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sexta-feira, 24 de setembro de 2021

A incrível descoberta que indica presença humana nas Américas muito antes do que se pensava

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Equipe de cientistas atuando no Estado do Novo México, no sudoeste dos EUA, encontrou pegadas humanas que foram datadas entre 23 mil e 21 mil anos atrás, apontando que humanos chegaram às Américas pelo menos 7 mil anos antes do que se estimava anteriormente.
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TOPO
Por Paul Rincon, BBC

Postado em 24 de setembro de 2021 às 14h45m


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Equipe de cientistas atuando no sudoeste dos EUA encontrou pegadas humanas que foram datadas entre 23 mil e 21 mil anos atrás — Foto: Bournemouth University via BBC
Equipe de cientistas atuando no sudoeste dos EUA encontrou pegadas humanas que foram datadas entre 23 mil e 21 mil anos atrás — Foto: Bournemouth University via BBC

Novas descobertas científicas apontam que humanos chegaram às Américas pelo menos 7 mil anos antes do que se estimava anteriormente.

As pesquisas em torno do momento em que o continente americano passou a ser povoado a partir da Ásia despertam debates profundos há décadas. Muitos pesquisadores são céticos em relação às evidências da presença humana na América do Norte muito além de 16 mil anos atrás.

Agora, uma equipe de cientistas atuando no estado do Novo México, no sudoeste dos EUA, encontrou pegadas humanas que foram datadas entre 23 mil e 21 mil anos atrás.

Essa descoberta tem o potencial de transformar o que se sabe e o que se pensa sobre quando o continente foi povoado. Ela sugere a existência de grandes migrações sobre as quais não sabemos nada e levanta a possibilidade de que essas populações podem ter sido extintas.

As pegadas que levaram a essa nova linha do tempo foram formadas numa lama macia nas margens de um lago que atualmente faz parte do Parque Nacional de White Sands.

Para estimar a "idade" das pegadas, a equipe do Serviço Geológico dos EUA fez a datação do carbono de camadas de sedimentos acima e abaixo das pegadas encontradas. E assim puderam determinar a "idade" das pegadas em si.

Baseados nos tamanhos dessas marcas, os cientistas suspeitam que elas sejam de adolescentes ou crianças que iam e vinham, às vezes acompanhadas de um adulto.

Não está claro para os cientistas o que exatamente essas pessoas estavam fazendo ali, mas possivelmente elas estavam ajudando os adultos numa modalidade de caça que seria vista depois em culturas de indígenas na América do Norte. Ela é conhecida como salto de búfalo e consiste em conduzir animais selvagens até um despenhadeiro.

Esses animais "precisam ser processados num período muito curto de tempo", explica a paleontóloga Sally Reynolds, pesquisadora da Universidade de Bournemouth (Reino Unido). "É preciso acender as fogueiras, é preciso separar a gordura." As crianças e os adolescentes ali podem ter ajudado os adultos a coletar água, lenha ou outros suprimentos.

'Idade' das pegadas

Uma das pegadas atribuídas pelos pesquisadores a crianças ou adolescentes que viveram há mais de 20.000 anos no continente americano — Foto: Bournemouth University/via BBC
Uma das pegadas atribuídas pelos pesquisadores a crianças ou adolescentes que viveram há mais de 20.000 anos no continente americano — Foto: Bournemouth University/via BBC

A datação da descoberta é central no debate. Isso porque não é a primeira vez que se anuncia algum novo indício sobre a presença humana anterior nas Américas. Mas praticamente todas acabam sendo contestadas de alguma forma.

Em geral, o debate gira em torno do seguinte: as ferramentas de pedra encontradas em um sítio antigo são de fato o que parecem ser ou são simplesmente rochas quebradas por algum processo natural, como a queda de um penhasco?

Esses possíveis artefatos às vezes são menos óbvios do que as pontas de lança de 13 mil anos que foram primorosamente trabalhadas e depois encontradas na América do Norte. Daí acaba ficando uma porta aberta para contestações e conclusões definitivas.

"Uma das razões pelas quais há tanto debate é que há uma falta real de dados bastante sólidos e inequívocos. Isso é o que achamos que provavelmente temos agora (sobre a presença de humanos no continente quase 7 mil anos antes do que se pensava)", afirma o professor Matthew Bennett, primeiro autor do artigo da Universidade de Bournemouth, à BBC News.

"Pegadas não são como ferramentas de pedra. Uma pegada é uma pegada e não pode ser movida para cima e para baixo [nas camadas do solo]."

