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terça-feira, 9 de novembro de 2021

O 'ouro líquido' escondido nas florestas da Espanha

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Durante séculos, as pessoas exploraram os pinheiros para extrair resina. Em uma região espanhola, alguns acreditam que essa prática milenar poderia salvar cidades rurais e ao mesmo tempo ajudar o planeta.
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TOPO
Por BBC

Postado em 09 de novembro de 2021 às 18h40m

Post.- N.\ 10.074

Resina de pinho obtida em Tierra de Pinares e da Sierra de Gredos, na Espanha. — Foto: SUSANA GIRÓN
Resina de pinho obtida em Tierra de Pinares e da Sierra de Gredos, na Espanha. — Foto: SUSANA GIRÓN

Nas províncias espanholas de Segóvia, Ávila e Valladolid existe um tesouro escondido. Ali, no meio da Tierra de Pinares e da Sierra de Gredos, uma densa floresta de 400 mil hectares de pinheiros se estende em direção às montanhas.

Protegida do forte sol espanhol e repleta de trilhas, essa floresta é um destino popular para moradores e turistas. E quem a visita na hora certa consegue ver operários ao longo dos troncos das árvores, cumprindo a tradição secular de recolher o "ouro líquido" do pinheiro.

A resina de pinho foi usada por diferentes civilizações por milhares de anos. Na Espanha e em grande parte do Mediterrâneo, ela era usada para impermeabilizar navios, tratar queimaduras e acender tochas, entre outras coisas.

Mas, de acordo com Alejandro Chozas, professor do departamento de engenharia florestal da Universidade Politécnica de Madrid, foi somente nos séculos 19 e 20 que a extração de resina de pinheiro se tornou lucrativa naquela região espanhola.

Quando a tecnologia e a industrialização ajudaram a transformar essa seiva espessa em plásticos, vernizes, colas, pneus, borracha e até aditivos alimentares em meados do século 19, os proprietários das densas florestas de pinheiro de Castilla y León enxergaram uma oportunidade.

Trabalhadores começaram a cortar a casca dos pinheiros resinosos em toda a região para coletar a valiosa seiva. E embora este lento processo tenha parado em grande parte do mundo, na última década ele vem tendo um renascimento em Castilla y León, o lugar com mais fabricantes de resinas em toda a Europa e um dos últimos no continente onde esta prática persiste.

Nos séculos 19 e 20 a extração de resina de pinheiro se tornou lucrativa na região de Tierra de Pinares e da Sierra de Gredos — Foto: SUSANA GIRÓN
Nos séculos 19 e 20 a extração de resina de pinheiro se tornou lucrativa na região de Tierra de Pinares e da Sierra de Gredos — Foto: SUSANA GIRÓN

Da 'morte' à 'vida'

Mariano Gómez nasceu em Ávila e trabalhou durante 32 anos na extração de resina de pinheiro.

"Meu pai era produtor de resina e eu aprendi com ele. No começo ele usava machados de lenhador, mas minhas mãos doíam muito. Hoje as ferramentas são mais bem projetadas para cada tarefa, (mas ainda assim) são manuais", explica.

O processo de extração permaneceu praticamente inalterado desde o início desta atividade, mas os fabricantes de resina de hoje criaram ferramentas mais eficientes e ergonômicas, bem como produtos químicos que estimulam a secreção de resina.

A seiva espessa e leitosa da resina é usada para fazer plásticos, vernizes, colas, pneus, borracha e até mesmo aditivos alimentares — Foto: SUSANA GIRÓN
A seiva espessa e leitosa da resina é usada para fazer plásticos, vernizes, colas, pneus, borracha e até mesmo aditivos alimentares — Foto: SUSANA GIRÓN

Como resultado, os rendimentos e a produtividade aumentaram muito. O que também mudou foi que, no passado, a extração da resina era feita até que as árvores morressem, usando métodos muito agressivos.

Mas, há algum tempo houve uma mudança "para a vida", com uma prática em que o número de incisões na casca é minimizado, reduzindo os danos à árvore.

Nos meses mais quentes de março a novembro, os produtores locais extraem cuidadosamente a resina dos pinheiros, removendo primeiro a camada externa da casca da árvore.

