Resultado foi puxado pela indústria extrativa, que caiu 9,7%, influenciada pela produção menor de minério de ferro após a tragédia de Brumadinho.
Por Daniel Silveira e Laura Naime, G1 — Rio de Janeiro e São Paulo
Postado em 04 de fevereiro de 2020 às 10h15m
Produção das indústrias brasileiras encolhe em 2019
Postado em 04 de fevereiro de 2020 às 10h15m
Produção das indústrias brasileiras encolhe em 2019
Após dois anos de expansão, a produção industrial brasileira recuou 1,1% em 2019, na comparação com o ano anterior, segundo dados divulgados nesta terça-feira (4) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2018, a indústria havia crescido 1%.
“Tiveram grande peso nesses resultados negativos os efeitos na indústria extrativa, em decorrência do rompimento da barragem de Brumadinho no início de 2019”, explica em nota o gerente da pesquisa, André Macedo.
Ele apontou, no entanto, que a produção industrial também pode estar sendo impactada "pelas incertezas no ambiente externo e também pela situação do mercado de trabalho no país que, embora tenha tido melhora, ainda afeta a demanda doméstica”.
Em 6 anos, a indústria amarga uma perda de 14,8%, segundo o pesquisador. Nos três anos de crise, de 2014 a 2016, o setor acumulou 17,7% de perdas. Recuperou 2,5% em 2017 e 1% em 2018, voltando a perder 1,1% em 2019.
Produção industrial anual — Foto: Arte/G1
Dezembro
Em dezembro, a produção da indústria caiu 0,7%, na segunda taxa negativa seguida – acumulando queda de 2,4% nos últimos dois meses do ano. Foi o pior resultado para meses de dezembro desde 2015, quando houve queda de 2%, segundo a série histórica da pesquisa.
Com o resultado de dezembro, a indústria brasileira operou 18% abaixo de seu ponto mais alto, registrado em maio de 2011. “Em termos de patamar de produção, é como se estivéssemos voltando para [o ritmo de produção de] janeiro de 2009”, apontou o gerente da pesquisa, André Macedo.
O pesquisador enfatizou que este é o pior patamar de produção registrado desde maio de 2018, quando ocorreu a greve dos caminhoneiros que afetou negativamente toda a economia do país.
O IBGE apontou que houve queda no setor também na comparação com dezembro de 2018, de 1,2%. "Com esses resultados, o setor industrial recuou tanto no fechamento do quarto trimestre de 2019 (-0,6%), como no acumulado do segundo semestre do ano (-0,9%), contra iguais períodos do ano anterior", diz o instituto em nota.
Produção industrial mensal — Foto: Economia G1
Indústria extrativa puxou resultado negativo no ano
De acordo com o IBGE, a indústria extrativa foi a maior influência negativa nos resultados de 2019, recuando 9,7%, pressionada pelos itens de minério de ferro. Vale lembrar que, em janeiro do ano passado, a tragédia de Brumadinho fez com que a Vale, maior produtora de minério do país, suspendesse a produção em diversas instalações.
“O acidente ambiental na região de Brumadinho, em janeiro de 2019, traz claramente consequências para o comportamento não só do setor extrativo, mas para a atividade industrial como um todo", explicou Andre Macedo. "Isso impacta especialmente a produção de minério de ferro, o que traz um reflexo importante quando se consolida as informações do ano de 2019”.
Segundo ele, o acidente afetou "diretamente esse resultado negativo”. “Para além disso, tivemos um predomínio de atividades em quedas.
São 16 das 26 atividades industriais com resultados negativos”, destacou o pesquisador.
São 16 das 26 atividades industriais com resultados negativos”, destacou o pesquisador.
Houve contribuições negativas também de metalurgia (-2,9%), celulose, papel e produtos de papel (-3,9%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-9,1%), outros equipamentos de transporte (-9,0%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-3,7%), produtos de madeira (-5,5%), perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-3,7%) e produtos de borracha e de material plástico (-1,5%).
Já as altas mais significativas para o resultado do setor vieram de produtos alimentícios (1,6%), veículos automotores, reboques e carrocerias (2,1%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (1,7%), produtos de metal (5,1%) e bebidas (4%).
Macedo apontou que o destaque positivo foi a produção industrial ligada a bens de consumo, tanto duráveis quanto não duráveis, que tiveram crescimento no ano. “Isso tem a ver com fatores pontuais, como a liberação de recursos do FGTS e a melhora, mesmo que gradual, do mercado de trabalho”, disse.
Em dezembro, veículos e máquinas pesaram
Em dezembro, veículos e máquinas pesaram
Com o resultado, o setor de veículos acumulou 9,7% de queda em três meses consecutivos de resultados negativos. Já máquinas e equipamentos teve o segundo mês de perdas.
Os números foram negativos também em indústrias extrativas (-1,4%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-6,2%), artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (-6,6%), metalurgia (-1,9%), produtos de metal (-2,9%), produtos de borracha e de material plástico (-2,5%), produtos de minerais não-metálicos (-1,8%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-2,5%).
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