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quarta-feira, 20 de junho de 2012

Inimigos que se aliam


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Marcelo Auler

O encontro entre inimigos políticos, tal como ocorreu na segunda-feira (18), em São Paulo, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou o até então arqui-inimigo deputado e ex-governador Paulo Salim Maluf, não chega a ser uma novidade no Brasil.


Recentemente, o candidato à prefeitura de São Paulo José Serra (PSDB) esqueceu todas as críticas que os tucanos fizeram, há bem pouco tempo, e recebeu de bom grado o apoio do ex-ministro dos Transportes de Dilma, Alfredo Nascimento, presidente do PR. Ficaram para trás as acusações de corrupção que tucanos e demistas alardearam por muito tempo até verem Nascimento demitir-se do ministério, em julho de 2011.


Na época, Serra definiu o apoio de forma muito simples e direta: “Estou fazendo uma aliança com o partido, não com pessoas”. Nascimento não diferenciou muito no comentário: “Política é muito dinâmica. É assim que funciona”.
'Jornal do Brasil' em novembro de 1966 noticiava o encontro de Lacerda e JK
'Jornal do Brasil' em novembro de 1966 noticiava o encontro de Lacerda e JK
Foi ainda em nome da política que, há 46 anos, o Jornal do Brasil, na edição do domingo 20 de novembro de 1966, publicou em sua primeira página o encontro histórico de outros dois arqui-inimigos, em Lisboa: o ex-presidente Juscelino Kubitschek , o JK, e o ex-governador Carlos Lacerda, chamado por muitos de Corvo.


No ano seguinte, em Montevidéu, Lacerda trocaria aperto de mão com outro político que não apenas criticou. Foi ao encontro do ex-presidente João Goulart, o Jango, cuja deposição pelos militares em 1º de abril de 1964 o ex-governador apoiou.


Como admite o cientista político Fabiano Santos, do Instituto de Estudos Sociais e Política da Uerj, os propósitos e finalidades destes encontros foram diferentes. Há 40 anos, os inimigos se juntaram para lutar contra a ditadura militar. Mas a motivação que os uniu foi a mesma que este ano juntou Serra e Nascimento assim como Lula e Maluf: eleitoral.


Lacerda só tomou a iniciativa de procurar JK e Jango depois de ver os militares que estavam no poder, tendo à frente o general Humberto Castello Branco, cancelarem as eleições presidenciais que tanto o Corvo como JK pretendiam disputar.


“Todos esses líderes são políticos que só podem prosperar em ambiente democrático, pelo voto. Lacerda, ainda que tenha tido atitudes radicais contra seus adversários, acabou percebendo que deu um tiro no próprio pé ao apoiar os militares. Viu que a aposta dele foi errada. Na época eles se uniram contra a ditadura”, explica Santos. Hoje, para ele, as alianças são meramente eleitorais.


O PSDB de Serra busca a prefeitura paulista para, com isso, manter a hegemonia que sempre teve – mesmo quando passou a cadeira de prefeito a Gilberto Kassab, ex-DEM, atual PSD – nos governos municipal e estadual.


Já Lula, para renovar os quadros do partido, quer eleger Fernando Haddad. Com isto, pretende dar os primeiros passos para conquistar o poder em São Paulo. Para tanto, não se incomodou de transpor o portão da residência de Maluf, deixando para trás o passado de desentendimento. Um passado nada pequeno, pois para os petistas, o ex-governador é sinônimo de corrupção, qualidade que o fez um homem com mandado de prisão expedido pela Interpol em todo o mundo.


Os tempos mudaram, mas os políticos continuam superando as “inimizades”. Uns o fizeram na defesa da democracia, outros o fazem com interesses eleitorais. Fica apenas a dúvida de como reagirão os eleitores e os aliados políticos de cada um deles.


Em 1966, por falta de eleição, nunca se soube a reação popular ao encontro de Lacerda e JK e, depois do Corvo com Jango. Mas o desprezo de alguns aliados foi imediato. Lacerda residia no mesmo prédio que o brigadeiro Eduardo Gomes, da UDN como o ex-governador. Quando os dois se encontraram no elevador, o militar simplesmente ignorou a presença do ex-aliado.


Hoje, ainda é cedo para se saber a reação dos petistas à visita de Lula a Maluf e dos eleitores tucanos à aproximação de Serra do PR. Mas, entre os aliados, a resposta veio rápida: Luiza Erundina abandonou a chapa de Fernando Haddad.

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