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Apesar de naturais, sincronicidade dos fenômenos é considerada incomum.
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Segundo os especialistas, as causas pontuais destes dois eventos extremos são relativamente fáceis de serem apontadas. No caso da cheia da Bacia Amazônica, ela ainda estaria ligada ao fenômeno conhecido como “La Niña”, uma redução da temperatura da superfície na faixa equatorial do Oceano Pacífico que provoca mais chuvas na região. Apesar de a Organização Mundial de Meteorologia (WMO, na sigla em inglês) ter declarado seu término esta semana, a influência da “La Niña” fez aumentar a precipitação em dezembro, janeiro e fevereiro na parte Oeste do Norte da América do Sul. Agora, toda essa água já desceu os Andes e as calhas dos rios afluentes, elevando o nível do Rio Negro. Já no caso do Nordeste, é o resfriamento do Oceano Atlântico que está provocando o surgimento de sistemas de alta pressão atmosférica que invadem o continente, impedindo a formação de nuvens e, consequentemente, as chuvas.
Embora os cientistas evitem afirmar que o aumento na frequência de eventos extremos esteja diretamente relacionado às mudanças climáticas, eles admitem que isso pode ser um sinal de que os modelos sobre a influência da ação humana no clima estão corretos.
— Tanto a cheia no Norte quanto a seca no Nordeste são fenômenos de causas naturais, que já aconteceram antes – diz José Marengo, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). — O que é incomum, porém, é a sincronicidade que estamos vendo este ano. Normalmente, as duas regiões costumam se comportar de forma similar, com a “La Niña” provocando mais chuvas em ambas. Assim, o estranho neste ano é que a “La Niña” tomou conta da Amazônia, enquanto a situação no Atlântico Tropical Sul influenciou o Nordeste. E este tipo de divisão que leva a extremos de ambos os lados da região tropical da América do Sul é o que os modelos climáticos preveem que vai acontecer no futuro.
Javier Tomasella, coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), segue a mesma linha. Segundo ele, a situação é “inusitada”, com o recém-criado órgão tendo que lidar com casos opostos de muita e falta de chuvas em duas regiões vizinhas.
— A rigor, não temos indícios suficientes para afirmar as mudanças climáticas estão alimentando este processo — conta. — Sabemos que os dois eventos extremos estão ligados à temperatura na superfície dos oceanos, mas o caráter dinâmico dos fenômenos climáticos faz com que se tenha uma incerteza muito grande quanto a suas causas. O fato, porém, é que fenômenos que deveriam ocorrer uma vez por século estão se repetindo a cada quatro ou cinco anos. E o por que disso é a grande pergunta que a gente tem.
De olho na gravidade da situação, os técnicos do Cemaden, Inpe, e outros órgãos, junto com representantes das defesas civis das duas regiões, vão se reunir hoje para nova avaliação, que será apresentada à Casa Civil.
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