Eles pregam um suporte e colocam um recipiente de coleta. Os puxadores então usam seus machados para fazer incisões diagonais na casca, fazendo com que as árvores "sangrem" e fazendo com que sua resina vaze para o balde. Quando estão cheios, despejam a seiva em recipientes de 200 kg.

Trabalhadores pregam um suporte e colocam um recipiente de coleta da resina dos pinhos. — Foto: SUSANA GIRÓN
Trabalhadores pregam um suporte e colocam um recipiente de coleta da resina dos pinhos. — Foto: SUSANA GIRÓN

Os produtores enviam a substância para fábricas de destilação, que extraem a terebintina da resina de aparência viscosa e amarelada que solidifica quando resfriada, virando brilhantes pedras âmbar.

Orgulho local

Durante o boom da extração da resina do pinheiro na Espanha em 1961, quando 55.267 toneladas foram extraídas, mais de 90% vieram das florestas de Castilla y León. A falta de demanda e a queda brusca dos preços levaram a produção a cair e quase desaparecer na década de 1990. Muitos pensaram que esse seria o fim dessa tradição espanhola.

Em Castilla y León, a resina não é apenas um sustento econômico para as comunidades rurais, mas uma atividade que é passada de geração em geração. Muitas famílias têm pelo menos uma pessoa que "sangrou" árvores ou participou de sua destilação.

Grande parte da atividade econômica e social dessas cidades sempre foi marcada pela indústria da resina e as comunidades mantêm esse legado como parte importante de sua cultura.

Uma alternativa ecológica ao petróleo?

De acordo com vários estudos, no ritmo atual de extração, as reservas de petróleo da Terra deverão se esgotar por volta de 2050.

Blanca Rodríguez-Chaves, vice-reitora da Faculdade de Direito da Universidade Autônoma de Madrid e especialista em políticas ambientais, acredita que a resina pode ser uma alternativa. Ela argumenta que a maioria dos produtos derivados do petróleo, como o plástico, por exemplo, que não é biodegradável, também pode serem feitos de resina e se decompor com mais facilidade.

"A resina é o óleo do mundo de hoje e do futuro. A ideia é que todos os usos do óleo sejam substituídos pela resina", disse.

"Já se fabricam plásticos a partir da resina. (Se utiliza) na indústria cosmética e farmacêutica além de suas aplicações na construção ou na fabricação de vernizes e colas. A floresta é a grande fornecedora de recursos renováveis ​​e energia que permite para substituir os derivados de petróleo. A resina tem o papel principal", garantiu.

Alguns especialistas espanhóis dizem que a resina de pinheiro pode ser uma alternativa viável ao óleo — Foto: SUSANA GIRÓN
Alguns especialistas espanhóis dizem que a resina de pinheiro pode ser uma alternativa viável ao óleo — Foto: SUSANA GIRÓN

Retorno rural

Os defensores da resina de pinheiro também acreditam que ela pode oferecer uma solução para o êxodo rural da Espanha.

De acordo com um relatório do Banco da Espanha, 42% das localidades do país são afetadas pelo êxodo, porque cada vez mais jovens estão deixando o campo em busca de melhores oportunidades de trabalho nas cidades.

Este fenômeno é pior em Castilla y León, onde 80% dos municípios de 14 províncias são consideradas "em perigo de extinção". No entanto, devido ao novo interesse pela resina de pinheiro, alguns jovens começaram a regressar.

Guillermo Arranz é um deles. Ele vive e trabalha em Cuéllar (Segóvia) e faz parte da quarta geração de trabalhadores em resina da família.

"O pinhal é o meu escritório e a possibilidade de continuar a trabalhar no local onde nasci. O que mais gosto no meu trabalho é a liberdade de não ter patrão e, claro, o contato direto com a natureza e com a minha gente,ele disse.

Vicente Rodríguez trabalha como produtor de resina em sua cidade natal, Casavieja, e é um dos cerca de 30 produtores de resina em Ávila.

"Somos poucos. As pessoas ainda se surpreendem quando nos veem com resina nos pinheiros. Acham que somos coisa do passado. Mas não entendem que o futuro dessas áreas (está ligado) à resina", disse.

