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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

'Bush queria o 11 de Setembro', diz mãe de terrorista

Amor a toda prova


INTERNACIONAL -- NOTÍCIAS & INFORMAÇÃO.



10 ANOS DO 11 DE SETEMBRO  --  -- RETROSPECTIVA -\- Uma história de muitas vidas!




David Usborne, do Independent



Aicha el-Wafi não acredita que seu filho tenha participado dos ataques terroristas do 11/09 / AP
*:*//-||-\\*:* LONDRES - Na fotografia na sala de estar de sua mãe, Zacarias Moussaoui é um rapaz de 20 anos alegre e de rosto confiável. Nas fotos em cima do aparador, ele é um menino doce de 7 anos brincando com outras crianças às margens de um rio terroso na Alsácia.


Essas e outras fotos - como a de Zacarias começando a andar e como um estudante barbudo em Londres - decoram o bangalô de Aicha el-Wafi na cidade vinícola de Narbonne, na França.


Foi nessa casa, com uma figueira no jardim e a vista de uma das lagoas paralelas à costa de Languedoc, que a partir de 1982 Zacarias Moussaoui, seu irmão e suas irmãs cresceram.


- Eu sempre penso no Zacarias quando a gente chegou nesta casa, com 13 anos - disse Aicha - Ele sempre foi um menino muito afetuoso e amigável. Toda manhã, era o primeiro a acordar e falar para mim, ainda de cuecas, sorrindo e se espreguiçando: 'Vamos mãe, e o café?'. Agora, você sabe, eu não consigo mais beber café sem pensar no Zacarias, enterrado vivo nessa cela nos Estados Unidos.


Para o mundo, Zacarias Moussaoui, 43, é um dos "20 sequestradores", um homem sinistro com um rosto barbudo inchado e arredondado. Ele é o homem que amaldiçoou os Estado Unidos e os judeus durante seu bizarro julgamento na Alexandria, em Virgínia, em 2006. É a única pessoa julgada especificamente por tomar parte nos ataques terroristas do 11 de Setembro. Dúvidas consideráveis foram levantadas sobre o papel que ele desempenhou na conspiração - se é que ele teve um papel.


Sem comunicação por 6 anos

Em maio de 2006, Moussaoui foi sentenciado à prisão perpétua, sem a possibilidade de uma condicional, na "Alcatraz of the Rockies" (algo como Alcatraz das Montanhas Rochosas, em tradução livre) - a Instituição Máxima de Administração Penitenciária dos Estados Unidos (ADX), em Florence, Colorado.


Há cerca de seis anos, sua mãe não fala com ele, ou recebe respostas para as muitas cartas que enviou. As autoridades americanas dizem que o filho se recusa a falar com a mãe. Ela acredita que o isolamento foi imposto como parte da punição.


Aisha está convencida de que Moussaoui não tinha nada a ver com os ataques ao Pentágono e às Torres Gêmeas. Para ela, o filho é um bode expiatório e está sendo "punido pelo que ele disse (no julgamento)... não pelo que fez.


Ela admite que o filho, enquanto estudava para o mestrado em Londres entre 1993 e 1005, tornou-se um islamita e um extremista sem que ela notasse. Aisha culpa, entre outras coisas, o divórcio entre ela e o pai abusivo quando Moussaoui tinha 4 anos. A mãe do suposto terrorista também responsabiliza dois incidentes dolorosos da sua adolescência francesa.


O primeiro foi o dia em que o conselheiro vocacional da escola o empurrou, por mais que ele fosse um excelente aluno, a estudos técnicos menores.


A implicação clara era que ele era apenas um árabe e não precisaria de mais do que isso, avalia Aisha.
A segunda "cicatriz psicológica" foi o dia em que o pai de sua namoradinha adolescente o advertiu a terminar o relacionamento, novamente porque ele era árabe.
- Eu não acho que você vai colocar os pés debaixo da minha mesa nunca - disse o homem.



Zacarias Moussaoui em seu uniforme de prisioneiro / AP

'Quem vai amar Zacarias senão sua mãe?'


Na última década, Aisha, de 65 aos, defendeu o filho publicamente enquanto fazia campanhas contra o extremismo. Ficou amiga de cinco famílias de vítimas do 11 de Setembro nos Estados Unidos e se uniu a um grupo feminista francês "Nem Putas, Nem Submissas" ("Ni Putes, Ni Soumises"), que tenta persuadir mulheres francesas de origens africanas ou árabes a resistir à opressão masculina.


Ela visita escolas para dar palestrar a meninas de origem norte-africana sobre os males de uma casamento arranjado. Aos 14 anos, Aicha Wafi se casou no Marrocos com um homem que não conhecia.


- Eu amo meu filho mais do que nunca - disse, beijando uma das fotografias. - Algumas pessoas acham isso estranho, mas, para mim, não é. Foi fácil amar o menininho que corria por aqui, cheio de vida. Quem vai amar Zacarias agora, em sua cela no subsolo dos Estados Unidos, senão sua mãe?


