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segunda-feira, 26 de abril de 2021

Onde 'Professor Polvo' aprendeu? Estudos de brasileira figuram no filme que levou o Oscar

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Tatiana Leite é referência mundial e sua pesquisa aparece em cena de 'Professor polvo'. Ela fala sobre características do molusco no filme e além dele: esperto, sonhador e canibal.
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Por Rodrigo Ortega, G1

Postado em 26 de abril de 2021 às 20h45m


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Pesquisa de brasileira na tela do mergulhador Craig Foster em cena do filme 'Professor Polvo' — Foto: Reprodução / Netflix
Pesquisa de brasileira na tela do mergulhador Craig Foster em cena do filme 'Professor Polvo' — Foto: Reprodução / Netflix

No filme "Professor Polvo", que ganhou o Oscar de melhor documentário neste domingo (25), um mergulhador fica tão fascinado por um molusco que resolve pesquisar tudo sobre ele. Entre as referências que ele encontra - e aparecem na tela - está o nome da brasileira Tatiana Leite.

Tatiana estuda polvos há 25 anos. Se o sul-africano ficou um ano atrás de um molusco, a professora do departamento de Zoologia e Ecologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) passou uma década só em Fernando de Noronha para fazer mestrado e doutorado sobre essas espécies.

A cientista potiguar falou com o G1 sobre suas impressões do filme e sobre características dos polvos além das que aparecem no documentário. Veja os principais pontos:

  • A inteligência e a capacidade dos polvos de criar relações com humanos não são exagero do filme. Ela passou por situações em que os polvos pareciam estudá-la. Tatiana já até desistiu de tirar um indivíduo do mar e coletá-lo para pesquisa por ele ter se aproximado demais dela.
  • Mas que aspecto do filme não é bem assim na realidade? Tatiana diz que a cena em que um suposto filhote da polvo fêmea é encontrado é altamente improvável.
  • E o que há além do filme? Em uma cena, Craig se pergunta se os polvos sonham. Tatiana acaba de participar de uma pesquisa que indica que eles são, sim, capazes de sonhar.
  • Mas os moluscos sonhadores também são motivo de pesadelo entre eles. Isso a Netflix não mostra: eles são altamente competitivos e podem praticar o canibalismo.
  • Em resumo, Tatiana acha que o filme faz um ótimo retrato desse mundo dos polvos, e que ele é importante para atrair a atenção para espécies marinhas que as pessoas viam como distantes ("nem as espécies terrestres a gente trata bem...", Tatiana lamenta).
A pesquisadora brasileira Tatiana Leite, que estuda polvos há 25 anos — Foto: Arquivo / Projeto Cephalophoda
A pesquisadora brasileira Tatiana Leite, que estuda polvos há 25 anos — Foto: Arquivo / Projeto Cephalophoda

Doutora polva

A brasileira tem como mentora Jennifer Mather, pesquisadora da Universidade de Lethbridge, no Canadá. Jennifer foi consultora científica de "Professor Polvo". "Ela foi a minha coorientadora no doutorado, passei um ano com ela no Canadá. Trabalhamos juntas em alguns artigos", diz Tatiana.

"Ela é uma senhora de 74 anos que mergulha até hoje atrás de polvos. Eu segui essa linha dela e trouxe para o Brasil", diz a brasileira. "Foi quando passei dez anos em Noronha. Lá aprendi a achar os rastros dos polvos para encontrá-los e me aproximar", ela diz, descrevendo processo semelhante ao do filme.

"Inclusive Craig dooou fotografias da polva para pesquisas nossas sobre padrões corporais. A Jennifer está vindo para o Brasil daqui a um ano", conta a parceira da UFSC. Tatiana é coordenadora do Projeto Cephalophoda, rede de pesquisadores sobre polvos no Brasil e no mundo.

Veja o trailer de 'Professor polvo'
Veja o trailer de 'Professor polvo'

Polvo sonhador

A cena em que Craig se questiona se o polvo dorme e sonha marcou Tatiana, pois ela fez parte de uma grande pesquisa recente que indicou que o "polvo sonhador" é realidade.

