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domingo, 17 de janeiro de 2021

Aquecimento global: como sua geladeira está esquentando o planeta

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A maneira como você se desfaz de eletrodomésticos e aparelhos de ar-condicionado antigos pode ter um grande impacto no aquecimento global. 
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TOPO
Por BBC  
17/01/2021 20h43 Atualizado há 1 horas
Postado em 17 de janeiro de 2021 às 21h45m


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A maneira como você se desfaz de eletrodomésticos e aparelhos de ar-condicionado antigos pode ter um grande impacto no aquecimento global — Foto: Javier Hirschfeld/Getty Images via BBC
A maneira como você se desfaz de eletrodomésticos e aparelhos de ar-condicionado antigos pode ter um grande impacto no aquecimento global — Foto: Javier Hirschfeld/Getty Images via BBC

Quer você seja um fazendeiro no Quênia transportando leite para o mercado local, um proprietário de mercearia em Londres ou um paciente sendo submetido a quimioterapia no Japão, todos nós dependemos de dispositivos que mantenham frescos os produtos que consumimos.

Sem geladeira, nossa comida estragaria rapidamente, o leite azedaria fácil e as intoxicações alimentares provavelmente disparariam.

Nos próximos meses, é provável que a refrigeração também desempenhe um papel vital na atual pandemia de Covid-19. À medida que as vacinas começam a estar disponíveis, elas vão precisar de enormes cadeias de suprimento de armazenamento refrigerado para serem fabricadas, distribuídas e armazenadas até serem aplicadas.

Muitos outros medicamentos que salvam vidas — de insulina a antibióticos — também precisam ser armazenados na chamada "cadeia de frio" para evitar que se deteriorem e se tornem inúteis.

Em escolas, escritórios, lojas e residências em muitas partes do mundo, os fluidos refrigerantes também desempenham um papel importante nos sistemas de ar-condicionado que mantêm esses edifícios em uma temperatura confortável.

A indústria de refrigeração é importante, mas também extremamente poluente — sendo responsável por cerca de 10% das emissões globais de CO₂. Isso é três vezes a quantidade produzida pela aviação e navegação juntas. E como as temperaturas ao redor do mundo não param de subir devido às mudanças climáticas, a demanda pela refrigeração também vai aumentar.

Com países e empresas pressionados a reduzir seu impacto nas mudanças climáticas, a indústria de refrigeração está passando por uma reformulação radical na forma como produz e descarta os fluidos refrigerantes.

O uso de ar-condicionado em todo o mundo está aumentando rapidamente — e deve continuar crescendo à medida que a temperatura do planeta sobe — Foto: Javier Hirschfeld/Getty Images via BBC
O uso de ar-condicionado em todo o mundo está aumentando rapidamente — e deve continuar crescendo à medida que a temperatura do planeta sobe — Foto: Javier Hirschfeld/Getty Images via BBC 

Nas últimas três décadas, governos de todo o mundo se comprometeram a combater o uso de produtos químicos que contribuem para o aquecimento global, como os fluidos refrigerantes, enquanto as companhias começaram a buscar alternativas naturais e menos poluentes.

Mas os ativistas ambientais argumentam que as mudanças devem ser feitas de forma muito mais rápida, se quisermos alcançar as metas climáticas internacionais.

Os consumidores também podem fazer a sua parte por meio dos dispositivos que compram, do uso que fazem deles e da maneira como descartam equipamentos cheios de fluidos refrigerantes.

Mas o que há nos fluidos de refrigeração que os torna tão prejudiciais ao clima?

Os refrigeradores e aparelhos de ar-condicionado certamente usam uma boa quantidade de energia, especialmente quando ficam ligados continuamente em climas quentes. Mas eles também contêm produtos químicos que absorvem prontamente o calor do ambiente à medida que passam do estado líquido para o gasoso.

Conforme fazem a transição de volta ao estado líquido, eles liberam o calor para o exterior — seja de um edifício ou geladeira — antes de iniciarem o processo de resfriamento novamente.

