As revelações do esquema de espionagem da NSA proporcionam oportunidades para plataformas e aparelhos que não podem ser rastreados
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20 de janeiro de 2014 -|- 5h30
Postado às 13h45n
Por Murilo Roncolato
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SÃO PAULO – “Você está preocupado com sua privacidade, roubo de identidade, espionagem corporativa ou se alguém está escutando suas ligações confidenciais?” O questionamento, usado na apresentação do celular Blackphone, é pura retórica. É inevitável responder “sim”.
Em tempos pós-Snowden, privacidade é a palavra da vez e motivo de preocupação de usuários na internet, onde softwares e serviços que não coletam dados e ajudam a proteger a identidade de quem por ali navega de repente passam a ganhar a atenção do público em geral.
É parte do que se convencionou chamar “Efeito Snowden” (referência ao ex-técnico da CIA que revelou o esquema de vigilância dos Estados Unidos). O buscador DuckDuckGo se coloca como alternativa ao Google. Seu chamariz é não arquivar informações sobre o usuário, seja seu IP ou o histórico de buscas.
Não guardar dados significa que eles não os venderão a anunciantes, nem os deixarão vulneráveis a roubo ou monitoramento, mesmo que velado. No início do mês, o buscador anunciou ter atendido 1 bilhão de requisições de buscas em 2013, pouco mais do que o dobro em relação ao ano anterior.
O serviço atendia em média 1,7 milhão de requisições diárias em maio, um mês antes das revelações de Snowden. Em julho, esse número dobrou e não parou de crescer. O nível mais alto foi de 4,6 milhões, alcançado na última quarta-feira, 15.
Gabriel Weinberg, criador do DuckDuckGo, acompanha os números com otimismo e acredita que serviços como Google e Facebook tendem a perder público. “As pessoas estão usando cada vez mais alternativas focadas na defesa da sua privacidade. Isso é o que explica a popularidade recente de serviços como Snapchat e do próprio DuckDuckGo”, diz.
“Todos estão cansados de anunciantes rastreando seus movimentos e interesses por toda a internet.”
O Blackphone, citado no início, é uma amostra desse “bom momento” para os defensores da liberdade e da privacidade na web. O smartphone é fruto de uma joint venture entre a Silent Circle, empresa presidida por Phil Zimmermann (leia entrevista abaixo), e a Geeksphone, empresa catalã famosa por desenvolver o primeiro aparelho com sistema operacional Firefox.
As empresas usaram a plataforma Android como base para criar o PrivatOS, que vem com uma série de recursos “libertários”, como dizem: sistema de voz por IP (para ligações), e-mail e aplicativos de comunicação por texto e vídeo, todos encriptados; além de Tor para navegação.
“Trabalhei anos com criptografia em e-mail e VoIP e agora implementamos isso em um celular”, diz Phil Zimmermann, criador do sistema de criptografia em e-mails mais usado no mundo, o PGP. “Fizemos o que que foi possível para aumentar a proteção dos celulares contra o monitoramento. O resultado é o Blackphone.”
Zimmermann acredita estar atendendo uma demanda reprimida por dispositivos seguros, mas que a “revolução da privacidade” não deve parar por aí. “Temos que fazer melhorias nos nossos celulares, nos nossos computadores, temos que melhorar a internet”, citando o caso dos 100 mil computadores “grampeados” pela NSA, esquema revelado nesta semana em mais um vazamento dos arquivos da agência.
Rede social
Anahuac de Paula Gil, de 41 anos, criou em João Pessoa, na Paraíba, o primeiro servidor brasileiro do Diaspora, uma rede social global e “livre”, popular por ser descentralizada, ou seja, por não depender de uma instituição que gerencie, sozinha, todos seus usuários.
“Qualquer pessoa ou empresa pode instalar um servidor e ter a sua própria rede social, garantindo a privacidade dos envolvidos”, diz o ativista, lembrando que a relação do usuário com a rede muda, já que a confiança é local, entre conhecidos, e não com uma empresa que tem seu modelo de negócios baseado no uso que faz dos seus dados. “Redes sociais não são um problema, o problema é quem domina a ferramenta.”
O servidor brasileiro foi instalado em dezembro de 2013 e já conta com quase 2 mil pessoas registradas, a um ritmo de 300 novos usuários por semana. “O servidor mais popular dos Estados Unidos chegou a encerrar novas inscrições, por não aguentar o volume de novos usuários nos últimos meses”, contou.
Kelley Misata, porta-voz do Tor Project, diz que o sistema que garante navegação anônima tem tirado muito proveito da nova situação. “Estão surgindo oportunidades como novos eventos e palestras onde podemos ajudar as pessoas a entenderem mais sobre segurança digital e meios de se proteger. Se isso se traduz em mais pessoas baixando e usando o Tor, então é um efeito positivo”, afirmou.
Fim da confiança
Para Jérémie Zimmermann, cofundador e porta-voz do La Quadrature du Net, organização francesa que advoga por liberdade e privacidade na rede, as pessoas estão recuperando a noção de importância da sua intimidade e mudando suas relações com empresas de tecnologia.