A pesquisa tem como autora principal Sylvia Medeiros, e também tem participação do neurocientista Sidarta Ribeiro, ambos do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

"A pesquisa demostra pela primeira vez que o invertebrado é capaz de ter um sono ativo. O período do sono onde os vertebrados, numa analogia, tem os sonhos, e quando se concretizam aprendizados e memórias", explica Tatiana.

Mas o que demonstra, na prática, a possibilidade do sonho do molusco? "Foram dois sinais importantes: ele entra em sono muito profundo, não reage a estímulos, nem a som nem a imagem. E ao mesmo tempo estava mudando de cor muito rapidamente, e a pupila se movendo rápido", ela diz, explicando que são os mesmo sinais desse estágio de sono em humanos.

Tatiana Leite em pesquisa sobre polvos — Foto: Arquivo / Projeto Cephalophoda
Tatiana Leite em pesquisa sobre polvos — Foto: Arquivo / Projeto Cephalophoda

Filhote ou fake?

Se os polvos podem ser até mais surpreendentes do que no filme, em um ponto o documentário exagera e embarca em uma hipótese improvável. O mergulhador acha um filhote de polvo e viaja na suposição de que ele pode ser filho da fêmea que ele acompanhou durante um ano.

"Essa espécie tem uma estratégia de dispersão dos ovos. Eles ficam na coluna de água de um a três meses. A chance de ele aparecer no mesmo lugar é muito baixa", ela explica.

O polvo não é bobo - nem manso

"Professor Polvo" ganhou o Oscar de melhor documentário  — Foto: Divulgação
"Professor Polvo" ganhou o Oscar de melhor documentário — Foto: Divulgação

Por fim, o filme não explora um lado sombrio dos incríveis polvos. "Nos meus estudos eu já vi canibalismo entre espécies diferente e indivíduos da mesma espécie, dos maiores com os menores", diz Tatiana.

Os polvos são animais escaldados e parecem saber desse risco: "Eles começam em tocas próximas e depois se afastam um dos outros, para evitar o canibalismo, além das brigas de competição, machos brigando entre eles. Os dominantes podem atacar", ela diz.

Até nas brigas os polvos têm um comportamento fascinante. "O interessante que a gente viu é que antes de se atacar existe uma briga de cores." Os mais dominantes têm as cores mais escuras e ficam com essa coloração diante do outro, diz Tatiana.

Entre os projetos dos quais ela participa está a tentativa de demonstrar a autoconsciência dos polvos. Mas ela se importa com a consciência humana também: "Esse Oscar foi muito bom para sensibilizar as pessoas sobre o mar, e para fazer as pessoas olharem os seres diferentes da gente com empatia".

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'Cidades-fantasma': Brasil tem municípios abandonados como o que 'Nomadland' mostra nos

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Filme vencedor do Oscar começa com protagonista deixando Empire, que sumiu de verdade após fábrica de gesso falir. Conheça cidades brasileiras que tiveram destino semelhante.
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Por G1

Postado em 26 de abril de 2021 às 10h00m


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Acima, a 'cidade-fantasma' americana de Empire, no filme 'Nomadland'. Abaixo, as 'cidades-fantasma' brasileiras de Cococi-CE, Fordlândia-PA, Igatu-BA, Velho Airão-AM e São João Marcos-RJ — Foto: André Teixeira/G1, Reprodução/Globo e Divulgação
Acima, a 'cidade-fantasma' americana de Empire, no filme 'Nomadland'. Abaixo, as 'cidades-fantasma' brasileiras de Cococi-CE, Fordlândia-PA, Igatu-BA, Velho Airão-AM e São João Marcos-RJ — Foto: André Teixeira/G1, Reprodução/Globo e Divulgação

"Nomadland" começa quando a cidade de Empire termina. A personagem principal do filme, Fern, fica sem casa e vira "nômade" depois que o lugar no qual ela morava deixa de existir. A fábrica de gesso que fornecia quase todos os seus empregos faliu e arrastou a cidade junto.

