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terça-feira, 5 de maio de 2020

Com pandemia, produção industrial tomba 9,1% e tem pior março desde 2002

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Trata-se também da queda mensal mais acentuada desde a greve dos caminhoneiros de maio de 2018 (-11%). Setor fechou o 1º trimestre no vermelho, com queda de 2,6% frente aos últimos 3 meses de 2019. 
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 Por Darlan Alvarega e Daniel Silveira, G1        
 05/05/2020 09h01  Atualizado há 34 minutos  
 Postado em 05 de maio de 2020 às 10h00m  

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Produção de veículos caiu 28% em março e foi segmento que exerceu maior pressão no resultado setor, segundo o IBGE. — Foto: Divulgação/HyundaiProdução de veículos caiu 28% em março e foi segmento que exerceu maior pressão no resultado setor, segundo o IBGE. — Foto: Divulgação/Hyundai

A produção industrial brasileira desabou 9,1% em março, na comparação com fevereiro, conforme divulgou nesta terça-feira (5) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrando um forte impacto da pandemia de coronavírus e das medidas de isolamento social no setor e na atividade econômica.

Trata-se do pior resultado para meses de março da série histórica da pesquisa, iniciada em 2002. É também a queda mensal mais acentuada desde maio de 2018 (-11%), quando o setor foi afetado pelas paralisações provocadas pela greve dos caminhoneiros.
Na comparação com março do ano passado, a queda foi de 3,8%, quinto resultado negativo seguido nessa comparação.

Com o tombo de março, a produção industrial passou a acumular no ano uma retração de 1,7%. Em 12 meses, tem queda de 1%.
Produção industrial mensal — Foto: Economia G1Produção industrial mensal — Foto: Economia G1

Queda de 2,6% no 1º trimestre
A indústria registrou queda de 2,6% no 1º trimestre, na comparação com o 4º trimestre. É a maior queda desde o segundo trimestre de 2018, que pega exatamente a greve dos caminhoneiros, quando caiu 2,7%, destacou o gerente da pesquisa André Macedo.

Com o resultado de março, o patamar de produção retornou a nível próximo ao de agosto de 2003, ficando 24% abaixo do pico histórico, alcançado em maio de 2011 – em fevereiro essa distância era de 16,4%. O tombo de agora levou o setor a uma posição pior que a registrada com a greve dos caminhoneiros, em maio de 2018, quando o patamar ficou 23,9% abaixo do pico.

Vale lembrar, que o início das medidas restritivas provocadas pela pandemia e o período de confinamento não atingiu todo o mês de março. O que a gente observa é que houve uma força maior das consequências do isolamento social no final do mês, com um número maior de plantas industriais concedendo férias coletivas e interrompendo a sua produção, afirmou o pesquisador.

Segundo Macedo, os efeitos da pandemia sobre a produção industrial tendem a se prolongar, ao contrário do ocorrido com a greve dos caminhoneiros, que foi um movimento pontual.
Pelo que a gente observa, você tem uma continuidade desse movimento de queda para o mês de abril e meses seguintes. Aquela queda da greve dos caminhoneiros foi reposta logo no mês seguinte, em junho, algo que a gente não vai conseguir observar pelo mês de abril, avaliou. 
Queda generalizada em março
Segundo o IBGE, houve queda de produção em todas as quatro grandes categorias do setor e em 23 dos 26 ramos pesquisados, evidenciando o aprofundamento das paralisações em diversas plantas industriais, devido ao isolamento social por conta da pandemia de Covid-19.

Entre as atividades, a queda que exerceu a maior pressão no índice geral foi a de veículos automotores, reboques e carrocerias (-28%), pior resultado desde maio de 2018(-29%). "O movimento de quarentena fez com que muitas empresas interrompessem o seu processo de produção, seja concedendo férias coletivas ou paralisando as atividades por determinados períodos, destacou Macedo.
23 dos 26 ramos industriais pesquisados registraram queda em março, segundo o IBGE — Foto: Divulgação23 dos 26 ramos industriais pesquisados registraram queda em março, segundo o IBGE — Foto: Divulgação

Outros destaques negativos em março foram os ramos de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-37,8%), bebidas (-19,4%), couro, artigos para viagem e calçados (-31,5%), produtos de borracha e de material plástico (-12,5%), máquinas e equipamentos (-9,1%), produtos de minerais não-metálicos (-11,9%), produtos têxteis (-20,0%) e móveis (-27,2%).

As únicas altas foram registradas nos ramos de impressão e reprodução de gravações (8,4%), de perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (0,7%) e de manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (0,3%).

Você observa em algumas atividades um resultado positivo que guardam relação com esse momento de isolamento social, mas que são insuficientes para fazer qualquer movimento de alta do setor, observou Macedo.
Dentre os produtos que tiveram alta na produção, segundo o pesquisador, estão papel higiênico, absorvente, fraldas descartáveis, desodorante, sabão, detergente, sabonete, shampoo, desinfetante, sabão em pó, sabão líquido, seringas, agulhas, cateteres, luvas de borracha, óculos de proteção e caixões, entre outros. 
Resultado por grandes categorias
Já o resultado de março entre as grandes categorias econômicas, o maior tombo foi na produção de bens de consumo duráveis, afetado principalmente pela menor produção de automóveis. Confira:
  • bens de consumo duráveis: -23,5%
  • bens de capital: -15,2%
  • bens de consumo semi e não-duráveis: -12,0%
  • bens intermediários: -3,8%
Repercussão e perspectivas
O tombo da indústria em março veio acima do esperado. As expectativas em pesquisa da Reuters com economistas eram de queda de 4,7% na variação mensal e de 1,6% na base anual.

"O resultado veio ligeiramente pior do que esperávamos e sugere que devemos ter quedas significativas nos outros ramos da atividade e o PIB deve recuar de fato este ano 5%", avaliou André Perfeito, economista-chefe da Necton.

O setor industrial do país chegou a ensaiar uma melhora no começo do ano, com dois meses seguidos de ganhos, mas a perspectiva de recuperação mais firme foi desmantelada pelas consequências da pandemia em meio a férias coletivas, paralisações e menor consumo das famílias e demanda interna.

De acordo com último boletim Focus do Banco Central, o mercado financeiro passou a projetar retração de 3,76% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2020. Já a previsão dos analistas para a produção industrial no ano é de uma queda de 2,75%.

Pesquisa divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que a pandemia de coronavírus derrubou a confiança do empresário industrial para mínimas históricas na passagem de março para abril.

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal (PNAD Contínua) do IBGE, mostraram que o número de postos de trabalho na indústria caiu -2,6% no 1º trimestre (ou menos 322 mil pessoas), na comparação com o 4º trimestre.

Com a crise, o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI) da indústria brasileira atingiu em abril o menor patamar já registrado, segundo levantamento da Fundação Getulio Vargas. O indicador alcançou o percentual de 57,5% em abril, menor valor da série histórica iniciada em janeiro de 2001. Isso significa que, em média, o setor industrial operou com pouco mais da metade da sua capacidade total. Os segmentos mais impactados foram os de vestuário, veículos e couros e calçados.
Veja cuidados que a indústria deve ter para retomar as atividades
Veja cuidados que a indústria deve ter para retomar as atividade

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