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Preocupação de investidores puxam índices de ações para baixo dias depois da quebra de dois bancos norte-americanos assustarem o mercado financeiro.<<<===+===.=.=.= =---____-------- ----------____---------____::____ ____= =..= = =..= =..= = =____ ____::____-----------_ ___---------- ----------____---.=.=.=.= +====>>>
Por Isabela Bolzani, g1
Postado em 15 de março de 2023 às 14h45m
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Fachada do banco suíço Credit Suisse em frente a uma filial em Berna,
Suíça, em 29 de novembro de 2022. — Foto: REUTERS/Arnd Wiegmann/File
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O mercado de ações global começou o dia em queda nesta quarta-feira (15), com um novo temor de crise no sistema bancário. Depois das turbulências causadas pela quebra do banco norte-americano Silicon Valley Bank (SVB), os ânimos voltaram a azedar com notícias ruins envolvendo o suíço Credit Suisse.
Depois de resultados ruins apresentados no trimestre passado, o banco foi informado que seu principal acionista, o Saudi National Bank, da Arábia Saudita, não vai apoiar a instituição com um aumento de sua participação no capital.
As ações do Credit Suisse despencaram mais de 20% nesta quarta e trouxeram temores ao mercado sobre uma situação generalizada de crise bancária internacional. Além do Credit, concorrentes europeus viram as ações despencarem nesta manhã, também acima dos 10%.
- EUROPA: Índices acionários têm queda
- IBOVESPA: Acompanhe as movimentações do mercado
Para especialistas, a expectativa é que haja poucos efeitos diretos da crise para os bancos brasileiros. (saiba mais abaixo)
O movimento vem depois de dois bancos norte-americanos terem a falência decretada em um intervalo de três dias, aumentando as incertezas sobre a saúde do sistema bancário global.
Nos EUA, o resgate veio a galope: o Federal Reserve permitiu, por exemplo, que os bancos pudessem emprestar quantias "ilimitadas", desde que os empréstimos possam ser garantidos por títulos do governo seguros. Além disso, os reguladores também prometeram recuperar todos os depósitos de clientes do SVB e do Signature Bank mesmo acima do limite padrão de US$ 250 mil.
As medidas conseguiram estabilizar um pouco os mercados na terça-feira, mas a situação voltou a se complicar. Entenda abaixo a cronologia dos fatos e como essas notícias têm movimentado os mercados acionários ao redor do mundo.
Na última sexta-feira, o Silicon Valley Bank, banco norte-americano voltado para startups de tecnologia, foi tomado por reguladores bancários da Califórnia, que colocaram a instituição em recuperação judicial e liquidaram seus ativos.
A decisão dos reguladores veio após o SVB Financial Group, que tem o Silicon Valley Bank como segmento operacional, anunciar um aumento de capital por meio de venda de ações no valor de US$ 1,75 bilhão, na quarta-feira da semana passada (8).
Foi uma tentativa de driblar os efeitos da queda nos depósitos de startups em meio ao menor volume de financiamento disponível em venture capital — modalidade de investimento em que o dinheiro é aplicado em companhias em estágio inicial, esperando forte valorização no futuro.
"Isso só assusta as pessoas porque o Silicon Valley, historicamente, tem sido um banco muito forte e bem administrado. Se estão tendo problemas neste momento, as pessoas estão se perguntando o que dizer de outros bancos que são de menor qualidade e que não têm a reputação que o Silicon Valley Bank tem”, afirmou R.J. Grant, chefe de trading da Keefe, Bruyette & Woods, em Nova York à Reuters.
O quadro teve um impacto imediato nas ações do setor financeiro, com investidores já acendendo alertas sobre o sistema bancário internacional. Na própria sexta-feira, as bolsas europeias encerraram em baixa, com a queda liderada por ações de bancos — naquele dia, grandes bancos da Europa, como HSBC, Deutsche Bank, Barclays, Unicredit e Commerzbank registraram perdas de 2,6% a 7,4%.
Domingo, 12 de março – Signature Bank
Não suficiente, as preocupações dos investidores com o segmento deram uma escalada ainda maior durante o final de semana, quando reguladores norte-americanos fecharam mais um banco, o Signature Bank, de Nova York — marcando a terceira maior falência da história dos Estados Unidos.
O resultado foi explícito nas bolsas globais na segunda-feira (13), que recuaram mesmo após o Fed e o Tesouro dos EUA anunciarem uma série de medidas para estabilizar o sistema bancário do país: tanto os índices norte-americanos quanto os europeus fecharam o pregão em queda, mais uma vez puxados por ações do setor financeiro.
Terça-feira, 14 de março – Credit Suisse
O que parecia ser um dia um pouco mais calmo para os mercados acionários, com dados da inflação ao consumidor nos Estados Unidos reforçando a perspectiva de um aumento mais brando de juros por parte do Fed, logo tomou outro rumo.
Depois de seu balanço referente ao quarto trimestre do ano passado, o banco suíço Credit Suisse afirmou ter identificado “fraquezas materiais” nos controles internos de divulgação de resultados financeiros e disse que ainda não conteve a saída de clientes de sua base, que aumentaram para mais de 110 bilhões de francos suíços (o equivalente a US$ 120 bilhões).
Essa, no entanto, não foi a primeira adversidade enfrentada pelo banco, que já vinha de uma sequência de escândalos e questões legais há anos. Um dos eventos veio em 2021, por exemplo, quando o colapso da empresa britânica de serviços financeiros Greensill já havia levado US$ 10 bilhões de clientes do Credit Suisse.
