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quarta-feira, 10 de maio de 2023

Oceanos acumulam quase dois meses de recorde de temperatura; veja o que se sabe sobre o fenômeno

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Do início de março até agora, a média global da temperatura dos oceanos em 2023 vem superando valores históricos dia após dia.
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Por g1

Postado em 10 de maio de 2023 às 06h25m

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Banhistas na praia de Agua Dulce, em Lima, no Peru. — Foto: AP Photo/Rodrigo Abd, File
Banhistas na praia de Agua Dulce, em Lima, no Peru. — Foto: AP Photo/Rodrigo Abd, File

Os oceanos do mundo todo estão apresentando uma temperatura recorde da água na superfície desde março. As medições recentes bateram a marca de 21ºC, um número - no mínimo - 0,2ºC acima do verificado nos períodos anteriores.

Desde o dia 13 de março a média global da temperatura dos oceanos vem superando os valores de todas as medições anuais desde a década de 1980.

As medições obtidas nos últimos 57 dias são as maiores da série histórica.

📈 Contexto: Em 24 de abril, a temperatura média global da superfície do mar passou quase dois décimos de grau Celsius (0,2ºC) quando comparada com a mesma data em 2016 (o ano mais quente até então).

Os dados são do Climate Reanalyzer da Universidade do Maine, uma plataforma de dados climáticos e meteorológicos bastante utilizada por pesquisadores da área (veja gráfico abaixo).

Isso pode parecer pouco, mas para a média dos oceanos do mundo – que ocupam 71% da área da Terra – aumentar tanto assim em tão pouco tempo é algo enorme, explica o cientista climático Kris Karnauskas, da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos.

Temperaturas do Oceano — Foto: Arte/g1

Temperaturas do Oceano — Foto: Arte/g1

O que se sabe sobre as razões do aumento?

🌡 As hipóteses possíveis para o recorde: Alguns pesquisadores acham que esse salto nas temperaturas dos oceanos está relacionado aos seguintes fatores:

  • um desenvolvimento do 'El Niño' este ano que muito provavelmente levará a um novo pico do aquecimento global e aumentará as possibilidades de recordes de temperatura em todo o mundo;
  • o fato de que o La Niña também está chegando ao fim e, como consequência disso, os oceanos vêm recuperação três anos de resfriamento causado pelo fenômeno, que naturalmente diminui a temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico.
  • e, além de tudo isso, temos o impacto do constante aquecimento global provocado pelo homem, que está aquecendo as águas mais profundas dos nossos mares.
O que é o El Niño e qual o seu impacto nisso?

🌊 Antes de tudo, é preciso entendermos que o El Niño é causado por uma desaceleração dos ventos alísios, que sopram na direção oeste perto do Equador. Na falta de algo que transporte o calor na direção do Índico, as águas do Pacífico ficam cozinhando ao Sol, sem se moverem muito, e acabam mais quentes.

Com isso, as regiões Norte e Nordeste aqui no Brasil, por exemplo, tendem a ficar menos chuvosas durante a ocorrência do El Niño, enquanto as chuvas ficam mais frequentes no Sul.

Outra característica do fenômeno no país é deixar as temperaturas mais quentes no inverno no Sudeste e na segunda metade do ano no Centro-Oeste.

E a Organização Meteorológica Mundial (OMM) calcula que há 60% de possibilidades de que El Niño se desenvolva até o final de julho.

Por isso, alguns cientistas climáticos descartam as preocupações em torno desse repentino aumento e afirmam que isso é resultado de um crescente El Niño que vem acompanhado de um constante aumento do aquecimento causado pelo homem.

➡️ Um fator importante para essa tese é que esse aquecimento dos oceanos foi visto especialmente na costa do Peru e do Equador, onde antes da década de 1980 a maioria dos El Niños começou.

Por outro lado, outros pesquisadores dizem que isso não parece ser apenas uma consequência do El Niño. Isso porque estão ocorrendo várias ondas de calor marinhas ou pontos de aquecimento oceânico que não se enquadram no padrão do fenômeno, como os do norte do Pacífico, perto do Alasca e da costa da Espanha.

"Este é um padrão incomum. Este é um evento extremo em escala global em áreas que não se encaixam apenas como influenciadas pelo El Niño", disse Gabe Vecchi, cientista climático da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos.

"Esse é um sinal enorme. Acho que vai exigir um esforço nosso para entendê-lo de fato".

Onde mais aqueceu

Karnauskas também analisou algumas anomalias globais da temperatura da superfície do mar para tentar entender quais foram as áreas responsáveis por grande parte do pico da temperatura global.

Com isso, ele encontrou um longo trecho do equador da América do Sul à África, que incluiu os oceanos Pacífico e Índico.

Essa área aqueceu quatro décimos de grau Celsius em cerca de 10 a 14 dias, o que é altamente incomum, afirma o pesquisador.

Em março, as temperaturas da superfície do mar na costa leste da América do Norte chegaram a ser 13,8°C mais altas do que a média de 30 anos, entre 1981-2011.

Para Karnauskas, parte dessa área é claramente um El Niño em formação, uma tese que os cientistas podem confirmar nos próximos meses à medida que o fenômeno ganhar força. Mas a área no Oceano Índico é diferente e pode ser um aumento independente do fenômeno.

E o que podemos esperar agora?

Além desse aquecimento, o mundo teve um resfriamento incomum na superfície devido ao La Niña por três anos, um fenômeno que atuou como uma verdadeira tampa de uma panela. Mas agora essa tampa está desligada.

Sem o 'La Niña', o nível de aquecimento teria sido pior. "Foi como um freio temporário ao aumento da temperatura mundial", afirmou Petteri Taalas, secretário-geral da OMM

Mas o impacto do El Niño nas temperaturas normalmente é percebido no ano seguinte ao fenômeno meteorológico. Por isso, a OMM teme que os efeitos sejam observados provavelmente em 2024.

Aliado a isso, o problema é que agora o controle temporário do La Niña sobre o aumento das temperaturas globais não existe mais. Um resultado disso é que março de 2023 foi o segundo março mais alto já registrado para as temperaturas médias globais da superfície do planeta, disse o oceanógrafo da NOAA, Mike McPhaden, em um e-mail.

E se o El Nino fizer sua aparição fortemente prevista ainda este ano, o que estamos vendo agora é apenas um prelúdio para mais recordes que estão a caminho, escreveu McPhaden.

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