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Constatação é de um estudo de pesquisadores da Universidade de Exeter, no Reino Unido. "Pontos de inflexão representam uma 'ameaça para a humanidade de uma magnitude sem precedentes", alerta líder de estudo sobre o tema.<<<===+===.=.=.= =---____-------- ----------____---------____::____ ____= =..= = =..= =..= = =____ ____::____-----------_ ___---------- ----------____---.=.=.=.= +====>>>
Por Roberto Peixoto, g1
Postado em 09 de dezembro de 2023 às 07h15m
#.*Post. - N.\ 11.037*.#
O mundo está perto de atingir 5 pontos de não retorno que podem desencadear catástrofes ambientais irreversíveis. E o aquecimento global tem culpa nisso, alertaram cientistas nesta semana.
Ou seja, se não controlarmos o aumento global da temperatura, eventos como o colapso de corais de águas quentes, o degelo do permafrost e o derretimento de grandes porções de gelo no Ártico e na Antártida se tornariam cada vez mais prováveis (entenda mais abaixo).
A constatação é de um estudo de pesquisadores da Universidade de Exeter, no Reino Unido, e financiado pelo Fundo Bezos Earth, do empresário norte-americano Jeff Bezos.
"Esses pontos de inflexão [como também são chamados] representam uma 'ameaça para a humanidade de uma magnitude sem precedentes', alertou à AFP o chefe do relatório, Tim Lenton, especialista em sistemas terrestres da Universidade de Exeter.
Abaixo, entenda por que a preocupação com os 5 sistemas abaixo:
- Corais de águas quentes
- Manto de gelo da Groelândia
- Manto de gelo da Antártida Ocidental
- Permafrost - solo congelado do Ártico
- Circulação do Atlântico Norte
Ao todo, o relatório descreve 26 pontos de inflexão, porém os mais dramáticos são os 5 que vamos explicar aqui. Segundo os cientistas, esses processos parecem já estar atingindo seu limite.
No caso dos corais de águas quentes não é difícil entender o motivo.
Francyne Elias-Piera, PhD em Ciência e Tecnologia Ambiental pela Universitat Autònoma de Barcelona, explica que os recifes de corais de águas quentes são ecossistemas altamente sensíveis às mudanças climáticas, sendo particularmente vulneráveis ao aumento da temperatura da água e à acidificação dos oceanos.
Eles estão localizados em áreas ao redor do equador onde a água é mais quente e, como mostram dados globais (veja o gráfico abaixo), eventos moderados e severos de branqueamento estão acontecendo cada vez mais nos últimos anos.
Isso porque devido ao aumento da temperatura da água, desencadeado pelo aquecimento global, os corais expulsem as algas simbióticas que vivem em seus tecidos, resultando na perda da coloração que ameaça a saúde dos recifes.
Um estudo de 2020 inclusive, publicado pela Rede Global de Monitoramento de Recifes de Coral (GCRMN), revelou que o mundo perdeu cerca de 14% de seus recifes de coral desde 2009. Este relatório, pioneiro em sua categoria, baseou-se em dados coletados em mais de 12.000 locais de coleta em 73 países ao longo de um período de mais de 40 anos (1978-2019).
Por isso, Francyne sugere algumas ações práticas que no futuro podem salvar os corais, como por exemplo:
- Monitoramento eficaz: o uso de tecnologias como drones e satélites para observar de perto a temperatura da água e a saúde dos corais.
- Cooperação entre cientistas e comunidade: compartilhamento de informações sobre práticas sustentáveis de pesca, evitando poluição e práticas prejudiciais ao ambiente marinho.
- Apoio a iniciativas existentes: suporte a projetos que já trabalham no plantio de corais e na recuperação de recifes danificados.
- Estabelecer áreas protegidas: a criação de zonas onde a pesca é controlada, permitindo a recuperação dos ecossistemas.
"A comunidade científica necessita estar unida com a comunidade local, para que passe as informações dos estudos científicos para a população e para que a população local também passe informações do que está acontecendo no ecossistema", diz.
Coral embranquecido é visto no local onde redes de pesca abandonadas o
cobriram em um recife na área protegida de Ko Losin, na Tailândia,
depois que um grupo de mergulhadores voluntários e o Centro de Pesquisa
de Recursos Costeiros, auxiliado pela Marinha Real da Tailândia,
removeram 2.750 m² de rede, no dia 20 de junho de 2021. — Foto: Jorge
Silva/Reuters
2. Circulação do Atlântico Norte
Adriana Lippi, mestranda em ciência e tecnologia do mar na Unifesp, explica que temos no nosso planeta um grande distribuidor de calor, a chamada circulação termohalina, que é movida principalmente pelas diferenças de temperatura e salinidades entre regiões equatoriais e polares.
"Com o aquecimento global, todo o oceano tem se aquecimento [veja gráfico abaixo] e as regiões mais frias estão cada vez mais aquecidas e isso desacelera a circulação termohalina", diz.