Embora a natureza da evidência física aqui seja mais difícil de ser descartada ou contestada como uma ponta de lança, os pesquisadores precisaram garantir que a datação fosse literalmente impermeável (completamente fechado para líquidos).

Uma complicação potencial apontada pela Science, publicação científica em que os achados foram publicados, nos estágios iniciais da revisão da descoberta, foi o "efeito reservatório". Isso se refere à maneira com que o carbono antigo às vezes pode ser reciclado em ambientes aquosos, interferindo nos resultados do radiocarbono ao fazer um local parecer mais antigo do que realmente é.

Os pesquisadores, no entanto, dizem que investigaram essa possibilidade e acreditam que ela não seja significativa aqui.

Tom Higham, professor e especialista em datação por radiocarbono da Universidade de Viena, disse: "Eles realizaram algumas verificações nas datas do material próximo ao local da pegada e descobriram que amostras totalmente terrestres (carvão) produziram idades semelhantes às do material aquático que datavam de mais perto das pegadas."

"Eles também argumentaram, acho que com razão, que o lago devia ser raso na época em que as pessoas andaram por lá, mitigando o impacto dos efeitos do reservatório introduzidos por antigas fontes de carbono."

Segundo Higham, a consistência dos resultados e o suporte de uma técnica diferente de datação aplicada ao lugar da descoberta reafirmaram a validade dos resultados.

"Acho que, em conjunto, esta é uma sequência de 21.000-23.000 anos", afirma Higham à BBC News.

Controvérsias em torno das datações nas Américas

As disputas no início da arqueologia americana têm muito a ver com o desenvolvimento histórico do campo científico.

Durante a segunda metade do século 20, surgiu um consenso entre os arqueólogos norte-americanos de que os povos pertencentes à cultura Clovis foram os primeiros a chegar às Américas.

Acredita-se que esses grandes caçadores tenham cruzado uma ponte de terra sobre o Estreito de Bering, que conectava a Sibéria ao Alasca durante a última era glacial, quando o nível do mar estava muito mais baixo.

O nome Clovis era o de um sítio arqueológico assim denominado, descoberto em 1939, também no Novo México. No local, foram encontrados artefatos de pedra lascada, datados de 11,4 mil anos. Segundo essa teoria, defendida principalmente pela comunidade arqueológica americana, a chegada teria ocorrido há cerca de 12 mil anos.

Se de um lado o consenso "Clovis-primeiro" se consolidou, de outro as descobertas de presenças humanas mais antigas acabaram descartados como não confiáveis. Isso levou alguns arqueólogos, inclusive, a realmente pararem de procurar por sinais de ocupação anterior.

Mas na década de 1970 essa ortodoxia começou a ser colocada em xeque.

Na década de 1980, surgiram evidências sólidas de uma presença humana de 14.500 anos em Monte Verde, no Chile.

E, desde os anos 2000, outros locais pré-Clovis tornaram-se amplamente aceitos, como o Buttermilk Creek Complex, com 15.500 anos, no centro do Texas, e o local Cooper's Ferry, com 16.000 anos, em Idaho. Ambos nos Estados Unidos.

Agora, as pegadas do Novo México sugerem que os humanos haviam chegado ao interior da América do Norte no auge da última Era do Gelo.

Gary Haynes, professor emérito da Universidade de Nevada, disse "não ter conseguido encontrar falhas no trabalho que foi feito ou nas interpretações desse artigo, que é importante e provocativo".

"As trilhas estão tão ao sul da conexão terrestre de Bering que agora temos que nos perguntar (1) se o povo ou seus ancestrais (ou outras pessoas) fizeram a travessia da Ásia para as Américas muito antes, (2) se as pessoas se mudaram rapidamente através dos continentes após cada travessia, e (3) se eles deixaram algum descendente."

Andrea Manica, geneticista da Universidade de Cambridge, disse que a descoberta sobre as pegadas no Novo México teria implicações importantes para a história da população das Américas.

"Não posso comentar sobre o quão confiável é a datação, porque está fora da minha especialidade, mas evidências sólidas de humanos na América do Norte há 23 mil anos estão em desacordo com a genética, o que mostra claramente uma divisão de nativos americanos de asiáticos em aproximadamente 15 mil a 16 mil anos atrás", disse à BBC News.

