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quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Massa de água quente do Pacífico afetou ecossistema e matou de fome 62 mil aves marinhas, diz pesquisa

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Mortalidade foi observada na costa da Califórnia ao Alaska entre 2015 e 2016 por causa da 'The Blob'. Estimativa é que mais de 1 milhão de aves tenham morrido, já que somente parte dos corpos chegam à costa.
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 Por Elida Oliveira, G1  

 Postado em 15 de janeiro de 2019 às 22h00m   
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Entre 1 e 2 de janeiro de 2016, 6,5 mil carcaças de murres foram encontradas em Whitter, no Alasca. Ao longo de 1 km de costa, eram 8 mil corpos de aves, uma das maiores taxas registradas durante o evento de morte em massa. — Foto: David B. irons
Entre 1 e 2 de janeiro de 2016, 6,5 mil carcaças de murres foram encontradas em Whitter, no Alasca. Ao longo de 1 km de costa, eram 8 mil corpos de aves, uma das maiores taxas registradas durante o evento de morte em massa. — Foto: David B. irons

A passagem da massa de água quente do Pacífico, conhecida como The Blob (a gota, em tradução livre), levou à fome e à morte ao menos 62 mil aves marinhas entre 2015 e 2016, de acordo com uma pesquisa publicada nesta quarta-feira (15) no periódico científico Plos One.

A estimativa é que 1 milhão de aves tenham morrido, já que somente parte dos corpos chegam à costa. A fome também interferiu no ciclo reprodutivo destas aves nestes dois anos. No estudo, os pesquisadores afirmam que o caso é surpreendente e sem precedentes.
Os registros foram feitos ao longo de 6 mil km de costa, da Califórnia ao Golfo do Alasca.
Nosso estudo é uma janela para o futuro. Com o oceano se aquecendo, as espécies marinhas terão dificuldade se alimentar. A população vai diminuir e outras espécies de águas mais quentes poderão invadir este ecossistema – Julia Parrish, pesquisadora da Universidade de Washington e segunda autora do estudo, em entrevista ao G1.
"The Blob" foi a maior onda de calor já registrada nas águas do Pacífico Norte, segundo dados da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês). Neste ano, ela está reaparecendo (leia mais abaixo).
Corpos de murres levados à costa na área de Homer, no Alasca. A quantidade era tão grande no início de 2016 que pesquisadores e voluntários recolhiam e fotografavam em lotes — Foto: COASST
Corpos de murres levados à costa na área de Homer, no Alasca. A quantidade era tão grande no início de 2016 que pesquisadores e voluntários recolhiam e fotografavam em lotes — Foto: COASST

Em 2019, a temperatura média dos oceanos atingiu o maior registro da história e bateu o terceiro recorde consecutivo. Os oceanos estiveram 0,075°C acima da média registrada de 1981 a 2010. Nas últimas seis décadas, essa temperatura subiu 450%,o que corresponde a uma elevação de 46 mm no nível dos oceanos.

A equipe científica procurou outras causas possíveis [para a morte das aves], mas excluímos doenças e toxinas (por exemplo, devido a explosões de algas ou marés vermelhas). As carcaças de murre eram de muito baixo peso. Os pássaros não tinham gordura – estavam morrendo de fome, explica Parrish.
Infográfico mostra a elevação da temperatura dos oceanos de 2015 a 2019 — Foto: Elida Oliveira/G1
Infográfico mostra a elevação da temperatura dos oceanos de 2015 a 2019 — Foto: Elida Oliveira/G1

Ondas quentes
O registro de ondas ou correntes de águas mais quentes que o usual têm se tornado mais frequente no último século. Os cientistas vêem no fenômeno uma evidência das mudanças climáticas nos oceanos, que pode levar a uma mudanças irreversíveis e sem precedentes no ecossistema marinho, de acordo com o estudo.

No final de 2013, a temperatura na superfície das águas no Golfo do Alasca (até 100 metros de profundidade) estava mais quente que o normal. O fenômeno sumiu ao longo do ano seguinte e voltou a reaparecer no final de 2014, atingindo a costa e persistindo durante o outono e inverno de 2015 e 2016.

