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BBC BRASIL.com
14 de Janeiro de 2013 • 13h48
Em um de seus últimos
compromissos oficiais de 2012, a presidente Dilma Rousseff deixou de lado sua
postura séria por um instante para fazer a bola rolar com um animado chute
inaugural no campo do Castelão, em Fortaleza.
A abertura dos dois primeiros estádios da Copa de 2014, em dezembro, na cidade nordestina e em Belo Horizonte, foi um ponto alto na agenda da presidente antes de suas férias na Bahia.
Em 2013, o Brasil começa a ter que mostrar ao mundo sua capacidade de sediar os megaeventos esportivos enfileirados até 2016, com a Copa das Confederações, em junho.
Mas dores de cabeça com o ano que começa tiraram o sossego da presidente, que voltou de férias na última terça-feira e terá uma semana cheia pela frente.
Dilma inicia a segunda metade de seu mandato com dois grandes desafios: retomar o crescimento econômico e evitar uma crise no setor energético que, para analistas, poderia arranhar sua imagem de boa gerente.
Embora o governo Dilma tenha registrado uma aprovação recorde para um presidente em seus dois anos de mandato - sendo considerada "boa ou excelente" por 62% da população" - o crescimento do país em 2012 ficou bem abaixo da expectativa do próprio governo e de investidores.
Efeito 'devastador'
Com uma expansão do PIB de apenas 1% no ano passado, o Brasil teve a pior performance entre os países do Bric, ficando atrás da Rússia, da Índia e da China - e esfriando o clima de euforia gerado por um crescimento de 7,5% dois anos atrás.
Analistas dizem que 2013 será um ano crucial para o Brasil e para o governo.
"Um novo 'pibinho" será devastador para Dilma e para a imagem do país", diz o historiador José Murilo de Carvalho, professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
"Mais uma vez se frustrará o sonho de grande potência, que persegue os brasileiros desde a Independência."
"Se a econômica não se recuperar em 2013, isso pode afetar sua popularidade (de Dilma) e aprovação", diz David Fleischer, professor emérito da Universidade de Brasília (UnB).
A metade do mandato da presidente coincide com os dez anos da chegada do PT ao poder, com a posse de Luiz Inácio Lula da Silva em 2003.
Durante a década, a expansão de programas de transferência de renda contribuiu para reduzir uma parcela da extrema desigualdade do país.
Para José Murilo de Carvalho, este é um dos fatores para a alta popularidade da presidente, mas ele diz acreditar que Dilma também esteja ganhando apoio da classe média que se expande no país, com cidadãos mais atentos a seus interesses como contribuintes.
"Essas pessoas são mais preocupadas com o bom governo no sentido de governo eficiente, honesto e transparente, promessa de Dilma. Mas para manter a popularidade ela terá que realizar a promessa de crescimento, sem abrir mão da disciplina monetária", diz.
Dilma compensou pela falta do carisma e do talento para discursos do ex-presidente Lula desenvolvendo a imagem de uma "gerentona", séria e eficaz.
A ameaça de crise no setor elétrico, porém - com os reservatórios do país em níveis tão ou mais baixos que na época do racionamento elétrico, em 2001 - atinge o calcanhar de Aquiles de Dilma, ex-ministra de Minas e Energia no governo Lula.
A presidente vem buscando assegurar que não há risco de apagão nem necessidade de racionamento, mas tem realizado reuniões emergenciais sobre o assunto com sua equipe.
Sorte ou azar
Carvalho afirma que, "com um pouco de sorte", Dilma conseguirá sair bem da crise, mas será forçada a cancelar a redução nas tarifas elétricas que prometeu no ano passado ou a usar recursos públicos para cobrir o rombo. "Será um desgaste, embora administrável."
"Se não tiver sorte, se ocorrer um apagão, sua imagem de boa gerente será inevitavelmente afetada", diz o historiador.
"Ela transformou o apagão de 2001 em cavalo de batalha contra o governo anterior. Tendo sido responsável pelo setor elétrico desde o primeiro governo Lula, nada a irrita mais que a sugestão da repetição do fenômeno em seu governo."
Na hipótese de a crise no setor elétrico se concretizar, diz Carvalho, a oposição terá uma arma poderosa durante a campanha de 2014. "Não só a oposição ganhará forte argumento, como saudosistas de Lula dentro do PT também poderão pressionar por uma volta do ex-presidente."
Há dez anos longe do poder, o PSDB já está se articulando para as próximas eleições, com o nome do senador Aécio Neves projetado como provável candidato. O partido pretende desconstruir a imagem de "boa gerente" de Dilma.
Crise externa x entraves internos
O governo atribui a desaceleração na economia ao cenário mais amplo de crise no exterior, que continua a atingir os Estados Unidos e a Europa.
Mas analistas dizem que os problemas também são internos.
"A situação internacional deteriorou e isso expõe os nossos gargalos", diz o cientista político Fernando Lattman-Weltman, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
"Há uma tendência natural a se voltar para o mercado interno, mas o setor produtivo e de serviços não consegue responder a essa demanda porque enfrenta problemas de infraestrutura, qualificação de mão de obra e um problema tributário muito sério."
O governo parece estar tentando atacar esses problemas, diz Luciano Rostagno, estrategista-chefe do WestLB Bank. "Mas a melhora nesses aspectos só vai acontecer no médio prazo."
Rostagno prevê um crescimento de 3,5% para este ano, enquanto a estimativa de governo, que se mostrou demasiado otimista em 2012, é de 4%.
Avanços com o mensalão
O PIB não deve ser a única medida de sucesso do país, ressalta o cientista político Eduardo Raposo, da PUC-Rio.
Ele aponta para o julgamento do mensalão como o maior exemplo de que o país está atravessando "um bom momento", marcado pelo fortalecimento de suas instituições.
"Estamos vivendo o maior tempo de democracia que já tivemos em nossa República, desde o fim da ditadura (em 1985). Isso traz uma estabilidade institucional que nunca vimos antes", diz.
Para o ano pela frente, porém, o sucesso do governo Dilma parece depender sobretudo de seu desempenho econômico.
Antes do Natal, ela afirmou que 2013 seria o ano de "colher os frutos" das medidas tomadas em 2012 - como o lançamento de uma série de pacotes para estimular investimentos em infraestrutura e a redução das taxas de juros.
Dilma disse a repórteres desejar um "PIBão grandão" para este ano, o último antes que o país mergulhe em mais uma campanha presidencial.
A presidente pode torcer também por um empurrão esportivo. Presidir o país durante uma eventual uma vitória do Brasil na Copa do Mundo e das Confederações em casa certamente não lhe fará mal.
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