Outro acontecimento veio no mesmo ano, quando o Archegos Capital Management deu um prejuízo de mais de US$ 5 bilhões ao banco suíço, após ter feito investimentos na ViacomCBS com recursos tomados por meio de empréstimos bancários feitos também com o Credit.
O banco ainda enfrentou uma investigação independente que concluiu que houve falhas na gestão de riscos da instituição e passou por fases de instabilidade e demissões de funcionários.
Mas a cereja do bolo veio nesta quarta-feira (15), com a notícia de que o maior investidor do Credit Suisse não poderia fornecer mais assistência financeira à instituição por questões regulatórias.
“Não podemos porque iríamos acima de 10%. É uma questão regulatória”, disse o presidente do conselho de administração do Saudi National Bank, Ammar Al Khudairy.
O banco saudita havia se comprometido a investir até 1,5 bilhão de francos suíços (US$ 1,5 bilhão) no Credit, após ter adquirido 10% de participação na instituição no ano passado por meio de um aumento de capital.
"Após o Saudi National Bank, principal acionista do Credit Suisse, descartar a hipótese de assistência financeira ao banco, o mercado passou a se preocupar ainda mais com a possibilidade de insolvência da instituição", afirmou o analista da Terra Investimentos, Luis Novaes.
Com isso, os papéis do Credit Suisse derretiam mais de 20% na manhã desta quarta-feira (15), e levaram junto os principais nomes do setor na Europa, como BNP Paribas e Deutsche Bank.
Diante de todo o cenário, as bolsas de valores ao redor do planeta foram penalizadas nesta quarta-feira (15). Na Europa, a queda era generalizada entre os índices acionários da região, que mais uma vez eram pressionados por ações do setor financeiro.
As bolsas de Londres, Frankfurt, Paris, Milão e Madri caíam mais de 2%. O quadro ainda se repetia nos Estados Unidos, com os três principais índices de Wall Street operando no vermelho. O Ibovespa também se contaminou com o clima de aversão a risco e cai mais que 1%.
Segundo Novaes, da Terra Investimentos, apesar da impressão de que os acontecimentos envolvendo o SVB e o Signature Bank estão contidos após o Fed ter anunciado medidas para aumentar a liquidez do sistema bancários norte-americano e de os grandes bancos ao redor do mundo parecerem "protegidos contra esse tipo de risco", a situação do Credit Suisse ainda preocupa investidores.
De acordo com o analista, o Credit é um dos cinco maiores bancos da Europa, considerado sistematicamente importante, e sua insolvência poderia ter grandes impactos no sistema financeiro.
"Apesar do SVB também ser um banco grande, sua exposição estava concentrada em um setor e suas perdas se tratam, sobretudo, de marcação a mercado de títulos públicos. O Credit Suisse é um banco muito maior e suas perdas são mais complexas, gerando dúvidas sobre a capacidade do governo suíço em 'salvá-lo' dessa situação", afirmou Novaes, da Terra Investimentos.
"Tendo em vista que seu fechamento daria início a uma série de eventos de grande prejuízo para o sistema financeiro e economia global, houve um aumento significativo do receio entre os investidores."
Outra preocupação, segundo os analistas consultados pelo g1, viria em eventuais efeitos desse cenário no quadro de juros de grandes economias, que há meses têm subido as taxas para tentar controlar a pressão inflacionária.
"O BCE [Banco Central Europeu] também enfrenta uma inflação persistente e o que pesa é que, ao mesmo tempo em que, por um lado, há um cenário que pressiona os banqueiros centrais a subir juros, por outro há uma instabilidade financeira que pede um corte de taxas", explica o economista-chefe do Banco Original, Marco Caruso.
"Então, imagino que o BCE deve fazer algo muito parecido com o que o Fed tem feito, de assegurar que qualquer eventual dificuldade que possa existir, como uma possível corrida bancária e um aumento de pedidos de retirada, serão garantidas pelo próprio banco central. É o que chamamos de emprestador de última instância: no limite da situação, o BC vai lá e honra os depósitos", completa Caruso, reiterando que uma solução privada — como um eventual aporte de capital — não é descartada.
Reflexos no Brasil
Apesar da pressão nos mercados acionários, os analistas consultados pelo g1 reforçam que a crise não deve respingar nos bancos brasileiros.
"Uma coisa que precisa ficar clara é que o nosso sistema financeiro é muito robusto, com um grau de alavancagem muito menor para os bancos. Aqui, então, o problema é mais indireto, mais no sentido de afetar preços de ativos, com um dólar mais forte, commodities em queda e bolsa caindo", diz Caruso.
“Ontem [terça] vimos uma recuperação de ações de bancos americanos regionais, que tiveram uma queda muito forte na segunda-feira. Hoje, esse setor bancário volta a ser pressionado”, afirmou a estrategista de ações da XP Investimentos, Jennie Li.
Segundo a analista, apesar de o evento do Credit Suisse não estar relacionado diretamente aos acontecimentos envolvendo o SVB, o banco já vinha tendo problemas há algum tempo e, diante das notícias recentes, as preocupações dos investidores com o setor financeiro mundial voltam a crescer. "Há o medo de que gere algum contágio também para outros setores ou mesmo para os grandes bancos americanos."
"Na nossa opinião, quando olhamos para os indicadores do setor, os bancos continuam com níveis de indicadores bastante saudáveis. A percepção é que SVB e Credit Suisse são eventos específicos. Mas, mesmo assim, o mercado volta a se preocupar com isso", disse Li.
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