Levantamento estatístico
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#||\_*:*_/||# RIO - Homens jovens, negros e pobres são as principais vítimas de acidentes fatais com motos no Rio de Janeiro, repetindo o mesmo fenômeno que já ocorre com os homicídios. A constatação é de um estudo do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes (Cesec/Ucam) em parceria com a Secretaria municipal de Saúde, que será apresentado hoje no seminário Caminhos da Educação e da Segurança no Trânsito, realizado pela prefeitura.
Pelos números do Datasus, em 2008, a taxa de mortalidade de motociclistas negros na faixa de 20 a 24 anos era de 57 óbitos por cem mil habitantes, índice quase 40 vezes maior que a taxa de todos os acidentes com moto (1,5 :100 mil).
- Este perfil é o mesmo da taxa de homicídios, ou seja, cerca de 90% de homens contra 10% de mulheres, e uma curva por faixa etária mais acentuada entre 20 e 24 anos. Isso mostra que o trânsito começa a ocupar o espaço da segurança pública. E, da mesma forma, há uma tendência grave de naturalização da culpa do jovem negro e de baixa renda por esta morte no asfalto - afirma a pesquisadora do Cesec/Ucam, Silvia Ramos, uma das coordenadoras da pesquisa.
" Este perfil é o mesmo da taxa de homicídios. Isso mostra que o trânsito começa a ocupar o espaço da segurança pública. E, da mesma forma, há uma tendência grave de naturalização da culpa do jovem negro e de baixa renda por esta morte no asfalto "
O índice superou o número de mortos em acidentes de automóvel, que em 2000 estava na segunda posição, com 55 vítimas, e passou para 147 em 2008 (aumento de 167%), ficando em terceiro no ranking. A primeira causa de mortes no trânsito continua sendo o atropelamento, com 376 óbitos em 2008, número que, no início da década, era de 514 (redução de 26,8%). Em seguida, aparecem os acidentes de bicicletas, com 29 mortes, e de veículos pesados, com 17. Ontem à noite, três pessoas ficaram feridas depois de serem atropeladas na Avenida Rio Branco, no Centro.
Acidentes: motoboy é grupo de risco
Na quarta-feira, o ex-motoboy Rodrigo Soares teve que socorrer o amigo João Gilberto Vieira após um acidente na Rua Teodoro da Silva, em Vila Isabel. Segundo o colega, Vieira conduzia uma moto e foi fechado por outro motociclista, que não prestou socorro ao acidentado. Desta vez, o caso foi sem gravidade, e Vieira foi liberado do Hospital do Andaraí no mesmo dia.
- Este é só mais um acidente. O trânsito é violento mesmo, e o motoqueiro todo dia corre o risco de cair, todo dia tem uma história parecida - conta Soares, que deixou há um ano o trabalho como motoboy. - Tinha que estar sempre disponível, sempre correndo.
Para o presidente da Associação dos Motociclistas do Estado do Rio de Janeiro, Aloísio Braz, a maioria dos acidentes com motociclistas ocorre com jovens que usam o transporte como meio de trabalho, geralmente no serviço conhecido como delivery (entrega).
- É o jovem que, pela falta do transporte e de condições financeiras, acaba comprando a motocicleta, sendo usada, principalmente para trabalhar. A maioria deles só vai aprender a dirigir na prática, já que os exames de habilitação exigem pouco, e eles ainda precisarão ser rápidos no trânsito para não perder o emprego - critica Aloísio Braz.
Já o presidente da Federação de Motoclube do Rio, Paulo Melgaço, cobra ações de conscientização voltadas para os motoristas.
- O motociclista sai de uma faixa para outra muitas vezes imprudentemente, e acaba sofrendo acidentes neste movimento. E mesmo quando há corredores viários para as motos, do lado dele tem outra moto correndo - afirma.
" O motociclista sai de uma faixa para outra muitas vezes imprudentemente, e acaba sofrendo acidentes neste movimento. E mesmo quando há corredores viários para as motos, do lado dele tem outra moto correndo "
Presidente da Associação de Parentes, Amigos e Vítimas de Trânsito (Trânsito Amigo), Fernando Diniz conta ter perdido em 2003 o filho Fabrício, na época com 20 anos, num acidente na Avenida das Américas, na Barra da Tijuca.
- Ele e duas amigas estavam sentados no banco de trás e morreram na hora por causa da ação irresponsável do motorista - conta Diniz, que cobra mais ações do poder público. - Devemos levar em conta aqueles que morrem dias depois do acidente, em casa, e que não engrossam as estatísticas. Os números hoje são menores, mas muitas pessoas continuam morrendo. É muito pouco ainda o que está sendo feito. O trânsito deve ser tratado como um problema de saúde pública.
De acordo com a coordenadora de políticas intersetoriais da Secretaria municipal de Saúde, Viviane Castelo Branco, durante o seminário realizado pela prefeitura será criado um fórum permanente sobre o trânsito, com representantes do poder público e da sociedade.
- Temos que pensar as políticas públicas para o trânsito de uma forma mais ampla, integrando diferentes setores, que vão além do caráter técnico da engenharia de trânsito - afirma.
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