Esta reportagem reconta a história de cidades brasileiras que também desapareceram. São lugares onde hoje restam apenas ruínas devido à decadência econômica, a disputa política e até para garantir abastecimento de água e luz. Abaixo, fotos e vídeos mostram vestígios de construções que nos levam de volta para desde o século 17, com histórias que revelam um Brasil que deixou de existir.

A história de Frances McDormand, de "Nomadland" é ficcional, mas o caso de Empire aconteceu de verdade em 2011 - para a tristeza das 800 pessoas que já chegaram a morar lá. Só ficaram as construções vazias e duas lhamas pastando para evitar que o mato tomasse conta muito rápido.

Fábrica desativada em Empire na cena do filme 'Nomadland' — Foto: Reprodução
Fábrica desativada em Empire na cena do filme 'Nomadland' — Foto: Reprodução

Em 2016, a fábrica retomou poucas atividades e atualmente moram lá cerca de 70 pessoas. Mas Empire continua sendo um lugar esquecido, que perdeu até o número do código postal.

O Brasil tem vários casos semelhantes de cidades-fantasma. Veja a lista com histórias de "Empire brasileiras", documentadas em reportagens do G1 e da TV Globo:

Cococi - CE

Distrito fica a 27 quilômetros da Zona Urbana de Parambu. O único acesso é por estrada piçarra — Foto: André Teixeira/G1
Distrito fica a 27 quilômetros da Zona Urbana de Parambu. O único acesso é por estrada piçarra — Foto: André Teixeira/G1

Empire, em Nevada, tinha a fábrica United States Gypsum. Cococi, no Ceará, tinha a família Feitosa. A ex-cidade no sertão dos Inhamuns surgiu no século 18 e já teve hotel, cartório, praça e casas grandes para abrigar a família de coronéis. Hoje tem ruínas invadidas pela vegetação do semiárido.

O distrito de Cococi perdeu o status de cidade em 1979 e hoje pertence ao município de Parambu. A estiagem e um suposto desentendimento entre os Feitosa e o governo militar por causa das verbas destinadas à cidade são apontados como motivos da decadência e da saída da família de lá.

A igreja é a única grande construção que ficou de pé. É lá que acontece um novenário todo fim de ano. O distrito recebe cerca de 300 pessoas por dia na igreja de Nossa Senhora.

''Não acontece nada na maior parte do ano”, resumiu Maria Lobo, uma das poucas moradoras do distrito ao G1 em 2012. "A vegetação destruiu a câmara municipal e a prefeitura. O telhado da maior parte das casas já desabou e o moinho de vento não puxa mais água para os sete moradores que ainda habitam o local", descreve a reportagem.

Em 2016, ainda com a contagem de sete moradores em duas casas restantes, a cidade foi tema de uma exposição de fotos em Fortaleza. Veja abaixo:

Dragão do Mar apresenta exposição de fotografias da cidade cearense fantasma, Cococi
Dragão do Mar apresenta exposição de fotografias da cidade cearense fantasma, Cococi

Fordlândia - PA

Empresa chegou a fundar em 1928 uma cidade no interior do Pará, a Fordlândia, para explorar as seringueiras que abasteceriam suas fábricas com borracha — Foto: Divulgação/Ford
Empresa chegou a fundar em 1928 uma cidade no interior do Pará, a Fordlândia, para explorar as seringueiras que abasteceriam suas fábricas com borracha — Foto: Divulgação/Ford

Às margens do rio Tapajós, no Pará, o magnata Henry Ford tentou produzir borracha para os pneus dos carros na década de 1920. Os erros começaram por grandes desmatamentos. Sem os inimigos naturais da floresta, pragas dizimaram as plantações de seringueiras.

As casas para os trabalhadores, com jeitinho de Hollywood, eram quentes demais. Bebidas alcoólicas eram proibidas e até a comida americana a empresa tentou impor.

