Em seu livro 'O Fim de Tudo', a cosmóloga Katie Mack afirma estar ciente de como tudo terminará e diz que isso a liberta. TOPO Por BBC 06/08/2020 07h10 Atualizado há 6 horas
Por BBC
Expressões como "morte térmica", "grande implosão", "decomposição à vácuo" não parecem muito animadoras. E realmente não são.
Elas descrevem algumas das teorias apresentadas pelos cientistas sobre como o universo um dia morrerá.
No entanto, quando a cosmóloga Katie Mack pensa sobre o fim de tudo, ela sente uma paz profunda.
"Há algo em aceitar a transitoriedade da existência que te liberta um pouco", disse ela à BBC.
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Mack ainda se lembra vivamente da primeira vez em que teve consciência
de que o universo poderia acabar a qualquer momento: ela estava com um
professor e colegas de classe na universidade.
"Eu estava sentada no chão da sala do professor Phinney com o resto da
minha turma de astronomia após nosso jantar semanal, e lembro que o
professor estava com a filha dele de 3 anos no colo", escreveu ela em
seu novo livro: "O fim de tudo."
Ela aprendeu que os cientistas não têm a menor ideia de por que o
universo se expande de tal maneira — a chamada inflação cósmica — e isso
significa que eles também não podem afirmar que o espaço não começará a
se destruir violentamente a qualquer momento.
"Eu transformei aquilo numa questão pessoal. Pensei que já que todo o
universo tem esses processos que ocorrem o tempo todo, em princípio isso
também pode acontecer comigo. Eu estou no universo, sou parte dele, e
não tenho como me proteger de tudo isso", conta.
"Uma das coisas que procuro com este livro é compartilhar um pouco
desse terror, que pode parecer mesquinho, mas é para ajudar as pessoas a
terem uma conexão mais pessoal com o que acontece no universo",
acrescenta.
O que está acontecendo no espaço fascina Mack desde que ela era
pequena. Mas ser uma empregada doméstica em Los Angeles não lhe deu
muito acesso ao que a maioria dos astrônomos diriam que os inspiraram a
seguir essa carreira.
"Ali você não pode ver a Via Láctea. A duras penas você consegue ver as
estrelas", diz Mack, que trabalhou como pesquisadora nas universidades
de Caltech, Princeton, Cambridge e agora na Universidade Estadual da
Carolina do Norte.
Em vez disso, foram "todas as coisas raras" que a levaram para esse
caminho: "Todas essas coisas que torcem seu cérebro, como buracos negros
e espaço-tempo".
Quando soube que Stephen Hawking se rotulava como um cosmólogo, ela soube "o que queria ser".
Devo esclarecer que não passei nos exames de ciências para obter o
certificado do ensino médio, por isso imagino que deve haver melhores
repórteres para entrevistar uma astrofísica teórica.
Mas depois de acumular 350 mil seguidores no Twitter, Mack aprimorou
sua capacidade de falar com pessoas comuns e é para mentes não
científicas que seu livro é voltado.
Não vou fingir que entendi todos os conceitos de seu livro, mas Mack
reconhece que "não é para folhear e absorver tudo imediatamente".
'Dar um tempo'
"Eu sei que muitos escritores científicos tentam evitar isso
completamente e querem guiar os leitores por todos os detalhes, mas acho
que às vezes é recomendável dar um tempo."
Palavras simples como "morte térmica" são fáceis de entender, e isso é
bom porque é a maneira mais provável de o universo acabar.
"É a ideia de que o universo se expande e se expande até esfriar e tudo
desmoronar e desaparecer", diz Mack, reconhecendo que não é a
"probabilidade mais fascinante".
"A que eu acho mais engraçada é a decomposição à vácuo. Talvez
divertida não seja a palavra que devo usar em relação à destruição do
universo, mas o conceito é divertido.
"Ela altera algo nas equações e logo é possível que algum tipo de bolha
da morte se materialize em algum lugar do universo e se expanda na
velocidade da luz destruindo tudo".
A ciência não pode descartar essa possibilidade.
"A única coisa que nos faz duvidar do que aconteceria é que ela existe
naquele âmbito em que não podemos testar nenhum aspecto da teoria.
Portanto, não sabemos se algo mudaria teoricamente nessa situação de
alta energia", diz ele.
"Provavelmente não vai acontecer nos próximos trilhões e trilhões e trilhões de anos. Mas tecnicamente isso pode acontecer a qualquer momento."
São pensamentos desse calibre que Mack sustenta que não podem dar um "senso de perspectiva".
"Muitos aspectos da vida moderna são projetados para tentar nos convencer de que estamos completamente seguros, protegidos e no controle de tudo que nos rodeia. E isso simplesmente não é verdade. Evidentemente, o mundo está passando por uma situação que está impulsionando essa mensagem".
"Mas também de uma perspectiva cósmica, estamos dentro deste universo e temos que aceitar o que ele nos dará."
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