Isabel Jiménez é uma das poucas mulheres que extrai resina de pinheiro da região. Dada a dureza do trabalho, tradicionalmente o trabalho das mulheres se limitava a tarefas de apoio.

"Ainda me lembro quando comecei a trabalhar com resina, os homens faziam piadas e apostavam em quantas semanas isso duraria. E aqui estou eu três anos depois. Sou uma mulher fisicamente forte. Além de ser um estilo de vida para mim e uma fonte de renda, este é o meu reino. Meu pequeno pedaço de terra na Terra."

Quando Isabel Jiménez começou a trabalhar com resina há três anos, os homens pensaram que isso duraria apenas algumas semanas — Foto: SUSANA GIRÓN
Quando Isabel Jiménez começou a trabalhar com resina há três anos, os homens pensaram que isso duraria apenas algumas semanas — Foto: SUSANA GIRÓN

Autonomia no trabalho e turismo

Aproximadamente 95% da extração de resina de pinheiro na Espanha é realizada em Castilla y León. Arranz e Rodríguez acreditam que a melhor forma de preservar essas florestas antigas é dar maior controle aos próprios extratores.

"O futuro é permitir que os produtores de resina administrem (seu) próprio território. Se o governo nos desse ajuda em troca da limpeza ou monitoramento das montanhas, trabalharíamos o ano todo e haveria muito mais trabalhadores de resina dispostos a trabalhar no montanhas", disse Rodriguez.

Ao atrair mais jovens para morar e trabalhar nessas cidades rurais, Rodríguez acredita que a região poderá ter um aumento do ecoturismo. Para ajudar a tornar isso uma realidade, a área rica em resina do Vale do Tiétar (Ávila) foi recentemente indicada para se tornar uma Reserva da Biosfera protegida pela Unesco.

Existem também vários museus onde os visitantes podem ver as tradicionais cabanas onde dormiam os primeiros trabalhadores e apreciar ferramentas antigas, e várias empresas oferecem visitas guiadas à "Rota da Resina".

Nos fins de semana, essas exuberantes florestas podem ser preenchidas com o som dos passos dos turistas que vêm para fugir da agitação das cidades próximas.

Mas se você prestar atenção, poderá ouvir a gota do "ouro líquido" espanhol caindo nos baldes pendurados nos troncos das árvores.

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Nove limites mantêm equilíbrio da Terra; veja 4 já ultrapassados

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Ultrapassar os limites definidos por um grupo internacional de especialistas coloca em risco a estabilidade do planeta e a sobrevivência da humanidade.
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TOPO
Por Ana Pais, BBC

Postado em 09 de novembro de 2021 às 17h10m

Post.- N.\ 10.073

Quão perto estamos de quebrar o equilíbrio natural e a resiliência da Terra? — Foto: Getty Images via BBC
Quão perto estamos de quebrar o equilíbrio natural e a resiliência da Terra? — Foto: Getty Images via BBC

Há cerca de 11 mil anos, algo sem precedentes nos últimos 100 mil anos de história da Terra aconteceu: o clima do planeta tornou-se estável.

Esta era geológica, com temperaturas previsíveis, foi batizada de Holoceno e permitiu à humanidade desenvolver a agricultura, domesticar animais e basicamente criar o mundo moderno no qual vivemos hoje.

Porém, nesse processo também extinguimos espécies e danificamos ecossistemas, poluímos o ar, a água e o solo e ainda desencadeamos a crise das mudanças climáticas.

Em outras palavras, forçamos a entrada no Antropoceno, a era geológica atual em que os humanos são os principais responsáveis ​​pelas mudanças no planeta.

É neste contexto que um grupo internacional de cientistas, liderado pelo sueco Johan Rockström, do Centro de Resiliência de Estocolmo, começou a investigar o risco que corremos ao quebrar o equilíbrio natural e a capacidade de resiliência da Terra.

Seu influente estudo, publicado em 2009, definiu nove limites ou parâmetros interconectados que são essenciais para manter a estabilidade do planeta.

Os 9 limites do planeta — Foto: BBC
Os 9 limites do planeta — Foto: BBC

"Cada um desses aspectos é muito relevante individualmente, mas também é muito importante vê-los como um todo", diz Arne Tobian, pesquisador do centro, à BBC News Mundo.

