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terça-feira, 2 de novembro de 2021

O que é a leitura profunda e por que ela faz bem para o cérebro

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Esse tipo de leitura estimula o pensamento crítico e a capacidade de análise, mas vem sofrendo cada vez mais a concorrência das plataformas digitais.
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TOPO
Por BBC

Postado em 02 de novembro de 2021 às 14h30m


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Apps de resumo de livros se multiplicam no Brasil — Foto: Celso Tavares/G1
Apps de resumo de livros se multiplicam no Brasil — Foto: Celso Tavares/G1

A pesquisa da neurocientista Maryanne Wolf aponta que "não há nada menos natural do que ler" para os seres humanos — e isso não é de forma alguma ruim.

"A alfabetização é uma das maiores invenções da espécie humana", diz a especialista. Além de útil, é tão poderosa que transforma nossas mentes: "Ler literalmente muda o cérebro".

O avanço da tecnologia e a proliferação das mídias digitais, contudo, têm modificado profundamente a forma como lemos.

Apesar de estarmos lendo mais palavras do que nunca — uma média estimada de cerca de 100 mil por dia —, a maioria vem em pequenas pílulas nas telas de celulares e computadores, e muita coisa é lida "por cima".

Essas mudanças de hábito têm preocupado cientistas, entre outros motivos, porque a transformação de novas informações em conhecimento consolidado nos circuitos cerebrais requer múltiplas conexões com habilidades de raciocínio abstrato que muitas vezes faltam na leitura "digital".

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Um universo de símbolos

Ao contrário da linguagem oral, da visão ou da cognição, não existe uma programação genética nos humanos para aprender a ler.

Se uma criança, em qualquer parte do mundo, estiver em um ambiente em que as pessoas em seu redor conversam umas com as outras, sua linguagem será naturalmente ativada. O mesmo não acontece com a leitura, que implica a aquisição de um código simbólico completo, visual e verbal.

É uma invenção relativamente recente — "é uma piscadela em nosso relógio evolutivo: mal tem 6 mil anos", diz Wolf.

"Começou de forma simples, para marcar quantas taças de vinho ou ovelhas tínhamos. E, com o nascimento dos sistemas alfabéticos, passamos a ter um meio eficiente de armazenar e compartilhar conhecimento."

"Ler é um conjunto adquirido de habilidades que literalmente muda o cérebro", ressalta a neurocientista.

"Permite fazer novas conexões entre regiões visuais, regiões da linguagem, regiões de pensamento e emoção", completa.

Essa transformação "começa com cada novo leitor". "Não existe dentro de nossa cabeça. Cada pessoa que aprende a ler tem que criar um novo circuito em seu cérebro."

E isso abre portas para um novo mundo.

Saúde mental

"A leitura traz três poderes mágicos: criatividade, inteligência e empatia", pontua Cressida Cowell, escritora de literatura infantil e autora da série "Como Treinar Seu Dragão".

"Ler por prazer é um dos fatores-chave para o sucesso financeiro de uma criança na vida adulta. É mais provável que ela não acabe na prisão, que vote, que tenha casa própria…"

Além disso, "ler uma grande história é muito mais do que entretenimento", acrescenta a biblioterapeuta Ella Berthoud.

"A leitura, na verdade, tem muitos benefícios terapêuticos. Seu cérebro entra em um estado meditativo, um processo físico que retarda o batimento cardíaco, acalma e reduz a ansiedade", diz Berthoud.

Para ela, por exemplo, o remédio para "claustrofobia, raiva, exaustão" é o romance "Zorba, o Grego", de Níkos Kazantzákis.

A arte de prescrever ficção para curar as doenças da vida, batizada de biblioterapia, foi reconhecida no Publisher's Illustrated Medical Dictionary de Dorland em 1941.

A prática remonta à Grécia Antiga, quando avisos eram afixados nas portas das bibliotecas para alertar os leitores de que estavam prestes a entrar em um local de cura da alma.

No século 19, psiquiatras e enfermeiras prescreveram todos os tipos de livros para seus pacientes, desde a Bíblia até literatura de viagem e textos em línguas antigas.

Vários estudos mais recentes, dos séculos 20 e 21, mostraram que a leitura aguça o pensamento analítico, o que nos permite discernir melhor padrões, ferramenta muito útil diante de comportamentos desconcertantes dos outros e de nós mesmos.

