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A inversão geomagnética desencadeou uma série de eventos dramáticos, desde a destruição da camada de ozônio até uma mudança violenta nos padrões climáticos da Terra. = =---____------- === ---- -----________::_____ _____= =..= = =..= =..= = =____ _____::________ --------- ==== -----------____---= =
Por Chris Fogwill, Alan Hogg, Chris Turney e Zoë Thomas, BBC
26/02/2021 10h35 Atualizado há 2 dias
Postado em 28 de fevereiro de 2021 às 08h00m
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Há 42 mil anos, o mundo enfrentou alguns séculos de condições apocalípticas causadas por uma reversão dos polos magnéticos da Terra combinada com mudanças no comportamento do Sol.
Essa é a principal descoberta de nosso novo estudo multidisciplinar, publicado na revista Science.
Esta última grande reversão geomagnética desencadeou uma série de eventos dramáticos que tem consequências de longo alcance para o nosso planeta.
O que se desenrolou parecia o enredo de um filme de terror: a camada de ozônio foi destruída, tempestades elétricas varreram os trópicos, ventos solares geraram espetáculos de luz (auroras), o ar ártico se espalhou pela América do Norte, os mantos de gelo e geleiras aumentaram e os padrões climáticos mudaram violentamente.
Durante esses eventos, a vida na Terra foi exposta à intensa luz ultravioleta. Neandertais e a megafauna foram extintos, enquanto os humanos modernos encontraram proteção em cavernas.
O polo norte magnético, para onde a agulha da bússola aponta, não tem localização permanente. Na realidade, geralmente oscila perto do polo norte geográfico — o ponto em torno do qual a Terra gira — ao longo do tempo devido aos movimentos dentro do núcleo do planeta.
Por razões que ainda não estão totalmente claras, os movimentos dos polos magnéticos às vezes podem ser mais extremos do que uma simples oscilação. Uma das migrações mais dramáticas desses polos ocorreu há cerca de 42 mil anos e é conhecida como o evento Laschamps, em homenagem à cidade francesa onde foi descoberto.
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O evento Laschamps tem sido observado em todo o mundo, inclusive recentemente a ocorrência foi verificada na Tasmânia, Austrália. Mas, até agora, não estava claro se essas mudanças magnéticas tiveram algum impacto no clima e na vida no planeta.
Nosso novo trabalho reúne várias evidências, sugerindo fortemente que os efeitos foram globais e de longo alcance.
Árvores kauri
As árvores kauri da Nova Zelândia revelaram um aumento prolongado nos níveis de radiocarbono atmosférico causado pelo colapso do campo magnético da Terra quando os polos mudaram. — Foto: Getty Images via BBC
Para investigar o que aconteceu, analisamos as antigas árvores Kauri da Nova Zelândia, que foram preservadas em turfas e outros sedimentos por mais de 40 mil anos.
Usando os anéis de crescimento anual das árvores kauri, fomos capazes de criar uma escala de tempo detalhada de como a atmosfera da Terra mudou durante este período.
As árvores revelaram um aumento prolongado nos níveis de radiocarbono atmosférico causado pelo colapso do campo magnético da Terra quando os polos mudaram. Isso forneceu uma maneira de vincular com precisão registros amplamente dispersos geograficamente.
"As árvores kauri são como a Pedra de Roseta, ajudando-nos a juntar os registros das mudanças ambientais em cavernas, núcleos de gelo e turfas ao redor do mundo", diz o professor Alan Cooper, que co-lidera este projeto de pesquisa.
Usando a escala de tempo recém-criada, pudemos mostrar que os cinturões de chuva do Pacífico tropical e os ventos ocidentais do Oceano Antártico mudaram abruptamente ao mesmo tempo, causando condições áridas em lugares como a Austrália.
Por sua vez, uma variedade de megafauna, incluindo os cangurus gigantes e wombatídeos, foi extinta.
Mais ao norte, a vasta camada de gelo Laurentide cresceu rapidamente no leste dos Estados Unidos e no Canadá, enquanto na Europa os neandertais foram extintos.
Modelo climático
Trabalhando com um programa de computador que simulava interações globais entre a química e o clima, investigamos o impacto de um campo magnético mais fraco e as mudanças na força do Sol.
É importante ressaltar que, durante a mudança magnética, a intensidade do campo caiu para menos de 6% do que é hoje. Uma bússola daquela época teria dificuldade em encontrar o norte.
Sem nenhum campo magnético, nosso planeta perdeu completamente seu escudo eficaz contra a radiação cósmica e muitas partículas penetrantes do espaço entraram na parte superior da atmosfera.
Além disso, o Sol experimentou vários "grandes mínimos solares", durante os quais a atividade foi muito menor, mas também mais instável, enviando inúmeras explosões solares massivas que permitiram que poderosos raios cósmicos ionizantes atingissem a Terra.
Nossos modelos mostraram que essa combinação de fatores teve um efeito amplificador.
Raios cósmicos de alta energia da galáxia e também enormes explosões de raios de erupções solares foram capazes de penetrar na alta atmosfera, carregando as partículas no ar e causando mudanças químicas que causaram a perda de ozônio estratosférico.
As simulações entre química e clima são consistentes com os movimentos ambientais observados em muitos arquivos de mudanças climáticas naturais.
Essas condições também teriam espalhado os espetáculos de luzes deslumbrantes da aurora pelo mundo; por vezes as noites podiam ser tão claras quanto o dia.
Sugerimos que mudanças dramáticas e altos níveis sem precedentes de radiação ultravioleta levaram os primeiros humanos a buscar refúgio em cavernas, o que explica o aparente florescimento repentino da arte rupestre em todo o mundo há 42 mil anos.
O evento Adams
Devido à coincidência de eventos cósmicos aparentemente aleatórios e mudanças ambientais extremas encontradas em todo o mundo há 42 mil anos, chamamos esse período de "Evento de Adams", uma homenagem ao grande escritor de ficção científica Douglas Adams.
Adams escreveu "O Guia do Mochileiro das Galáxias" e identificou "42" como a resposta para a vida, o universo e tudo mais.
Douglas Adams realmente gostava de algo grande e o mistério que resta é como ele sabia disso.
* Este artigo foi escrito por Chris Fogwill, Professor de Glaciologia e Paleoclimatologia na Universidade Keele; Alan Hogg, acadêmico da Universidade de Waikato; Chris Turney, professor de Ciências da Terra e Mudanças Climáticas; e Zoë Thomas, membro do Australian Research Council. O artigo apareceu originalmente no The Conversation e é publicado aqui sob uma licença Creative Commons.
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