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ONU emitiu nota alertando que o bloqueio coloca em perigo a vida de civis e que é proibido. E classificou a situação do conflito como 'barril de pólvora'. Atitude é considerada crime de guerra e pode levar Israel ao Tribunal Penal Internacional.<<<===+===.=.=.= =---____-------- ----------____---------____::____ ____= =..= = =..= =..= = =____ ____::____-----------_ ___---------- ----------____---.=.=.=.= +====>>>
Por Poliana Casemiro, Arthur Stabile — São Paulo
Postado em 12 de outubro de 2023 às 08h35m
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Palestinos em meio a destruição na Faixa de Gaza — Foto: AP Photo/Hatem Ali
A resposta de Israel ao ataque do grupo terrorista Hamas atingindo civis e com bloqueio de comida e água aos palestinos é proibida pela Organização das Nações Unidas (ONU) desde 1977 (entenda mais abaixo). A organização emitiu uma nota alertando para a proibição.
👉Antes: Israel foi atacado pelo grupo terrorista Hamas, que é composto por palestinos. Com isso, o país contra-atacou a Faixa de Gaza e impôs cerco total impedindo acesso a eletricidade, comida, água e gás. Israel é signatário da Convenções de Genebra, que não é o caso dos palestinos - reconhecidos como estado observador que não é membro oficial da ONU. Com isso, Israel é cobrado por cumprir as regras.
Nesta terça-feira (10), o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk disse em um comunicado à imprensa que a imposição dos cercos feitos por Israel em Gaza é proibido.
Türk classificou a situação como um 'barril de pólvora' e reforçou que os dois lados do conflito precisam cessar o ataque aos civis.
“Todas as partes devem respeitar o direito humanitário internacional. Devem cessar imediatamente os ataques contra civis", disse.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) também emitiu pedindo que os palestinos tivessem assistência humanitária e acesso à saúde.
O que está acontecendo agora
Após o ataque do Hamas que deixou centenas de israelenses mortos, Israel contra-atacou. A ação atingiu prédios públicos e matou outras dezenas de pessoas na Faixa de Gaza. Após a resposta armada, o país ainda disse que adotaria outras medidas.
O ministro da defesa de Israel, Yoav Galant, ordenou ainda o bloqueio total em Gaza e disse: "sem eletricidade, sem alimentos e combustível". Ele afirmou que a medida faz parte de um movimento contra pessoas violentas.
O território de Gaza é quase todo cercado por Israel, com um parte conectada ao Egito. Por ali, ainda é possível entrada de alimentos e insumos.
As regras na guerra
👉Em 1949, a ONU estabeleceu regras para proteger combatentes de guerra. As regras fazem parte das Convenções de Genebra, uma série de protocolos criados inicialmente no século 19 e atualizados ao longo do século passado. As principais atualizações ocorreram após a Segunda Guerra Mundial.
Em 1977, a organização criou dois protocolos para incluir também regras que protegessem a população civil em locais em guerra e garantisse a entrada de socorro humanitário. São protegidos pelas regras:
- Feridos, enfermos, trabalhadores de saúde e religiosos
- Militares feridos e náufragos
- Prisioneiros de guerra
Israel é um dos países que assinou o acordo, além de outras 168 nações. Com isso, precisam cumprir as regras e estão sujeitos ao Tribunal Penal Internacional (TPI).
O texto baseia a definição de crimes de guerra no Estatuto de Roma, tratado que estabeleceu a criação do Tribunal Penal Internacional (responsável por julgar possíveis crimes de guerra) e que está em vigor desde 2002.
Os países devem respeitar:
- Tratamento humano para todos os indivíduos em poder do inimigo
- Proíbe assassinatos, mutilações, torturas, tratamento cruéis, humilhantes e degradantes, tomada de reféns e julgamentos parciais.