Semana Pop explica por que ‘1984’, livro rasgado por Flay, é tão importante pra cultura
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A ficção, em particular, pode transformar os leitores em pessoas mais socialmente habilidosas e empáticas. Os romances, por sua vez, podem informar e motivar, os contos confortam e ajudam a refletir, enquanto a leitura de poesia já demonstrou estimular partes do cérebro relacionadas à memória.

Muitos desses benefícios, no entanto, dependem de um estado conhecido como "leitura profunda".

Pensamento analítico

"Quando lemos em um nível superficial, estamos apenas obtendo a informação. Quando lemos profundamente, estamos usando muito mais do nosso córtex cerebral", explica Wolf.

"Leitura profunda significa que fazemos analogias e inferências, o que nos permite sermos humanos verdadeiramente críticos, analíticos e empáticos."

Em seu livro "Proust and the Squid: The Story and Science of the Reading Brain" ("Proust e a Lula: a História e a Ciência por Trás do Cérebro que Lê", em tradução livre), a especialista em neurobiologia da leitura explica como, "a certa altura, quando uma criança vai da decodificação à leitura fluente, o caminho dos sinais através do cérebro muda".

"Em vez de percorrer um trajeto dorsal (...), a leitura passa a se deslocar por um caminho ventral, mais rápido e eficiente. Como o tempo depreendido e o gasto de energia cerebral são menores, um leitor fluente será capaz de integrar mais seus sentimentos e pensamentos à sua própria experiência", escreve.

"O segredo da leitura está no tempo que ela libera para que o cérebro possa ter pensamentos mais profundos do que antes."

Mas, enquanto o processo de aprender a ler muda nosso cérebro, o mesmo acontece com o que lemos e como lemos.

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Tempos modernos

Há aqueles, contudo, que acreditam que as novas plataformas são parte da solução, e não do problema.

Para Chris Meade, autor que utiliza vários tipos de mídia para veicular seu trabalho, "pensamos no livro como a obra, mas o livro é apenas um mecanismo de entrega".

A narrativa transmídia é um tipo de história em que o enredo se desenrola por meio de múltiplas plataformas — aplicativos, livros digitais, games, quadrinhos, blogs — e na qual os consumidores podem assumir um papel ativo no processo de construção.

"As novas mídias estão dando voz a uma nova geração de escritores. Elas impedem que nos condicionemos a pensar que existe apenas um tipo de 'boa escrita' e permitem que as pessoas simplesmente compartilhem histórias e experiências", opina Natalie A. Carter, cofundadora do clube do livro Black Girls Book Club.

"Não importa o meio, é a história que importa", emenda Melissa Cummings-Quarry, também cofundadora do Black Girls Book Club.

"O romance está evoluindo. Há todo tipo de livro incrível sendo escrito especificamente para ser lido no telefone", afirma Berthoud.

"O livro talvez passe a ilusão de que ele é tudo. Nunca foi, é uma forma de entrar em um processo de pensamento", diz Meade.

Ainda assim, os cientistas afirmam que a leitura digital pode ter um custo para o cérebro do leitor.

Fragmentação

"Reunimos acadêmicos e cientistas de mais de 30 países para pesquisar o impacto das mídias digitais na leitura", afirma Anne Mangen, à frente da E-READ (Evolução da Leitura na Era da Digitalização), organização cujo objetivo é melhorar a compreensão científica das implicações da digitalização da cultura.

Faz parte do programa internacional da Cooperação Europeia em Ciência e Tecnologia (ou COST, sigla para European Cooperation in Science and Technology), que considera a leitura um "tema urgente".

"A pesquisa mostra que a quantidade de tempo gasto na leitura de textos longos está diminuindo e, devido à digitalização, a leitura está se tornando mais intermitente e fragmentada", algo que poderia "ter um impacto negativo nos aspectos cognitivos emocionais da leitura".

"Descobrimos que existe o que se chama de inferioridade na tela", destaca Mangen.

"Há muitas coisas que podem ser lidas igualmente bem no smartphone, como as notícias mais curtas, mas, quando se trata de algo que é cognitiva ou emocionalmente desafiador, ler em uma tela leva a uma compreensão de leitura pior do que ler no papel."

"A realidade é que não é apenas o que ou quanto lemos, mas como lemos que é realmente importante", concorda Wolf.

