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quarta-feira, 25 de maio de 2016

Com ociosidade elevada, indústria corta 700 mil vagas em 1 ano

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Uso da capacidade atingiu em 2016 mínimas recordes, próximo a 60%.
Previsão é que retomada e recontratações ocorram só a partir de 2017.

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Darlan Alvarenga-Do G1, em São Paulo
25/05/2016 06h00 - Atualizado em 25/05/2016 08h18
Postado às 10h30m

Com produção e faturamento em queda, a indústria tem encolhido e perdendo competitividade e participação na economia brasileira. No ano passado, foi o setor que mais demitiu no país e, em 2016, atingiu uma ociosidade recorde, segundo mostram os indicadores de uso do parque fabril.

USO DA CAPACIDADE
% de utilização do parque fabril em abril, por setores
Created with @product.name@ @product.version@52555657595959606060717279Produtos demetalVeículosMáquinasImpressão ereproduçãoMóveisPlásticoInformática eeletrônicosQuímicosLimpeza eperfumariaMetalurgiaCalçadosFarmacêuticosDerivados dopetróleo0100255075
Fonte: CNI
Na sondagem mensal feita pela FGV, a utilização da capacidade instalada na atingiu em fevereiro o menor nível da série iniciada em 2001.

No levantamento da (CNI) Confederação Nacional da Indústria, o uso da capacidade na indústria da transformação, aquela que produz bens de consumo e máquinas, chegou ao piso histórico nos meses de janeiro e fevereiro, quando o percentual médio ficou em 62%. Em março e abril, o índice ficou estacionado em 64%, mais ainda muito longe do usual e da máxima de 75%, registrada em outubro de 2013.

Em segmentos como de máquinas e equipamentos, nas montadoras e siderúrgicas, o uso médio da capacidade instalada segue abaixo de 60%. Veja gráfico ao lado
"Isso significa que praticamente um terço do que se poderia produzir não está sendo produzido, o que tem um custo e impõe ainda mais dificuldades financeiras", afirma o economista da CNI Marcelo Azevedo.


Praticamente um terço do que se poderia produzir não está sendo produzido"
Marcelo Azevedo, economista da CNI
Nas empresas de médio e pequeno porte, a ociosidade é ainda maior. 

O empresário César Prata, da Asvac Bombas, que fabrica equipamentos para plataformas de petróleo, navios, saneamento e outras indústrias, afirma que a sua fábrica na capital paulista está operando atualmente com apenas 40% da capacidade.

“O ideal de qualquer máquina é estar operando o tempo todo. Toda máquina tem um custo de amortização, então imagina usar só por um terço do tempo”, diz o dono da empresa, que da usual rotina de 3 turnos passou a operar com apenas um, e com um quadro reduzido. A fábrica, que no auge chegou a ter 50 funcionários, hoje emprega apenas 14.

Indústria eliminou 58% dos empregos perdidos no país
No acumulado do primeiro trimestre de 2016, a indústria da transformação eliminou 69 mil vagas. Nos últimos doze meses, o setor perdeu cortou 700 mil trabalhadores com carteira assinada.

Desde 2014, a indústria já fechou 845 mil postos de trabalho. Foi o setor que mais demitiu no período, respondendo por 58% das vagas eliminadas no país. Em março, o total de trabalhadores no setor somou 7,55 milhões de pessoas, retornando a níveis de 2010, segundo números do Ministério do Trabalho.
César Prata, dono da Asvac Bombas, que afirma operar com 40% da sua capacidade (Foto: Arquivo Pessoal)César Prata, dono da Asvac Bombas, que afirma operar com 40% da sua capacidade (Foto: Arquivo Pessoal)

O setor industrial está operando no nível mais baixo desde 2003, segundo dados do IBGE. Em 2015, a produção caiu 8,3%, o maior recuo já registrado pelo IBGE. No primeiro trimestre de 2016, a queda acumulada é 11,7%.

EMPREGO NA INDÚSTRIA
Em saldo de vagas criadas ou perdidas
Created with @product.name@ @product.version@554.316224.40992.814122.798-162.851-612.654-69.508Ano 2010Ano 2011Ano 2012Ano 2013Ano 2014Ano 2015Ano 2016-750k-500k-250k0k250k500k750k
Fonte: Ministério do Trabalho
O PIB (Produto Interno Bruto) da indústria amargou uma queda de 6,2% em 2015, ao passo que a economia do país recuou 3,8%. Para 2016, a CNI prevê um "tombo" de 5% no PIB da indústria da transformação, mais uma vez maior que o da contração geral da economia.

A economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, explica que o setor vem perdendo dinamismo e competitividade desde 2011, impactado principalmente pelo crescimento da entrada de importados, baixa produtividade e aumento real dos salários.