Além da identificação destes nove processos, os peritos definiram medidas quantitativas muito específicas para cada um deles. Os especialistas delimitaram uma área de atuação segura e uma área de risco, que por sua vez está a crescer em perigo.

Se não cruzarmos essas fronteiras, dizem eles, a humanidade poderá prosperar por gerações.

Os resultados desse estudo colossal foram levados às telas em um documentário recente da Netflix chamado "A Terra no Limite: A Ciência do Nosso Planeta" e tornou-se especialmente relevante no âmbito da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), cujo objetivo é fazer com que o mundo aja rapidamente diante de uma crise que se conhece há décadas e cuja margem de ação é cada vez menor.

OS 9 LIMITES DO PLANETA

Dos nove limites planetários, já cruzamos quatro (os quatro primeiros listados abaixo), há três dentro da zona de segurança (por enquanto) e dois ainda são uma grande incógnita.

1. Mudanças climáticas

Um dos quatro limites que já ultrapassamos é talvez o mais conhecido de todos: as mudanças climáticas.

Desde a Revolução Industrial, a temperatura global aumentou 1,1°C. Esse aumento é responsável pelos eventos climáticos extremos que ocorrem com frequência crescente em todo o mundo, como secas e inundações.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), hoje temos cinco vezes mais desastres meteorológicos do que em 1970 e eles provocam custos sete vezes maiores do que naquela época. As consequências são mais devastação e mais mortes.

A comunidade científica afirma que, para evitar que as consequências das mudanças climáticas sejam ainda piores, é necessário que o aumento da temperatura fique em torno de 1,5ºC.

Secas como a atual no rio Paraná, que atinge vários países da América do Sul são cada vez mais frequentes devido às mudanças climáticas — Foto: Getty Images via BBC
Secas como a atual no rio Paraná, que atinge vários países da América do Sul são cada vez mais frequentes devido às mudanças climáticas — Foto: Getty Images via BBC

Porém, se continuarmos como estamos hoje, até o final deste século, o aumento pode chegar a 4,4°C, o que seria catastrófico.

"O drama é que o desafio da mudança climática pode ser o mais fácil (de resolver), se considerarmos o desafio do desenvolvimento sustentável em conjunto", disse Rockström, ao apresentar seu estudo em uma palestra TED em 2010.

Como se não bastasse, a mudança climática é um dos dois limites planetários considerados centrais por sua influência em todo o sistema.

2. Integridade da biosfera

A integridade da biosfera, ou seja, a perda da biodiversidade e a extinção de espécies, é outro dos limites centrais.

Porém, ao contrário das mudanças climáticas, esse processo já ultrapassou a zona de risco crescente e está diretamente na zona de alto risco. Isso aumenta as chances de gerar mudanças ambientais irreversíveis em grande escala.

Excedemos tanto esse limite que alguns pesquisadores acreditam que estamos no meio da sexta extinção em massa da história do planeta.

Para ter uma ideia, as extinções em massa foram períodos em que 60 a 95% das espécies foram exterminadas.

Um milhão de espécies animais e vegetais estão em perigo de extinção — Foto: Getty Images via BBC
Um milhão de espécies animais e vegetais estão em perigo de extinção — Foto: Getty Images via BBC

No documentário da Netflix, Rockström diz que não deveríamos perder nenhuma biodiversidade e espécies no próximo ano.

O desafio é monumental, se levarmos em conta que, atualmente, das 8 milhões de espécies de animais e plantas que habitam o planeta, 1 milhão estão sob risco de extinção.

No entanto, é um esforço necessário: ter ecossistemas saudáveis ​​nos proporciona ar puro, solos férteis, água doce, plantações polinizadas, matéria-prima para novos medicamentos e muito mais.

3. Mudança de uso do solo

O uso do solo é outro dos limites que ultrapassamos e consiste na transformação de florestas, pastagens, pântanos, tundras e outros tipos de vegetação, principalmente em terras para agricultura e pecuária.

O desmatamento, por exemplo, tem um impacto enorme na capacidade de o clima se regular. Algo que os especialistas repetem sempre quando há incêndios na Amazônia.