"O próprio volume [de informação disponível nas plataformas digitais] está tendo efeitos negativos porque, para absorver tanto, há uma propensão a se ler 'por cima'. O cérebro leitor tem um circuito plástico, que refletirá as características do meio em que se lê. As características do digital caminham para que sejam refletidas no circuito."

Em outras palavras, assim como ao aprender a ler da maneira tradicional o cérebro formata e registra os itinerários da razão e os caminhos para a emoção, ao aprender a ler da maneira como fazemos nas mídias digitais o cérebro traçará diferentes trajetórias e, se deixarmos a leitura profunda de lado, ele apagará as anteriores, caso tenham um dia existido.

"Se não treinarmos essas habilidades, podemos acabar perdendo a capacidade de entender conteúdos mais complexos e, talvez, de nos envolvermos e usarmos a imaginação", destaca Mangen.

Então, o que o futuro reserva para os livros e para o cérebro da leitura?

"A imaginação humana é uma coisa fantástica, somos muito flexíveis. Encontramos maneiras de fazer o que queremos com a tecnologia disponível", pontua Meade.

Para Carter, o futuro trará "muito mais coleções de contos, e acho que veremos muito mais livros curtos".

Nesse sentido, Cowell diz já ter sentido a mudança: "Mudei a maneira como escrevo, porque o tempo de atenção das crianças diminuiu. Os livros têm capítulos curtos e são incrivelmente visuais, brilhantes, como doces".

Para a neurocientista Maryanne Wolf, "assim como as pessoas podem ser bilíngues e trilíngues, minha esperança é que desenvolvamos um cérebro 'biletrado'. Podemos nos disciplinar para escolher o meio que melhor se adapta ao que estamos lendo e, assim, não perder o dom extraordinário que a leitura deu à nossa espécie".

*Este texto é baseado no vídeo "O que a leitura em telas faz com nosso cérebro?", da BBC Ideas e The Open University

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Os 10 principais destinos para viajar em 2022, segundo o Lonely Planet

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Praias, montanhas, desertos, relíquias históricas; veja lista com os lugares mais desejados para turismo no planeta.
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Por g1

Postado em 02 de novembro de 2021 às 11h00m


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Lonely Planet: os 10 principais destinos turísticos para 2022 — Foto: Globo Repórter/Cook Island Tourismo Corporation/Belize Tourism Board / divulgação/ Monika Deupala/Reuters/Arquivo

A tradicional editora de guias de viagem Lonely Planet revelou nesta semana sua lista com os principais destinos de viagem para 2022.

O guia "Lonely Planet's Best in Travel 2022", em sua 16ª edição, mostra os principais países, regiões e cidades para os viajantes.


Veja o TOP 10 de países para visitar

10. Egito

Um dos destinos mais clássicos para quem adora relíquias históricas continua em alta, o Egito. Impossível não falar sobre as pirâmides de Gizé, um dos pontos turísticos mais famosos e visitados do muno.

GIZÉ (Egito) - O complexo das pirâmides de Gizé, no Egito — Foto: Nariman El-Mofty/AP
GIZÉ (Egito) - O complexo das pirâmides de Gizé, no Egito — Foto: Nariman El-Mofty/AP

9. Malauí

Localizado no sul da África, o Malauí é considerado um dos países mais pobres do planeta, mas é também cheio de atrações naturais. Sem saída para o mar, fica em região montanhosa e tem o lindíssimo lago Malauí. Entre as atrações, estão também os safaris, conhecidos de seus vizinhos africanos.

Rituais religiosos tradicionais no Malauí. — Foto: Wikicommons
Rituais religiosos tradicionais no Malauí. — Foto: Wikicommons

8. Nepal

Nepal é sinônimo de Monte Everest. Do país asiático sai uma das mais famosas rotas para se chegar ao topo deste monte. Localizado entre a Índia e o Tibete, o país é recheado de templos hindus e budistas.

O Monte Everest, o pico mais alto do mundo, e outros picos da cordilheira do Himalaia são vistos através de uma janela de uma aeronave durante um voo de montanha em Katmandu, no Nepal, em janeiro de 2020 — Foto: Monika Deupala/Reuters/Arquivo
O Monte Everest, o pico mais alto do mundo, e outros picos da cordilheira do Himalaia são vistos através de uma janela de uma aeronave durante um voo de montanha em Katmandu, no Nepal, em janeiro de 2020 — Foto: Monika Deupala/Reuters/Arquivo

7. Omã

Com clima desértico, mas repleto de oásis e litoral, Omã é uma das grandes atrações do Oriente Médio. Além das belas praias, você também pode encontrar por lá surpreendentes fiordes de mais de 2 mil metros de altitude.

