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Postado às 08h50m
Para muitos, motocicletas e automóveis são objetos do desejo, instrumentos de autoafirmação e símbolos de sucesso. É exatamente para este grupo de apaixonados que a indústria reserva o que há de mais sofisticado sobre duas ou quatro rodas.
Não é incomum a mesma marca produzir motos e carros. As japonesas Honda e Suzuki são bons exemplos de produção em larga escala de vários tipos de veículos. A francesa Peugeot é outro notório exemplo de atuação em duas frentes, sendo conhecida pelos seus carros e, ao menos na Europa, também por scooters de design caprichado.
A mais antiga marca em atividade a ter esta dupla atividade é a alemã BMW. Seu sucesso, potencializado nas últimas duas décadas, serviu de inspiração para alguns concorrentes.
É inegável que a indústria automobilística alemã tem um padrão de qualidade mundialmente invejado. Marcas como Audi, Mercedes-Benz e a própria BMW são hoje produtoras de “sonhos sobre rodas”. Há pouco tempo, apenas a BMW era capaz de oferecer a seus clientes sofisticação seja com volante ou guidão.
Entrada em novos segmentos
Tal realidade mudou quando, em uma ação definida por muitos como um verdadeiro golpe de mestre”, a Audi – divisão “premium” do poderoso Grupo Volkswagen –, adquiriu a italianíssima Ducati, notória fabricante de motos esportivas vitoriosas em diversas modalidades nas pistas de competição.
A compra da Ducati pela Audi foi um duro golpe para outros alemães, os do forte grupo Daimler. Por meio de seu braço esportivo AMG, que elabora os Mercedes-Benz mais apimentados, o grupo era patrocinador da equipe Ducati na categoria mais importante do motociclismo, a MotoGP, e por conta disso imaginava estar na “pole position” para incluir a marca italiana em seu portfólio.
O fato de ter sido largada no altar pelo fundo de investidores Investindustrial, capitaneado pela família Bonomi, donos da Ducati, não esmoreceu as intenções da AMG.
Em seguida, começaram as conversas entre os dirigentes da AMG e Claudio Castiglioni, dono da talvez mais lendária marca de motocicletas italiana, a MV Agusta. No final de 2014, a AMG anunciou a compra de 25% da MV Agusta, conseguindo finalmente conquistar algum espaço no segmento de duas rodas.
Por que comprar uma marca?
Para empresas poderosas como a Daimler (dona da marca Mecedes-Benz e AMG, entre outras) e o Grupo Volkswagen (Audi, Skoda, Lamborghini…) ter uma pequena marca de motocicletas interessa para quê? A resposta não é tão simples.
Além de agregar valor ao grupo, a compra tem outras vantagens, que vão desde a diversificação dos negócios até a possibilidade de ter em mãos a tecnologia desenvolvida por empresas que atuam mais como artesãs do que como indústrias.
Durante anos Audi, BMW e Mercedes-Benz brigaram por um mesmo tipo de cliente, interessado em ter um automóveis “invejáveis” em qualquer lugar do planeta. A diferença entre os carros destas marcas estava nos detalhes, e a “exótica” atividade da BMW, produzir motocicletas que se destacavam por um profundo conservadorismo tecnológico, não fazia diferença.
Equipadas com o clássico motor boxer, arquitetura idêntica à do mesmo bicilindro da primeira moto BMW de 1923, a R32, a marca de Munique atendia um nicho de público pequeno e conservador. Suas motos contrastavam com os carros BMW, tecnologicamente mais arrojados, além de ousados em termos de design.
Tal panorama começou a mudar, devagarinho, no final da década de 1980 para ganhar força na década seguinte, quando ao lado das motos BMW tradicionais foram colocadas à venda versões inovadoras com motores de três, quatro e até seis cilindros em linha (a série K).
Mais um pouco de tempo e, em 2009, surgiria a máquina que é o cartão de visitas da capacidade da BMW, a S 1000 RR, uma superesportiva ao nível das mais ardidas motocicletas italianas ou japonesas.
O lançamento desta motocicleta comparável aos furiosos BMW M3 e M5 fez as coisas se precipitarem: Audi e Mercedes-Benz tinham sedãs, cupês e conversíveis de sonho muito competitivos, mas a atração que motocicletas modernas e sofisticadas exerciam sobre novos clientes levaram para a BMW gente mais jovem, muito interessada em veículos de alto nível sem se importar com o número de rodas.
Ao levar um carro para a garagem, uma moto poderia vir junto, ou vice-versa, e as boas vendas da BMW tanto em duas como em quatro rodas confirmaram o acerto desta estratégia. Assim, a Ducati é da Audi desde 2012, e uma fatia da MV Agusta é da AMG desde o fim de 2014.
Mudanças nas marcas menores
Sábios, os executivos alemães da Audi não mexeram uma vírgula na italiana Ducati, que continuou na sede de Borgo Panigale, nos arredores de Bolonha, e com uma direção toda “made in Italy”.
Para observadores próximos, a diferença da Ducati antes de ser vendida para os alemães para o atual momento não está no produto, mas sim na organização industrial e no pós-venda, agora mais atento.
Em relação à MV Agusta, ainda é cedo para verificar o quanto a parceria com a AMG resultará – se resultará – em mudanças. Todavia, ao menos uma boa notícia desta sinergia ítalo-alemã já pôde ser comemorada: no final de semana passado as MV Agusta F3 675 da equipe oficial da marca fizeram dobradinha na primeira etapa do Mundial de Supersport disputada em Philip Island, na Austrália.
Tanto em Affalterbach, sede da AMG, como em Varese, berço da MV Agusta, risadas de satisfação e o barulho da caixa registradora se fizeram ouvir com a vitória dos dois primeiros lugares diante de um batalhão de Hondas e Kawasakis.
Afinal, para marcas que baseiam sua imagem em esportividade e na tecnologia obtida nas pistas de competição, o mote "vencer no domingo, vender na segunda" é o fundamento do negócio.
Fotos: Ducati Panigale e Audi R8; BMW S 1000 RR; MV Augusta F3 675; show room da BMW; linha de montagem da MV Agusta.
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