Esses mesmos produtos químicos também são usados ​​em alguns tipos de espuma de isolamento térmico e como propulsores em latas de spray e aerossol.

O tipo mais comum de fluido refrigerante costumava ser à base de clorofluorcarbonos, mais conhecidos por sua sigla CFCs. Mas depois que se descobriu que os CFCs estavam destruindo a camada de ozônio, foi feito um esforço mundial para eliminá-los.

O Protocolo de Montreal de 1987 — um acordo ambiental histórico assinado por mais de 200 países — estabeleceu que esses produtos químicos prejudiciais ao meio ambiente não seriam mais produzidos.

Mas o esforço para se livrar dos CFCs levou muitos fabricantes de produtos químicos a optar por substituí-los por dois grupos de compostos — os hidrofluorcarbonos (HFCs) e hidroclorofluorcarbonos (HCFCs) — com um problema diferente.

Esses fluidos refrigerantes quebram muito menos as moléculas de ozônio, mas são gases de efeito estufa extremamente potentes. Sua capacidade de aquecer a atmosfera — mensurada como potencial de aquecimento global — é milhares de vezes maior do que a do dióxido de carbono, sendo alguns até 13.850 vezes mais potentes.

Isso acontece porque os HFCs e HCFCs — junto com os CFCs — também absorvem a radiação infravermelha, prendendo o calor dentro da atmosfera, em vez de permitir que ele escape de volta ao espaço, criando o efeito estufa que aquece o planeta.

Embora esses produtos químicos sejam usados ​​para diversos fins, de longe a maior fonte de emissões é proveniente dos sistemas de refrigeração e ar-condicionado. Com o tempo, eles podem vazar para a atmosfera de aparelhos danificados ou de sistemas de ar-condicionado de automóveis, por exemplo.

"A indústria como um todo teve um enorme impacto no aquecimento global", diz Clare Perry, ativista sênior da Agência de Investigação Ambiental (EIA, na sigla em inglês), organização sem fins lucrativos que investiga e faz campanha contra o abuso ambiental. Ela diz que, juntos, os CFCs, HFCs e HCFCs foram responsáveis ​​por cerca de 11% do total das emissões responsáveis pelo aquecimento global até agora.

Em 2016, autoridades de mais de 150 países assinaram a Emenda de Kigali, concordando em reduzir o consumo de HFC em 80% até 2047. Se a meta for alcançada, poderá evitar mais de 0,4 °C de aquecimento global até o fim do século — uma quantidade considerável em nossos esforços para reduzir os efeitos das mudanças climáticas.

Como os HFCs são gases potentes que podem permanecer na atmosfera por até 29 anos, há uma necessidade urgente de eliminá-los progressivamente, diz Doug Parr, cientista-chefe do clima do Greenpeace.

"Uma vez que são produzidos, são difíceis de lidar. Você está construindo um banco de produtos químicos problemáticos", acrescenta.

Mas especialistas da indústria afirmam que esses fluidos refrigerantes nocivos ainda estão disseminados e aumentando rapidamente devido ao crescimento global na demanda por ar-condicionado; à inovação lenta da indústria; e à legislação inadequada sobre seu descarte.

Em todo o mundo, a demanda por ar-condicionado está aumentando à medida que as temperaturas sobem e as pessoas ficam mais ricas, de acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês). As recentes ondas de calor na Europa, por exemplo, também impulsionaram as vendas de ar-condicionado em áreas onde antes era incomum.

O descarte de geladeiras e freezers velhos da maneira errada pode ter um grande impacto no clima — Foto: Javier Hirschfeld/Getty Images via BBC
O descarte de geladeiras e freezers velhos da maneira errada pode ter um grande impacto no clima — Foto: Javier Hirschfeld/Getty Images via BBC

Estima-se que o número global de aparelhos de refrigeração aumente de 3,6 bilhões para 9,5 bilhões até 2050, segundo um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e da IEA.