Centenas de pessoas acompanham a disputa em Wadi Shab, Omã, em imagem de 2016 — Foto: Balazs Gardi/Red Bull/AFP
Centenas de pessoas acompanham a disputa em Wadi Shab, Omã, em imagem de 2016 — Foto: Balazs Gardi/Red Bull/AFP

6. Anguilla

Território britânico no Caribe, Anguilla atrai por suas belas praias de tirarem o fôlego. Além de curtir a beleza do mar, também é possível visitar pinturas rupestres de antigos habitantes das ilhas.

Imagem aérea de Anguila, território britânico no Caribe, em foto sem data — Foto: Agnes Etchegoyen/Turismo Anguila
Imagem aérea de Anguila, território britânico no Caribe, em foto sem data — Foto: Agnes Etchegoyen/Turismo Anguila

5. Eslovênia

Os principais atrativos turísticos do país do leste europeu são um castelo de 900 anos e o rio Sava, conhecido por atravessar também a Croácia, a Bósnia e a Sérvia, desembocando no rio Danúbio. Além das pequenas cidades históricas, há muita beleza natural para conferir na Eslovênia.

Pessoas pulam no Mar Adriático nesta segunda-feira (1º) em Portoroz, na Eslovênia — Foto: Jure Makovec / AFP
Pessoas pulam no Mar Adriático nesta segunda-feira (1º) em Portoroz, na Eslovênia — Foto: Jure Makovec / AFP

4. Belize

Mais uma pérola do Caribe, Belize encanta por suas diversas ilhas. Um prato cheio para mergulhadores, o país conta com uma das barreiras de corais mais belas do planeta.

Belize, no Caribe, aparece na lista dos principais destinos de viagem de 2022 — Foto: Belize Tourism Board / divulgação
Belize, no Caribe, aparece na lista dos principais destinos de viagem de 2022 — Foto: Belize Tourism Board / divulgação

3. Ilhas Maurício

As Ilhas Maurício são um país multiétnico e turístico do Oceano Índico, próximo a Madagascar. Local com praias, lagoas e recifes, também atrai pelas florestas tropicais que rendem caminhadas inesquecíveis.

Golfinhos nadam no Oceano Índico, perto das Ilhas Maurício — Foto: Reuben Pillay/Reuters
Golfinhos nadam no Oceano Índico, perto das Ilhas Maurício — Foto: Reuben Pillay/Reuters

2. Noruega

A Noruega é sinônimo de fiordes, mas não somente isso. Além de cidades que misturam moderno com o antigo, é possível ter acesso a história dos vikings.

Noruega — Foto: Globo Repórter
Noruega — Foto: Globo Repórter

1. Ilhas Cook

Localizadas próxima à Nova Zelândia, as Ilhas Cook são um conjunto de 15 ilhas que se espalham por uma ampla área, conectadas por um recife de corais que circunda as águas calmas de uma lagoa central. Além de ter contato com a cultura Maori, os visitantes podem fazer diversos tipos de mergulhos em praias estonteantes.

Ilhas Cook, no Pacífico, ficam próximas a Nova Zelândia — Foto: Cook Island Tourismo Corporation
Ilhas Cook, no Pacífico, ficam próximas a Nova Zelândia — Foto: Cook Island Tourismo Corporation

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De onde vem o que eu como: extinção das abelhas pode definir o futuro da alimentação

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Os insetos melhoram a qualidade e a produtividade das lavouras. Alguns cultivos, como o açaí, só existem em manejo com polinização.
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Por Vivian Souza

Postado em 02 de novembro de 2021 às 09h30m


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No cálculo de Constanza, o valor da polinização é o custo que é evitado quando as abelhas fazem esse serviço para nós, 'gratuitamente'  — Foto: Getty Images via BBC
No cálculo de Constanza, o valor da polinização é o custo que é evitado quando as abelhas fazem esse serviço para nós, 'gratuitamente' — Foto: Getty Images via BBC

Apesar de ser o mel a primeira coisa que vem à cabeça quando pensamos em abelhas, na realidade, ele não é a maior contribuição desses insetos para a nossa alimentação. O café, a maçã, o maracujá e até a soja são beneficiados pelas polinizadoras.

