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segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Perereca amazônica possui interior da boca azul e é vendida como pet no exterior

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'Trachycephalus resinifictrix' tem ainda os ossos e os músculos azuis; espécie ocorre na Amazônia não só do Brasil; pesquisadores não sabem motivos e possíveis consequências dos tons azulados no interior do anfíbio.
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Por Nicolle Januzzi, Terra da Gente

Postado em 15 de agosto de 2022 às 10h15m

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Parte interna da boca também é azulada — Foto: Divulgação Internet
Parte interna da boca também é azulada — Foto: Divulgação Internet

A natureza nunca cansa de surpreender. Dos maiores animais até os pequenos seres vivos, as cores, os detalhes e até os comportamentos das mais variadas espécies do Planeta Terra dão um show que sempre se renova.

No palco da Amazônia um anfíbio nem precisa de performance, já que a própria fantasia encanta por si só. O milk-frog (Trachycephalus resinifictrix), conhecido como perereca-de-leite, chega a medir nove centímetros e se destaca pelos tons azuis. Mas a surpresa maior está dentro do corpo da espécie: os ossos, os músculos e até a parte de dentro da boca também são azuis.

Motivo da cor azulado nos ossos e músculos ainda é desconhecida pelos pesquisadores — Foto: Eva Herbst
Motivo da cor azulado nos ossos e músculos ainda é desconhecida pelos pesquisadores — Foto: Eva Herbst

Alguns anuros (sapos, rãs e pererecas) podem apresentar coloração diferente nos ossos, como é o caso da perereca-de-leite. Só que até hoje o motivo para isso acontecer não é bem conhecido e também não se sabe as possíveis consequências que pode acarretar, é um mistério que intriga a comunidade científica, explica o especialista em anfíbios Diego Santana.

Em contrapartida, cores chamativas que ficam a vista têm explicação. Cores vibrantes na natureza podem significar que a espécie é tóxica, que é o caso dos Trachycephalyus. A "cola" (substancia grudenta que eles soltam quando são capturados) é tóxica. Muitas vezes essas cores mais fortes podem servir de alerta para os predadores, complementa.

Essa espécie ocorre em grande parte da floresta Amazônica e por conta disso ultrapassa as fronteiras brasileiras sendo encontrada em alguns outros países da América do Sul como Guiana, Suriname, Equador e Colômbia

A perereca-de-leite é um anfíbio do gênero Trachycephalus, da família Hylidae  — Foto: Divulgação
A perereca-de-leite é um anfíbio do gênero Trachycephalus, da família Hylidae — Foto: Divulgação

A toxina expelida pela perereca-de-leite não traz riscos à saúde dos humanos. O que ela faz é deixar o anfíbio com gosto ruim e forte, e ainda causa um tipo de urticaria na região da mucosa do possível predador, como répteis, aves, mamíferos e até mesmo outros anfíbios.

A cor da pele da espécie pode variar entre tons marrons, azuis e brancos, sendo geralmente os indivíduos juvenis mais brilhantes e os mais velhos mais opacos.

Essa espécie é muito procurada como pet. É proibida a comercialização no Brasil, mas por ela ocorrer em outros países, a perereca-de-leite é comercializada e está em diversas casas, zoológicos e criadores dos Estados Unidos e da Europa, principalmente. Nesses casos, a cor dos indivíduos pode variar com esses diferentes tipos de ambientes externos, diz Santana.

Apesar da espécie não constar como ameaçada nem na lista internacional (IUCN), nem na lista brasileira do ICMBio (MMA), o fato dela possuir um apelo no mercado pet gera um alerta para o tráfico de animais, o que pode vir a impactar populações desse animal, de acordo com o especialista.

A perereca-de-leite geralmente fica perto de riachos, mesmo que raramente desça para o chão da floresta. Está quase sempre no topo das árvores e graças aos discos adesivos (estrutura parecida com ventosas) nas pontas dos dedos, consegue escalar os troncos. Essas estruturas são tão fortes que, estima-se, que possam suportar até 14 vezes o peso do anfíbio.

Uma curiosidade é que quatro espécies de pererecas da Amazônia, sendo a milk frog a mais conhecida, são chamadas pela população local de "cunauaru" que é uma palavra indígena usada para esses anfíbios que cantam no alto das árvores

Coloração do corpo pode ser sinal de alerta para predadores — Foto: Kurita Sheen
Coloração do corpo pode ser sinal de alerta para predadores — Foto: Kurita Sheen

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