"Isso sugere que os primeiros colonos das Américas foram substituídos quando o corredor de gelo se formou e outra onda de colonos entrou. Mas não temos ideia de como isso teria de fato acontecido."
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Erupção de vulcão se intensifica nas Canárias, e mais 3 cidades são evacuadas

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Nuvem de gás tóxico e cinzas já se estende por mais de 4 km no céu, e companhias aéreas cancelaram voos para La Palma. A erupção e suas consequências podem durar até 84 dias.
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Por g1

Postado em 24 de setembro de 2021 às 12h35m


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Erupção do vulcão na ilha de La Palma, na Espanha, em 23 de setembro de 2021. Ele entrou em atividade em uma pequena ilha espanhola nas Canárias, no Oceano Atlântico, no domingo (19) e forçou a evacuação de milhares de pessoas. — Foto: Emilio Morenatti/Pool via Reuters
Erupção do vulcão na ilha de La Palma, na Espanha, em 23 de setembro de 2021. Ele entrou em atividade em uma pequena ilha espanhola nas Canárias, no Oceano Atlântico, no domingo (19) e forçou a evacuação de milhares de pessoas. — Foto: Emilio Morenatti/Pool via Reuters

Autoridades da ilha de La Palma, na Espanha, ordenaram nesta sexta-feira (24) a evacuação das cidades de Tajuya, Tacande de Abajo e da parte de Tacande de Arriba devido à erupção do vulcão nas Canárias.

Os bombeiros tiveram de recuar e interromperam o trabalho de limpeza na cidade de Todoque na tarde desta sexta, após uma nova fenda se abriu no flanco do vulcão, e companhias aéreas cancelaram voos, devido à maior nuvem de gás e cinzas desde o vulcão entrou em erupção.

"O vulcão está em uma nova fase explosiva", informou o serviço de bombeiros da ilha de Tenerife, que foi destacado para ajudar em La Palma, em uma rede social. "Os bombeiros não vão mais operar hoje".

O Instituto de vulcanologia das Canárias disse na quinta-feira (23) que a nuvem de gás tóxico e cinzas já se estende por mais de 4 quilômetros no céu.

Moradores olham de uma colina enquanto a lava flui do vulcão em erupção na ilha de La Palma , na Espanha, em 24 de setembro de 2021. O vulcão nas Ilhas Canárias, um território espanhola no Oceano Atlântico, continua a produzir explosões e a expelir lava cinco dias após entrar em atividade. — Foto: Emilio Morenatti/AP
Moradores olham de uma colina enquanto a lava flui do vulcão em erupção na ilha de La Palma , na Espanha, em 24 de setembro de 2021. O vulcão nas Ilhas Canárias, um território espanhola no Oceano Atlântico, continua a produzir explosões e a expelir lava cinco dias após entrar em atividade. — Foto: Emilio Morenatti/AP

Os serviços de emergência ordenaram inicialmente que os moradores das três cidades ficassem em casa, mas a orientação mudou devido à intensificação da atividade do vulcão no parque nacional Cumbre Vieja, no sul da ilha.

Voos cancelados

As companhias aéreas espanholas Iberia e Binter anunciaram nesta sexta que cancelaram alguns voos para La Palma devido ao vulcão (embora o espaço aéreo da ilha continue aberto).

"A evolução da nuvem de cinzas nos últimos dias forçou a companhia aérea a mudar sua programação, a partir de hoje, sexta-feira, 24 de setembro, cancelando voos para a ilha à noite", anunciou a Binter em um comunicado.

A companhia aérea não especificou quantos voos serão afetados. Já a Iberia anunciou que cancelou um voo na tarde de hoje.

Vulcão em erupção

Vulcão em erupção expele lava na ilha de La Palma na Espanha, em 23 de setembro de 2021. Ele entrou em atividade em uma pequena ilha nas Canárias, no Oceano Atlântico, no domingo (19) e forçou a evacuação de milhares de pessoas de suas casas. — Foto: Emilio Morenatti/AP
Vulcão em erupção expele lava na ilha de La Palma na Espanha, em 23 de setembro de 2021. Ele entrou em atividade em uma pequena ilha nas Canárias, no Oceano Atlântico, no domingo (19) e forçou a evacuação de milhares de pessoas de suas casas. — Foto: Emilio Morenatti/AP

O vulcão entrou em erupção no domingo (19) nas Canárias, um arquipélago espanhol formado por oito ilhas no Oceano Atlântico, e forçou a evacuação de milhares de pessoas.

As lavas estão descendo lentamente do Cumbre Vieja e continuam engolindo tudo o que encontram em seu caminho. Elas já destruíram 320 construções e 154 hectares de terra até o momento, em seu caminho em direção ao mar.

