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A maior ave das Américas também é chamada de gavião-real.
Reportagem faz
parte dos melhores momentos do Globo Rural em 2012.
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Só que o cambará em flor abriga além da fauna pantaneira um visitante ilustre. Ele nasceu quase junto com as flores, um filhote de harpia.
As primeiras imagens da reportagem foram feitas quando o filhote tinha três meses. A pelugem era branca e o equilíbrio precário. Nessa idade o filhote recebe comida no bico e quando chega o pai, a mãe protege o filhote com as asas.
Quando atinge os seis meses, o corpo da ave fica bem configurado e as penas atingem um tamanho parecido ao de um animal adulto, aparecendo o penacho.
Chega ao ninho um macaco sem cabeça e sem outras partes, que o adulto comeu após a caçada. O filhote come a pele o osso da carne. No final da refeição, resta apenas o esqueleto.
Nas águas de 2011, no Pantanal, quando a área do ninho inundou aconteceu alguma coisa de ruim, um bicho pegou o filhote.
Minas Gerais
No município de Contagem, na Grande Belo Horizonte, fica o criatório de Roberto Azeredo, devidamente regularizado pelo Ibama. Ele cria espécies nativas em risco de extinção para a reintrodução em locais de onde desapareceram.
O criador construiu um harpiódromo de três andares. No primeiro andar ficam as aves solteiras, que ainda não reproduziram; no andar intermediário foram colocadas as aves em recuperação; e no andar superior estão os casais. Não há diferença entre macho e fêmea, só no tamanho. A fêmea é um pouco maior.
Roberto Azeredo foi o primeiro no Brasil a criar harpias em cativeiro com as próprias aves chocando os ovos, dispensando a utilização de chocadeiras. “O período de encubação foi de 54 dias no criatório. A galinha é de 21 dias”, explica.
Amazônia
Há 25 anos, a doutora Tânia Sanaiottis, do INPA, Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, em Manaus, capital do Amazonas, trabalha com a espécie no Brasil. “Nós temos mapeados cerca de 60 a 70 ninhos mapeados pelo Brasil”, calcula.
Antes da colonização havia harpia em quase território brasileiro, exceto em faixas de campo limpo no cerrado, na caatinga, no Pantanal e no Pampa. Atualmente, somente a Amazônia mantém-se parcialmente intacta.
A ave faz ninhos atrás das árvores mais altas. Os pés de angelim, de castanheira e de jatobá aparecem acima do dossel da floresta. São as árvores preferidas das harpias. Um casal criou no angelim um filhote que está com cerca de um ano.
O filhote, que fica pelo ninho esperando comida, voa de uma árvore a outra, agita as asas e se movimenta. O animal parece saudável e esperta. Mas a ave precisa ser capturada para fins de pesquisa. O escalador de árvores Olivier Jaudoin preparou uma armadilha que foi colocada no ninho.
Um dos trabalhos da bióloga Helena Aguiar Silva, do INPA, Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, é estudar o alimento do filhote de harpia. Os dados coletados por Olivier Jaudoin servirão para definir a área necessária numa floresta nativa para abrigar uma família harpia.
O cardápio na Amazônia é variado. “Ele come preguiças, macacos, aves e outros animais que vivem no topo das árvores da floresta”, diz.
A bióloga junta os restos dos alimentos com os ossos, que caem do ninho e são recolhidos em tela, e faz um balanço da dieta do filhote no ninho. Foram 25 preguiças, seis macacos, quatro porcos-espinhos, um gambá e duas aves.
A vida da harpia depende da floresta. A bióloga Elisa Vandeli, pesquisadora da Embrapa de Manaus, faz um trabalho junto às comunidades rurais para mostrar que existem alternativas de vida na selva sem devastação. Ela é colaboradora do Projeto de Preservação do Gavião Real.
“A árvore é fundamental para a proteção do gavião real, para a proteção de toda a vida da floresta, inclusive da cultura dos povos da floresta, mas árvores e florestas também são importantíssimas para a manutenção de uma agricultura sustentável, equilibrada”, alerta.
O Brasil é o segundo país com mais espécies de aves no mundo. Quem sabe essa pesquisa tão importante com a harpia, estimule o estudo e proteção de todas as aves brasileiras.
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