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26/12/2013 - 03h00
Postado às 09h20
JOSEPH E. STIGLITZ
ESPECIAL PARA O PROJECT SYNDICATE, EM NOVA YORK
ESPECIAL PARA O PROJECT SYNDICATE, EM NOVA YORK
Há algo deprimente em escrever sumários anuais na meia década transcorrida desde que irrompeu a crise financeira mundial de 2008.
Nos EUA, a renda média manteve-se em declínio aparentemente inexorável. Para empregados do sexo masculino, ela caiu a níveis inferiores ao patamar que vinha mantendo há 40 anos.
A recessão na Europa acabou em 2013, mas ninguém pode alegar, responsavelmente, que ela foi seguida de uma recuperação. Mais de 50% dos jovens estão desempregados na
Espanha e na Grécia. De acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), a Espanha deve contar com desemprego superior a 25% por muitos anos.
O verdadeiro perigo para a Europa é que surja uma sensação de complacência.
Conforme passava o ano, era possível perceber a desaceleração no ritmo das reformas institucionais vitais para a zona do euro e um compromisso renovado com as políticas de austeridade que incitaram a recessão. Há um risco significativo de nova crise em outro país do bloco em um futuro não tão distante.
EUA
Nos EUA, a desigualdade social é crescente -e maior do que em qualquer outro país avançado. A contração provável da próxima rodada de austeridade -que já custou de 1% a 2% em crescimento do PIB em 2013- significaria que o crescimento continuará anêmico, mal conseguindo acomodar os recém-chegados ao mercado de trabalho.
O Vale do Silício e o próspero setor de hidrocarbonetos não bastam para compensar a austeridade econômica.
Assim, mesmo com a reduções na compra de ativos de longo prazo pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), iniciada na semana passada, taxas de juros acima de zero não são esperadas para antes de 2015 ou depois.
EMERGENTES
Da mesma forma que a política de compra de títulos para estimular a economia alimentou valorizações cambiais, anunciar o seu fim causou desvalorizações. A boa notícia é que a maioria dos países emergentes acumulou reservas cambiais e suas economias estão fortes o suficiente para resistir ao choque.
Ainda assim, a desaceleração no crescimento dos emergentes decepcionou e deve continuar em 2014.Cada país tinha sua história. A desaceleração econômica da Índia foi atribuída a problemas políticos em Nova Déli e um banco central preocupado com a estabilidade de preços.
A inquietação social no Brasil deixou claro que, a despeito do progresso notável na redução da pobreza e da desigualdade ao longo dos últimos dez anos, o país ainda tem muito a realizar para que a prosperidade seja distribuída de maneira mais ampla.
Ao mesmo tempo, a onda de protestos no país demonstrou a influência política da classe média em ascensão.
A desaceleração da China teve impacto significativo nos preços das commodities. Mesmo reduzido, no entanto, seu ritmo de crescimento desperta inveja no resto do planeta, e seu avanço rumo ao crescimento sustentável, ainda que em patamar mais baixo, servirá bem ao país e ao mundo, no longo prazo.
Temos uma economia de mercado mundial que não está funcionando. Temos necessidades não atendidas e recursos subutilizados. O sistema não está produzindo benefícios para grandes segmentos de nossas sociedades.
E a perspectiva de melhora significativa em 2014 parece irrealista. Os sistemas políticos parecem incapazes de introduzir as reformas que poderiam criar a perspectiva de um futuro mais brilhante.
Talvez a economia mundial apresente em 2014 desempenho melhor que o deste ano que termina, talvez não. Em um contexto amplo, os dois anos serão encarados como um período de oportunidades desperdiçadas.
JOSEPH STIGLITZ, ganhador do Prêmio Nobel de Economia, é professor catedrático na Universidade Columbia.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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