A lava pode gerar gases tóxicos se chegar ao Atlântico, e especialistas dizem que a erupção vulcânica e suas consequências podem durar até 84 dias em La Palma. A ilha tem cerca de 85 mil habitantes.

Lava do vulcão destrói tudo pelo caminho na ilha de La Palma, na Espanha, em 23 de setembro de 2021. O vulcão entrou em erupção no domingo (19) nas Canárias, um arquipélago espanhol formado por 8 ilhas no Oceano Atlântico, e forçou a evacuação de milhares de pessoas. — Foto: Emilio Morenatti/Pool via Reuters
Lava do vulcão destrói tudo pelo caminho na ilha de La Palma, na Espanha, em 23 de setembro de 2021. O vulcão entrou em erupção no domingo (19) nas Canárias, um arquipélago espanhol formado por 8 ilhas no Oceano Atlântico, e forçou a evacuação de milhares de pessoas. — Foto: Emilio Morenatti/Pool via Reuters

Veja onde está o vulcão — Foto: Arte G1
Veja onde está o vulcão — Foto: Arte G1

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181 harpias mortas, maioria por 'curiosidade': dado bizarro levou pesquisador a apostar no turismo para salvar a maior ave de rapina do Brasil

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Harpia também é conhecida no país como gavião-real. Biólogo Everton Miranda mira no sucesso de observação de onças em Mato Grosso para evitar abate e gerar renda para população local.
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Por Laís Modelli, g1

Postado em 24 de setembro de 2021 às 08h00m


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Filhote de harpia na forquilha que sustentava seu ninho em Aripuanã, no Mato Grosso. — Foto: Everton Miranda
Filhote de harpia na forquilha que sustentava seu ninho em Aripuanã, no Mato Grosso. — Foto: Everton Miranda

Quando decidiu estudar as harpias da Amazônia, em 2016, maior ave de rapina do Brasil à beira de extinção, o biólogo especialista em predadores Everton Miranda se assustou com o que viu: relato de 181 águias da espécie mortas em dois anos apenas no norte de Mato Grosso, uma região de 3 mil km² que integra o chamado Arco do Desmatamento.

Para investigar o motivo, o biólogo conta que entrevistou moradores locais, como "sitiantes, latifundiários, grileiros e outras figuras, em sua maioria pecuaristas que produzem carne".

O resultado das entrevistas foi ainda mais preocupante: os relatos indicavam que 80% das harpias abatidas no período haviam sido mortas por curiosidade e os outros 20% por retaliação contra ataques aos animais da região - a harpia é predador natural de macacos e bichos-preguiça.

'"Matei pra ver com a mão', 'atirei pra ver o tombo', 'matei por que nunca tinha visto um 'gavião' desse tamanho' eram algumas das respostas que eu recebia", lembra Miranda.

(Assista mais abaixo, reportagem do Globo Rural sobre impacto do desmatamento em Rondônia na vida das harpias)
Moradores do norte do Mato Grosso seguram harpia abatida na região. — Foto: Everton Miranda
Moradores do norte do Mato Grosso seguram harpia abatida na região. — Foto: Everton Miranda

Na época, Miranda, que desenvolvia seu doutorado na Universidade de KwaZulu-Natal, na África do Sul, recebeu um financiamento internacional para sua pesquisa com as harpias e, em troca, precisaria propor soluções para o problema.

Foi aí que, inspirado no turismo de observação das onças pintadas em seu habitat natural, famoso no Mato Grosso, nasceu a ideia de transformar a harpia, conhecida no país como gavião-real, em símbolo do turismo local.

Conhecida por ser fiel ao seu território, a harpia pode usar por décadas a mesma árvore como ninho para seus filhotes. Além disso, a águia é exuberante: típicas das florestas da América do Sul, ela pode chegar a 9kg e a 2,2m de envergadura.

VÍDEO: Harpia, uma das maiores aves do mundo, sofre impactos do desmatamento em Rondônia
VÍDEO: Harpia, uma das maiores aves do mundo, sofre impactos do desmatamento em Rondônia

"O comportamento da harpia é conveniente ao turismo: elas não se deslocam, fixam ninho em um local e não saem dali se não forem forçadas a sair. Então, precisávamos localizar os ninhos e montar torres de observação próximas para que o turista observasse a aves", explica Miranda.

Após um ano mapeando os ninhos com ajuda dos próprios moradores e povos indígenas da região - o projeto oferecia uma quantia em dinheiro para cada pessoa que localizasse um ninho - o turismo de observação de harpias no Mato Grosso começou em 2017. Os principais turistas atraídos para a experiência foram idosos estrangeiros.