Mas a mudança no uso da terra também é um dos impulsionadores de graves declínios na biodiversidade, principalmente por causa da crescente demanda por terras para a produção de alimentos.

Na verdade, um dos desafios de sustentabilidade de hoje é como alimentar os quase 8 bilhões de pessoas que vivem no planeta (e os mais 2 bilhões que estarão em 2050), sem tirar mais espaço da natureza.

4. Fluxos bioquímicos

A quarta e última fronteira, já ultrapassada, é a dos fluxos bioquímicos, que engloba principalmente os ciclos do fósforo e nitrogênio.

Agricultura representa 70% do uso de água doce do planeta — Foto: GEORGE ROSE/GETTY IMAGES
Agricultura representa 70% do uso de água doce do planeta — Foto: GEORGE ROSE/GETTY IMAGES

Embora ambos os elementos sejam essenciais para o crescimento das plantas, seu uso excessivo em fertilizantes as coloca em uma zona de risco.

Um dos problemas que isso gera é que parte do fósforo e do nitrogênio aplicados às plantações são levados para o mar, onde empurram os sistemas aquáticos para cruzar seus próprios limites ecológicos.

5. Destruição do ozônio estratosférico

Dos nove processos, há apenas um no qual a humanidade agiu com sucesso ao ver os sinais de alerta: a redução do ozônio na estratosfera.

Mais de 30 anos atrás, o mundo inteiro concordou em banir os clorofluorcarbonos (CFCs), substâncias químicas que estavam causando um "buraco" na camada de ozônio.

As consequências da perda dessa camada de proteção vão desde a multiplicação dos casos de câncer de pele até danos ambientais irreversíveis.

O Protocolo de Montreal, em vigor desde 1989, proibe o uso de certas substâncias para proteger a camada de ozônio, vital para conter a radiação ultravioleta do sol — Foto: Getty Images via BBC
O Protocolo de Montreal, em vigor desde 1989, proibe o uso de certas substâncias para proteger a camada de ozônio, vital para conter a radiação ultravioleta do sol — Foto: Getty Images via BBC

Depois do famoso Protocolo de Montreal, o ozônio estratosférico vem se recuperando, o que hoje nos permite ficar calmos dentro da zona segura para esse processo.

6. Uso da água doce

Embora o uso de água doce esteja atualmente dentro da área de ação segura, estamos avançando rapidamente em direção à zona de risco, diz Rockström no documentário.

A Terra pode ser vista como um ponto azul a partir do espaço, mas apenas 2,5% da é água doce. Esse percentual está diminuindo principalmente devido à já mencionada pressão crescente da agricultura para produzir cada vez mais alimentos.

É importante destacar que, embora a dessalinização seja possível, ela consome muita energia que, em geral, vem dos mesmos combustíveis fósseis que contribuem para as mudanças climáticas. Como se não bastasse, esse processo é fonte de contaminação dos ecossistemas costeiros.

7. Acidificação do oceano

Com a acidificação do oceano, acontece algo semelhante ao impacto na água doce: o limite ainda não foi ultrapassado, mas estamos perigosamente próximos.

O branqueamento de corais os expõe a doenças e já desencadeou eventos massivos de morte desses organismos em todo o mundo — Foto: Getty Images via BBC
O branqueamento de corais os expõe a doenças e já desencadeou eventos massivos de morte desses organismos em todo o mundo — Foto: Getty Images via BBC

O problema é que seus efeitos ficam justamente escondidos sob a água, por exemplo, com a morte de corais.

Esse processo em particular apresenta uma camada extra de risco, já que várias das extinções em massa na história tiveram a acidificação dos oceanos como um gatilho.

Nos últimos 200 anos, a água do oceano tornou-se 30% mais ácida, uma taxa de transformação química 100 vezes mais rápida do que a registrada nos últimos 55 milhões de anos.

Esse limite está tão intimamente ligado à mudança climática que costuma ser chamado de seu "gêmeo do mal".

A boa notícia é que, se as metas de mudanças climáticas ratificadas na COP26 forem cumpridas, o pH do oceano será mantido sob controle.