A variação chegou ser de 3 a 6°C, do Sul da Califórnia até o Golfo do Alaska, a uma profundidade de até 200 metros. A situação foi classificada como severapelos climatologistas devido à extensão, magnitude e duração da onda de calor.

Vida marinha
Murre adulto retorna às colônias de ilhas e mares da Califórnia ao Alasca, passando três meses durante o verão para procriar. Um único filhote precisa dos dois pais para caçarem seus peixes, como o peixe-rock. — Foto: Jane Dolliver
Murre adulto retorna às colônias de ilhas e mares da Califórnia ao Alasca, passando três meses durante o verão para procriar. Um único filhote precisa dos dois pais para caçarem seus peixes, como o peixe-rock. — Foto: Jane Dolliver

A morte em massa dos murres, relatada nesta pesquisa, se soma à lista de outras espécies afetadas pela massa de águas quentes.

Os primeiros efeitos provocados foram observados na população de fitoplânctons, que diminuiu nas águas do Norte do Oceano Pacífico; na proliferação de algas nocivas, que se estendeu da Califórnia ao Golfo do Alasca em 2015; e até na alta mortalidade de baleias, também no Golfo do Alasca entre 2015 e 2016.

Além destes pequenos animais, os peixes também foram afetados, diz Parrish. As águas mais quentes aceleram o metabolismo deles, exigindo mais comida para sobreviverem.

E as espécies grandes – como salmão ou bacalhau – se alimentam de peixes menores, como arenque, anchova, sardinha – a mesma fonte de alimentação dos murres.
Aquecimento dos oceanos pode impactar a vida marinha — Foto: j981511225/Creative Commons
Aquecimento dos oceanos pode impactar a vida marinha — Foto: j981511225/Creative Commons

Quando a água esquentou, o mesmo aconteceu com os peixes (por serem de sangue frio, estão na mesma temperatura da água). E um peixe aquecido tem um metabolismo mais alto – ele precisa de mais comida para sobreviver.
Portanto, a competição por escassos recursos alimentares dos grandes peixes predadores era muito maior. Os murres simplesmente não tiveram chance de sobreviver, afirma Parrish ao G1.

O estudo foi feito com base em dados coletados por pesquisas sobre aves encalhadas no Nordeste do Pacífico, estudos do governo do Alasca, de universidades, organizações privadas, relatórios comunitários e registros de centros de reabilitação de aves.
Em 2015, 'The Blob' fez com que várias espécies ficassem desnutridas ou morressem — Foto: NOAA/Nasa
Em 2015, 'The Blob' fez com que várias espécies ficassem desnutridas ou morressem — Foto: NOAA/Nasa

'The Blob'
"The Blob" é um gigantesco fluxo de água quente na costa oeste dos Estados Unidos, que ameaça causar devastação na vida marinha e na pesca nessa região. É a maior onda de calor já registrada, segundo a NOAA. As primeiras evidências surgiram em 2013 e persistiram até 2016. Neste ano, especialistas monitoram um possível reaparecimento do fenômeno (veja infográfico abaixo).
Mapas da NOAA mostram como as temperaturas do oceano em 2014 são semelhantes às de setembro de 2019 — Foto: NOAA
Mapas da NOAA mostram como as temperaturas do oceano em 2014 são semelhantes às de setembro de 2019 — Foto: NOAA

Segundo especialistas, o aquecimento se deve a um sistema de alta pressão que enfraquece os ventos que ajudam a misturar e resfriar a superfície do oceano.

Sem esses ventos, a temperatura da água aumenta e a corrente quente se move em direção à costa. O aquecimento das águas faz com que haja menos nutrientes no oceano, o que altera a cadeia alimentar.

Assim, por exemplo, os leões-marinhos precisam nadar mais longe para alcançar peixes e os outros animais que servem de alimento.

Esta massa de água quente criou a maior floração de algas tóxicas já registrada na costa oeste dos Estados Unidos. Essas algas nocivas, das quais pequenos organismos se alimentam, afetam toda a cadeia alimentar.

VÍDEOS
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Temperatura dos oceanos cresce 450% nas últimas seis décadas
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