Bloqueio rígido e credibilidade da premiê Jacinda Ardern contribuíram para o país dominar o novo coronavírus e regressar à normalidade.
Por Sandra Cohen
Especializada em temas internacionais, foi repórter, correspondente e editora de Mundo em 'O Globo'
08/06/2020 09h47 Atualizado há 4 horas
Postado em 08 de junho de 2020 às 13h50m
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Primeira-ministra Jacinda Ardern sorri durante coletiva de imprensa nesta segunda-feira (8) — Foto: Mark Mitchell/New Zealand Herald via AP
Graças a um bloqueio severo de sete semanas e a uma líder que se comunica de forma transparente e eficaz, os cinco milhões de neozelandeses voltam, a partir de meia-noite, à vida como ela era antes da pandemia. Sem casos ativos há 17 dias, a liberdade significa sentar-se ao lado de outro passageiro no transporte público, tocar o rosto de alguém, frequentar estádios, ir a concertos, festas e casamentos e, finalmente, encerrar o distanciamento social.
“Estamos preparados”, resumiu a primeira-ministra Jacinda Ardern, ao anunciar que o país dominou o novo coronavírus e entra no tão aguardado nível 1 de alerta, após 75 dias de restrições. O período de transição chegou ao fim, e o país apresenta uma equação matemática clara para a Covid-19: 1.154 casos confirmados, 1.132 recuperados e 22 mortes.
A fórmula para o êxito no combate à pandemia incluiu medidas rigorosas, a rápida adesão ao bloqueio e um programa eficiente de testagem e rastreamento de casos. A curva da doença achatou 10 dias após o início da quarentena. Ainda assim, não houve relaxamento imediato das restrições. O país submeteu-se a um plano de quatro fases.
Há outro ponto fundamental: a credibilidade do governo. A premiê conduziu entrevistas e lives diárias pelo Facebook; seu estilo de liderança, direto e consistente, contribuiu para que a população respeitasse a determinações de permanecer trancada em casa.
Jacinda foi implacável quando o ministro da Saúde, David Clark, violou a quarentena, afastando-o do cargo. Impôs sacrifícios ao gabinete, cortando 20% de seus salários durante seis meses. Resultado: a pandemia fez dela a premiê mais popular do país da Nova Zelândia, com 80% de aprovação.
Aos 39 anos, a premiê tem bons motivos para ter comemorado a vitória sobre a pandemia com uma dancinha com a filha Neve, de 1 ano. Mais uma vez, Jacinda Ardern torna-se referência em liderança no gerenciamento de crises. Foi assim também em março do ano passado, quando um supremacista de extrema direita invadiu duas mesquitas e matou 51 fiéis.
A premiê trabalhista encarou os fatos de frente, postando-se ao lado das vítimas muçulmanas. Em poucos dias, a Nova Zelândia aprovava uma lei para restringir a posse de armas.
O governo de Jacinda Adern dominou o novo coronavírus e concentra-se em nova etapa: recolher os destroços de uma economia que vive de turismo e seriamente abalada pela pandemia. Livre do vírus, ela acredita que a recuperação será mais rápida: “No nível 1 nos tornamos uma das economias mais abertas do mundo.” Faz sentido.
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