“Agora se entende que tecnologias podem ser usadas como ferramenta de controle. Mas também há tecnologias que tiram esse controle das mãos de uma empresa só. Liberdade e confiança serão dadas a tecnologias abertas e encriptadas. A confiança tradicional está quebrada.”
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Por Murilo Roncolato
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Em tempos pós-Snowden, privacidade é a palavra da vez e motivo de preocupação de usuários na internet, onde softwares e serviços que não coletam dados e ajudam a proteger a identidade de quem por ali navega de repente passam a ganhar a atenção do público em geral.
É parte do que se convencionou chamar “Efeito Snowden” (referência ao ex-técnico da CIA que revelou o esquema de vigilância dos Estados Unidos). O buscador DuckDuckGo se coloca como alternativa ao Google. Seu chamariz é não arquivar informações sobre o usuário, seja seu IP ou o histórico de buscas.
Não guardar dados significa que eles não os venderão a anunciantes, nem os deixarão vulneráveis a roubo ou monitoramento, mesmo que velado. No início do mês, o buscador anunciou ter atendido 1 bilhão de requisições de buscas em 2013, pouco mais do que o dobro em relação ao ano anterior.
O serviço atendia em média 1,7 milhão de requisições diárias em maio, um mês antes das revelações de Snowden. Em julho, esse número dobrou e não parou de crescer. O nível mais alto foi de 4,6 milhões, alcançado na última quarta-feira, 15.
Gabriel Weinberg, criador do DuckDuckGo, acompanha os números com otimismo e acredita que serviços como Google e Facebook tendem a perder público. “As pessoas estão usando cada vez mais alternativas focadas na defesa da sua privacidade. Isso é o que explica a popularidade recente de serviços como Snapchat e do próprio DuckDuckGo”, diz.
“Todos estão cansados de anunciantes rastreando seus movimentos e interesses por toda a internet.”
O Blackphone, citado no início, é uma amostra desse “bom momento” para os defensores da liberdade e da privacidade na web. O smartphone é fruto de uma joint venture entre a Silent Circle, empresa presidida por Phil Zimmermann (leia entrevista abaixo), e a Geeksphone, empresa catalã famosa por desenvolver o primeiro aparelho com sistema operacional Firefox.
As empresas usaram a plataforma Android como base para criar o PrivatOS, que vem com uma série de recursos “libertários”, como dizem: sistema de voz por IP (para ligações), e-mail e aplicativos de comunicação por texto e vídeo, todos encriptados; além de Tor para navegação.
“Trabalhei anos com criptografia em e-mail e VoIP e agora implementamos isso em um celular”, diz Phil Zimmermann, criador do sistema de criptografia em e-mails mais usado no mundo, o PGP. “Fizemos o que que foi possível para aumentar a proteção dos celulares contra o monitoramento. O resultado é o Blackphone.”
Zimmermann acredita estar atendendo uma demanda reprimida por dispositivos seguros, mas que a “revolução da privacidade” não deve parar por aí. “Temos que fazer melhorias nos nossos celulares, nos nossos computadores, temos que melhorar a internet”, citando o caso dos 100 mil computadores “grampeados” pela NSA, esquema revelado nesta semana em mais um vazamento dos arquivos da agência.
Rede social
Anahuac de Paula Gil, de 41 anos, criou em João Pessoa, na Paraíba, o primeiro servidor brasileiro do Diaspora, uma rede social global e “livre”, popular por ser descentralizada, ou seja, por não depender de uma instituição que gerencie, sozinha, todos seus usuários.
“Qualquer pessoa ou empresa pode instalar um servidor e ter a sua própria rede social, garantindo a privacidade dos envolvidos”, diz o ativista, lembrando que a relação do usuário com a rede muda, já que a confiança é local, entre conhecidos, e não com uma empresa que tem seu modelo de negócios baseado no uso que faz dos seus dados. “Redes sociais não são um problema, o problema é quem domina a ferramenta.”
O servidor brasileiro foi instalado em dezembro de 2013 e já conta com quase 2 mil pessoas registradas, a um ritmo de 300 novos usuários por semana. “O servidor mais popular dos Estados Unidos chegou a encerrar novas inscrições, por não aguentar o volume de novos usuários nos últimos meses”, contou.
Kelley Misata, porta-voz do Tor Project, diz que o sistema que garante navegação anônima tem tirado muito proveito da nova situação. “Estão surgindo oportunidades como novos eventos e palestras onde podemos ajudar as pessoas a entenderem mais sobre segurança digital e meios de se proteger. Se isso se traduz em mais pessoas baixando e usando o Tor, então é um efeito positivo”, afirmou.
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Para Jérémie Zimmermann, cofundador e porta-voz do La Quadrature du Net, organização francesa que advoga por liberdade e privacidade na rede, as pessoas estão recuperando a noção de importância da sua intimidade e mudando suas relações com empresas de tecnologia.
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