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Esforço fiscal menor e redução no preço do barril dificultam venda de ativos pela estatal.
SAMANTHA LIMA - Revista Época
24/07/2015 - 22h35 - Atualizado 24/07/2015 22h36
Postado às 19h50m
A possibilidade de a nota de risco do Brasil ser rebaixada, devido à revisão do alvo fiscal, e a retomada da produção de petróleo pelo Irã trazem um novo e difícil cenário para o projeto de desinvestimentos da companhia, preveem analistas. O aprofundamento das discussões sobre a venda de ativos constava da pauta da reunião do conselho de administração da companhia, que aconteceria ao longo do dia nesta sexta-feira (24).
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Em dificuldades financeiras, causadas por uma dívida bruta de R$ 400,6 bilhões e pelo prejuízo registrado de R$ 21,7 bilhões em 2014, a Petrobras decidiu cortar em 40% seu plano de investimento para o horizonte de cinco anos, de US$ 220 bilhões para US$ 130 bilhões, e colocar uma série de ativos à venda. A meta é arrecadar US$ 15,1 bilhões até o fim de 2016 e outros US$ 42,6 bilhões até 2018. Entre os ativos mais valiosos, está a BR Distribuidora.
O risco de rebaixamento da nota de crédito do país por agências de classificação de risco cresceu depois de o governo brasileiro ter anunciado que reduziria de 1,19% para 0,15% do PIB a meta de economia para pagamento de juros, o chamado superávit primário.
A decisão teve como base a redução da receita com a arrecadação, reflexo da crise econômica, e o redimensionamento das despesas públicas obrigatórias. O Brasil ainda desfruta do grau de investimento, espécie de selo de bom pagador, capaz de reduzir a percepção de investidores sobre o risco. Países e empresas com tal avaliação pagam menos juros para captar recursos.
Para perder o grau de investimento e cair nas classificações de grau especulativo o Brasil precisa cair dois degraus nas agências Fitch e Moody’s e apenas um degrau na Standard and Poor’s. Após o governo ter cortado a meta, a Fitch anunciou que reavaliaria os critérios de nota do Brasil.
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Uma classificação negativa do Brasil pode dificultar ou até impedir fundos de investimento estrangeiros de participar da oferta para aquisição de alguns ativos da Petrobras.
“Há fundos que restringem o investimento em países com tal classificação e outros que, mesmo sem restrição, podem pressionar por uma redução no preço dos ativos. Vai ser uma dificuldade a mais para a Petrobras”, diz Celson Plácido, estrategista-chefe da XP Investimentos.
A tendência de queda no preço do barril de petróleo representa mais um obstáculo à venda de ativos. A Petrobras pretende se desfazer de algumas áreas de seu portfólio e já deixou claro que blocos na província do pré-sal podem ser oferecidos. A cotação menor da commodity, contudo, pressiona para baixo o preço a ser cobrado.
Os preços do petróleo saíram de um patamar de US$ 110 há um ano, até cair próximo a US$ 40 no início do ano. A cotação ensaiou uma alta, mas voltou, recentemente, a cair abaixo de US$ 50, devido à perspectiva de o Irã retomar a produção de petróleo, depois de ter assinado, há duas semanas, acordo nuclear com seis potências, o que derrubou sanções antes impostas ao país.
“Desde que a Petrobras anunciou que poderia vender essas áreas, o preço do barril caiu 20%, e as reservas da estatal poderão perder valor nessa proporção”, diz o analista Flávio Conde, sócio da WhatsCall.
A retomada da trajetória de queda no preço do barril, por outro lado, indica, mais uma vez, redução no ritmo de perdas da área de abastecimento da Petrobras. Essas perdas ocorrem sempre que o preço do barril sobe no mercado externo, elevando com ele o preço dos derivados acima daqueles praticados nas refinarias brasileiras.
Como controlador da Petrobras, o governo impede repasses imediatos para evitar aumento da inflação, levando a estatal a, nessas situações, ter perdas com a venda de combustíveis. A Petrobras importa parte do petróleo que refina e também parcela dos combustíveis que vende, já que as refinarias não conseguem produzir todo o consumo interno.
Entre 2011 e 2014, a empresa perdeu mais de R$ 80 bilhões com a prática, mas havia começado, em novembro do ano passado, a ganhar dinheiro com essa impossibilidade de reajuste automático, graças à queda no preço do petróleo lá fora. De novembro a abril, o ganho com a chamada “defasagem positiva” foi de R$ 7,7 bilhões, calcula o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Em maio, a alta do dólar e a recuperação no preço do barril, que voltou ao patamar de US$ 60, tinham trazido as perdas de volta à rotina da estatal. Segundo o CBIE, entre maio e junho, a venda de gasolina trouxe prejuízo de R$ 545 milhões. Como o diesel ainda estava com preços internos acima da cotação internacional, não houve perda com esse combustível no período.
A mais recente queda no preço do barril vai representar um “colchão” para a estatal no momento em que o dólar retoma a trajetória de alta – e dólar em alta representa perda para a empresa, porque, somadas exportações e importações de petróleo e derivados da Petrobras, Petrobras compra mais no exterior do que vende lá fora.
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