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terça-feira, 21 de junho de 2011

Tesouros no fim da trilha

ECOTURÍSMO


+**+ Rotas usadas por garimpeiros no passado hoje levam visitantes aos cenários mais fotografados da Chapada Diamantina. Comece em Lençóis - e siga até seus pés cansarem...


 
Renata Reps / LENÇÓIS - O Estado de S.Paulo
 
 
*==**=* Todo grande esforço requer uma proporcional dose de recompensa para valer a pena. No meio de uma trilha dura, há momentos de hesitação. Alguns titubeiam, ofegantes, considerando o que vão perder caso deem meia-volta. Outros preferem ir até o fim para não provar o arrependimento que pode ser ainda mais severo que os desafios do caminho. De qualquer forma, o ponto final provavelmente não trará muitas palavras à boca. A falta delas e o olhar vidrado, maravilhado com a magnitude da natureza, costumam ser a reação derradeira. Pelo menos quando o destino é a Chapada Diamantina.

Nos 152 mil hectares do Parque Nacional da Chapada e em seus arredores, delimitados pelas cidades de Lençóis - principal ponto de partida para as atrações -, Andaraí, Palmeiras, Mucugê e Itaeté, não faltam boas surpresas. Caso do Poço Encantado, que ficou 40 meses fechado pelo Ibama para adaptações ambientais. Reaberto em março, faz o visitante gastar um bom tempo parado e em silêncio antes de entender onde terminam as rochas e começa a água, de um azul de doer os olhos. Para ver o fenômeno, a melhor época é de abril a setembro, quando a gruta recebe mais raios de sol.




Ter preparo físico ajuda - mas não é preciso ser um atleta. Que o diga a servidora social Marta Balotin, de 58 anos. Apaixonada por ecoturismo, ela conheceu os montes, cachoeiras e grutas da chapada baiana em maio, e ainda pretende visitar o Jalapão (TO) e a Chapada dos Veadeiros (GO) este ano. "Viajo sozinha ou com alguma amiga, compro todos os passeios com antecedência e, quando chego, só preciso preparar a mochila e dormir cedo para manter o pique", diz.

A motivação para vencer a preguiça vem do meio do mato, mais precisamente, do coração da Bahia. Plantas raras, quedas d’água cinematográficas e espeleotemas milenares. Tudo o que você precisa para chegar até eles é um tênis impermeável. E, claro, muita disposição.

Silêncio e escuridão

Há 206 cavernas e grutas catalogadas na região da Chapada Diamantina, mas apenas cinco estão abertas a visitação. Uma delas é a Gruta Lapa Doce, no município de Iraquara. A formação geológica tem mais de 21 quilômetros de extensão catalogados, mas apenas 900 metros podem ser percorridos. Na entrada, grandes gameleiras verde-água recebem os visitantes, que precisam ser liderados por guias (R$ 10 por pessoa se o grupo tiver pelo menos três integrantes) devidamente equipados com lanternas. Os espeleotemas por vezes imitam formas vivas, como o seio de uma mulher ou o corpo de um leão. Esculturas construídas pela natureza durante milhares de anos: um centímetro das estalactites (que surgem do teto) e estalagmites (que começam no chão) leva até 40 anos para se formar. Por isso, a movimentação dentro da gruta deve ser feita com cuidado. Além das pedras, observe os cristais de calcita, que brilham forte quando encontram o feixe de luz artificial.

Toboágua natural

O Ribeirão do Meio é um ótimo começo para suas aventuras na Chapada Diamantina. A cerca de 4 quilômetros do centro de Lençóis, tem uma trilha leve e plana que pode ser feita em uma tarde - inclusive a cavalo. Seguindo o Rio Ribeirão por cerca de 40 minutos, chega-se a um tobogã de 30 metros de comprimento, que faz um ângulo de 45 graus com o rio. Vá adiante e suba pelas beiradas até a metade da queda d’água. A partir daí, é pura diversão: como a correnteza não é forte, você vai poder escorregar no toboágua natural com tranquilidade. E, logicamente, vai querer descer de novo. Se estiver com disposição, continue seguindo o curso do Rio Ribeirão por mais meia hora, até a piscina do Ribeirão de Baixo. Lá, recarregue a bateria para a caminhada de volta.

Por trás da cascata

O Rio Mucugezinho passa a poucos metros do quilômetro 225 da BR-242. Na beira da estrada, uma lojinha com souvenirs pode reservar os objetos a serem buscados na volta. A trilha de pedras na beira do rio segue fácil até o Poço do Pato, e quem preferir ficar por ali pode almoçar comida regional no bar Dona Pata. Os aventureiros continuam: a corredeira marca que falta apenas um quilômetro até o Poço do Diabo. A descida íngreme tortura um pouco quando vira subida, na volta. E a passagem por trás da queda d’água de 22 metros de altura é de arrancar a roupa do corpo. Emoção garantida.

Rumo ao ícone

Para chegar até a Cachoeira da Fumaça é preciso persistência. São 400 metros de subida dura e, depois, seis quilômetros no meio da mata antes de atingir o mirante. Neste passeio, não há banho de cachoeira ou rio. Pelo contrário: a temperatura em cima do morro, na encosta da Serra Larga, exige um casaco. O percurso na trilha que, até 2002 servia para a passagem de gado, é acompanhado de neblina, leve garoa e muitas poças de lama. As adversidades dão um certo desânimo, mas é inacreditável como tudo desaparece ao avistar a Cachoeira da Fumaça, com 380 metros de altura. Para enxergá-la é preciso deitar de bruços na pedra. E, assim, você entende a razão do nome da famosa cascata: a água evapora antes de chegar ao chão.

A principal parada

Diz a lenda que um velho escravo namorava escondido a filha de um grande garimpeiro na região da Serra do Sincorá, a principal da Chapada Diamantina. Quando o senhor descobriu, foi à caça do servo, que, em fuga, escalou um grande morro e pulou de lá de guarda-chuva, o que lhe garantiu um pouso seguro. O nome do escravo seria Pai Inácio - e o monte homônimo é o principal símbolo da Chapada. Todo turista precisa conhecer o topo, alcançado após uma subida moderada. A vegetação de campo rupestre, com grandes buracos nas rochas em zigue-zague, parece o chão de outro planeta. Por lá, plantas como bromélias, orquídeas e xique-xiques enfeitam a paisagem. E a vista é de tirar o fôlego - ou o que resta dele. Aberto das 9 às 17 horas, cada condutor leva um grupo de no máximo dez pessoas.

Como chegar: SP- Salvador-SP: desde R$ 333 na TAM (tam.com.br); R$ 400 na Webjet (www.webjet.com.br); R$ 415 na Avianca (avianca.com.br); R$ 454 na Azul (voeazul.com.br) e R$ 581 na Gol (voegol.com.br). De lá até Lençóis, ida e volta por R$ 433 na Trip (voetrip.com.br) ou R$ 108 de ônibus na Real Expresso (www.realexpresso.com.br)

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