Fornecer refrigeração para todos que precisam, e não apenas para aqueles que podem pagar, exigirá 14 bilhões de dispositivos até 2050, observa o relatório.

"À medida que os países ao sul do globo estão começando a aumentar sua riqueza, sua capacidade de comprar aparelhos de ar-condicionado e geladeiras está aumentando drasticamente", diz Brian Dean, chefe de eficiência energética e refrigeração da iniciativa Sustainable Energy for All, apoiada pela ONU.

Sem mudanças radicais na indústria de refrigeração, a projeção é de que as emissões de HFC contribuam com um aquecimento equivalente a 20% das emissões de CO2 em 2050, alerta o relatório do Pnuma.

Há maneiras de resfriar uma casa sem a necessidade de ar-condicionado. As técnicas tradicionais usam recursos hídricos, como fontes para ajudar a resfriar o ar que passa por um edifício, enquanto algumas construções são cuidadosamente projetadas para estimular a circulação natural do ar.

Mesmo medidas simples, como colocar uma moringa de barro com água perto de uma janela ou local com corrente de ar, podem ajudar a refrescar um cômodo.

Parte do problema com os fluidos refrigerantes, entretanto, é que muitos dos danos que eles causam acontecem depois que nós, como consumidores, terminamos de usá-los. Ocorrem fora da nossa vista e, em grande parte, nem nos damos conta.

Os refrigerantes HFC usados ​​em geladeiras absorvem radiação infravermelha, tornando-os potentes gases de efeito estufa — Foto: Javier Hirschfeld/Getty Images via BBC
Os refrigerantes HFC usados ​​em geladeiras absorvem radiação infravermelha, tornando-os potentes gases de efeito estufa — Foto: Javier Hirschfeld/Getty Images via BBC

Cerca de 90% das emissões da refrigeração ocorrem no fim da vida útil do equipamento, de acordo com a Project Drawdown, organização sem fins lucrativos que analisa soluções climáticas. Isso significa que o descarte adequado é essencial.

Se os produtos químicos refrigerantes forem cuidadosamente extraídos e armazenados, eles podem ser purificados para reutilização ou transformados em outras substâncias que não causam aquecimento global.

O gerenciamento adequado e a reutilização de gases refrigerantes podem reduzir 100 bilhões de gigatoneladas das emissões globais de CO2 entre 2020 e 2050, de acordo com a EIA. Mas o descarte adequado de HFCs não é um requisito obrigatório no Protocolo de Montreal — tampouco é devidamente aplicado em muitos países, de acordo com o Pnuma.

O HFC mais comum encontrado em geladeiras domésticas é o HFC-134a, que tem um potencial de aquecimento global 3,4 mil vezes maior do que o dióxido de carbono. Uma geladeira padrão pode conter entre 0,05kg e 0,25kg de fluido refrigerante que, se vazar no meio ambiente, geraria emissões equivalentes a dirigir de 675km a 3.427km em um carro de tamanho médio.

Os consumidores que desejam se livrar de forma responsável de geladeiras, freezers ou aparelhos de ar-condicionado antigos, têm uma série de opções à sua disposição. Nos EUA, os eletrodomésticos antigos podem ser descartados por meio de esquemas aprovados pela Agência de Proteção Ambiental.

Muitas autoridades locais recolhem e reciclam aparelhos antigos, enquanto os fabricantes e varejistas de eletrodomésticos novos costumam se oferecer para retirar os itens antigos. Esforços para eliminar os HFCs no país foram acrescentados ao projeto de lei de inovação de energia que está atualmente em tramitação no Senado.

Na União Europeia, a legislação já exige que os gases HFC sejam recuperados no fim da vida útil para evitar que vazem para a atmosfera.

Se a sua geladeira quebrar no Reino Unido, por exemplo, você deve levá-la a uma instalação de tratamento de resíduos licenciada, onde um técnico removerá o gás. É ilegal não retirar os fluidos refrigerantes antes de destruir o aparelho.

