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por Amelia GonzalezSexta-feira, 21/07/2017, às 22:09,
Postado em 22 de julho de 2017 às 17h00m
“Mesmo quando treinamos nosso olhar para os impactos que as mudanças climáticas já estão provocando, somos incapazes de compreender seu alcance”, diz o texto da revista “New York” publicado no dia 9 de julho, que procura destrinchar a relação da humanidade com a saga que está enfrentando.
As mudanças climáticas estão sendo sentidas com mais rapidez do que os cientistas puderam prever. E como, ao mesmo tempo, os recursos financeiros estão cada vez mais concentrados em poucas mãos, muita gente está sendo obrigada a buscar outros territórios para fugir de secas e tormentas.
As mudanças climáticas estão sendo sentidas com mais rapidez do que os cientistas puderam prever. E como, ao mesmo tempo, os recursos financeiros estão cada vez mais concentrados em poucas mãos, muita gente está sendo obrigada a buscar outros territórios para fugir de secas e tormentas.
Mas, de verdade, poucas pessoas estão motivadas a mudar um pouco que seja seus hábitos, não só para livrar as gerações futuras de situações muito ruins, quanto de ajudar hoje mesmo pessoas que são recorrentemente vitimadas por morarem em locais de risco. É este o mote da reflexão do artigo.
Somos capazes de criar filmes de ficção incríveis sobre o futuro do planeta, com previsões apocalípticias ficcionais, mas a realidade nos faz relegar a um segundo plano as mudanças climáticas que já estamos enfrentando. São diversos os motivos para isso, e o artigo escrito por David Wallace-Wells levanta algumas hipóteses que fazem sentido:
Somos capazes de criar filmes de ficção incríveis sobre o futuro do planeta, com previsões apocalípticias ficcionais, mas a realidade nos faz relegar a um segundo plano as mudanças climáticas que já estamos enfrentando. São diversos os motivos para isso, e o artigo escrito por David Wallace-Wells levanta algumas hipóteses que fazem sentido:
“A linguagem tímida com que são anunciadas as probabilidades científicas, que o climatologista James Hansen chamou uma vez de "reticência científica" em um artigo em que diz que os cientistas andam editando suas próprias observações de maneira tão cuidadosa que não conseguem comunicar, de verdade, o quão cruel a ameaça é; o fato de que o país (Estados Unidos) é dominado, ao mesmo tempo, por um grupo de tecnocratas que acredita que qualquer problema pode ser resolvido e por uma cultura oposta que nem sequer vê o aquecimento como um problema que mereça atenção; a velocidade das mudanças climáticas e, por outro lado, a sua lentidão, de modo que só se está vendo hoje os efeitos do aquecimento das décadas passadas; nossa incerteza quanto à incerteza, que nos impede de agir logo, como se um resultado médio fosse mesmo possível; o fato de assumirmos que os efeitos negativos das mudanças do clima vão afetar algumas regiões, mas não todas (e sempre podemos acreditar que conosco nada vai acontecer); o absurdo dos números: dois graus de elevação pode parecer pouco demais, enquanto 400 partes por milhão (o máximo que a atmosfera aguenta de quantidade de dióxido de carbono, segundo cientistas) é muito alto; medo, simplesmente; e a falta absoluta de condições para conseguir resolver esse problema rapidamente, o que nos dá uma sensação desconfortável de impotência”, lista o artigo.
O jornalista que escreveu o artigo lembra que os cientistas com quem já conversou a respeito das mudanças climáticas afirmam que, mesmo que se pare hoje de queimar combustível fóssil, não há hipótese de Miami e Bangladesh ainda existirem no fim deste século. Temíamos que a temperatura do planeta se elevasse em dois graus até o fim do século, mas hoje é este o nosso objetivo, nossa meta. E os estudiosos nos dão poucas chances de atingirmos tal gol.
“O Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (IPCC na sigla em inglês) emite relatórios em série, muitas vezes chamados de "padrão-ouro" da pesquisa climática. O mais recente nos leva a atingir quatro graus de aquecimento no início do próximo século, se mantivermos o curso atual. E essa é apenas uma projeção mediana”, diz o texto.
