Setor de serviços foi o mais afetado negativamente. Para 27% das empresas brasileiras, impactos da pandemia foram positivos.
Por Daniel Silveira, G1 — Rio de Janeiro
18/08/2020 09h11 Atualizado há 3 horas
Postado em 18 de agosto de 2020 às 12h15m
Um levantamento divulgado nesta terça-feira (18) pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que cerca de quatro
em cada dez empresas que estavam em funcionamento na primeira quinzena
de julho sofreram algum tipo de prejuízo decorrente da pandemia do
coronavírus.
De acordo com a pesquisa, 2,8 milhões de empresas estavam em
funcionamento na primeira quinzena de julho. Destas, 44,8% relataram
sofrer efeitos negativos em função do contexto de isolamento social.
Para 28,2% delas os efeitos foram pequenos ou inexistentes, enquanto 27%
disseram que a pandemia provocou efeitos positivos nos negócios.
"Ainda há uma grande incidência de impacto negativo, mas já começamos a perceber uma melhora, visto que, na quinzena anterior, o impacto negativo atingiu 62,4% das empresas. A diferença para as quinzenas anteriores é a maior incidência de empresas que relataram efeitos pequenos ou inexistentes e as que relataram efeitos positivos, que, juntas, somam um percentual maior do que as que relataram efeitos negativos”, analisou o coordenador de Pesquisas Conjunturais em Empresas do IBGE, Flávio Magheli.
Segundo o IBGE, regionalmente, foi no Centro-Oeste que as empresas
perceberam o maior impacto negativo, atingindo 51% dela. Na sequência
estão as regiões Norte (48,1%) e Sul (47,2%).
Setor de serviços é o mais prejudicado
A pesquisa mostrou que entre os setores econômicos, foi o de serviços o
que mais relatou efeitos negativos da pandemia, atingindo 47% de 1,2
milhão de empresas do setor.
Serviços prestados às famílias (55,5%) e os serviços profissionais,
administrativos e complementares (48,3%) foram os mais prejudicados,
seguidos por 44% de 1,1 milhão empresas do comércio, com maior impacto
no comércio de veículos, peças e motocicletas (52,4%).
“Apesar da percepção de impacto negativo, houve uma melhora na
percepção das empresas de serviços, passando de 65,5% na quinzena
anterior para 47%; assim como do comércio, que passou de 64,1% para 44%.
Essa melhora de percepção fica evidenciada na maior incidência de
empresas que sinalizaram um efeito pequeno ou inexiste, ou um efeito
positivo", destacou o coordenador da pesquisa.
Ainda segundo Magheli, no comércio chegou a 35,5% o total de empresas que relataram impactos positivos da pandemia.
"Esse cenário retrata o processo de reabertura, com maior fluxo de pessoas refletindo-se nos negócios. É natural que a percepção negativa vá reduzindo a cada quinzena, na medida que o isolamento social vá diminuindo”, enfatizou Magheli.
Já a indústria manteve-se estável, com um impacto negativo em 42,9% das
313,4 mil empresas; assim como a construção, em que 38% das 160 mil
empresas relataram terem sido afetadas negativamente.
Redução nas vendas do comércio
O levantamento do IBGE mostrou, ainda, que 46,8% das empresas do
comércio perceberam queda nas vendas em decorrência do isolamento social
na primeira quinzena de julho, enquanto para 26,9% delas o impacto foi
pequeno ou negativo e para 26,1%, positivos.
“Novamente, há um comportamento disseminado de percepção de redução das
vendas, mas, em relação à quinzena anterior, há em alguns segmentos
maior incidência de empresas que sinalizaram aumento ou que o efeito foi
nulo ou inexistente”, apontou Magheli.
O comércio (51,6%), sobretudo o comércio varejista (54,6%), teve o
maior contingente de empresas com percepção de impacto negativo sobre as
vendas; enquanto que, no setor de serviços, as atividades mais afetadas
foram as de serviços profissionais, administrativos e complementares
(48,1%) e de serviços prestados às famílias (47,7%). Na indústria e na
construção, a redução de vendas afetou 40,8% e 31,9% das empresas,
respectivamente.
O IBGE destacou que o comércio de veículos, peças e motocicletas foi o
que mais relatou impacto positivo sobre as vendas, atingindo 40,5% das
empresas do segmento.
Ainda de acordo com a pesquisa, 47,4% das empresas disse não ter
percebido impacto negativo sobre a capacidade de fabricação dos produtos
ou de atendimento aos clientes. Para 11,3%, houve facilidade.
Já 41,3% das empresas alegaram ter tido dificuldade. O maior impacto
negativo foi no comércio de veículos, peças e motocicletas (58,1%) e no
comércio por atacado (57,7%). No setor de serviços, o maior impacto foi
nas atividades de outros serviços (56,5%).
Para a maioria das empresas, (51,8%) não houve alteração significativa
no acesso aos fornecedores de insumos, matérias-primas ou mercadorias,
com destaque para os serviços de informação e comunicação (82,8%). Mas,
para 38,6%, houve dificuldade. O destaque é o segmento de comércio de
veículos, peças e motocicletas, em que 72% relataram ter enfrentado
dificuldade, seguido pelo setor de comércio (47,4%).
Quanto ao impacto da Covid-19 sobre a capacidade de realizar pagamentos
de rotina durante a pandemia, 47,3% das empresas encontraram
dificuldade. Para 46,3%, não houve alterações significativas em relação à
quinzena anterior; e 5,1% alegaram ter tido facilidade.
“Essa percepção de que não houve alteração aumenta de acordo com o
porte da empresa, sendo de 64,4% entre as de maior porte e de 56,3%
entre as de porte intermediário", destacou Magheli.
Manutenção de empregos
Segundo a pesquisa do IBGE, oito em cada dez empresas mantiveram
funcionários contratados na primeira quinzena de julho, enquanto 13,5%
relataram ter feito demissões. Apenas 5,3% delas disseram ter aumentado o
quadro de pessoal no período.
Segundo o IBGE, a manutenção dos empregos foi um comportamento
disseminado entre os setores econômicos - de indústria (79,2%), comércio
(77,6%), construção (77,6%) e serviços (84,3%).
O maior percentual de empresas que demitiram é na faixa intermediária
(de 50 a 499 funcionários) e empresas de maior porte (500 ou mais).
“Apesar das dificuldades, a maior parte das empresas reportaram que mantiveram o quadro de funcionários. E, entre as 380 mil empresas que sinalizaram ter havido redução (13,5%), a maior parte (70%) promoveu redução inferior a 25%”, ressalta Magheli.
Em relação às medidas adotadas diante do isolamento social, 22,4% das
empresas disseram ter antecipado férias de funcionários; 38,7% adotaram
trabalho domiciliar; 12,8% obtiveram linha de crédito emergencial para
pagamento da folha salarial; 37,6% adiaram o pagamento de impostos; 32%
alteraram o método de entrega de produtos ou serviços; e 18% lançaram ou
passaram a comercializar novos produtos ou serviços.
Além disso, 86,7% das empresas disseram ter realizado campanhas de
informação e prevenção e adotaram medidas extras de higiene.
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