“De 2014 para cá, a indústria passa a sofrer também com a brutal queda da absorção doméstica, tanto do consumo quanto do investimento. E quando se tem muita ociosidade, as empresas acabam reduzindo muito as suas margens", diz a analista.

'Pior momento'
O empresário César Prata afirma que sua fábrica vive o "pior momento" em 33 anos de atuação no mercado.
Segundo ele, o faturamento caiu de 15% a 20% ao ano nos últimos 3 anos. "Passamos de uma produção de 400 bombas por ano para 170”, diz o dono da Asvac.


Pelo menos aquele pessimismo coletivo sem horizonte e sem luz no fim do túnel foi estancado" César Prata, empresário.

Na melhor fase, entre 2012 e 2013, a empresa chegou a operar perto da sua capacidade máxima. “Quando ainda não tinha Lava Jato, havia muito investimento da Petrobras, não tinha empreiteiro preso e a economia estava ativa ainda, a taxa de ocupação chegou a 90%”, conta o empresário.

Embora preveja um ano muito parecido com 2015 em termos de vendas, para ele a mudança de governo melhora as expectativas em relação ao futuro.

“Pelo menos aquele pessimismo coletivo sem horizonte e sem luz no fim do túnel foi estancado. Mesmo que os números não tenham alterado em absolutamente nada ainda, já tem esse astral de melhora”, diz Prata.

Pessimismo em nível crítico
O índice de confiança dos empresários medido pela CNI registrou em maio a maior alta desde 2010 e somou 41,3 pontos. O resultado abaixo dos 50 pontos, no entanto, mostra que o pessimismo ainda segue em nível crítico.
Uso da capacidade atingiu em 2016 mínimas recordes e segue longe do usual, segundo a CNI (Foto: Reprodução)
Uso da capacidade atingiu em 2016 mínimas recordes e segue longe do usual, segundo a CNI (Foto: Reprodução)

“A expectativa ainda é que vai piorar, mas reduziu o número de empresários que acredita na piora”, resume Renato da Fonseca, que coordena a pesquisa.


A expectativa ainda é que vai piorar, mas reduziu o número de empresários que acredita na piora"
Renato da Fonseca, economista da CNI
Ou seja, os empresários da indústria continuam esperando queda da demanda nos próximos seis meses e projetando mais demissões.

“O ajuste fiscal por mais que tecnicamente esteja certo, o efeito mais imediato das primeiras medidas da nova equipe econômica pode ser uma pancada”, diz o economista da CNI, citando o debate sobre a revisão da meta fiscal e possível elevação de de tributos.

A retomada da confiança é apontada como primeiro passo para uma retomada do crescimento, pois é a expectativa de melhora em relação ao futuro que irá motivar o empresário a voltar a investir, aumentar a produção e a planejar estoques maiores.

"A maioria dos empresários ainda está sem coragem para investir e se preparar para uma demanda maior. Por outro lado, a boa notícia é que tem aumentado o número de empresas que tem investido em melhorias de processos visando ganho de produtividade (produção maior com menor custo)", diz Fonseca.

Apostas ficam para 2017
O setor e os analistas trabalham com o cenário de uma leve recuperação a partir de 2017, mas as indústrias só devem voltar a contratar quando conseguirem reduzir a ociosidade.

"Primeiro temos que aumentar a produção aproveitando ao máximo o quadro atual", diz o dono da Asvac. "O ritmo de recontratação irá depender também da capacidade do novo governo de mexer nas leis trabalhistas, que são aquelas que sempre encabulam o empresário de contratar”, completa.


Com o aumento da taxa de desemprego, os salários desaceleram e isso para a indústria é um alívio na verdade"

Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências
A consultoria Tendências projeta que, após uma retração ao redor 4% neste ano, a economia brasileira irá crescer 1,2% em 2017, com o PIB industrial subindo 2,6%, impulsionado por investimentos em infraestrutura e novas concessões. 

“Olhando para frente, acreditamos que a indústria poderá recuperar um pouco da competitividade seja por causa do câmbio, seja no custo unitário do trabalho”, afirma Alessandra Ribeiro.

Segundo a economista, o dólar alto e, ironicamente, o aumento do desemprego tem contribuído para a indústria nacional recuperar parte da competitividade perdida.

Com o câmbio depreciado, a indústria fica mais competitiva lá fora porque reduz o seu preço em dólar e fica mais competitiva aqui dentro também porque o produto importado já não entra tanto. E com o aumento da taxa de desemprego, os salários desaceleram e isso para a indústria é um alívio na verdade, porque salário é um grande custo", explica.

Ela salienta, porém, que só mesmo a retomada do investimento e volta da demanda é que garantirão uma recuperação da indústria. "Como a ociosidade é muito grande isso pode ajudar numa retomada mais rápida. Mas a questão é ter demanda. Tendo demanda, como a capacidade já existe, é só produzir", conclui.
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