Dia do Mico-Leão-Dourado é celebrado neste domingo (2). Viaduto conecta fragmentos da Mata Atlântica para unir populações isoladas e se torna um dos marcos da conservação da biodiversidade no país.
Por Rodrigo Marinho, G1 — Região dos Lagos
02/08/2020 07h00 Atualizado há 5 horas
Postado em 02 de agosto de 2020 às 13h50m
Neste domingo (2), Dia do Mico-Leão-Dourado, a espécie endêmica do Rio
de Janeiro e que está ameaçada de extinção ganhou o primeiro viaduto
vegetado do Brasil. A obra é um dos marcos da conservação da
biodiversidade do país e vai contribuir para o futuro da espécie.
A obra, com orçamento de R$ 9 milhões, começou em 2018 no
km 218 da BR-101, em Silva Jardim, no interior do Rio de Janeiro, e foi
concluída na última segunda-feira (27) pela Arteris Fluminense,
concessionária que administra a rodovia.
O viaduto recebeu o plantio de mudas nativas da Mata Atlântica. Toda a
estrutura, que inclui uma cerca de condução de fauna, já está pronta
para cumprir um importante papel: conectar a Reserva Biológica Poço das
Antas, um dos principais habitats do Mico-Leão-Dourado, à Área de
Proteção Ambiental Rio São João/Mico-Leão-Dourado.
Daqui a alguns anos, com o crescimento da vegetação no viaduto, a
travessia dos animais se tornará mais segura e permitirá o encontro
deles com outros membros da espécie que estavam isolados em outros
fragmentos da Mata Atlântica.
Esse encontro é fundamental para a reprodução do mico, já que
contribuirá para um intercâmbio genético, reduzindo o cruzamento entre
parentes e, assim, os problemas de consanguinidade.
O trecho onde o viaduto se encontra foi escolhido após mapeamento que
identificou os locais mais sensíveis ambientalmente e com altos índices
de atropelamento de animais.
O secretário executivo da Associação Mico-Leão-Dourado (AMLD), Luís
Paulo Ferraz, ressalta que as florestas de baixada do interior do estado
do Rio de Janeiro são a única área do mundo onde vivem os
micos-leões-dourados. Ao G1, ele falou sobre a chegada do tão esperado viaduto vegetado.
"As matas da região são muito fragmentadas e a duplicação da rodovia
forma uma barreira impedindo a circulação dos animais e isolando
populações. Os micos utilizam as árvores para mover, eles precisam se
sentir protegidos de predadores. Se tudo der certo no plantio realizado,
acreditamos que de dois a três anos já teremos um bosque que
possibilite o uso. Mas o projeto é de longo prazo e o importante é que
nas próximas décadas essa movimentação dos animais seja feita com mais
segurança e permita o equilíbrio ecológico na reserva", explicou Luís
Paulo.
A Reserva Biológica de Poço das Antas foi a primeira unidade de
conservação da espécie no Brasil, sendo criada em 1974 pelo então
Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF, atualmente
Ibama).
Luís Paulo disse ainda que está previsto um segundo viaduto no licenciamento ambiental da duplicação da rodovia.
"Este problema com as infraestruturas que cortam a paisagem de
conservação dos micos foi bem encaminhado e esperamos excelentes
resultados. Outras passagens mais leves também foram construídas como
túneis para a fauna terrestre e passagens copa a copa (como uma
passarela de pedestres) que permitem os animais cruzarem a rodovia",
afirma.
Febre amarela e a redução da população
Por volta da década de 1970, a população estimada do mico-leão-dourado
era de apenas 200 animais. Em 2014, após um intenso trabalho para
recuperação da espécie, que envolveu a articulação com zoológicos de várias partes do mundo,
vários animais foram reintroduzidos na natureza e a população foi
elevada para 3.200, como mostrou o Fantástico numa reportagem exibida em
agosto de 2014 (Relembre no vídeo abaixo).
Porém, atualmente, esse número já é bem menor devido ao surto de febre amarela que atinge a espécie.
Mico-leões-dourados começam a superar risco de extinção
"A estimativa atual é de 2.500 micos-leões-dourados. O surto de febre
amarela que ocorreu na região a partir de 2017 causou um sério impacto
na população. Mesmo assim, a situação é bem melhor de quando o trabalho
foi iniciado nos anos 1980, quando a população estimada na natureza era
de cerca de 200 animais", disse Luís Paulo.
Mesmo com o aumento da população, o trabalho de preservação da espécie
ainda enfrenta muitos obstáculos e está longe de terminar.
"Apesar de estar em situação muito melhor hoje, atualmente corre risco,
seja por doenças, como a febre amarela, seja pela redução das florestas
na região onde ele [o mico] ocorre. Esta região foi muito desmatada. A
fragmentação florestal dificulta a reprodução da espécie. Há outras
estruturas como linhas de transmissão, oleodutos e gasodutos que
influenciam também [para a redução da espécie]. Ainda temos sérios
problemas de queimadas, desmatamentos por diversos motivos e muitas
áreas de pastos.
A restauração das florestas é uma atividade muito
importante em nossa região e já temos diversas áreas plantadas
conectando fragmentos isolados de florestas. Hoje a maior preocupação é
com o impacto da febre amarela na população que pode ainda demorar para
ser recuperada", alerta Luís.
A AMLD
Foi no início dos anos 1960 que o primatologista Adelmar F. Coimbra
Filho estabeleceu as bases para um programa de salvamento do
mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia), espécie endêmica do
estado do Rio de Janeiro que contava com população de apenas 200 micos.
E foi na década de 1970 que o Programa de Conservação do
Mico-Leão-Dourado teve início, por meio da cooperação entre o Instituto
Smithsonian /Zoológico Nacional de Washington, o Instituto Brasileiro de
Desenvolvimento Florestal (IBDF, atual Ibama) e a Fundação Estadual de
Engenharia do Meio Ambiente (atualmente INEA), através do Centro de
Primatologia do Rio de Janeiro (CPRJ).
De acordo com o Luís Paulo, a AMLD se mantém por meio de diversas estratégias de captação de recursos.
"Através da execução de projetos em parcerias, patrocínio, prestação de
serviços, doações, ecoturismo e venda de produtos. Atualmente, temos
parcerias com diversas organizações, do Brasil e do exterior, tais como
Fundo Disney para a Conservação, Fundo Brasileiro para a
Biodiversidade-Funbio, ExxonMobile, EDF Norte Fluminense, DOB Ecology,
Zoológicos de Copenhague, Atlanta e Filadélfia entre outros".
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