O projeto chegou a reunir 3 mil funcionários e acabou em abandono nos anos 1950. Fordlândia é hoje um distrito do município de Aveiro. O projeto de Henry Ford morreu, mas a cidade até ficou viva na fronteira agrícola da soja - bem menor que o sonho inicial. O Censo de 2010 contou 1,2 mil habitantes.

Em 2010, o Jornal Nacional contou a história de Fordlândia. Veja abaixo:

Projetos ambiciosos fracassam por falta de conhecimento da floresta
Projetos ambiciosos fracassam por falta de conhecimento da floresta

Igatu - BA

Exposição Vagalume, por Rafael Martins, retratou as ruínas de Igatu em 2014 — Foto: Rafael Martins / Divulgação
Exposição Vagalume, por Rafael Martins, retratou as ruínas de Igatu em 2014 — Foto: Rafael Martins / Divulgação

A "Machu Picchu baiana" tem ruínas que até lembram a cidade perdida dos Incas no Peru, mas são mais simples e recentes. Elas remetem à breve opulência do ciclo do diamante na Chapada Diamantina, na Bahia, no século 19.

Igatu, que hoje é distrito de Andaraí, contava 360 habitantes no censo de 2010. Os grandes garimpos são apenas lembranças dos bons tempos de fartura.

“Muito diamante. E muita gente vindo de todos os lugares para aqui. Meu pai veio de Portugal”, contou Marcionilio Sergio Machado, aposentado, ao Globo Repórter em 2014.

Em um prédio em ruínas funcionava um cassino. Seu Marcionílio não se esquece das festas. Veja a reportagem abaixo:

Moradores recordam a riqueza que brotava nas pedras de Igatu
Moradores recordam a riqueza que brotava nas pedras de Igatu

Velho Airão - AM

Velho Airão — Foto: Reprodução / Fantástico
Velho Airão — Foto: Reprodução / Fantástico

Primeiro povoado fundado pelos europeus às margens do Rio Negro, em 1694, Velho Airão recebeu padres missionários que viviam da caça e da pesca e foi um lugar pobre durante cerca de 200 anos.

O local só saiu do isolamento quando uma linha de navegação a vapor foi instalada por Visconde de Mauá no século 19, transformando o Velho Airão em um porto fluvial.

Mas o que marcou seu ápice foi o ciclo da borracha. Na década de 1920, ele viveu o seu melhor momento. Na euforia, as casas eram construídas com material europeu. Hoje, são ruínas luxuosas invadidas pela floresta.

O motivo, claro, foi o fim abrupto do ciclo da borracha. Os moradores resistiram até os anos 1960. O povoado quase desabitado deu lugar a outra cidade, o Novo Airão. O Fantástico visitou as ruínas em 2020. Veja abaixo:

'Quem Vive Ali?': a cidade que sumiu do mapa em meio à Floresta Amazônica
'Quem Vive Ali?': a cidade que sumiu do mapa em meio à Floresta Amazônica

São João Marcos - RJ

Parque Arqueológico Ambiental de São João Marcos — Foto: Reprodução/TV Rio Sul
Parque Arqueológico Ambiental de São João Marcos — Foto: Reprodução/TV Rio Sul

São João Marcos foi fundada em 1739 e já chegou, no auge do ciclo do café, a ter hospital, teatro, clubes e escolas. Hoje é apenas um parque arqueológico e ambiental.

Construída em meio à Mata Atlântica, no século 18, e próxima à barragem de Ribeirão das Lajes, a cidade precisou ser desapropriada durante o governo Getúlio Vargas, em 1940, para que a capacidade do reservatório de água e energia da então capital do país, Rio de Janeiro, pudesse ser aumentada.

O Rio garantiu água e luz, mas foi preciso desapropriar o conjunto urbano e setenta fazendas dos arredores de São João Marcos. Veja abaixo a reportagem da TV Rio Sul:

Conheça o parque arqueológico São João Marcos, em Rio Claro, RJ
Conheça o parque arqueológico São João Marcos, em Rio Claro, RJ

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