combustível nuclear. Não queriam que sua soberania nuclear fosse afetada", diz.

Apesar de tudo, no início da década de 1990, ambos os países renunciaram ao direito às explosões nucleares pacíficas, se integraram totalmente ao Tratado de Tlatelolco e, posteriormente, fizeram o mesmo com o Tratado de Não-Proliferação Nuclear.

Essas decisões foram acompanhadas pelo abandono, tanto pela Argentina, quanto pelo Brasil, de seus programas de desenvolvimento de mísseis balísticos. Projetos que, combinados com seus programas de desenvolvimento nuclear fora do Tratado de Não-Proliferação, geraram preocupação na comunidade internacional.

Rivalidades, custos e instituições internacionais

Além do impacto da crise dos mísseis, há outros fatores que contribuíram para que nenhum país da América Latina — e especialmente Brasil e Argentina, que estavam em melhor posição para isso — se equipasse com a bomba.

Ryan Musto aponta, por exemplo, para o fato de a região não ter o tipo de rivalidades intensas e conflitos que ocorrem em outras partes do mundo.

"Sim, Brasil e Argentina são rivais, mas isso nunca chegou a um ponto forte o suficiente para levar a uma corrida armamentista. Em geral, a América Latina parece ser uma região relativamente estável quando se trata de conflitos interestatais", destaca o especialista.

Outro elemento que contribuiu no caso do Brasil e da Argentina foi que ambos os países fizeram a transição de ditaduras militares para a democracia em meados da década de 1980.

O alto custo de um programa atômico também pode ter desempenhado um papel importante em dissuadir a proliferação nuclear na região.

"Desenvolver um programa nuclear é muito caro. Precisa de muita infraestrutura, especialistas e conhecimento", diz Rodríguez, da Universidade de Stanford.

Esse alto custo, além disso, não é medido apenas pela quantidade de dinheiro que o programa de armas nucleares exige. Também são altos os custos diplomáticos e de prestígio derivados de ir contra a corrente do consenso internacional contra a proliferação de armas e também das oportunidades perdidas relacionadas ao uso pacífico da energia nuclear.

Um exemplo claro disso, segundo Musto, ocorreu em 1975, quando o Brasil assinou com a Alemanha Ocidental o maior acordo da história em termos de transferência de tecnologia nuclear para um país do sul global.

"O acordo deveria ajudar o Brasil a construir oito reatores nucleares. Bem, os Estados Unidos pressionaram a Alemanha Ocidental porque o Brasil não era membro do Tratado de Não-Proliferação Nuclear e havia suspeitas sobre seu programa atômico — e talvez também devido a alguns interesses comerciais dos EUA. No fim, o acordo não se concretizou", afirma.

"Então, esses tipos de aspirações desapareceram porque Brasil e Argentina não participaram plenamente do sistema de padrões nucleares previsto no regime do Tratado de Não-Proliferação", acrescenta.

Assim, chegou-se a um ponto em que, para ambos os países, havia mais benefícios e oportunidades se estivessem totalmente integrados às instituições internacionais que regulam o uso pacífico da energia atômica, do que tentando preservar sua liberdade de ação fora delas.

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