Mas um estudo recente mostrou que as emissões globais de HFC-23, que tem o maior potencial de aquecimento global de todos os HFCs, atingiram um pico histórico em 2018, apesar dos esforços internacionais para reduzi-lo.

O HFC-23 é um subproduto da fabricação do HFCF-22, que é um propulsor e refrigerante comum usado em aparelhos de ar-condicionado. O aumento sugere que não está sendo feito o suficiente para coletar e destruir o HFC-23 durante os processos de fabricação.

Em muitos países, não há regulamentação adequada em vigor. Esta é uma preocupação especialmente nos países em desenvolvimento, de acordo com Dean.

"Se [as pessoas] decidirem manter [seus eletrodomésticos] e talvez destruí-los no quintal, não há mecanismo regulatório que impeça as pessoas de descartar os fluidos refrigerantes de maneira adequada", diz ele.

Em alguns casos, os HFCs também estão chegando aos produtos ilegalmente, o que ameaça minar os esforços para eliminá-los. Após as novas normas introduzidas pela União Europeia em 2014, os preços dos HFCs dispararam.

Mas a EIA alega que há discrepâncias nos dados de exportação e importação de HFCs que saem da China e chegam à União Europeia. No segundo semestre de 2019, foram apreendidas 54 toneladas de HFCs, um aumento de dez vezes em relação ao mesmo período de 2018, segundo uma análise da EIA.

De acordo com Perry, o controle ineficiente está permitindo o comércio ilegal de HFC em grande escala, que pode acabar em dispositivos vendidos aos consumidores.

"Provavelmente, o maior risco para o consumidor comum é que HFCs ilegais possam ser usados ​​para consertar o ar-condicionado do carro", diz ela.

"Portanto, vale a pena perguntar à sua oficina como eles se certificam de que os HFCs que usam são de uma fonte confiável."

A indústria química está tomando medidas para impedir o comércio ilegal de HFCs — e os consumidores podem descobrir quais empresas se comprometeram a agir em um site que eles criaram. Mas é preciso fazer mais, acrescenta Perry.

"Se o comércio ilegal avançar em ritmo acelerado, vai ameaçar a integridade da redução progressiva do HFC e das metas climáticas da União Europeia", diz ela.

Para quem já está pensando em trocar a geladeira ou ar-condicionado por uma alternativa mais amistosa para o planeta, há cada vez mais opções disponíveis. Os fabricantes começaram a recorrer a produtos químicos favoráveis ​​ao clima, conhecidos como refrigerantes naturais, que têm potencial de aquecimento global comparativamente baixo ou zero.

Marcas globais importantes, como Coca Cola, PepsiCo e Unilever, estabeleceram metas para eliminar os HFCs e já começaram a usar alternativas. Amônia, certos hidrocarbonetos e CO2 são as opções mais populares.

A Coca-Cola prometeu que todos os equipamentos novos para refrigeração de bebidas que usa serão livres de HFC — e já passou a usar o hidrocarboneto propano em muitas de suas máquinas de venda automática de refrigerante. As marcas de sorvete da Unilever, incluindo Ben & Jerry's e Wall's, também usam hidrocarbonetos em seus freezers.

Os eletrodomésticos que usamos para resfriar nossa comida requerem eletricidade para funcionar, mas representam um risco maior para o clima ao fim de suas vidas úteis — Foto: Javier Hirschfeld/Getty Images via BBC
Os eletrodomésticos que usamos para resfriar nossa comida requerem eletricidade para funcionar, mas representam um risco maior para o clima ao fim de suas vidas úteis — Foto: Javier Hirschfeld/Getty Images via BBC 

A maioria dos supermercados na Europa agora usa CO2 em suas geladeiras e freezers, depois que a regulamentação da União Europeia para eliminar os HFCs foi introduzida em 2015.

Mas as preocupações com a segurança estão impedindo a transição de toda a indústria para refrigerantes naturais. A amônia, por exemplo, é altamente tóxica, o que significa que apresentaria um risco à saúde caso escapasse por meio de um vazamento, enquanto o propano é um gás inflamável.