Como cerca de 90% do calor global está armazenado nos oceanos, as mudanças nessas correntes influenciam o clima em diversas regiões do globo.
E alguns estudos indicam que já estamos tendo uma desaceleração de 15% no sistema de correntes atlânticas desde meados do século 20, especialmente na corrente do Giro Subpolar do Atlântico Norte, localizada perto das costas da Groelândia e Labrador.
Segundo o IPCC, tanto nesse Giro Subpolar, no Mar do Labrador e nos Mares Nórdicos, foram observadas grandes mudanças na salinidade que foram associadas a alterações nas entradas de água doce (derretimento do gelo, circulação oceânica e escoamento fluvial).
Por isso, de acordo com os cientistas, a única maneira de impedir a paralisação desse sistema é reduzir as emissões de gases do efeito estufa e o consequente aquecimento do planeta.
3. Manto de gelo da Groelândia
O planeta está esquentando, e isso já é sabido há algum tempo. Desde a Revolução Industrial, a temperatura média subiu em torno de 1,1°C a 1,2°C. Contudo, os impactos não se limitam à nossa atmosfera; eles alcançam os oceanos, gerando transformações significativas.
Francyne explica que correntes atmosféricas e marinhas agora estão mais quentes. Por isso, quando atingem áreas como a Groenlândia, causam o derretimento do manto de gelo. E esse processo é uma peça-chave no aumento do nível do mar, podendo atingir proporções alarmantes.
"Nesses locais, as montanhas e as rochas são de uma cor escura, e sem o gelo, ficam expostas. As rochas escuras absorvem o calor do sol, esquentando ainda mais o local", diz a pesquisadora.
No relatório, os pesquisadores citam ainda um ponto crítico a considerar nessa questão. Se o manto de gelo da Groenlândia se desintegrar, isso pode levar a uma mudança abrupta na Circulação Meridional Atlântica, uma corrente crucial que fornece a maior parte do calor à Corrente do Golfo. Esse evento, por sua vez, pode intensificar o fenômeno El Niño, um dos padrões climáticos mais poderosos do planeta, que já está trazendo diversas transformações ao nosso clima nos últimos meses.
E em 2023, a Groenlândia perdeu gelo pelo 27º ano consecutivo. O derretimento foi alto em julho, com chuvas e neve acima do normal na primavera e início do verão no Hemisfério Norte (veja gráfico abaixo).
Por isso os cientistas alertam que a possibilidade de chegarmos a um ponto de não retorno na Groelândia não está tão longe, onde o desaparecimento do manto de gelo se torna irreversível. É um cenário desafiador que exige atenção imediata, considerando as implicações não apenas para o nível do mar, mas também para padrões climáticos globais.
4. Manto de gelo da Antártida Ocidental
Na Antártida a situação é bem parecida, como evidenciado pelo recorde de menor extensão do gelo marinho em julho de 2023, desde que os registros por satélite contínuos começaram em 1978 (veja gráfco abaixo).
E isso também é resultado do aquecimento global, que está fazendo a água do oceano aquecer e o gelo derreter.
E há algum tempo os cientistas alertam em específico sobre o
derretimento acelerado da camada de gelo na Antártida Ocidental,
impulsionado pelo aquecimento do Oceano Austral, especialmente na região
do Mar de Amundsen.
Icebergs no Mar de Amundsen, na costa oeste da Antártida, em foto de outubro de 2015. — Foto: ESA
5. Permafrost - solo congelado do Ártico
O permafrost é um tipo de solo congelado que geralmente é encontrado em regiões muito frias, como o Ártico, incluindo lugares como a Groenlândia, o estado norte-americano do Alasca, Rússia, China e a Europa Oriental.
O descongelamento desse solo, que cobre cerca de 23 milhões de km² no norte do planeta, não é facilmente visível, pois ele fica abaixo da superfície, mas representa um problemão.
Isso porque, segundo estudos mais recentes, o permafrost como um todo armazena uma enorme quantidade de carbono, aproximadamente 1.700 bilhões de toneladas.
"O descongelamento do permafrost pode levar a uma série de impactos significativos, incluindo a liberação de gases de efeito estufa armazenados, mudanças na hidrologia local e instabilidade do solo", alerta Francyne.
E por causa do aquecimento global, as temperaturas do permafrost estão subindo mais rápido que a temperatura do ar no Ártico, aumentando entre 1,5 a 2,5 graus Celsius nos últimos 30 anos. Isto é, as camadas de permafrost já estão derretendo.
E um aumento de 3 graus Celsius nas temperaturas globais pode derreter cerca de 30 a 85% das camadas superiores de permafrost no Ártico, causando danos à infraestrutura e mudanças irreversíveis nas paisagens e ecossistemas únicos do mundo.
"Entre as estratégias preventivas a abordagem mais eficaz é a redução global das emissões de gases de efeito estufa para limitar o aquecimento global e, assim, reduzir o descongelamento do permafrost", acrescenta.
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