8. Carregamento de aerossóis atmosféricos

Ainda há dois limites para mencionar que não estão em nenhum dos lados da fronteira. E que os cientistas não sabem como medi-los.

"Não existe uma linha de base dos últimos 11 mil anos para esses processos, porque eles são novos", explica Tobian.

Respirar ar altamente poluído é responsável por cerca de 800 mil mortes prematuras a cada ano — Foto: Getty Images via BBC
Respirar ar altamente poluído é responsável por cerca de 800 mil mortes prematuras a cada ano — Foto: Getty Images via BBC

Uma delas é a contaminação da atmosfera com aerossóis de origem humana, ou seja, partículas microscópicas geradas principalmente pela queima de combustíveis fósseis, mas também por outras atividades, como incêndios florestais.

Esses aerossóis afetam tanto o clima (por exemplo, causam mudanças nos sistemas de monções em regiões tropicais), assim como os organismos vivos (cerca de 800 mil pessoas morrem prematuramente todo ano por respirarem ar altamente poluído).

9. Incorporação de novas entidades

O nono e último processo é a incorporação das chamadas "novas entidades".

Trata-se de elementos ou organismos modificados por humanos, assim como substâncias totalmente novas. Isso inclui uma lista de centenas de milhares de entidades que variam de materiais radioativos até microplásticos.

Mas talvez o melhor exemplo sejam os CFCs, ou seja, aquelas substâncias químicas que foram proibidas para salvar a camada de ozônio estratosférica..

A esperança como ação

O trabalho do Centro de Resiliência de Estocolmo não apenas alerta sobre as questões centrais que afetam o planeta. Também dá esperança.

"Sabemos qual é o problema e, ao mesmo tempo, sabemos quais seriam as possíveis soluções. Temos isso em mãos", disse Tobian à BBC Mundo.

O desafio é grande: nesta década que termina em 2030, a humanidade deve passar por uma transformação massiva.

No entanto, os cientistas dizem que é possível fazer isso com segurança.

São necessárias ações rápidas e audaciosas por parte de todos os governos do mundo, começando com o uso de energia renovável.

"Nosso vício em combustíveis fósseis está levando a humanidade ao limite", disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, esta semana na COP26.

"Chega de queimar, perfurar e cavar mais fundo. Estamos cavando nossa própria sepultura", acrescentou.

"Nosso clima está mudando", diz mural pintado em Glasgow, local onde ocorre a COP26 — Foto: Getty Images via BBC
"Nosso clima está mudando", diz mural pintado em Glasgow, local onde ocorre a COP26 — Foto: Getty Images via BBC

Ele assegurou ainda que "os países do G20 têm uma responsabilidade especial, visto que representam cerca de 80% das emissões", lembrando aos países desenvolvidos o seu compromisso (até agora não cumprido) de disponibilizar "100 bilhões de dólares por ano em financiamento climático, em apoio aos países em desenvolvimento".

No entanto, alcançar um mundo sustentável também requer mudanças no estilo de vida dos indivíduos.

Comer mais verduras, economizar energia, plantar árvores e optar por caminhar, pedalar ou usar o transporte público são medidas concretas que, segundo especialistas, fazem a diferença.

Em outras palavras, alcançar o desenvolvimento sustentável é possível e necessário, mas não é fácil. Como disse a ativista sueca Greta Thunberg, em um discurso antes da COP26 que se tornou viral: "A esperança não é blá blá blá. Esperança é dizer a verdade. A esperança é agir."

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Cientistas identificam atividade cerebral que desencadeia crises depressivas

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Atividade está relacionada com a região do striatum ventral, que gerencia emoções como a motivação.
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TOPO
Por Taíssa Stivanin, RFI

Postado em 09 de novembro de 2021 às 13h35m

Post.- N.\ 10.072

O cérebro humano tem cerca de 80 bilhões de neurônios que formam redes ou circuitos. — Foto: Getty Images
O cérebro humano tem cerca de 80 bilhões de neurônios que formam redes ou circuitos. — Foto: Getty Images

Um grupo de pesquisadores da Universidade de São Francisco, na Califórnia, fez uma descoberta que pode mudar o destino dos pacientes que sofrem de depressão severa e não respondem aos tratamentos convencionais. Tudo começou com a descrição do caso da americana Sarah, de 38 anos, relatado em um estudo publicado na revista Nature Medicine, no início de outubro. 

