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domingo, 28 de agosto de 2011

Diplomacia e parcerias comerciais cercam a megaprodução de Roberto Carlos em Jerusalém



Muro das Emoções do Rei


CULTURA -- NOTÍCIAS e INFORMAÇÃO.



Daniela Kresch
Palco de R$ 600 mil onde Roberto Carlos cantará
))*!-=-!*(( TEL AVIV - Nas curvas da estrada de Tel Aviv para Jerusalém, o "Rei" já está presente. Bandeirolas com o rosto de Roberto Carlos enfeitam os postes na entrada da cidade sagrada, onde o cantor se apresenta, em show único, no dia 7 de setembro, para um público estimado em 5,5 mil pessoas num anfiteatro colado às muralhas da Cidade Velha. A menos de duas semanas da apresentação - que será gravada em tecnologia 3D e transmitida pela TV Globo no dia 10 de setembro, além de gerar um DVD -, o entusiasmo não para de crescer entre os produtores, os 300 técnicos brasileiros e locais, os cerca de 1,5 mil fãs que vão à Terra Santa só para o evento - a empreitada incluía levar 3 mil, mas não havia logística possível - e a comunidade de 15 mil brasileiros em Israel. Afinal, não é todo dia que o autor da música "Jesus Cristo" canta na cidade onde o próprio viveu e morreu.

Saia-justa com data e repertório
O übershow contará com um cenário grandioso, de 14 metros de altura, avaliado em cerca de R$ 600 mil, e um palco de 40 metros de fundo reproduzindo os principais pontos religiosos da Cidade Velha: o Muro das Lamentações, a Igreja do Santo Sepulcro e a Mesquita de Al-Aqsa. Mas a apresentação não vai acontecer sem uma pitada de polêmica, como é de praxe no Oriente Médio. A data e o repertório não agradaram aos diplomatas brasileiros em Israel. Afinal, todo ano, o 7 de Setembro é reservado para a comemoração oficial do Dia da Independência na residência do embaixador, em Herzelyia (ao norte de Tel Aviv), com as presenças de autoridades locais e convidados internacionais.

Este ano, por causa do show de Roberto, o coquetel teve que ser adiantado para as 17h - de modo a evitar o forfait de quem já comprou ingresso para o concerto, às 20h, e para que a própria embaixadora, Maria Elisa Berenguer, possa comparecer.

- Todo artista tem liberdade para marcar shows quando bem entende. Neste caso, trata-se de uma feliz coincidência - diz, apaziguadora, a embaixadora Maria Elisa. - Afinal, o Roberto representa o Brasil, mesmo que não oficialmente.

Justamente por ser um "representante informal" do país é que alguns diplomatas desaprovam a intenção do Rei de cantar, em hebraico, uma das músicas mais populares em Israel: "Jerusalém de Ouro". O Coral da Hebraica de São Paulo até já gravou um acompanhamento da canção para o show. A música é um hino de amor à cidade milenar, composto pouco antes da Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando Israel conquistou, da Jordânia, a parte Oriental de Jerusalém. Para alguns, ao cantar a música, Roberto Carlos estaria demonstrando apoio à ocupação dessa parte da cidade, onde moram, hoje, cerca de 250 mil palestinos, principalmente se subir ao palco com seu tradicional modelito azul e branco - cores da bandeira de Israel.

- Não acho ruim que ele cante em hebraico, acho até um gesto simpático. Cantar em inglês não quer dizer apoiar a política americana ou britânica, por exemplo. Mas, como boa parte dos moradores de Jerusalém fala árabe, seria interessante se ele cantasse também em árabe - acredita a embaixadora.

Talvez por causa dessa controvérsia é que Roberto tenha se mostrado um tantinho hesitante em entrevista publicada na sexta-feira pelo jornal israelense "Yedioth Aharonoth" ("Últimas Notícias"), o maior do país. No texto, o Rei parece estar repensando o ato de colocar a mão na cumbuca do conflito entre israelenses e palestinos. Há anos, alguns artistas preferem não se apresentar em Israel para evitar esse tipo de problema, sem contar os que ativamente boicotam o país.

"Aprendi a cantar 'Jerusalém de Ouro' em hebraico, mas não tenho a certeza se vou cantá-la. Por enquanto procuro outras músicas de amor em hebraico", disse o cantor ao repórter Nevo Ziv, que foi levado ao Rio pela produção do show, passando três dias em uma imersão de Roberto Carlos.

Para o produtor israelense do show, o poderoso empresário Shuki Weiss, é preciso deixar a política de lado, mesmo que Roberto tenha marcado um encontro com o veterano presidente israelense Shimon Peres no dia 1 de setembro, assim que colocar os pés na Terra Santa.

- Toda a história por trás da vinda dele a Jerusalém é fazer uma apresentação na cidade sagrada para tantas religiões, pessoas e nações. O investimento que está sendo feito no palco e no cenário trata da harmonia entre os povos e da possibilidade de que vivamos juntos, muçulmanos, cristãos e judeus - alega Weiss. - A produção do cantor não está economizando em nada, sendo rigorosa nos detalhes para espelhar o multiculturalismo de Jerusalém.

O cantor brasileiro também vai receber, do patriarca latino de Jerusalém, Fouad Twal, a condecoração de Cruz do Mérito, a mais alta comenda da Igreja Católica em Israel, além de produzir um especial que será vendido em 115 países e lançar o livro "Rei", com mais de 500 páginas com fotos de sua trajetória.

Além do horizonte da questão política, a produção de Roberto enfrenta a realidade do Oriente Médio, que preocupa os quase 1,5 mil fãs do cantor que já compraram pacotes para uma viagem de cinco dias à Terra Santa, a preços que variam de US$ 3,4 mil (R$ 5,5 mil) a US$ 14,2 mil (R$ 22,8 mil). 

Segundo a produção, apenas jornalistas foram convidados a ir do Brasil para Israel. Os outros conterrâneos do Rei presentes, incluindo famosos como o humorista Tom Cavalcante e o empresário José Victor Oliva, custearam as próprias viagens. Além de assistir à apresentação, os fãs-peregrinos irão conhecer pontos de turismo cristão como a Galileia, o Mar Morto e Nazaré. Há dez dias, uma série de atentados terroristas abalou o Sul de Israel e levou as forças de segurança locais a aumentar o nível de alerta por todo o país para possíveis ataques.

Projeto pode continuar
Além de agradecer às parcerias diversas - a própria produção admite que, sem elas, a conta jamais fecharia -, o empresário Dody Sirena e os súditos do Rei não deixam de sonhar: se o saldo da conquista do Oriente Médio for considerado positivo, a intenção é levar o espetáculo a um lugar diferente a cada ano, mais ou menos como acontece com o cruzeiro Emoções a Bordo, que há oito anos leva os fãs de Roberto Carlos para balançar em alto-mar.

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