10 Anos do 11 de Setembro
NOTÍCIAS & INFORMAÇÃO.
Abalado, mundo da arquitetura vislumbrou 'fim dos arranha-céus'.Compare os 10 maiores prédios e veja as mudanças que garantem segurança.
*|.|=|-|=|:|* Quando os pouco mais de 417 metros de concreto e ferro das torres gêmeas vieram abaixo, o mundo da arquitetura tremeu junto com a ilha de Manhattan. Em meio a silêncios e respostas variadas, dois teóricos americanos do urbanismo não esperaram nem uma semana para decretar: "a era dos arranha-céus chegou ao seu fim".
O polêmico artigo, publicado em 17 de setembro de 2001 por James Howard Kunstler e Nikos A. Salingaros, é um bom exemplo dos extremos que foram as respostas no mundo da arquitetura após a tragédia, mas que claramente acabou ficando no passado.
Antes do "9-11", nome que nos EUA remete à data do 11 de Setembro, as torres do WTC ocupavam então a 5ª e a 6ª posição entre os edifícios mais altos do mundo.
Atualmente, sete dos dez prédios mais altos do planeta foram construídos depois dos atentados de 2001. E recentemente, no começo do mês passado, um príncipe bilionário saudita anunciou que vai construir uma torre que, pela primeira vez na história, vai ultrapassar 1 quilômetro de altura.
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No projeto do novo World Trade Center, que segue em construção, a torre mais alta (Freedom Tower, foto no início do texto) atingirá os mesmos 417 metros da mais alta das torres gêmeas. E uma antena em seu topo se estenderá até 541,32 metros de altura, equivalentes a 1.776 pés, que é a medida padrão nos EUA.
Os atentados de 11 de setembro de 2001 não desmotivaram a construção de arranha-céus. E em vez de símbolo do medo, como previa o artigo de Kunstler e Salingaros, a altura será usada como referência à liberdade e ao patriotismo pelos americanos. Os 1.776 pés de altura são menção proposital ao ano em que a Declaração da Independência dos EUA foi assinada.
Pós-tragédia
O G1 falou por telefone com a arquiteta Peggy Deamer, professora da universidade americana de Yale, em Connecticut, onde ela oferece uma classe que estuda especificamente as mudanças na arquitetura pós-11 de Setembro. Ela relembrou as caóticas reações aos ataques, entre os arquitetos, e as especulações sobre como proceder a respeito das torres caídas.
"Sinto que foram respostas muito mistas, que tinham a ver certamente com fatores políticos e com quão perto você estava das torres gêmeas e quão imediatamente você absorveu aquele fato. O sentimento era de que não estávamos num momento para mostrar orgulho excessivo, era o momento para se aprender uma lição", conta.
Segundo ela, havia a dúvida sobre se o lugar deveria ser deixado como ele estava, deixá-lo vazio, ou simplesmente fazer um World Trade Center "maior e melhor". "Outras pessoas ainda acharam que deveríamos construir exatamente a mesma coisa, que aquela não era tanto uma oportunidade para demonstrar nosso potencial arquitetônico e virtuosismo, mas sim a ocasião de costurarmos uma ferida", recorda a professora.
Antes do fim de 2001, a galeria de arte novaiorquina comandada por Max Protetch convocou cem arquitetos para fazerem propostas de novos projetos ao WTC. Apesar de criticada por alguns, que achavam o momento ainda muito cedo para algo do tipo e chamaram a galeria de oportunista, Peggy Deamer diz que as propostas surgidas também falam muito sobre a falta de unidade do pensamento arquitetônico à época.
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"As propostas variaram entre projetos sensíveis com muita poesia que não poderiam ser construídos, projetos sensíveis que poderiam ser construídos, projetos utópicos que não poderiam ser construídos até projetos que considerei muito inapropriados, que diziam 'sim, vamos simplesmente fazê-lo maior e melhor'. Algumas dessas respostas inapropriadas vieram da Europa, onde eu acho que eles não entenderam nada", afirma.
O projeto que acabou sendo escolhido surgiu de outro concurso, promovido em 2002 pela Corporação de Desenvolvimento da Baixa Manhattan, responsável pela administração do terreno do WTC. O arquiteto Daniel Libeskind foi o vencedor, e nos anos seguintes a administração foi passada para o arquiteto David Childs, do estúdio Skidmore, Owings & Merrill (SOM), um gigante da arquitetura americana.