- Tratamento e recolhida para feridos, enfermos e náufragos
- As partes do conflito devem pôr em vigor a totalidade ou partes das Convenções de Genebra
Imagens da guerra entre Hamas e Israel, com ataques na Faixa de Gaza e movimentação de tropas militares — Foto: Adel Hana/AP; Mohammed Salem/Reuters; Violeta Santos Moura/Reuters; Ibraheem Abu Mustafa/Reuters; Saleh Salem/Reuters
Não é a primeira vez que Israel determina bloqueio à Faixa de Gaza:
- 🚫 Em 2001, a ONU alertou que bloqueios de Israel provocavam fome e pobreza na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, outro território palestino.
- 🚫 Seis anos mais tarde, quando o Hamas assumiu o controle da Faixa de Gaza, o governo israelense restringiu a entrada de mantimentos para algo em torno de um quarto do volume de importações que chegavam na região em 2005.
- 🚫Em 2009 operações militares causaram prejuízo na ordem de US$ 180 milhões à agricultura do país, conforme divulgado à época pela ONU.
Após a série de infrações, em 2019 o TPI anunciou investigação contra Israel por crime de guerra no conflito. A investigação também incluiu o grupo palestino terrorista. No entanto, ainda não houve conclusão.
O curto prazo deve ser catástrofe humanitária, diz ex-correspondente em Israel
O que não pode fazer durante a guerra:
- Ataque intencional à população civil
- Tortura e outros tratamentos desumanos, como experiências biológicas
- Tomada de reféns
- Saquear cidade ou localidade
- Matar ou ferir combatente rendido
- Uso de veneno ou armas envenenadas, gás asfixiante ou materiais tóxicos
- Cometer ato de violação ou escravidão sexual
- Utilizar a fome como método de combate
- Atacar, destruir, tirar ou pôr fora de uso bens indispensáveis à sobrevivência, como comida e água
- Atacar barragens, diques e centrais nucleares
- Ato de hostilidade contra monumentos históricos, obras de arte ou lugares de culto
- Ordenar deslocamentos forçados relacionado ao conflito
- Proibir auxílio médico da Cruz Vermelha e Crescente Vermelho
- Proibir ações de socorro humanitário
- Recrutar ou alistar menores de 15 anos nas Forças Armadas
Para a ex-juíza do Tribunal de Haia, corte internacional que julga crimes contra a humanidade, Sylvia Steiner, a morte indiscriminada de civis palestinos no contra ataque é crime de guerra.
A ex-juíza diz que no cenário do conflito a distinção é difícil porque o Hamas é um grupo armado e nem sempre usa identificação. Apesar disso, reforça que o poderio e inteligência militar de Israel torna possível uma posição dentro das regras.
“A situação de guerra não é tão simples. Mas temos regras que protegem a população que está no meio do conflito, civis que são vítimas. Gaza tem mais de 2 milhões de pessoas e um número ínfimo nesse total está ligado ao Hamas. Por seu poderio, Israel poderia agir evitando vítimas inocentes”, comenta.
A posição é reforçada pelo professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo e integrante do grupo de estudos sobre conflitos internacionais, Rodrigo Amaral, também afirma que as ações são "evidentemente consideradas crimes humanitários".
Na visão do especialista, o cerco à Faixa de Gaza pode ser enquadrado como "crime contra a humanidade" por atingir uma população de 2 milhões de pessoas palestinas que são submissas ao controle do Hamas, mas nem todos integram o grupo extremista. Assim, seriam considerados civis sem relação com o conflito Hamas x Israel.
"Não estamos vendo isso no debate porque Israel está do lado ocidental. Por estar desse lado, não vamos ver qualquer coisa no tribunal internacional contra autoridades israelenses. O que vemos hoje e que é perigoso é um endossamento da comunidade ocidental internacional", afirmou Amaral.
Além de Israel bloquear a entrega de suprimentos, a União Europeia anunciou que interrompeu o envio de ajuda humanitária para os palestinos na Faixa de Gaza.
Prédios em Gaza foram bombardeados por forças de Israel nesta segunda (9) — Foto: Mohammed Salem/Reuters
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