Existem também outros estereótipos sobre esses animais. Já assistiu ao filme Bee Movie - A História de uma Abelha? Na vida real, a estrutura da colmeia não é como a retratada. Para começar, quem faz todo o trabalho nessa sociedade são as fêmeas. Elas coletam o néctar, o pólen e produzem o mel.

Cabe aos machos, conhecidos como zangões, apenas copular com a abelha rainha para a reprodução, explica Diego Moure, pesquisador sênior da AgroBee.

As abelhas mostradas no filme são de uma espécie que não é majoritária no Brasil, a Apis Mellifera. No país, as abelhas solitárias, que não formam colônias, são mais numerosas. Elas também não produzem tanto mel, pois isso dependeria da agrupação e formação de colmeias.

Independente de a qual espécie pertencem, as abelhas são muito importantes para a produção de alimentos. Alguns agricultores buscam alugar colmeias para atraí-las para a lavoura. Um outro caminho é a preservação da mata nativa da região.

Abelhas — Foto: Arte g1
Abelhas — Foto: Arte g1

Não é tudo mel

Metade das plantas com flores depende completamente de polinizadores para sobreviver, apontou um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Stellenbosch, na África do Sul. São cerca de 1.750 espécies de todos os continentes. Desta categoria, as abelhas são protagonistas.

Elas são responsáveis por até 80% das plantas cultivadas presentes na nossa alimentação, apontou a pesquisa da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES, sigla em inglês) e da Rede Brasileira de Interações Planta-Polinizador (REBIPP).

Para alguns plantios, como o maracujá, elas são essenciais. Para outros, como o café, elas proporcionam aumento da qualidade, com melhor sabor e nutrientes, e da produtividade, explica Márcia Maués, pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Amazônia Oriental.

Quanto mais fertilizado é um fruto, melhor o seu desenvolvimento, gerando, por exemplo, uma maçã maior. As abelhas fazem essa fertilização quando vão coletar o pólen (veja na imagem abaixo).

Mamangava realiza a fertilização cruzada em uma flor de maracujá — Foto: Onildo Nunes de Jesus

Existem 2 ganhos ao usar abelhas nas lavouras:

  • o direto, que é a melhora do produto oferecido;
  • o indireto, quando outros setores agrícolas são beneficiados, como a pecuária, devido à qualidade da soja usada na ração.

Por causa disso, existe um movimento para que estes insetos sejam reconhecidos como um insumo agrícola, assim como os pesticidas e fertilizantes são, aponta Márcia.

Quando vai pensar em uma implantação agrícola, (o produtor) se preocupa com a fertilidade do solo, qual o material genético que se vai utilizar (..), e porque não se preocupar com o polinizador? É um dos bioinsumos, da mesma forma como existem agentes de controle biológico, afirma.

Mel azul: apicultores do Rio Grande do Sul se surpreendem ao coletar o produto
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Alugando abelhas

Uma das formas de atrair abelhas para a plantação é realizando o aluguel de colmeias. Contudo, para isso, é importante saber quais abelhas fertilizam o cultivo específico.

Como estes insetos que se agrupam são da família Apis Mellifera, que não é nativa do Brasil, eles só conseguem fecundar flores que também são exóticas, como a soja e a maçã, explica Márcia.

A ideia do aluguel é conectar apicultores e produtores. Então, o agricultor paga o criador para enviar colmeias para a sua lavoura durante o período de floração. Depois, as abelhas voltam para o apicultor.

No cultivo da soja, por exemplo, as polinizadoras ficam por mais de 20 dias e o custo de cada colmeia pode sair até R$ 80, informa Diego Moure da AgroBee.

Este trâmite precisa ser feito com extrema segurança para não machucar a abelha e a estrutura da colmeia, relata Katia Aleixo, bióloga consultora da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.)

Se não fizer o transporte adequado, pode ter trânsito de doenças, pode levar uma colmeia que esteja com alguma doença para um local em que ela não acontece, explica.

Para participar do setor de aluguéis, os agricultores precisam estar cadastrados na defesa agropecuária dos seus estados. Em cada movimentação de colmeia, é necessário fazer a emissão do Guia de Trânsito Animal (GTA), para atestar que elas estão adequadas para serem transportadas de um lugar para outro.