Estudos e mudanças
Após a queda das torres, um órgão federal americano conduziu estudos ao longo de três anos para determinar as causas técnicas que fizeram com que os arranha-céus não resistissem em pé às explosões. Ao final, o Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia (Nist, da sigla em inglês) fez 31 recomendações com base em suas investigações.
O Nist recomendou mudanças em como deve ser o projeto, a construção e a manutenção dos novos grandes edifícios. Os pontos também foram propostos para os arranha-céus já existentes, de modo que seus administradores tentassem se adequar àquilo.
Vários anos se passaram, e agora os Estados Unidos estão finalmente tornando oficiais as recomendações pós-11 de Setembro. Desde 2009, os códigos de construção e de prevenção de incêndios usados como referência em grande parte do país passaram por mudanças importantes nesse sentido.
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Entre os pontos incluídos nos códigos estão: sinais que brilhem no escuro nas escadas, para facilitar o fluxo em caso de acidente; a construção de uma terceira ou quarta rota de escadas, a depender da altura do prédio; distribuição mais espaçada dessas escadas no edifício, para que uma mesma calamidade tenha menos chance de prejudicar mais de uma rota de fuga; reserva de água alternativa para os sprinklers anti-incêndio; proteção com paredes mais robustas em pontos específicos, como elevadores e eixos de escada; padrões elevados contra o fogo nos componentes estruturais de arranha-céus; amplificadores de sinal de rádio, para facilitar a comunicação de equipes de resgate em emergências; melhorias nos planos de evacuação e nos treinamentos e simulações contra desastres.
Enquanto os reflexos do 11 de Setembro na arquitetura dos Estados Unidos e de outros países já são de certa forma visíveis, no Brasil parece ainda não haver respostas concretas, de acordo com Frederico Flósculo, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília.
"Os arquitetos não estão discutindo isso, não. Para a arquitetura e o urbanismo brasileiros, essa questão é estranha. Se você examinar os portais de periódicos de arquitetura, as revistas de arquitetura no Brasil, você não vai ver nada acerca dessa questão", aponta.
Ele diz acreditar que não houve uma mudança de pensamento da arquitetura brasileira em relação à segurança após os atentados, e faz referência principalmente à organização das cidades, já que o Brasil não é conhecido por grandes arranha-céus. Segundo Flósculo, os grandes centros urbanos sequer contam com rotas de saída decentes para o caso de algum desastre forçar os moradores a abandonar suas casas.
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Projeto do novo World Trade Center, com a Freedom
Tower se destacando com seus 417 metros - sem
contar a antena (Foto: The New York Times/
Siverstein Properties)
Tower se destacando com seus 417 metros - sem
contar a antena (Foto: The New York Times/
Siverstein Properties)
Antes do "9-11", nome que nos EUA remete à data do 11 de Setembro, as torres do WTC ocupavam então a 5ª e a 6ª posição entre os edifícios mais altos do mundo.
Atualmente, sete dos dez prédios mais altos do planeta foram construídos depois dos atentados de 2001. E recentemente, no começo do mês passado, um príncipe bilionário saudita anunciou que vai construir uma torre que, pela primeira vez na história, vai ultrapassar 1 quilômetro de altura.
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No projeto do novo World Trade Center, que segue em construção, a torre mais alta (Freedom Tower, foto no início do texto) atingirá os mesmos 417 metros da mais alta das torres gêmeas. E uma antena em seu topo se estenderá até 541,32 metros de altura, equivalentes a 1.776 pés, que é a medida padrão nos EUA.
Burj Khalifa, o mais alto arranha-céu do mundo,
com 828 metros de altura. Sua obra foi finalizada
em 2010 (Foto: Reuters)
com 828 metros de altura. Sua obra foi finalizada
em 2010 (Foto: Reuters)
Pós-tragédia
O G1 falou por telefone com a arquiteta Peggy Deamer, professora da universidade americana de Yale, em Connecticut, onde ela oferece uma classe que estuda especificamente as mudanças na arquitetura pós-11 de Setembro. Ela relembrou as caóticas reações aos ataques, entre os arquitetos, e as especulações sobre como proceder a respeito das torres caídas.
"Sinto que foram respostas muito mistas, que tinham a ver certamente com fatores políticos e com quão perto você estava das torres gêmeas e quão imediatamente você absorveu aquele fato. O sentimento era de que não estávamos num momento para mostrar orgulho excessivo, era o momento para se aprender uma lição", conta.