"Além de gerar renda local, o projeto praticamente acabou com o abatimento das harpias por motivos fúteis, como a curiosidade em chegar perto do animal. Além disso, foi uma lição ambiental didática aos moradores: eles começaram a ver pessoas cruzando o mundo só para conhecer o quintal da casa deles, então eles passaram a cuidar desse quintal", diz o biólogo.

Um filhote de harpia sendo observado pela câmera de monitoramento. Ao fundo, a torre onde ficam os turistas. — Foto: Everton Miranda
Um filhote de harpia sendo observado pela câmera de monitoramento. Ao fundo, a torre onde ficam os turistas. — Foto: Everton Miranda

Sempre que um ninho é localizado, o projeto monta uma torre de observação para os turistas e instala uma câmera para monitorar as harpias por um mínimo de 90 dias. As imagens depois são estudadas pelo biólogo. Foi assim que Miranda conseguiu comprovar que a ideia era bem sucedida: desde 2017, apenas 3 harpias foram abatidas na mesma área de 3 mil km².

"Após implementarmos o turismo, as taxas de abate da harpia caíram de cerca de 90 aves ao ano para menos de 1 morte por ano", afirma o especialista em predadores.

Desmatamento e risco de extinção

Enquanto a harpia, a maior águia do mundo, ocorre apenas em florestas em bom estado de conservação, o Arco do Desmatamento, na contramão, é uma região de 500 mil km² da Amazônia que vem sendo intensamente desmatada por causa do avanço da fronteira agrícola e da pecuária.

Harpia adulta leva comida ao seu filhote no ninho em Nova Bandeirantes, Mato Grosso. — Foto: Everton Miranda
Harpia adulta leva comida ao seu filhote no ninho em Nova Bandeirantes, Mato Grosso. — Foto: Everton Miranda

Um estudo de 2019 de Miranda já havia apontado que o desmatamento e a consequente perda de habitat extinguiu a harpia em quase toda a América Central e do Sul - a exceção ainda é a Amazônia brasileira.

"A espécie é considerada Vulnerável à Extinção, dado que 93% de sua distribuição atual está na Amazônia. Os outros 7% são poucas populações viáveis em regiões da América Central e da Mata Atlântica", explica.

Porém, em junho, Miranda e um grupo de biólogos internacionais publicou um estudo na revista Nature demonstrando que a harpia da Amazônia também está ameaçada: quando a perda florestal chega a 50%, os filhotes daquela região morrem de fome por falta de alimento.

Isso ocorre, principalmente, porque a harpia, além de não caçar em ambientes abertos, não consegue encontrar alimento na região desmatada, já que a sua presa, mamíferos que vivem em árvores, desaparecem das regiões onde não há mais árvores.

Assim, o estudo publicado na Nature conclui que, em área onde o desmatamento da Amazônia chega a 70%, as harpias nem chegam mais. Com 50% de desmate, os filhotes morrem de fome.

Por isso, para incentivar donos de terras no Mato Grosso a não desmatarem suas florestas que ainda têm ninho de harpias, o projeto de turismo coordenado por Miranda repassa uma parte do valor cobrado aos turistas para os proprietários dos imóveis.

Biólogo Miranda observa filhote de harpia resgatado após sua árvore ser derrubada para dar espaço ao pasto, em Colniza, Mato Grosso. — Foto: Eldile Oliveira
Biólogo Miranda observa filhote de harpia resgatado após sua árvore ser derrubada para dar espaço ao pasto, em Colniza, Mato Grosso. — Foto: Eldile Oliveira

"Uma árvore em pé no meio do mato não vale mais que R$ 300, R$ 400 para o dono da terra no Arco do Desmatamento. Ali, a terra vale mais quando é devastada, porque depois ela vai ser transformada em pastagem. Então, a ideia foi remunerar o proprietário do terreno para manter suas árvores e abrir o local para a visitação de turistas", explica o biólogo.

Com a pandemia de coronavírus, o turismo de observação de harpia no norte do Mato Grosso foi interrompido, uma vez que as viagens internacionais - origem da maioria dos turistas na região - foram canceladas. Mas a região já está mundialmente famosa entre documentaristas e pesquisadores, garante Miranda, e são essas visitas que têm mantido o projeto vivo.

Atualmente, o projeto conta com 35 ninhos de harpias mapeados para o turismo no Mato Grosso e, o melhor, preservados da extinção.

Estudos com a harpia podem ajudar na preservação de outras espécies
Estudos com a harpia podem ajudar na preservação de outras espécies

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