Os cientistas americanos implantaram cirurgicamente no cérebro de Sarah um pequeno dispositivo para detectar a atividade neuronal que desencadeava suas crises. O aparelho produz um estímulo elétrico profundo de seis segundos que irá perturbar a dinâmica cerebral que gera o processo depressivo.

A máquina foi instalada no hemisfério direito do cérebro da paciente e conectada através de dois eletrodos, posicionados em duas regiões: o striatum ventral, que gerencia emoções como a motivação, onde as ondas elétricas eliminaram sentimentos de depressão, e a amídala, que tem um papel preditivo na severidade dos sintomas.

A terapia é individualizada e, por hora, continua sendo experimental. O procedimento precisa passar pelas etapas que exigem um estudo clínico randomizado antes de ser submetido à aprovação para uso, o que pode demorar anos.

Para identificar a atividade neuronal específica à depressão de Sarah, os pesquisadores estimularam seu cérebro, de maneira intensiva, durante 10 dias. Eles instalaram os eletrodos em regiões diferentes perguntando, a cada vez, como ela se sentia, e se constatava alívio nos sintomas.

Eu me lembro do momento em que acharam o local exato, senti uma sensação de alegria e minha depressão, por alguns instantes, tornou-se um pesadelo distante, disse Sarah em um áudio gravado pela equipe durante a experiência, descrevendo o momento em que ela sentiu que a sensação depressiva estava sendo atenuada.

Os estudos mostram que cerca de 16% da população em geral terão um episódio depressivo durante a vida. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 264 milhões de pessoas sofrem do mal em todo o mundo. Desses pacientes, cerca de 50 poderão ter recaídas da doença e alguns serão resistentes aos tratamentos disponíveis, incluindo medicamentos ou métodos de estimulação cerebral, como a eletroconvulsoterapia.

Cientistas criam marca-passo cerebral para combater depressão; entenda estudo experimental
Cientistas criam marca-passo cerebral para combater depressão; entenda estudo experimental

Oscilações gama

A estimulação cerebral profunda na depressão é uma opção terapêutica usada em centros especializados há cerca de 16 anos. Mas, até agora, os estímulos elétricos eram contínuos, com parâmetros fixos, explica o psiquiatra francês Mircea Polosan, responsável do setor de patologias da emoção no hospital universitário de Grenoble, nos Alpes franceses.

A novidade do estudo da equipe americana, frisa o pesquisador francês, foi identificar as oscilações cerebrais gama, situadas na amídala, como sendo um biomarcador específico para a depressão, e adaptar o estímulo elétrico a essas oscilações.

A equipe descobriu, dessa maneira, uma correlação muito interessante entre um tipo de atividade neuronal, as oscilações gama, situadas na amídala, e a sensação subjetiva ligada à depressão, seja ela relacionada à tristeza ou à ansiedade, diz.

Em função da severidade dos sintomas de Sarah, explica, havia uma evolução na frequência das oscilações cerebrais. Foi possível identificar, dessa forma, um biomarcador relacionado à intensidade da vivência subjetiva do paciente, ressalta. Além disso, explica o especialista francês, a estimulação do striatum ventral, conectado à amídala, permitia modular a frequência gama e melhorar os sintomas clínicos de Sarah.

O tempo de estimulação é definido a partir do momento em que as ondas gama ultrapassam um certo limite. Os pesquisadores então concluíram que 300 estimulações curtas de seis segundos melhoravam bastante a depressão da paciente, com uma diminuição de cerca de 50% dos sintomas. Após 12 dias de tratamento, e alguns meses mais tarde, Sarah está em remissão, com projetos para o futuro.

Quando os pesquisadores implantaram o aparelho e ligaram pela primeira vez, minha vida mudou da água para o vinho. Hobbies que serviam apenas para me distrair dos pensamentos suicidas tornaram-se novamente um prazer. Eu me senti capaz novamente de tomar pequenas decisões sobre o que comer, sem ficar bloqueda em um mar de indecisão por horas, descreve Sarah.

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