Mas são necessárias quantidades relativamente pequenas desses produtos químicos nos tubos que os fazem circular pelas geladeiras e aparelhos de ar-condicionado.

Ativistas ambientais afirmam que os fabricantes de produtos químicos também estão resistindo à mudança para essas substâncias naturais.

"Eles não podem patentear CO2, hidrocarbonetos ou amônia porque são substâncias naturais", diz Marc Chasserot, fundador da Shecco, uma aceleradora de mercado para refrigerantes naturais.

"Eles dirão que são perigosos, [mas] nenhuma máquina de venda de refrigerante da Coca-Cola que usa hidrocarbonetos jamais explodiu. O risco de inflamabilidade pode ser gerenciado com muita facilidade."

A Honeywell, fabricante de produtos químicos nos EUA, investiu em hidrofluorolefinas (HFOs), em vez de refrigerantes naturais, produzindo um produto químico patenteado chamado HFO1234yf.

"Em muitas aplicações, essas soluções têm um potencial de aquecimento global igual, ou até menor, do que o dióxido de carbono e até 99% menor do que outras tecnologias de HFC", diz George Koutsaftes, presidente de materiais avançados da Honeywell.

Mas, segundo Perry, essas substâncias não são soluções de longo prazo, uma vez que produzem ácido tóxico ao se decompor na atmosfera, o que polui os lençóis freáticos.

"Os refrigerantes naturais são basicamente os únicos à prova do futuro", diz Perry.

"A eliminação progressiva vai continuar e só será reforçada, [tornando os fluidos refrigerantes potentes] cada vez mais raros e caros, e por fim ilegais."

Uma empresa que se comprometeu a eliminar os HFCs é a Mabe, uma grande fabricante mexicana que distribui eletrodomésticos para mais de 70 países. A empresa anunciou que eliminará completamente os HFCs de suas 11 fábricas neste ano, substituindo-os por hidrocarbonetos.

"Queremos que o mundo saiba que a transição para novas alternativas de refrigeração é possível", explica Pablo Moreno, chefe de assuntos corporativos da Mabe.

Segundo ele, a mudança pode reduzir as emissões de CO2 da empresa em 240 mil toneladas por ano.

Outro fabricante, a Electrolux, se comprometeu a remover todos os HFCs de suas geladeiras e freezers até 2023.

Para os consumidores, no entanto, descobrir quais eletrodomésticos contêm refrigerantes naturais nem sempre é fácil. Alguns países já introduziram etiquetas para ajudar as pessoas a identificar facilmente quais geladeiras contêm essas alternativas mais favoráveis ​​ao clima.

Mas com tanto HFC nas cozinhas e sistemas de ar-condicionado no mundo todo, nosso desejo de esfriar a temperatura pode tornar o mundo muito mais quente.

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Sepultura nazista no Amapá completa 85 anos em meio a mistério sobre planos de Hitler para a Amazônia

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Cruz com suástica chama atenção em pequeno cemitério isolado no extremo sul do estado. Expedição de quase 2 anos coletou informações para implantação de colônia na região.  
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Por John Pacheco, G1 AP — Macapá  
02/01/2021 11h14 Atualizado há 2 semanas
Postado em 17 de janeiro de 2021 às 10h00m


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Imagem da época mostra indígenas da região com a cruz de Joseph Greiner — Foto: Reprodução
Imagem da época mostra indígenas da região com a cruz de Joseph Greiner — Foto: Reprodução

"Joseph Greiner morreu aqui de febre em 2 de janeiro de 1936 a serviço da pesquisa alemã". A inscrição no idioma alemão numa cruz fincada há 85 anos num pequeno cemitério próximo da cachoeira de Santo Antônio, no Rio Jari, no extremo Sul do Amapá, desperta até hoje a curiosidade de nativos e pesquisadores sobre um projeto audacioso de Adolf Hitler para implantar uma colônia na Amazônia.