A mãe de Zacarias diz que ficou - e continua - enojada pela carnificina do 11 de Setembro. Com raiva, ela dispensa as formas extremistas do Islã caracterizando-as como "perversas", uma "obsessão com o poder", e "nada a ver com o Islã de verdade, que é sobre amor, respeito e tolerância". Ela está convencida, no entanto, que os radicais são apenas em parte responsáveis pelo que aconteceu.


- Também foi Bush. Eu acredito que o governo Bush queria que isso acontecesse, mesmo que não estivesse diretamente envolvido. Eu acredito que Osama bin Laden sempre trabalhou próximo aos americanos - afirma. - Eu quero dizer o governo, não o povo. Sempre foi uma questão de poder e dinheiro. Bush queria uma desculpa para atacar o Iraque.


Aisha é calorosa e articulada, mas continua, depois de dez anos, uma mulher com raiva. Raiva da França, diz, por ter ensinado seu filho a ser francês, e depois dito a ele que não era bom o bastante para isso; raiva dos britânicos por dar liberdade aos pregadores radicais em Londres, que, acredita, converteram seu filho a uma forma "venenosa e pervertida" do Islã; raiva do outro filho, Abd Samad Moussaoui, que, segundo ela, ajudou o serviço de segurança francês nas investigações sobre Zacarias após o 11/9.


Curiosamente, porém, ela não consegue ter raiva do próprio Moussaoui. Ele foi preso nos Estados Unidos um mês depois do 11 de Setembro sob uma pequena acusação relacionada a imigração. Estava sob custódia em Minnesota na hora dos ataques. Ele fez parte do treinamento de voo e dos programas de simulação nos Estados Unidos - e foi reprovado. De acordo com uma versão dos acontecimentos, ele era uma membro "reserva" da equipe 11/09.


Segundo os relatos conflitantes do próprio Moussaoui, mais tarde retirados, ele deveria ser parte de um ataque seguido ao do homem bomba do sapato, Richard Reid. Moussaoui foi condenado por conspiração para cometer atos de terrorismo, pirataria e destruição de aeronave. Na sua sentença, disse que os EUA "nunca pegariam Bin Laden". Enquanto ele era levado do tribunal, disse ainda: "EUA, vocês perderam, e eu ganhei".


- Eu estou convencida de que não tinha nada a ver com o 11 de Setembro. Algumas das coisas que ele disse no julgamento foram abomináveis, inaceitáveis. Mas você deve pegar prisão perpétua por isso? Ok, ele participou do treinamento de piloto. Mas muitas pessoas fazem isso. Não prova nada. No máximo, você pode dizer que ele pode ter desejado ser terrorista, mas não existe um pingo de provas de que ele ajudou a planejar o 11 de Setembro. Até onde eu sei, as pessoas que o colocaram em uma cela de quatro metros quadrados para a vida inteira são monstros. E você pode escrever monstros com letra maiúscula.


Bem educado e com oportunidades

Mesmo depois do conselho vocacional na escola, Moussaoui obteve um diploma em Administração na França e um doutorado na South Bank University em Londres. Ele era um talentoso jogador de handebol e estava longe de ser um rapaz sem futuro. Como muitos outros jovens muçulmanos, franceses ou britânicos, que se filiam às vertentes extremistas do Islã, ele era um rapaz inteligente com perspectivas.


- Você sabe que eu coloquei essa questão ao Zacarias eu mesma, antes do julgamento, quando eu ainda podia telefonar para ele todas as terças-feiras. Eu disse a ele que ele tinha uma vida boa e uma educação boa na França. Mesmo como uma mulher solteira árabe, eu consegui dar a ele uma boa infância. Ele respondeu: 'mamãe, a diferença é que você era jovem e bonita e uma mulher. Eu era um homem árabe. Eu não fui aceito e nunca seria aceito. Eu sabia disso.


Quando fomos embora, Aisha orgulhosamente mostrou seu jardim e sua vista para a lagoa do Mediterrâneo. Ela insistiu que eu comesse alguns dos seus deliciosos figos.


- Eu comecei a cuidar deles de novo recentemente depois de tudo isso. Os últimos 10 anos foram 10 anos de miséria. É como se a minha vida tivesse sido congelada no momento em que eles me mostraram o rosto do Zacarias na televisão e disseram que ele tinha sido preso nos Estado Unidos. Por que a minha vida foi assim? E se eu não tivesse sido forçada a casar aos 14 anos? Por que o Zacarias ouviu aqueles pregadores em Londres? E se ele tivesse casado e tido filhos? Todas as vezes que eu vejo seus amigos da escola com suas esposas e filhos, eu penso: "Por que ele não? Por que eu não?.


Enquanto isso, nada se sabe dos membros das famílias dos outros 19 sequestradores. Elas estavam livres para repatriar os restos mortais deles, mas as autoridades de Nova York nunca receberam nenhum pedido. Só as autoridades da Pensilvânia tem algum registro de pedidos sobre os sequestradores, que nunca foram concluídos. 
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