Enquanto escrevia o texto, de dentro de sua casa climatizada, as ruas da vizinhança de David Wallace-Wells, morador do deserto da Califórnia, chegava quase a 50 graus. Não por acaso, o jornalista se preocupou em saber o que pode acontecer nas regiões do planeta que já sofrem com o calor, quando o aquecimento atingir os tais 2 graus, se assim conseguirmos. E a expectativa não é nada boa:
“O calor já está nos matando. Na região de cana-de-açúcar de El Salvador, cerca de um quinto da população tem doença renal crônica, incluindo mais de um quarto dos homens, o que pode ser atribuído à desidratação pelo fato de eles terem que trabalhar nos campos. Impressionante que, cerca de duas décadas atrás, isso não acontecia. Com diálise, o que é caro, aqueles com insuficiência renal podem esperar viver cinco anos; mas sem ela, a expectativa de vida é de semanas”, escreve o autor.
Na ciência do clima nada é simples, mas a aritmética pode ser bastante angustiante. Alguns cientistas conseguiram fazer umas contas que os ajudaram a concluir que se o nosso planeta ficar cinco graus mais quente as guerras e os conflitos sociais poderiam mais do que duplicar.
A Marinha norte-americana, diz ele, está preocupadíssima com o aquecimento global, em parte porque o aumento do nível do mar já será um problema e tanto a resolver. Mas se a taxa de criminalidade dobrar por causa do calor excessivo, isso seria também muito preocupante para os soldados das Forças Armadas.
A Marinha norte-americana, diz ele, está preocupadíssima com o aquecimento global, em parte porque o aumento do nível do mar já será um problema e tanto a resolver. Mas se a taxa de criminalidade dobrar por causa do calor excessivo, isso seria também muito preocupante para os soldados das Forças Armadas.
“Qual a relação entre clima e conflito? Muito tem a ver com a migração forçada, já batendo recordes frequentes, com pelo menos 65 milhões de pessoas deslocadas pelo planeta nos dias atuais. Mas também há o simples fato de irritabilidade individual, que fica aumentada pelo calor. E a chegada do ar condicionado no mundo desenvolvido, em meados do século passado, fez pouco para resolver o problema da onda do crime nos verões”.
O artigo de David Wallace é bem extenso, engloba várias facetas do aquecimento global, da falta de economia às nossas perdas de recursos naturais. Já na segunda metade do texto, cita o estudo do romancista indiano Amitav Ghosh , em que ele se pergunta por que o aquecimento global ainda não foi tema de ficção contemporânea. Já não há mais esta lacuna. Está para ser lançado nos Estados Unidos uma web série chamada “The North Pole”, quase uma sitcom.
Em “The North Pole”, três amigos de Oakland, ao norte da Califórnia, lutam para que seu bairro não se torne um ambiente hostil. Em sete episódios, Nina, Marcus e Benny combatem a gentrificação, os planos de geoengenharia, sonham e tramam esquemas divertidos para salvar o lugar onde moram.
Ao longo de todo o artigo de David Wallace a sensação é de que o jornalista não acredita que haja luz no fim do túnel para as questões climáticas. Mas o fim do texto mostra algum otimismo, quando ele cita cientistas com quem conversou e que são capazes de confortar aqueles que estão achando que vivemos, de fato, o fim da era da humanidade no planeta. Ou, pelo menos, uma dúvida, o que já é melhor do que a certeza da catástofe.
“Os cientistas do clima têm um tipo estranho de fé: segundo eles, encontraremos uma maneira de prevenir o aquecimento radical, simplesmente porque devemos fazer isso. Não é fácil saber o quanto ficar tranquilizado por essa desolada certeza, e quanto se perguntar se é outra forma de ilusão”, diz ele.
Foto: Parque Nacional Death Valley, no deserto da Califórnia (EUA) Crédito: Ezra Shaw / Getty Images North Ameica / AFP
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