Veja como acontece o aluguel de abelhas por aplicativo, reportagem do Globo Rural mostrou em julho de 2020:

Agricultores recorrem ao aluguel de abelhas por aplicativo para conseguir mais produtividade. Reportagem de 26/07/2020
Agricultores recorrem ao aluguel de abelhas por aplicativo para conseguir mais produtividade. Reportagem de 26/07/2020

Em cultivos de espécies nacionais, é muito provável que as abelhas ditas solitárias sejam as responsáveis pela polinização, e, como essas não possuem colmeias, a forma ideal para atraí-las é preservando a mata nativa próxima à lavoura, conta Márcia da Embrapa.

Ela defende a conectividade da floresta entre as propriedades rurais, formando os chamados corredores ecológicos. Assim, as abelhas voariam em mais de uma plantação, beneficiando agricultores vizinhos.

A abelha não faz diferença na fronteira de uma área e outra, vão voar na lavoura que está no raio de ação delas, diz.

Apesar de ser muito comum vermos nas redes sociais que se as abelhas forem extintas não conseguiremos plantar alimentos, isso é um mito. O que haverá é uma drástica diminuição na oferta e na qualidade dos cultivos, explicam as especialistas.

A bióloga Katia afirma que plantações como o arroz, o trigo e a cana-de-açúcar são polinizadas pelo próprio vento, por isso, continuariam existindo mesmo em um universo sem abelhas. Contudo, a acerola, a maçã, o café, por exemplo, poderiam ser extintos.

Tem plantas que não produzem nada sem polinização.O açaí, uma palmeira que ocorre nas margens do rio e vem sendo cultivada em terra firme por meio de cultivares, é visitado por mais de 200 espécies de insetos, conta Márcia.

E apesar de a ficção apresentar abelhas robóticas que seriam capazes de realizar esse processo, a pesquisadora não acredita que isso se aplicaria na realidade.

Não dá para substituir as abelhas. Você tem os formatos das flores, na maioria das plantas varia bastante. A castanheira, por exemplo, tem uma flor que é fechada, os recursos florais protegidos, diz.

Para ela ser aberta para polinizar, tem que ter tamanho e força adequada para abrir aquela flor. Não teria nem como construir um robô para polinizar. A estrutura morfológica das flores é compatível com a estrutura corporal do seu polinizador.

Isso porque as flores e as abelhas foram evoluindo conjuntamente ao longo dos anos, se tornaram proporcionais.

Há também a possibilidade do próprio agricultor fazer a polinização colocando o próprio dedo nas flores, como ocorre com o maracujá. Mas, a pesquisadora da Embrapa explica que isso leva o triplo do tempo, sendo apenas um amenizador e não um substituto.

Produtores de maracujá usam a polinização com o dedo para substituir abelhas — Foto: Reprodução / Globo Rural
Produtores de maracujá usam a polinização com o dedo para substituir abelhas — Foto: Reprodução / Globo Rural 

Entre os motivos para a possível extinção das abelhas, segundo Katia, estão:

  • as mudanças climáticas, que alteram os períodos de chuva e floração das plantas;
  • o desmatamento, queimadas e expansão das cidades, que diminuem o habitat natural desses animais;
  • a disseminação de doenças e espécies invasoras;
  • e o uso incorreto de defensivos agrícolas.
Reportagem do Fantástico explica como agrotóxicos matam as abelhas:

Uso de agrotóxicos em lavouras ameaça abelhas. Exibida em 19/05/2017
Uso de agrotóxicos em lavouras ameaça abelhas. Exibida em 19/05/2017

Uma potência desperdiçada

Para a pesquisadora Katia, o Brasil tem um grande potencial para a criação de abelhas, mas o país ainda não o explorou completamente. Duas características naturais são vantajosas:

  • diversidade de vegetação: proporciona plantas que fornecem, ao longo do ano, o néctar necessário para as abelhas, gerando maior produção de mel.
  • abelhas mais resistentes: a Apis Mellifera é uma mistura da abelha trazida pelos europeus no século 19 com uma raça africana trazida por pesquisadores no século 20. Por ser híbrida, ela é mais produtiva e resistente a doenças.

Para atingir essa potência, é necessário profissionalizar mais a apicultura e os criadores precisam incluir na sua rotina de trabalho as melhores práticas de manejo apícola, para conseguirmos aumentar a produção de mel sem necessariamente aumentar o número de abelhas, diz Katia.

Atualmente, o Brasil produz 20 kg de mel por colmeia. Para a bióloga, este número poderia subir para 60 kg quando bem trabalhada.

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