O G1 visitou o local em 2017 e mostrou a grandiosidade da cruz, que tem quase 3 metros e chama a atenção de quem vê de longe. O cemitério é de difícil acesso e fica a uma hora de barco pelo rio partindo da cidade mais próxima, Laranjal do Jari.

Cruz fica na margem direita do rio Jari próxima à cachoeira de Santo Antônio. Foto de 2017 — Foto: John Pacheco/G1
Cruz fica na margem direita do rio Jari próxima à cachoeira de Santo Antônio. Foto de 2017 — Foto: John Pacheco/G1

Segundo historiadores, Joseph Greiner era integrante da comitiva alemã que por quase dois anos atuou na Amazônia.

O objetivo da Alemanha de Hitler era implantar uma colônia na América do Sul, a exemplo da Guiana Inglesa, Suriname (Holanda) e Guiana Francesa. O plano não continuou, mas ao longo de 17 meses, a pesquisa levantou informações sobre fauna, flora e a cultura indígena. Registros em imagens feitos à época mostram a relação com a tribo Aparai.

"A França na época era arqui-inimiga da Alemanha, desde a Primeira Guerra Mundial. Tinha todo um rancor ainda pela França. Então possivelmente o interesse deles em chegar à Guiana era uma futura invasão no caso se eles entrassem em conflito", contou, em 2017, Edivaldo Nunes, historiador da Universidade Federal do Amapá (Unifap).

Registros feitos à época mostram trabalho de pesquisadores alemães — Foto: Reprodução/Rede Amazônica
Registros feitos à época mostram trabalho de pesquisadores alemães — Foto: Reprodução/Rede Amazônica

Greiner morreu de uma febre não especificada durante a expedição. Ainda segundo estudos e um livro alemão sobre o assunto, ele era capataz da tropa e morava no Brasil antes de ser recrutado pelo governo alemão. O objetivo era que ele facilitasse a comunicação.

"Ele veio ainda adolescente pro Brasil, com 15 anos. Não se tem uma idade exata, mas ele tinha mais de 30 anos quando faleceu em janeiro de 1936. Ele era uma pessoa que não tinha família, não era casado, era solteiro, e não deixou filhos também", completou Nunes.

O local onde ele foi enterrado fica próximo à cachoeira de Santo Antônio, que abriga a hidrelétrica de mesmo nome. Após o sepultamento no local, a área foi usada como cemitério por comunidades na região. A cruz resiste ao tempo e aos efeitos da natureza e permanece de pé.

Expedição Jari usou pequeno avião para sobrevoar floresta — Foto: Reprodução/Rede Amazônica
Expedição Jari usou pequeno avião para sobrevoar floresta — Foto: Reprodução/Rede Amazônica

Dificuldades na selva

A "Expedição Jari", como foi chamada, trouxe grande aparato da Alemanha para a atuação no sul do Amapá. A equipe formada por três pesquisadores, além de Greiner, trouxe um avião para a região.

Após realizar alguns sobrevoos pela área, a aeronave de pequeno porte apresentou defeitos e não pode ser mais usada.

Com isso, as equipes necessitaram ainda mais da ajuda dos indígenas. A febre fatal para Joseph Greiner foi só uma das várias doenças que atingiram aos membros da expedição, além de outras enfermidades como malária e difteria. O forte calor e as sucessivas chuvas também eram problemas.

Imagem de documentário alemão mostra cruz sendo fincada por indígenas — Foto: Reprodução
Imagem de documentário alemão mostra cruz sendo fincada por indígenas — Foto: Reprodução

Com o possível plano de invasão em mente, a equipe retornou à Alemanha, mas o projeto Guiana nunca foi realizado, mesmo assim, a visitação levou crânios e informações de mais de 500 mamíferos, répteis, anfíbios e aves, além de registros em fotos e filmagens.

Um documentário alemão, feito na época, mostra em detalhes os percalços da viagem, inclusive com imagens da expedição e do contato com os índios. Confira:

Veja o plantão de últimas notícias do G1 Amapá

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