Segundo ela, havia a dúvida sobre se o lugar deveria ser deixado como ele estava, deixá-lo vazio, ou simplesmente fazer um World Trade Center "maior e melhor". "Outras pessoas ainda acharam que deveríamos construir exatamente a mesma coisa, que aquela não era tanto uma oportunidade para demonstrar nosso potencial arquitetônico e virtuosismo, mas sim a ocasião de costurarmos uma ferida", recorda a professora.
Antes do fim de 2001, a galeria de arte novaiorquina comandada por Max Protetch convocou cem arquitetos para fazerem propostas de novos projetos ao WTC. Apesar de criticada por alguns, que achavam o momento ainda muito cedo para algo do tipo e chamaram a galeria de oportunista, Peggy Deamer diz que as propostas surgidas também falam muito sobre a falta de unidade do pensamento arquitetônico à época.
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Projeto vencedor do concurso promovido pela galeria Max Protetch, bem diferente do escolhido para reerguer o WTC (Foto: Reprodução/Max Protetch gallery/Allied Works)
___________________________________________________________________________________________"As propostas variaram entre projetos sensíveis com muita poesia que não poderiam ser construídos, projetos sensíveis que poderiam ser construídos, projetos utópicos que não poderiam ser construídos até projetos que considerei muito inapropriados, que diziam 'sim, vamos simplesmente fazê-lo maior e melhor'. Algumas dessas respostas inapropriadas vieram da Europa, onde eu acho que eles não entenderam nada", afirma.
O projeto que acabou sendo escolhido surgiu de outro concurso, promovido em 2002 pela Corporação de Desenvolvimento da Baixa Manhattan, responsável pela administração do terreno do WTC. O arquiteto Daniel Libeskind foi o vencedor, e nos anos seguintes a administração foi passada para o arquiteto David Childs, do estúdio Skidmore, Owings & Merrill (SOM), um gigante da arquitetura americana.
Estudos e mudanças
Após a queda das torres, um órgão federal americano conduziu estudos ao longo de três anos para determinar as causas técnicas que fizeram com que os arranha-céus não resistissem em pé às explosões. Ao final, o Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia (Nist, da sigla em inglês) fez 31 recomendações com base em suas investigações.
O Nist recomendou mudanças em como deve ser o projeto, a construção e a manutenção dos novos grandes edifícios. Os pontos também foram propostos para os arranha-céus já existentes, de modo que seus administradores tentassem se adequar àquilo.
Vários anos se passaram, e agora os Estados Unidos estão finalmente tornando oficiais as recomendações pós-11 de Setembro. Desde 2009, os códigos de construção e de prevenção de incêndios usados como referência em grande parte do país passaram por mudanças importantes nesse sentido.
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Entre os pontos incluídos nos códigos estão: sinais que brilhem no escuro nas escadas, para facilitar o fluxo em caso de acidente; a construção de uma terceira ou quarta rota de escadas, a depender da altura do prédio; distribuição mais espaçada dessas escadas no edifício, para que uma mesma calamidade tenha menos chance de prejudicar mais de uma rota de fuga; reserva de água alternativa para os sprinklers anti-incêndio; proteção com paredes mais robustas em pontos específicos, como elevadores e eixos de escada; padrões elevados contra o fogo nos componentes estruturais de arranha-céus; amplificadores de sinal de rádio, para facilitar a comunicação de equipes de resgate em emergências; melhorias nos planos de evacuação e nos treinamentos e simulações contra desastres.
Da esquerda para a direita, o Taipei 101, em Taiwan, o Centro Financeiro Mundial Xangai, e o Centro Financeiro Ghangzou International, ambos na China. Os três edifícios foram finalizados após a queda das torres gêmeas (Foto: AFP/Arquivo)
No BrasilEnquanto os reflexos do 11 de Setembro na arquitetura dos Estados Unidos e de outros países já são de certa forma visíveis, no Brasil parece ainda não haver respostas concretas, de acordo com Frederico Flósculo, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília.
"Os arquitetos não estão discutindo isso, não. Para a arquitetura e o urbanismo brasileiros, essa questão é estranha. Se você examinar os portais de periódicos de arquitetura, as revistas de arquitetura no Brasil, você não vai ver nada acerca dessa questão", aponta.
Ele diz acreditar que não houve uma mudança de pensamento da arquitetura brasileira em relação à segurança após os atentados, e faz referência principalmente à organização das cidades, já que o Brasil não é conhecido por grandes arranha-céus. Segundo Flósculo, os grandes centros urbanos sequer contam com rotas de saída decentes para o caso de algum desastre forçar os moradores a abandonar suas casas.
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