A aposta maluca de um 'escultor de aromas' francês Michaël Moisseeff dedicou sua vida a desvendar os mistérios do olfato e a produzir, a partir de moléculas, todos os tipos de cheiros.
Por France Presse
11/08/2020 11h33 Atualizado há 4 horas
Postado em 11 de agosto de 2020 às 15h35m
Ele nunca usou uma roupa de astronauta, muito menos esteve no espaço, mas em seu laboratório do sudoeste da França, lotado de frascos, o "escultor de aromas" Michaël Moisseeff reconstituiu o cheiro... da Lua.
Com uma camisa florida e cabelos brancos amarrados para trás, este
homem de 66 anos, que estudou genética, dedicou sua vida a desvendar os
mistérios do olfato e a produzir, a partir de moléculas, todos os tipos
de cheiros, fragrâncias e infusões.
"Para recriar o cheiro de uma vegetação rasteira, por exemplo, é
preciso ir ao local primeiro. Há musgo? Líquen? Umidade? Faço um
inventário e reúno meus elementos como um pintor com sua paleta de
cores, depois trabalho nas proporções para tentar o máximo possível
refinar o resultado", explica o especialista.
Mas para a Lua, a Cidade do Espaço de Toulouse, precursora do projeto,
"não quis me pagar a viagem", brinca Moisseeff em sua casa, transformada
em um museu de mil aromas.
A única coisa que este "escultor de aromas", como ele mesmo se define,
pode fazer é recorrer às descrições de vários astronautas que caminharam
na Lua, como Neil Armstrong.
"Na ausência de oxigênio na Lua, ele obviamente não conseguiu sentir o
cheiro de nada, mas quando voltou ao módulo, o cheiro da poeira que
havia ficado em seu traje o lembrou da pólvora negra queimada dos velhos
rifles" de seis balas, afirma.
Carvão e enxofre
Como reproduzi-lo? Para isso, Moisseeff decidiu explodir pólvora negra
em seus frascos. Após várias tentativas frustradas e alguns sustos, ele
conseguiu "capturar" uma dose queimada.
Então, quando já tinha o cheiro desejado em mente, este alquimista do
século XXI reuniu vários elementos em seu laboratório, para obter um
resultado de notas metálicas, carbonáceas e sulfurosas que causam
cócegas tanto no nariz quanto na imaginação.
"Este cheiro enigmático reproduzido a partir das descrições de alguns
astronautas lembram aromas conhecidos como a pólvora dos canhões ou as
cinzas da chaminé, mas isso não quer dizer que existam esses elementos
na Lua", explica Xavier Penot, comunicador científico da Cidade do
Espaço.
"Sensação individual"
"Um cheiro ocorre quando uma molécula se liga a um receptor na mucosa
olfatória, gerando um sinal que provocará uma sensação", explica
Moisseeff.
"E essa sensação é absolutamente individual, dependendo da genética e
do que cada um tenha vivido", acrescenta, enfatizando que o ser humano
possui cerca de 260 receptores olfativos.
O "artista científico" trabalha há anos projetando instalações e
experiências olfativas em cabines telefônicas, cidades inteiras ou salas
de espetáculos, atendendo encomendas de museus, associações ou
empresas, e realiza treinamentos e palestras de "degustação de cheiros".
Seu próximo desafio? "Reconstruir o cheiro da Gioconda", um perfume da
época do Renascimento. "Um trabalho minucioso de pesquisa histórica",
comenta, empolgado.
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